Trouxato e Jean Luc

No jantar todos já sabiam que Sofie e Harry haviam voltado às boas. Snape não gostou muito, mas não disse nada. E durante o resto do ano foi assim, Harry e Sofie juntos para lá e para cá, Snape e Sofie juntos para lá e para cá. Snape e Harry continuavam a se odiar, mas não brigavam perto de Sofie. Malfoy continuou a não tolerá-la e tentava a todo custo, inventando fofocas e armadilhas, humilhá-la.

Snape continuou confuso com relação a seus sentimentos por Verônica Owen e as palavras de Dumbledore não lhe saíam da cabeça. Ele achou então que Lúcio podia ter se enganado e que Verônica pudesse estar viva, disfarçada e escondida em algum lugar. Passou a refazer mentalmente os últimos dias que estiveram juntos.

Naquela época ele estava muito envolvido com Voldemort e Verônica andava um pouco abatida, ele pediu para que ela fosse visitar seu pai, talvez fosse saudade. Ela foi, mas Robert Owen a recebeu friamente e ela não melhorou nada. Snape não podia dar atenção para ela naquela ocasião e prometeu que assim que cumprisse algumas tarefas que Voldemort lhe incubira e recebesse seu pagamento que iria levá-la para Paris, ela tinha parentes por lá e uma velha amiga de infância que estudara em Beauxbatons e que sempre enviava cartas a Verônica, Marie LeBeu.

Verônica dizia que as duas sempre foram amigas e que quando ela morou em Paris antes de ingressar no colégio, as duas saíam juntas e fingiam serem gêmeas de tanto que eram parecidas. Em uma ocasião, quando Marie passou as férias de verão na França, na casa de sua amiga, ela a ajudou a dar o fora em um rapaz que não largava do pé dela. Era um trouxa, um pouco mais velho que elas, bem educado e inteligente, mas muito insistente. Elas só o chamavam de Trouxato e era por esse nome que Snape o conhecia.

Verônica foi encontrá-lo fingindo ser a amiga e deu uma de louca. Verônica era muito teatral e colocou uma maquiagem para aproximar seus traços mais dos de Marie e passar-se por resfriada, ela embora fosse meiga, era Sonserina, então o deixou todo confuso e constrangido, ela derrubou os talheres no chão do restaurante, derrubou vinho na mesa, quebrou taças, começou a falar alto com os garçons e pediu catchup (coisa ofensiva para os franceses) para colocar em sua comida. Os clientes do restaurante começaram a reclamar dela e ela foi convidada a se retirar.

Verônica reclamou bastante antes de sair e o Trouxato ficou envergonhadíssimo, levou-a para casa e se despediu aturdido. As duas amigas comemoraram, já que Marie estava meio interessada em um amigo Sonserino de Verônica que volta e meia ia passar suas férias em Paris, com sua família bruxa. Elas estavam em um café planejando uma maneira de aproximar o amigo de Verônica, e Marie quando o rapaz que elas haviam enganado, o Trouxato, chegou percebeu que elas o fizeram de bobo. Mas ao invés dele se zangar, ele achou divertido e passou a dar em cima de Verônica.

O Trouxato se sentou com elas e começou a falar e a falar, Verônica estava muito constrangida e sua amiga Marie ria da situação, deixando a amiga mais chateada ainda, pois ela sabia que Verônica amava Snape desde o primeiro ano que ingressaram em Hogwarts.

Então Verônica começou a falar no namorado dela e de como ele era maravilhoso, bonito, bravo, ciumento e tudo mais, quando para sua sorte, Lúcio Malfoy, seu amigo Sonserino passou pelo café. Ela não pensou duas vezes, correu até ele e o abraçou gritando que estava morta de saudades e que não via a hora de reencontrar seu namorado. Lúcio estranhou, pois sabia que ela amava Snape, ela sussurrou algo no ouvido dele e ele entendeu. Foram até a mesa e se sentaram. Marie ficou possessa, sabia que era só cena dos dois, mas queria estar no lugar da amiga, queria estar abraçada a Lúcio. Com a presença dele, o rapaz trouxa saiu de fininho e os três ficaram a sós. Riram muito da situação e Verônica deu um jeito de sair de lá rapidinho para deixar Marie e Lúcio a sós.

Snape ouvira essa história de Verônica dezenas de vezes, contada por ela e por Lúcio que também sempre fora seu amigo. Os três até que eram bem unidos e viviam juntos, Lúcio sempre achou que Snape devia se casar com Verônica, pois além de Sonserina, sangue-puro, ela era rica e de família antiga. Snape não ligava para esse tipo de coisa e ainda por cima amava Lílian, que era Grifinória, filha de trouxas e pobre.

Snape sempre gostou de Verônica, mas apenas como amigo. Nos bailes, Lúcio sempre os fazia ficar juntos, mas mesmo assim Snape não dava a atenção que a moça queria. Quando estavam para se formar Lúcio, a contra gosto de Snape, perguntou a Verônica se ela queria fazer parte do grupo deles, o grupo dos Comensais, ela começou a chorar e desabou no chão, o homem que ela amava e seu melhor amigo eram Comensais e a queriam levar para o lado das trevas. Naquele instante Lúcio compreendeu o erro que cometera, o certo era tê-la matado no mesmo instante, mas eram amigos e ele teve um momento de fraqueza. Deixou-a viver.

Verônica prometera jamais revelar nada sobre eles a ninguém. Ela jamais trairia seus amigos, embora não concordasse com o que eles pensavam e faziam. Até que foi bom para os dois, Verônica era uma boa amiga e confidente, quando eles estavam assustados com tudo aquilo que tinham que fazer iam até ela e ela os confortava. Lúcio resolveu se casar com Narcisa e Snape e Verônica foram seus padrinhos. Verônica que já não era mais uma garotinha passou a se insinuar mais ainda para Snape, até chegaram a se beijar ocasionalmente, mas Snape continuava a pensar em Lílian.

Até que um dia ele teve a notícia, Lílian Evans e Tiago Potter se casariam. Ele ficou louco e quis ir atrás de Potter e matá-lo, Verônica o impediu e ficou com ele, durante dias, até a hora da cerimônia. Snape chorava inconsolavelmente imaginando Lílian vestida de noiva na hora da cerimônia, Verônica se aproximou dele, começou a lhe fazer carinho, a beijá-lo e enfim se entregou a ele. Ela fora chamada de Lílian a noite toda, chorou muito, mas mesmo assim ficou com seu amado.

No dia seguinte ela foi até a casa de seu pai e contou que estava indo embora. Robert Owen ficou furioso, não quis deixá-la ir, mas ela insistiu, discutiu tanto com ele e disse tantas coisas que ele mesmo acabou por expulsá-la de casa dando a ela apenas uma mala com algumas peças de roupa. Verônica voltou para a casa de Snape e assumiu o comando. Arrumou um emprego trouxa e procurou ser a melhor mulher possível para ele.

Depois de muito tempo, em uma ocasião que Snape estava reunido com os outros Comensais, uma coruja entregou a ele uma carta de Verônica, ela havia passado mal no colégio onde dava aulas de Francês e agora o aguardava em casa. Ele correu até ela imediatamente, mas quando chegou lá não a encontrou, a sala estava revirada e havia sangue no chão. Lúcio chegou logo atrás dele, os Comensais disseram a ele que haviam ido eliminar Verônica que estava sendo um empecilho na vida de Snape. Snape chorou por Verônica, ela era a única coisa que ele tinha, agora estava definitivamente sozinho. Lúcio o consolou e também ficou triste por sua amiga, que lhe era mais companheira que sua própria esposa.

Logo após isso, Snape passou a se dedicar mais ainda a Voldemort e tornou- se mais cruel do que nunca, mas a lembrança de Verônica e a culpa por tê-la envolvido naquilo tudo o atormentaram muito. Ele resolveu voltar para o lado do bem e passou a espionar Voldemort para Dumbledore. Os Potter tiveram um bebê um tempo depois, ele ficou muito triste, queria que o filho de Lílian fosse dele ou então que tivesse tido um filho com Verônica, assim não seria mais tão sozinho. Snape então começou a odiar o bebê dos Potter mesmo sem conhecê-lo, por um ano foi assim, até que Voldemort caiu, enfrentando aquele bebê. Snape odiou-o mais ainda, pois Lílian dera sua vida para protegê-lo.

Snape nunca gostara muito de crianças e quando foi dar aulas em Hogwarts, achou que não conseguiria. Achou que um dia ia acabar estrangulando alguma ou então as pendurando de ponta cabeça nas masmorras. Mas com o tempo ele se acostumou e passou a ser um bom professor, no quesito competência, claro, pois ele era terrível para com os alunos. Com exceção dos Sonserinos, Snape atormentava os alunos e até sentia um certo prazer nisso. Quando Draco chegou a Hogwarts ele até que se animou, ia poder ensinar o filho de seu antigo amigo, Lúcio, ia poder guiá-lo e ainda poderia perseguir Harry, o filho seu maior inimigo, Tiago.

Ele se satisfez em viver assim por cinco anos, mas com a chegada de Sofie e com a lembrança que ela trouxe a ele, isso ficou em segundo plano. Além de ele ter se afeiçoado a Sofie, passou também a sentir uma coisa estranha em relação à Verônica. Concluiu que era realmente uma paixão tardia.

Terminara o ano e todos voltariam para suas casas. Snape resolveu que procuraria por Verônica, iria até a escola onde ela dera aula e procuraria saber de tudo o que lhe acontecera. Quem sabe a encontraria, pois seu corpo nunca fora encontrado.



* * * * * * * * * * * * * * * * *



- Não encontro! Não encontro! - Sofie revirava seu quarto em busca de algo.

- O que foi, Sofie? - era Tamara Mason, uma Sonserina do quinto ano.

- Meu metrônomo. Meu pai me deu em meu décimo aniversário. Ele tem a caixa de ébano e o ponteiro de ouro. Se eu o perder, meu pai me mata.

- Acho que vi Pirraça saindo de seu quarto com uma coisa na mão, ele deve tê-lo pego.

- Não! E agora? Como vou explicar que um poltergeist o roubou?

- Não sei, Sofie, mas é melhor deixar para lá. Temos que ir ou perderemos o Expresso. - Sofie deixou de procurar seu metrônomo, não podia perder o trem, terminou de arrumar suas malas e foi para junto dos outros alunos.



* * * * * * * * * * * * * * * * *



- Vamos, Sofie. - dizia Harry fazendo-a entrar logo no trem ele olhava para os lados atento - Entre logo senão o trem sai e nos deixa para trás.

- Mas, Harry... - tentava dizer ela, ele a puxava até uma cabine - Fomos os primeiros a entrar, o Expresso só sai daqui a meia-hora. - Harry a fez se sentar fechou a porta e as cortinas da cabine.

- É que... Eu quero ficar sozinho com você e... Não temos muito tempo.

- Oh, Harry! - Sofie o abraçou - Eu também sentirei sua falta.

Harry enlaçou Sofie e a beijou longa e apaixonadamente. Sentou-se no banco com ela no colo e começou a acariciar o rosto, os braços e a cintura dela, ele estava muito apaixonado e não queria se separar dela. Harry a beijou no pescoço e continuou as carícias, até que ela se levantou assustada.

- Calma, Harry! - ela enrubesceu - Nós... Nós não podemos...

- Desculpe-me, Sofie. Eu me descontrolei. Venha! Sente-se aqui, eu prometo que vou me conter. - pediu ele, ela concordou e se sentou. Ele apenas deitou a cabeça no colo dela e ficaram conversando até baterem a porta. Harry se levantou assustado.

- Quem é? - perguntou ele. Sofie estranhou.

- Somos nós. - gritaram Rony, Hermione, Gina e Neville, Harry abriu a porta e eles entraram. Rony entrou e cochichou bem baixo no ouvido de Harry.

- Ele está aqui mesmo.

- Que droga! - devolveu Harry no mesmo tom - Espero que não venha para cá.

- Quem está aqui? - indagou Sofie. Rony e Harry estranharam estavam falando bem baixo.

- Como ouviu? Falei tão baixo que eu mesmo quase não escutei.

- Imagina, Rony. - disse Sofie - Mas pela cara de vocês, parece que não vão me contar. Então deixa para lá Harry, vamos ficar aqui juntinhos, não temos muito tempo.

Harry sorriu e voltou a se deitar no colo de Sofie. O Expresso partiu e eles foram conversando muito durante o caminho. Quando estavam quase chegando, Sofie viu pelo vidro da porta, um vulto negro passar pelo corredor.

- Com licença! - disse ela fazendo Harry erguer a cabeça, ela se levantou, abriu a porta e exclamou contente - Professor Snape! - Snape se virou para ela sorrindo.

- Sofie! - e caminhou até ela.

- Pensei que fosse ficar em Hogwarts durante as férias, quer dizer, os alunos me disseram que o senhor sempre fica.

- Realmente fico, mas... - Snape olhou para dentro da cabine, estava repleta de Grifinórios e havia o tal do Potter - tenho alguns assuntos para tratar em Londres.

- Que bom! Quem sabe não nos encontramos durante as férias. - eles sorriram e começaram a conversar com total intimidade, Harry e os outros só os observavam, gostavam de Sofie, achavam-na muito boa, agradável, gentil, uma perfeita Grifinória, diria qualquer um, mas... era Sonserina e pior ainda, "amiga" de Snape. Eles falaram tanto que o Expresso chegou a Estação King's Cross.

Harry se levantou rapidamente, caminhou até Sofie e segurou na mão dela.

- Vamos, querida? - perguntou ele enfatizando o "querida", queria que Snape se mancasse. Sofie concordou, esperou todos se levantarem e foi saindo do trem, ora com Harry, ora com Snape.

- Meus bebês! - era Molly Weasley, que como sempre vinha receber seus filhos e gritava muito contente - Que saudades! - o texto era sempre o mesmo e ela os abraçava e os beijava muito - Olá, Harry! Também senti sua falta. - ela o abraçou também.

- Olá, senhora Weasley! - cumprimentou Harry e voltou ao trem para dar a mão a Sofie ajudando-a a descer.

- Olá mon petit cherry! - Molly apertava as bochechas de Sofie - Não a vi no ano passado, como está crescida, daqui a pouco estará maior que Harry. - Harry encabulou-se, realmente ele achava que ia ficar mais baixo que Sofie que quando chegou a Hogwarts era mais baixa que ele mesmo usando salto e agora estava da mesma altura e sem salto - Eu soube que se tornou amiga de todos. - e olhando de soslaio para Harry - Principalmente de Harry. - eles sorriram um para o outro.

- Olá, madam Weasley! - cumprimentou Sofie - Como tem passado? Rony e Gina me dis... - Sofie parou de falar, percebeu que a senhora Weasley havia ficado séria e olhava para alguém atrás de sofie. Ela olhava para Snape.

- Senhora Weasley! - Snape cumprimentou secamente - Como vai?

- Bem! Até agora, professor Snape.

- Já se conhecem? Oh, mas é claro, que bobagem a minha. Seus filhos são alunos dele há anos. Eles tiveram muita sorte, senhora Weasley, o professor Snape ensina muito bem. Eles tiveram a oportunidade de aprender com o melhor. Quanto a mim, tive que contentar com apenas um ano e meio, mas ainda há o próximo ano inteirinho. - Molly continuou séria, Snape sorriu e se voltou a Sofie.

- Bem, com licença Sofie, mas tenho que ir. - ele tirou um pequeno envelope se sua capa e entregou a ela - Tome, leia em casa, mas não se preocupe, está enfeitiçada e somente você poderá entendê-la. Para os outros parecerá um simples papel com poesia trouxa. - ela lhe sorriu e ele partiu.

- Ele é maravilhoso! Não? - Harry, Molly e seus filhos se limitaram a sorrir. Molly foi para sua casa com seus filhos, os pais de Hermione foram buscá-la e Harry e Sofie ficaram lá.

- Bem, Sofie, tenho que ir agora. Meus tios não gostam que eu chegue depois das oito horas.

- Eles se preocupam com você.

- Não! É que eles não gostam de ver minha cara durante o jantar. - Harry a beijou, não queria ir e deixá-la. - Vamos?

- É melhor que saia primeiro, Harry Embora meu pai vá me esperar na saída da estação ele pode nos ver e não vai gostar. - Sofie deu outro beijo nele, se despediram e Harry saiu pela passagem. Sofie esperou alguns instantes e saiu também.

Harry se dirigiu para o ponto de ônibus, afinal ele já ia fazer dezessete anos e podia ir sozinho para casa, seu tio jamais se daria ao trabalho de ir buscá-lo. Lá ele viu Sofie aguardando seu pai chegar, ele ficou olhando para ela até que um grande carro parou em sua frente. Ele viu uma mulher muito parecida com Sofie descer do carro e abraçá-la. Começaram a dizer coisas em francês, pareciam felizes, mas aí um homem alto desceu do carro e as olhou com ar sério.

Era o pai de Sofie e Harry percebeu que ele era realmente como ela o descrevera. Se parecia um pouco com Snape, não de rosto, mas o jeito sério, a postura e a frieza eram iguais as de Snape. Ele tinha cabelos negros também, mas não eram oleosos. Harry achou o olhar dele muito frio, não lembrava o de Snape apesar da cor, lembravam os de outra pessoa mais terrível ainda. O olhar daquele homem lembrava o olhar do pai de Draco, Lúcio Malfoy. Elas entraram no carro e foram embora.

- Estou feliz por estar de volta maman. - disse Sofie abraçada à mãe.

- "Fico" feliz por "estar" de volta. - corrigiu Jean Luc - Assim é melhor.

Jean Luc parecia estar mais seco ainda e foi até sua casa corrigindo Sofie, que para ele, estava mais desleixada do que nunca. Em Hogwarts ela era tida como aluna exemplar, estava sempre impecável, jamais se atrasava, era inteligente, estudiosa, culta, tranqüila, enfim era perfeita, mas para seu pai não, ela era apenas uma garota indisciplinada e indolente. E isso andava deixando Sofie muito magoada, mais do que normalmente ela ficava.

- Venha querida! - disse Marie subindo as escadas que levavam aos quartos - Vou te ajudar a desfazer as malas.

- Não! - disse Jean Luc - Eu ajudo! Vá verificar se o jantar está ficando pronto e a contento. Esses empregados andam muito ineficientes. - Marie baixou a cabeça e foi até a cozinha, Jean Luc levou a filha para o quarto.

Sofie pegou a mala de livros, utensílios e uniformes de Hogwarts mostrou a seu pai, que pareceu conferi-la rapidamente e a colocou, sem desfazê-la no armário, havia um local já próprio para ela ficar. Jean Luc foi até o armário e o trancou, ficou observando a filha arrumar o resto. Sofie tirou suas roupas trouxas das outras malas e as guardou. Seu pai a observava atentamente, ela separava tudo por tipo de peça, estação, cor e tonalidade. Ela olhou para a mala grande de objetos trouxas e gelou, faltava seu metrônomo.

- Papa, como foram les affaires este ano? - ela tentava distraí-lo, ele a olhou com ar de desprezo e respondeu secamente.

- Bem! - ela tentou fazer outras perguntas e ele sempre respondia com um aceno, "sim", "não", "talvez". Ele não conversava com ela até que enfim disse:

- Onde está seu metrônomo?

Sofie tremeu de medo.

- Eu... o perdi. - sussurrou ela baixando a cabeça.

- Como? - exclamou ele, ela repetiu e Jean Luc a agarrou pelos ombros - Você fica alguns meses fora de casa e começa a ficar indisciplinada?

- Pardon papa, eu não tive culpa! - pedia ela, Jean Luc a sacudia com raiva - Foi um poltergeist que o roubou. - disse Sofie sem pensar nas conseqüências. Ela se arrependeu do que disse, deveria ter dito que o esquecera em algum lugar e não que um fantasma o roubara. Jean Luc a olhou furioso e lhe deu um grande tapa. Marie ouviu o marido gritando e subiu ao quarto, ao ver a expressão de Jean Luc não disse nada.

- O jantar está pronto? - perguntou Jean Luc, ela acenou que sim e os três desceram como se nada houvesse acontecido.

O jantar fora silencioso, depois o pai de Sofie lhe fez uma sabatina completa de tudo o que lhe mandara estudar desta vez e mandou ir se deitar. Sofie foi se arrumar para dormir e estava se sentindo muito triste, estava perto de sua mãe, mas longe de Hogwarts, de Harry e de Snape.

- Professor Snape! - sussurrou ela e correu até as vestes que usara na viagem. Ela pegou o envelope que o professor lhe entregara, não havia nada escrito no envelope, mas ela o abriu e tirou uma grande carta escrita pelo professor.

O começo da carta era uma poesia, linda e delicada, escrita por um poeta bruxo e descrevia exatamente a situação dela, mais adiante Snape lhe escrevia com as próprias palavras.

"Querida Sofie, desejo que jamais mude. Desejo que continue sendo exatamente como é, uma garota alegre, gentil e delicada, com seu sorriso encantador e seus olhos radiantes. Jamais permita que as adversidades, os problemas e as pessoas lhe tirem o brilho natural. Jamais permita que lhe roubem sua luz. Continue sempre brilhando e iluminando a vida dos que lhe amam. Não se deixe levar pela tristeza e lute para ser feliz. Se a fizerem chorar, sorria. Se a derrubarem, levante-se".

"Gostaria de poder ajudá-la, gostaria de poder salvá-la, mas a única coisa que posso fazer é apoiá-la e desejar que seja muito feliz. Conte comigo para o que precisar, não sou apenas seu professor, sou seu amigo. Tenho-lhe muita estima. Se estiver só me escreva, estarei às suas ordens".

Sinceramente, seu amigo,

Severo Snape

Sofie deixou uma lágrima cair, coisa rara. No fim da carta havia o endereço do professor. Ele realmente era seu amigo, ela se sentiu feliz e triste ao mesmo tempo. Feliz por ser amada e querida e infeliz por desejar que algumas coisas fossem diferentes. Sofie se deitou abraçada à carta, assim achava que estava em Hogwarts e que seu professor estava logo ali, perto dela.

Sofie em breve adormeceu e teve um belo sonho. Ela estava em Hogwarts com Harry, caminhava contente até o lago e viu sua mãe de braços abertos lhe sorrindo. Ela correu até sua mãe, a abraçou e a beijou, as duas falavam e riam contentes. Sua mãe a puxou para trás de uma árvore e lhe mostrou seu pai que também lhe sorria. Ele abraçou Sofie e ela se sentiu acalentada, jamais havia recebido um abraço assim dele, ela olhou para o rosto dele e de repente viu que não era seu pai, era seu professor, Severo Snape.



- Esta manhã quero que vá comigo até o laboratório, quero que me mostre que continua habilidosa e destra. - falava Jean Luc secamente a Sofie, ela sorriu, sabia que se daria bem, nas aulas de Poções ela pôde treinar bastante e o professor deixava, desde que voltara do último Natal, que ela fosse até as masmorras treinar mais. Sofie leu os livros de Química e Farmácia que seu pai lhe dera e não esquecera de nada. Ela o acompanhou até contente e lhe mostrou que continuava manuseando muito bem os instrumentos e os ingredientes.

- "Benditas aulas de Poções! - pensou ela - Obrigada, professor Snape".

- Escute, Sofie, - disse Jean Luc fitando-a com seriedade - eu trabalhei muito para chegar até aqui. Comecei como office-boy, aprendi a manipular os medicamentos só de olhar e fiquei noites e noites acordado, estudando, trabalhando e desenvolvendo novas drogas. Agora veja, olhe ao seu redor, sou dono disso tudo, meu laboratório é renomado e mundialmente conhecido. E você, Sofie, herdará isso tudo. Deve aprender a cuidar de tudo o que há aqui e não falo apenas da manipulação, para isso tenho os melhores pesquisadores que existem. Você deve aprender a administrar os negócios, depois do próximo ano você deixará aquela maldita escola e poderá vir trabalhar aqui comigo. Fará uma faculdade normal e aprenderá tudo o que precisa saber.

Sofie assentiu com a cabeça e não disse nada. Ela não concordava, mas não podia dizer nada.

Passou-se todo um mês, Sofie escreveu a Harry e a Snape, mas não teve oportunidade de enviar as cartas. Seu pai a vigiava constantemente, não podia sair sozinha e não se atrevia a dar as cartas para algum empregado entregar no correio, eles eram muito fiéis a seu pai. Jean Luc não deixava Sofie ficar a sós com sua mãe nunca, mesmo para conversarem assuntos íntimos de mulher ele ficava junto. E o que é pior, Jean Luc sempre discutia com elas e as fazia ficarem quietas a seu lado. Houve ocasião delas não poderem falar uma palavra sequer uma com a outra por três dias.

- Como não se comportou bem desde que chegou, Sofie, - dizia Jean Luc - não irá à Ópera conosco. Ficará em casa esta noite sozinha pensando em tudo o que fez. Espero que aprenda desta vez. Está me ouvindo?

- Oui, papa! - respondeu ela tristemente.

- Não poderei voltar do laboratório para lhe trazer o remédio, sua mãe e a governanta a levarão ao hospital.

- Oui, papa.



* * * * * * * * * * * * * * * * *



- Senhora Ferraù! Aqui novamente - exclamou uma enfermeira vendo Marie entrar com sua filha a sala de suturas - Conhece as regras, deixe-a aqui e vá preencher a ficha e conversar com a psicóloga.

Marie saiu da enfermaria com a governanta e deixou a conhecida enfermeira tratar de sua filha.

- Boa tarde, senhorita Johnson. Como vai? - perguntou Sofie tentando não mover os lábios cortados.

- Boa tarde, senhorita Ferraù. Vou bem, mas não posso dizer o mesmo da senhorita.

A ágil enfermeira fez uma sutura no lábio superior de Sofie que estava tão inchado que ela podia ver os pontos. A enfermeira falava e falava, tentando convencê-la a ir a polícia. Sofie apenas baixava os olhos e ficava quieta. Terminada a sutura Sofie agradeceu a enfermeira e se levantou da cama. Ia procurar sua mãe, mas viu alguém conhecido passar pela porta.

- Professor Snape! - exclamou ela dolorosamente, sentindo os pontos repuxarem, o homem que passava voltou e apareceu na porta. Era ele mesmo.

- Sofie! - ele entrou assustado - O que aconteceu? O que houve? - Snape não se conteve e a abraçou.

- Eu... - Sofie hesitou um pouco - Eu caí e me cortei, professor.

- Ela tem caído todas as semanas. - a enfermeira bufou indignada, foi até Sofie e tirou o casaco dela mostrando a ele todas as escoriações e roxos que ela tinha nas costas.

Snape entendeu perfeitamente o que acontecera e fez uma cara de ódio que assustou até a enfermeira. Sofie percebeu e começou a falar.

- Veja! - ela tirou um calhamaço de cartas de seu bolso - Eu sabia que o encontraria, professor. Tive um pressentimento. Escrevi-as, mas não pude mandá-las. - ela olhou para Snape e percebeu que ele tentava conter as lágrimas - Também há cartas para Harry, o senhor poderia entregá-las para mim? - Snape assentiu com a cabeça e a abraçou novamente, ela chorou nos braços dele durante um tempo, mas ficou com medo de sua mãe e a governanta chegarem e se afastou.

- O que faz aqui, professor? Está doente? - ela enxugava as lágrimas.

- Não... Apenas estou procurando por alguém. Uma... Pessoa amiga.

- Encontrou? - Sofie tentava sorrir.

- Infelizmente não! Mas um funcionário foi pegar a ficha dela para mim. - Snape a fitou piedosamente - Sofie, eu não posso fazer nada para ajudá-la se você não quiser. Sou seu professor, gosto muito de você, mas se você não permitir, não posso... - neste momento um funcionário do hospital entrou na enfermaria e chamou Snape.

- É o senhor que procura por Verônica Owen? - Snape respondeu que sim - Por favor, me acompanhe. - Snape olhou para Sofie, ela percebeu que era importante e lhe sorriu.

- Vá professor! Vá saber de sua amiga! O senhor não pode me ajudar. - Snape beijou Sofie na testa, acariciou o rosto dela e seguiu o funcionário. Sofie queria tê-lo seguido, se sentia protegida com ele, mas se limitou a olhar a cara de pena da enfermeira. Sofie se despediu e foi procurar sua mãe, ela ia calmamente, pensando na expressão condoída de Snape, ela entrou na recepção do hospital e encontrou uma grande confusão. Havia uma mulher caída no chão.

- Maman! - Sofie correu até ela, os médicos já a atendiam e ela começava a recobrar a consciência.

- Maman, o que aconteceu? - Sofie estava muito assustada. Marie olhou ao redor, procurando por alguém, não encontrando se levantou ajudada pela governanta e tentou sair do hospital. Os médicos a impediram.

- Não pode ir senhora. Acabou de desmaiar.

- Estou bem, estou bem. Deixe-me ir. - o motorista viu a governanta acenando para ele por entre a multidão, ele entrou no hospital e as ajudou a sair.

- Está bem, maman? - perguntou Sofie aflita - Ele também a machucou?

- Não, querida! Eu apenas me senti sufocada - Marie fez a filha se deitar no banco e colocar a cabeça em seu colo. Ela ficou acariciando seus cabelos negros e seu lindo e delicado rosto.

- Maman... - sussurrou Sofie. Marie olhou para ela - Eu vi meu...

- Shiiii. - interrompeu Marie, a governanta as observava atentamente. Sofie fechou os olhos e tentou não chorar mais.



* * * * * * * * * * * * * * * * *



- Passou mal, Marie? - disse Jean Luc em frente ao espelho - O motorista me contou.

- Sim, Jean Luc. - afirmou Marie com ar descontente - Esses hospitais de Londres são péssimos, em Paris todos tinham ar-condicionado e funcionando. Da próxima vez iremos a uma clínica decente.

Jean Luc pareceu acreditar, terminou de arrumar sua gravata e observou Marie. Quando saíam, ele queria ter certeza que ela estava elegante e impecável, Marie como sempre estava. Ele se orgulhava de sair com ela, Marie era muito bonita e ele sempre gostara de olhá-la.

- Veja, Marie, - Jean Luc mostrou uma caixa para ela - um presente. Por você ser tão bonita. - Marie pegou a caixa, abriu e viu um belo conjunto de colar, anel e brincos de esmeraldas, os olhos dela se encheram de lágrimas. Algo naquelas pedras a fizeram se lembrar do passado. Ela colocou os brincos, Jean Luc a ajudou com o colar e depois colocou o anel em seu dedo - Você é maravilhosa, Marie. - Jean Luc a beijou e a olhou com desejo - Depois da Ópera. - Marie assentiu com a cabeça e desceram. Sofie os aguardava na sala.