Mon Papa



Snape foi à casa de Robert Owen, o pai de Verônica e não foi bem recebido por lá.

- O que faz aqui? - bradou o senhor Owen ao ver Snape entrar em sua casa.

- Vim em busca de Verônica.

- Agora? - indignou-se o homem - Após quase dezenove anos? Acho que está um pouco atrasado, senhor Comensal da Morte.

Snape não se importou com o comentário.

- Senhor Owen, vim porque encontrei indícios de que Verônica pode estar viva ainda e gostaria que o senhor me esclarecesse algo.

- Esclarecer? Eu? - exclamou o Robert indignado - O senhor deveria ter esclarecido algumas coisas à Verônica, quando ela deixou essa casa para viver com o senhor. Ela deixou tudo o que tinha, abandonou a família e não conseguiu outra. O senhor a enganou, se ela soubesse onde estava se metendo, com certeza não teria nos deixado e ainda estaria viva. - Robert Owen começou a chorar.

- Verônica sabia de tudo, senhor Owen. E mesmo assim deixou "sua família", para ficar "comigo". - Snape ficou zangado - É verdade que eu devia ter tentado afastá-la de tudo aquilo... mas eu era muito jovem e não medi as conseqüências de... meus atos. - Snape deixou uma lágrima cair.

- Bem... se... é verdade que ela sabia... - Robert Owen estava desconcertado, lembrava de sua filha e de como ela era teimosa, determinada e acima de tudo, apaixonada por Severo Snape.

- Senhor Owen, quero que me diga tudo o que sabe sobre Verônica e sobre os dias que antecederam seu... desaparecimento.

Robert Owen contou tudo a Snape, o que para ele, foi realmente um alívio.

- Então ela não passava bem há dias? Mas ela não me disse nada, ela apenas... - Snape parou de falar, na verdade Verônica poderia até ter lhe contado, mas ele estava tão envolvido com os Comensais e com seu ódio contra Tiago Potter, que com certeza nem ouviu Verônica lhe contar algo sobre ela - E sobre Beauxbatons e sua amiga Marie LeBeu Dupont?

- Marie Dupont ou Marie LeBeu, era amiga de Verônica desde pequena, nós tínhamos parentes em Paris e quando íamos lá, elas sempre estavam juntas. Na época escolar Verônica ingressou em Hogwarts e Marie em Beauxbatons. Elas mantinham contato através de cartas e quando Marie vinha nos visitar ou nós íamos a Paris.

- Vi uma foto das duas juntas, eram bem parecidas.

- Sim! Eram incrivelmente parecidas, tinham os mesmos olhos, os cabelos louros e cacheados. - Robert sorria ao se lembrar delas - Mas Verônica era menor e tinha os traços um pouco mais finos. Ela era tão delicada. - Snape sorriu concordando - O que as fez começar a amizade foi essa semelhança. Em uma ocasião em passávamos as férias de verão na França, nós perdemos Verônica, que na época deveria ter um seis anos, nas ruas e procuramos como loucos por ela, quando nós a encontramos ela insistia que não era Verônica que era Marie e que era francesa. Nós a levamos para casa e então eu e minha esposa percebemos que aquela não era nossa filha, voltamos ao lugar onde a perdemos e lá estava Verônica, acompanhada pelos pais de Marie. Eles também pensaram a mesma coisa que nós e aí... ficamos amigos todos, as garotas principalmente.

- Pode me esclarecer porque Verônica só se referia a amiga por Marie LeBeu ao invés de Dupont?

- Ah! É que elas eram grandes amigas e... Verônica tomou as dores de Marie. O pai dela a abandonou e a mãe, assim que ela ingressou em Beauxbatons. Marie ficou muito magoada e nunca mais usou o nome do pai. Verônica era muito leal... acho que por isso e por sua determinação é que foi para Sonserina. - Snape também concordou com isso - Mas não vejo a senhorita Dupont há quase dezenove anos. A última vez que a vi foi na época que Verônica desapareceu.

- Ela estava aqui naquela época? Eu não soube.

- Sim! Marie foi para sua casa e como o senhor estava... trabalhando longe, não tomou conhecimento. Elas me visitaram e foram ao hospital, ficaram de voltar no dia seguinte, mas eu nunca mais as vi. Creio que a senhorita Dupont tenha voltado a Paris.

- Sim, hoje ela é a senhora Ferraù. Sua filha estuda em Hogwarts e está me ajudando, ela até chegou a ligar para cá.

- Então foi a filha de Marie que me ligou? Quando isso aconteceu fiquei totalmente desconcertado, ninguém mais perguntara de Verônica há quase dezoito anos. - Robert suspirou - Então Marie se casou e teve uma filha, pobrezinha, ela ficou órfã antes de se formar, mas agora casou e é mãe. Quantos anos a garota tem Snape?

- Dezessete anos, senhor Owen. E ela é uma das alunas mais inteligentes de Hogwarts. - disse Snape orgulhoso.

- Dezessete? Estranho, quando Marie esteve aqui, ela não havia se casado. Parece que ela gostava de um seu amigo... também Comensal, Lúcio Malfoy, aquelas duas eram iguaizinhas mesmo. Mas você tem certeza que a garota tem dezessete?

- Sim! Ela aniversaria no fim de julho.

- Mesmo? - exclamou Robert - Então eram as duas... - ele parou de falar e olhou constrangido para Snape.

- As duas, senhor Owen? O quê?

- Nada! Nada senhor Snape, mas tenho que lhe dizer, Verônica está morta.

- Eu acho que...

- Não! Ela está morta! Sei onde está seu túmulo. - arrematou Robert. Snape gelou.

- "Então Verônica morreu mesmo? - pensou ele se contendo - Não pode ser!"

- Perdoe-me por não ter lhe dito isso logo no início. Sempre soube que ela havia morrido. Não sei como foi, mas Marie me escreveu após um ano e me contou onde estava o túmulo. - Owen foi até a escrivaninha, escreveu algo em um papel e entregou a Snape - É o nome do cemitério e a localização do túmulo.

- Obrigado, senhor Owen, perdoe-me o incômodo. - Snape pegou o papel tristemente, se despediu de Robert Owen e foi para o cemitério triste e abatido.



* * * * * * * * * * * * * * * * *



- Maman! - dizia Sofie ao piano - O que aconteceu com aquela sua amiga e de papa aqui de Londres?

- Que amiga Sofie? - indagou Marie estranhando.

- A... Verônica Owen. - disse Sofie encarando a mãe nos olhos. Marie gelou, sentiu que sua cabeça virava e que ia desmaiar, mas se controlou e tentou disfarçar.

- Você... deve estar enganada filha... eu... - Marie olhou para a governanta que as vigiava atentamente - Seu pai e eu não conhecemos ninguém com tal nome, você deve ter se enganado, afinal lê tantos livros.

Sofie olhou séria para sua mãe, ela sabia que Verônica fora sua amiga, mas sua mãe temia falar algo na presença da governanta. Sofie ficou impaciente, ela tinha que saber sobre Verônica, ela tinha que ajudar o professor Snape. De repente um barulho vindo da cozinha as assustou, pareceu que havia caído algo muito pesado lá. A governanta se levantou e foi até a porta. A cozinheira apareceu e começou a falar que os armários despencaram, a governanta mandou chamar o motorista, mas a buzina do carro começou a soar insistentemente e algo começou a fazer um estrondo no andar superior da casa. A governanta não teve opção senão sair da sala e ir verificar a confusão na casa.

Sofie aproveitou a situação, correu até sua mãe e se ajoelhou a sua frente.

- Sofie, você fez isso? Sabe que é menor de idade e...

- Eu não tive intenção maman, fiquei ansiosa e tudo aconteceu sozinho... Por favor maman, me diga, preciso saber sobre Verônica, é muito importante para um professor meu.

- Como soube sobre ela filha?

- Meu professor virá até nós e você tem que contar a ele maman, ele me ajuda tanto em Hogwarts e eu quero poder ajudá-lo também.

- Enlouqueceu, Sofie? Se seu pai sabe que recebemos um bruxo aqui... ele...

- Meu professor será cauteloso maman, o diretor Dumbledore me disse que Verônica ainda...

- O quê? Dumbledore ainda é o diretor de Hogwarts? - espantou-se Marie.

- Oui, maman. Ele nunca deixou de ser, conte-me sobre ela, por favor.

- Sofie, eu não posso... o que aconteceu... os... - Marie parou assustada.

- Eu sei que ela foi perseguida pelos Comensais, maman.

- Sabe sobre os Comensais? - Marie agora estava totalmente espantada.

- Que comensais, senhora Ferraù? - indagou a governanta entrando na sala.

- Ah... - exclamou Sofie se levantando - Os da ceia de Natal... Será que papa vai permitir que eu coma torta de amêndoas ou mousse de chocolate este ano? Eu gosto tanto e tenho que ficar apenas olhando. - Sofie fazia cara de emburrada.

- Eu não sei senhorita. - disse a governanta se sentando ao lado de Marie - Talvez seja melhor pedir a ele.

- É, vou tentar. - Sofie fingiu-se resignada.

- Eu vou ter que sair agora. - disse Marie se levantando e intrigando Sofie e a governanta.

- Agora senhora? Mas o patrão não me disse nada...

- É por que ele não tem que lhe dar satisfações. - disse Marie firmemente - Peça ao motorista que prepare o carro imediatamente. Sofie, venha comigo, temos que nos arrumar para sair nesta neve toda.

- Nós vamos... é...

- Visitar uma antiga amiga, aquela da que lhe falei que seu pai e eu não vimos há tempos.

Sofie subiu para o andar superior acompanhando sua mãe, instantes depois a governanta subiu, elas se prepararam em silêncio e foram para o carro.



* * * * * * * * * * * * * * * * *



Snape caminhava por entre os túmulos do cemitério, totalmente absorto em pensamentos sobre Verônica e no que faria se ela, ao contrário da verdade, estivesse viva, como ele pensara durante alguns poucos meses.

- "Provavelmente Verônica teria se casado, já teria filhos e com certeza não ia querer me ver em sua frente nem pintado de ouro. Depois de tudo o que eu fiz, depois de tudo que eu a fiz sofrer, ela não iria me querer mais. Eu fui um tolo alimentando esperanças, mesmo que ela estivesse viva, já não me amaria mais. E esse é meu castigo... amá-la agora que ela se foi, já que não fui capaz de amá-la quando ela estava viva e comigo. Verônica... eu te amo e me arrependo profundamente de não ter retribuído seu amor quando devia".

Snape remoia seus pensamentos quando entrou na quadra indicada e viu três pessoas diante de um túmulo. Era um homem, com uniforme de motorista, uma mulher baixa vestindo um casaco branco que lhe cobria dos pés a cabeça e outra moça, com uma longa capa e a cabeça descoberta. Ele reconheceu a moça, os longos cabelos negros dela eram inconfundíveis.

- Sofie! - sussurrou ele. Somente ela conseguiria ficar com a cabeça descoberta naquele frio, ela e ele mesmo. Os cabelos protegiam do frio, Snape caminhou mais depressa e a chamou - Sofie! - ela se voltou para ele.

- Professor Snape! - exclamou Sofie contente, o motorista e a mulher que a acompanhava se voltaram para ele, parece que não gostaram muito da presença do professor ali. A mulher se levantou e puxou Sofie, o motorista tentava conduzí-las para fora do cemitério.

- Maman, o que houve? - dizia Sofie - Espere! É o professor Snape!

- Você o conhece? - perguntou Marie surpresa.

- É meu professor de Poções, de quem eu lhe falei.

- Vamos embora Sofie. - Marie a puxava mais e mais - Seu pai não vai gostar.

- Não me importo! - Sofie se soltou da mãe - Ele é meu amigo e gosta mais de mim que papa.

Sofie deixou sua mãe e saiu correndo em direção a Snape, o motorista tentou pegá-la, mas Marie o impediu.

- Não! Deixe-a, tenho que sair daqui rápido! - Marie saiu com o motorista e partiu de carro, deixando sua filha lá.

- Professor, o que faz aqui? - indagou Sofie enquanto o abraçava.

- Vim procurar um tumulo, mas... sua mãe parece muito nervosa.

- Sim, ela tem medo... medo do que papa possa fazer comigo, o motorista nos vigia e conta tudo a ele. Mas eu não entendi porque ela fugiu assim, papa nunca a maltratou, pelo menos não fisicamente.

- E você Sofie? Deveria ter ido com ela, seu pai irá se zangar e...

- Não me importo mais! Ele pode fazer o que quiser comigo, pode me xingar, pode me bater e me prender. Eu fujo! Não agüento mais a tirania dele, não quero ser infeliz como maman. - Sofie começou a chorar.

- Sofie! - Snape a apertou contra si - Saiba que se acontecer alguma coisa do tipo e não tiver para onde ir, pode contar comigo. Eu a protegerei e a acolherei. - Sofie sorriu agradecida.

- Professor, eu... tenho uma coisa triste para lhe contar - Sofie o olhou com ar de pena - Maman disse que Verônica está morta, estávamos em seu túmulo. É aquele ali. - ela apontou para o túmulo.

- Eu sei Sofie. Robert Owen me contou tudo. - os dois caminharam até o túmulo de Verônica - Ela morreu naquela época mesmo. O que Lúcio me disse era verdade, os Comensais a perseguiram e a mataram.

- Maman me contou que as duas eram realmente grandes amigas e que Verônica estava sendo ameaçada, ela veio a Londres ajuda-la e apóia-la, mas... não adiantou nada, ela foi assassinada e aí meu pai veio e a levou de volta a França. Eu não pude dizer nada ainda sobre o senhor a governanta não nos deixava. - Snape a abraçou e eles ficaram lá por mais algum tempo olhando para o túmulo e conversando sobre Verônica.

- Vamos Sofie, eu a levarei para casa. - disse Snape a conduzindo para fora do cemitério.

- Professor... será que... bem, já que vou ser punida mesmo chegando agora ou mais tarde em casa, então... será que o senhor poderia me levar até a casa de Harry? Eu gostaria muito de vê-lo! - pediu Sofie.

Snape não queria levá-la até lá, não a queria perto de Potter, mas não conseguia lhe negar nada.

- Sim Sofie! - disse ele - Você tem o endereço? - Sofie afirmou que sim - Então vamos, senão ficara muito tarde.

Snape desaparatou com Sofie de lá e aparataram no local em que ela lhe informou.

- Quero falar com... Harry Potter. - disse Snape a contra gosto a porta da casa dos Dursley.

- Quem é você? E o que quer com ele? - perguntou grosseiramente Valter Dursley.

- Sou... um professor de Hogwarts. - respondeu Snape impaciente.

- Daquele lugar? Não queremos esse tipo de gente aqui! - bradou Valter e ia bater a porta na cara de Snape, mas este a segurou.

- Quero falar com ele agora! - ordenou Snape com sua voz fria e letal - Chame-o Dursley. Ou terei que entrar e buscá-lo? - Snape lançou aquele olhar frio que apavorava os alunos, Valter tremeu.

- Vou chamá-lo! - e saiu bufando. Valter subiu as escadas e chamou Harry aos berros - Seu imbecil! Como se atreve a pedir que professores daquele maldito lugar o visitem?

- Não sei sobre o que está falando. - respondeu Harry, Valter lhe deu um empurrão e o fez descer as escadas correndo.

Quando chegou a porta, Harry levou um susto enorme, viu seu professor de Poções e DCAT o fitando e lhe dando um sorriso cínico. Provavelmente por tê- lo visto ser maltratado.

- P-pro-professor Snape? - gaguejou Harry - O que faz aqui? Deseja alguma coisa? Eu fiz alguma coisa?

- Não, senhor Potter! Não vim lhe fazer uma visita de cortesia e tampouco puní-lo. Apenas lhe trouxe alguém. Snape se afastou um pouco e Harry viu saindo de trás dele Sofie

- Sofie! - Harry não se conteve, a abraçou e a encheu de beijos, seu primo Duda estava na sala e vendo a cena começou a debochar.

- Harry tem uma namoradinha! Harry tem uma namoradinha! Aliás, uma namoradona, pois ela é bem mais alta que você. Ela é bem bonita Harry, mas esse cabelo... háháháhá...

Harry quis voar em Duda, mas Valter o impediu e o arrastou para fora.

- Fora daqui! Volte quando essa gente tiver ido embora. - e bateu a porta na cara dele. Harry ficou envergonhadíssimo.

- Não ligue Harry, meu pai é bem pior. Venha! Vamos até um café aqui perto. - Sofie segurou a mão de Harry e começou a conversar contente com ele, mas Harry se sentia incomodado com a presença de Snape e notou que seu primo tinha razão em uma coisa.

- Nossa Sofie! Nesses poucos dias você conseguiu crescer mais ainda... veja só, está bem maior que eu.

- Oh, meu amor, é porque estou usando salto. Meu pai só permite que eu saia de sapato de salto, ele diz que fica mais elegante e você não está usando os seus.

Snape conteve o riso ao ouvir aquilo, Harry percebeu e ficou mais uma vez envergonhado. Chegaram ao café e Snape fez questão de se sentar bem na frente de Harry o que o deixou mais incomodado ainda. Sofie recostou a cabeça no ombro de Harry e parecia não ligar que o professor os visse daquela forma, era como se ele fosse um parente.

Enfim chegaram três fumegantes xícaras de chocolate, Harry agradeceu aos céus, seu tio o trancara para fora e ele não pode sequer pegar um agasalho, estava congelando.

- Também estou feliz em vê-la, Sofie. Foram só alguns dias sem você, mas parece que foram anos. - Sofie sorria e Snape grunhia - Que bom que seu pai deixou que viesse me ver.

- Ele não deixou Harry, eu encontrei o professor Snape e fugi de minha mãe. Pedi a ele que me trouxesse até você e aqui estamos.

- É... obrigado professor. - disse Harry. Snape apenas moveu a cabeça. Sofie e Harry conversaram a tarde toda e mataram as saudades, observados o tempo todo por Snape, é claro. Já estava escurecendo quando voltaram a casa de Harry, Petúnia viu que eram eles que batiam a porta, levou meia hora para abrir e quando abriu estava vermelha com um pimentão e ainda chorava.

- O que querem agora? Transformarem a Valter e a mim em porcos também?

Harry olhou para dentro e viu um grande e rosado porco ruminando bem no meio da sala, ele usava roupas e Harry percebeu que era seu primo Duda. Valter Dursley chorava de desgosto.

- Excelente Potter! - disse Snape - Eu mesmo não teria feito melhor. - Harry se assustou.

- Mas professor, não fui...

- Executou o feitiço que ensinei com perfeição. Espero que durante essas férias, possa treinar os outros. - Snape se voltou para os Dursley - Talvez encontre voluntários aqui para ajudá-lo.

Harry então entendeu. Snape fizera o feitiço para amedrontar os Dursley, assim eles pensariam que ele poderia enfeitiçá-los com permissão. Sofie e Snape se despediram de Harry e saíram. Harry ficou os observando pela janela e viu quando Snape apontou sua varinha para a casa, no mesmo instante Duda voltou ao normal e os Dursley os olhavam assustados.

- Bom, acho que já está tarde, o professor entenderá se eu deixar para treinar amanhã. - Harry subiu para o quarto contente, os Dursley nem se atreveram a lhe dizer qualquer coisa.

- Tem certeza que ficará bem, Sofie?

- Oui, professor, eu ficarei. Obrigada! - Sofie o beijou - Boa noite!

- Boa noite, Sofie!

Sofie entrou em sua casa, não viu seu pai e nem sua mãe na sala. Os empregados já haviam se recolhido e não havia sinal de ninguém pela casa, ela subiu as escadas e foi ao quarto dos pais, ouviu algo parecido com um sussurro, eram seu pai e sua mãe. Ela apurou os ouvidos e pode entender o que diziam.

- Eu juro, Jean Luc, eu não sabia, eu nunca imaginei... Sofie nunca me falou nada, você proibiu e nós éramos sempre vigiadas.

- Confesse Marie, você planejou tudo. Tudo! Você nunca o esqueceu e nunca me amou. Durante todos esses anos eu a protegi, cuidei de você e de Sofie e você nunca me correspondeu. E agora... isso.

- Não Jean Luc, eu... eu...

- Quando você e sua amiga foram perseguidas eu vim para Londres, eu queria ajudá-la. - Jean Luc estava possesso - Quando aqueles bruxos, aqueles Comensais tentaram matá-las eu a ajudei, sua amiga morreu, mas eu a salvei. - Marie chorava - Eu a tirei de Londres e a escondi em Paris, eu fiz tudo por você Marie, mas você nunca o esqueceu, a lembrança dele sempre viveu em você, mesmo ele sendo um Comensal... e eu nunca tive o seu amor.

- Você sabia que eu ainda o amava Jean Luc, quando me pediu em casamento você sabia. Eu pensei que pudesse esquecê-lo, mas... a lembrança dele, a presença dele sempre esteve comigo e eu nunca deixei de amá-lo. - Jean Luc trincava os dentes.

- Não quero que saia mais de casa. Vou tirar Sofie daquela maldita escola, ela será uma pessoa "normal". Nunca mais verá Hogwarts e quem quer que seja de lá. Se insistirem, voltaremos a Paris.

Sofie assustou-se. Não queria deixar Hogwarts. Ela amava Harry e não queria se afastar de Snape. Ela tomou coragem e entrou no quarto.

- Então aí está a senhorita fujona! - Jean Luc avançou para cima dela, ia lhe bater, mas Sofie se esquivou e o encarou furiosa - Como se atreve!

- Não deixarei mais que maltrate a mim e a minha mãe. - Sofie se abraçou a Marie.

- Atrevida! Eu deveria tê-la deixado na rua quando nasceu assim "anormal". - bradou Jean Luc. Marie apertou a filha com força.

- Eu voltarei a Hogwarts, terminarei meus estudos e terei contato com quantos bruxos eu quiser, pois sou uma bruxa, posso até ser uma sangue- ruim, mas sou uma bruxa. - Sofie o fitava com valentia - E se quer saber, eu namoro um bruxo, eu o amo e ele me ama. Também tenho um professor que gosta muito de mim, ele gosta de mim mais do que o senhor, meu pai, gosta.

Jean Luc estava furioso, queria calar a boca de Sofie, mas se conteve e estranhamente disse:

- Tudo bem Sofie, faça o que quiser. Mas agora vá para o seu quarto treinar canto, amanhã é véspera de Natal e você fará uma apresentação logo cedo para os donos dos laboratórios com quem tenho que manter... contatos. - Jean Luc pareceu bem calmo, Marie pediu para que Sofie saísse e ela foi para seu quarto.



* * * * * * * * * * * * * * * * *



- Ande logo Sofie, comece. - ordenou Jean Luc - Cante e bem alto.

Sofie estava se preparando, Snape a ensinara a controlar a voz, assim ela poderia cantar a vontade sem causar terremotos. Ela só precisava se concentrar um pouco mais que o habitual. Sofie enfim cantou e cantou divinamente, todos a aplaudiram, menos seu pai que parecia furioso, ela imaginou que desafinara e ficou triste. Voltaram para casa silenciosamente, Sofie queria lhes contar sobre sua habilidade, mas achou melhor ficar calada. Ao chegarem em casa Jean Luc mandou Sofie para o quarto e ele e Marie foram para o deles, Sofie estava achando muito estranha a atitude dele e então tentou ouvi-los novamente.

- O que aconteceu Marie? Ela perdeu seu dom? Ela cantou exatamente como ensinei e não aconteceu nada. Nenhum tremor, nenhum vidro quebrado.

- Eu não sei, Jean Luc, mas fico contente. Assim outro laboratório não foi destruído.

Sofie escutou algo que ela imaginou ser um tapa e sua mãe gemeu.

- O que está me dizendo? Que ficou contente? Marie, você sabe muito bem que eu não teria conseguido o que consegui se Sofie não destruísse os outros laboratórios com sua voz. Aí eu não conseguiria lhes dar todo esse conforto.

Sofie soltou um gemido em seu quarto e compreendeu tudo. Seu pai fazia com que ela destruísse os laboratórios concorrentes. Quando criança ela era levada a festas e piqueniques e seu pai a fazia cantar para que ela eliminasse seus concorrentes. Por isso ele ficava tão próximo dela quando cantava, assim não sentiria o impacto. Por isso seus laboratórios eram tão afastados, para que os outros não fossem destruídos. Sofie chorou, seu pai a impedia de ser uma bruxa, mas se aproveitava de seu poder. Marie continuou falando.

- Nunca mais se atreva a me tocar Jean Luc e nem a Sofie. - gritou Marie enfurecida - Você não é pai dela, não tem esse direito.

Sofie gelou. Então aquele homem não era seu pai? Ela não era filha dele? Um turbilhão de pensamentos passou pela mente dela enquanto Marie continuava a gritar.

- Você me disse que os Comensais haviam dominado mundo mágico e controlavam os colégios, mas eu sei que Dumbledore ainda é o diretor de Hogwarts e ele jamais permitiria que isso acontecesse.

- "Quem é meu pai? Quem? - pensava Sofie desesperada - Maman e Verônica eram amigas, Verônica amava o professor Snape. E maman? Quem ela amava? Maman ficou assustada quando viu o professor Snape e papa disse aquelas coisas ontem. Os Comensais a perseguiram também, então ela deve ter amado um amigo do professor, um Comensal. Mas qual?"

- Você me manteve aprisionada aqui, Jean Luc. Você mentiu dizendo que eu ainda poderia ser perseguida e morta, assim como Sofie. Eu deixei que você fizesse de nossas vidas um inferno para que ela pudesse viver. Eu a escondi de seu verdadeiro pai temendo que fosse descoberta e deixei que você nos maltratasse, mas isso vai acabar Jean Luc. Nunca mais você nos tocará e nós voltaremos a Hogwarts a procura do pai dela. Porque Jean Luc, você nunca foi um pai de verdade para ela. E nunca foi um bom marido para mim. Eu aceitei ficar com você pelas semelhanças que tinha com ele, mas você nunca, nunca conseguiu substituí-lo para mim, Jean Luc. Você nunca chegou aos pés dele.

Sofie ainda aturdida ficava imaginando quem poderia ser seu pai. Ela sabia que o professor tivera poucos amigos, ainda mais entre os Comensais. Então se lembrou de alguém, alguém que fora Comensal e amigo de Snape. Ele era alto, claro e possuía um olhar cruel e fora Sonserino. Isso explicaria o que o chapéu seletor dissera a ela.

- "Lúcio Malfoy! Só pode ser ele, só pode ser".

Sofie se lembrou de quando o enfrentara e o derrubara. Malfoy realmente parecia com seu pai, grosso, orgulhoso e autoritário. Sua mãe desmaiara naquela ocasião em que ela falara de Malfoy, só podia ser ele. Ela ficou muito triste, tanto Jean Luc quanto Malfoy eram terríveis. Ela teve pena de sua mãe, ela amava Malfoy e foi perseguida por isso. Pelo menos Snape não queria que nada houvesse acontecido com Verônica e a procurava. Sofie saiu de seu quarto, desesperada, desceu as escadas rapidamente e tentou sair, mas o motorista e a governanta a impediram e chamaram por Jean Luc.

- Onde pensa que vai? - bradou Jean Luc a segurando pelo braço.

- Tire as mãos de mim! - gritou Sofie. Todos os vidros da casa se quebraram e Jean foi lançado ao ar. - Nunca mais irá me tocar, você não é meu pai!

Jean Luc tentava se levantar, mas batera fortemente a cabeça e estava tonto. Marie percebeu que ele segurava o bolso de seu casaco, correu até ele e conseguiu lhe tirar sua varinha. Quando Sofie nasceu e ele percebeu o poder que ela tinha, Jean Luc forçou Marie a entregá-la a ele, ou então a deixaria e diria aos Comensais onde elas estavam. Marie não teve opção senão aceitar.

- Agora Jean Luc, você nunca mais nos fará mal. - dizia Marie trêmula - Nunca mais tocará em Sofie, nunca mais permitirei mais que machuque minha filhinha, ela não merece um pai como você. Eu nunca deveria ter permitido que ela acreditasse que seu pai era você, um patife.

- O que isso importa maman? Meu pai era mesmo um patife, não era? Ele era um Comensal e por isso a senhora quase morreu, eu sei, eu o conheci e ele me odeia. Porque se envolveu com ele? Por quê maman? Como pôde? Ele é tão mau!

- Sofie! - exclamou Marie se aproximando dela - Filha eu...

Sofie não quis ouvir, estava muito atordoada e magoada ainda por ser filha de Malfoy. Ela sabia o quanto ele era mau, Jean Luc era ruim, mas Malfoy era pior ainda e ela também sabia de tudo que ele fazia a Draco. Sofie correu para fora de casa, nevava muito, mas ela queria fugir de lá e sua tinha sua varinha agora, ficaria bem. Marie tentou alcançá-la, mas Sofie era muito rápida e Marie a perdeu na nevasca, não teve outra opção senão voltar para casa.

- Jean Luc! - Marie apontava sua varinha para ele - Suba, vá para seu quarto, não quero vê-lo mais. Quem manda aqui, agora sou eu.

- O que vai fazer Marie?

- Com você? Não sei ainda, mas não tenho mais medo, vou procurar ajuda. - Marie o encarava seriamente - Agora suba!

Jean Luc obedeceu, temia a magia que ela poderia fazer.

Marie foi até a biblioteca, pegou o telefone, hesitou um pouco, mas se decidiu e fez a ligação.

- Já é hora de todos saberem a verdade! Verônica... está na hora de você voltar.

- Residência dos Owen. - disse a voz do outro lado do telefone.

- Por favor, eu gostaria de falar com o senhor Robert Owen.