Notas da autora: esta história foi criada por mim, Bao e Firuze há algum tempo. Era para ter sido escrita por todas nós, mas nos envolvemos em projetos diferentes e as idéias foram colocadas de lado. Decidi escrever isso porque estava precisando trabalhar em algo diferente.

Para Jo-chan

Disclaimer: I don't own and I never will. Life just isn't fair.

~~ O conto de fadas de Kaoru ~~

História de: Bao Blossom,
Firuze Khamune e
Hana Himura
Escrita por: Hana Himura
Editada por: KayJuli.

Kaoru olhou para o céu e suspirou. Havia chovido nos últimos dois dias e não parecia que iria parar logo. Era entediante. Todas aquelas gotas, caindo do céu... Tão entediante. Não havia nada para fazer.

Praticaria com Yahiko, se o garoto não houvesse pegado um resfriado. Até mesmo Kenshin não conseguia fazer suas tarefas com toda aquela chuva. Kaoru enrubesceu. Gostava de observá-lo quando ele estava ocupado com alguma outra coisa. Era um dos únicos momentos do dia em que ela estava realmente feliz: quando poderia ver seu doce rurouni molhando suas mãos na tina de lavar roupa. Isso a fazia imaginar que tipo de marido ele seria algum dia. Aquele pensamento a fez enrubescer ainda mais. Era sua maior fantasia... ser a esposa de Kenshin. Porém, era tudo que isso era: uma fantasia.

Conseguia imaginar-se no futuro, ainda esperando que Kenshin se declarasse. Como ele era lerdo! Talvez ele pensasse que ela fosse muito jovem e inocente. Nah! Quem ela estava enganando? Ele era apenas lerdo. Ponto. Apenas um idiota que não agarraria a felicidade se ela lhe batesse na cabeça (ela já havia tentado isso).

Kaoru foi acordada de seu devaneio com o som de algo sendo quebrado. Sabia que o som havia vindo de seu quarto, mas quem estava lá e por quê? Chegando até o quarto, esqueceu as perguntas anteriores, porque Kenshin estava lá, ajoelhando-se ao lado do que havia sido o vaso precioso de sua mãe.

"Na...ni?" Kaoru disse, sem esboçar reação.

"Kaoru-dono..." Kenshin murmurou. "Sessha-"

Ela sabia que viria uma explicação, mas estava muito chocada para escutá-la.

"O vaso de minha mãe." Kaoru declarou. "Quebrado."

"Gomen nasai." Kenshin disse, olhando para o chão. "Eu não pretendia... Sessha apenas..."

"Quebrado." Kaoru repetiu. "Era a coisa mais preciosa que eu tinha dela... E agora se foi."

"Gomen nasai." Kenshin disse mais uma vez, evitando olhá-la nos olhos.

Kaoru ajoelhou-se e começou a recolher os pedaços. Kenshin tentou ajudá-la, mas ela disse um alto e claro:

"NÃO!" Kaoru sentiu-se envergonhada por haver gritado daquela forma. Por alguma razão absurda, sentia-se triste por causa do vaso, mas não conseguia culpar Kenshin por havê-lo quebrado. "Gomen... É meu... Vou limpar..."

"Eu quebrei... Ao menos deixe que eu ajude."

"Apenas me deixe sozinha." Kaoru disse, sem levantar sua voz.

Kenshin olhou para ela, com uma expressão de assombro e saiu do quarto, sem dizer mais uma palavra.

Kaoru juntou todos os pedaços, sem saber o que fazer com eles. Havia sido algo precioso, mas agora estava quebrado. Foi então que ela viu as flores no chão. Havia Kenshin lhe trazido flores? Onde havia conseguido flores com um tempo tão ruim?

Kaoru aspirou as flores. Não eram frescas, mas ainda eram bonitas. Por que Kenshin havia lhe trazido flores? O que isso poderia significar?

***

"Kenshin no baka..." Kenshin suspirou alto. Como poderia ter sido tão desajeitado e quebrar algo precioso a Kaoru? A expressão de dor no rosto dela era pior do que suas explosões furiosas.

Havia estado na cidade antes, para buscar o remédio de Yahiko. No caminho de volta ao dojo, a chuva começou a cair mais forte, então ele buscou abrigo no primeiro lugar que conseguiu enxergar: uma loja de flores. A dona reclamou que era impossível conseguir flores frescas com toda aquela chuva e que as flores que tinha em loja logo estariam arruinadas.

Kenshin sentiu pena da mulher e decidiu comprar algumas flores. Levar-las-ia a Kaoru-dono para animá-la. Sabia que o tempo a fazia se sentir deprimida. Quando tentou pagar pelas flores, a dona recusou-se a aceitar seu dinheiro.

"Não posso o cobrar por estas flores. Não estão frescas." A mulher disse.

Quando Kenshin insistiu em pagar, a mulher adicionou:

"Leve-as para aquela sua bonita esposa. Quando a chuva parar, você pode vir novamente e comprar a ela flores frescas."

"Minha... Esposa?" Kenshin balbuciou.

"Vi vocês juntos no mercado. Formam um lindo casal."

Kenshin levou as flores e não compreendeu porque não disse à mulher que Kaoru não era sua esposa. Quando chegou em casa, foi direto ao quarto dela para colocar as flores. Seria uma agradável surpresa para ela. Quando entrou, porém, viu algo que não havia notado antes. Era um velho vaso de porcelana sobre a cômoda de Kaoru. Kenshin colocou as flores no chão, então o inspecionava.

Tinha um desenho interessante: um casal, de pé ao lado de uma árvore de cerejeira. Pétalas de cerejeira caíam em torno deles. Imaginou a si mesmo e Kaoru sob aquela árvore. Era bom estar perto dela. Sua presença acalmava o coração de Kenshin e fazia com que ele se sentisse feliz sem razão alguma. Bem, isso não era inteiramente verdade. Ela era a razão.

Kenshin virou o vaso e ele escorregou de seus dedos, como se não quisesse ser examinado e caiu, antes que ele pudesse fazer qualquer coisa com relação a isso. Ajoelhou-se ao lado dos pedaços do vaso e foi então que Kaoru entrou no quarto.

Realmente, Kenshin no baka. Ela não precisava o chamar assim. Ele sabia que era um idiota. Um idiota desastrado. Kaoru tinha todo o direito de ficar zangada, gritar e fazê-lo realizar o dobro de tarefas que estava habituado. Porém, ela não ficou zangada. Ao invés disso, ela estava triste. Havia a feito triste.

A chuva havia acabado de parar, mas a bagunça já estava feita. Kaoru vestiu-se e saiu, sem lhe dizer uma palavra. Kenshin achou que merecia a punição do silêncio.

***

Kaoru jogou fora os pedaços do vaso de sua mãe. Havia sido um presente de seu pai no dia em que se casaram. Não conseguiu entender como não conseguia ficar zangada com Kenshin. O vaso lhe havia sido precioso. Era uma memória de sua mãe. Sabia que estava triste em perdê-lo, mas não tão triste como deveria estar.

Naquele momento, tudo que Kaoru queria era estar sozinha e pensar sobre o assunto. A chuva havia parado, então decidiu fazer um passeio pela cidade. Seria um agradável passeio - tão agradável quanto um passeio pode ser quando as ruas estão cobertas de lama. Kaoru não se importou com isso. Não se importava em sujar seus sapatos e seu kimono com lama.

Estava se aproximando do Akabeko, quando viu um velho senhor escorregar e cair na lama. Kaoru correu para o ajudar a se levantar.

"Tudo bem, senhor?" Kaoru perguntou.

Apesar da lama, ela podia ver que ele estava pobremente vestido.

"Obrigado, minha jovem." O homem disse, com um grande sorriso em seu rosto. "Você é muito gentil."

O homem inclinou-se para pegar um saco na rua lamacenta.

"Estou sem sorte." O homem suspirou. "Primeiro este tempo horrível durante a minha jornada... Agora não consigo encontrar minha sobrinha. Ela deveria morar perto daqui, mas tudo é tão diferente que a última vez que vim a Tokyo."

"Ah... Então acabou de chegar à cidade."

"Sim. Sou um vendedor ambulante. Apesar de que dificilmente posso chamar a mim mesmo de vendedor, nestes dias. Tenho sorte quando posso vender algo que pague pelas minhas refeições." Quando ele disse isso, seu estômago fez um ruído de protesto. O velho pareceu embaraçado.

Kaoru sorriu. Gostou do senhor, ele parecia bom.

"Vou lhe pagar almoço, senhor." Kaoru disse, com um sorriso.

"Você realmente é uma pérola, minha jovem, mas não posso aceitar. O que seu marido iria pensar se você gastasse seu dinheiro com um velho sem valor como eu?"

"Eu não sou casada!" Kaoru disse, prontamente.

"Então... Ele ainda não percebeu o quão especial você é." O homem disse, pensativamente.

"Como...? Como você sabe que há alguém?"

"Você tem aquele brilho em seu rosto, como aquele das pessoas apaixonadas. Apesar de que há uma nuvem em seus olhos... Ele não fez algo idiota, fez?"

"Ele... Quebrou algo precioso para mim."

"Tenho certeza que não foi de propósito, minha jovem."

"Por favor, permita que eu o convide para almoçar. Pense nisso como um presente de boas vindas de Tokyo." Kaoru quase implorou.

O homem coçou a cabeça.

"Geralmente não aceito caridade, minha jovem, mas se você insiste em pagar pela minha refeição, dar-lhe-ei algo em troca."

"Parece justo." Kaoru sorriu, guiando o homem ao Akabeko.

Sentaram-se em um mesa e Kaoru pediu a comida. Durante todo almoço, o homem matraqueou sobre sua sobrinha, que ele disse que era dona de uma loja e uma excelente vendedora. Ela conseguia vender qualquer coisa a qualquer pessoa, mas como um passatempo, ela gostava de brincar de casamenteira. Ele disse que ela conseguiria até fazer um cão e um gato se apaixonarem, isto é, se eles estivessem dispostos a isso. Quando o almoço terminou, o homem olhou para Kaoru e disse:

"Tenho algo que irá ajudá-la com aquele rapaz que você ama." O homem abriu o saco e procurou por algo em seus pertences. "Aqui está."

Ele colocou um livro sobre a mesa. Tinha uma capa dura marrom e parecia muito velho.

"Este livro é muito especial." O homem explicou. "Estou dando a você porque eu caí muitas vezes hoje e você foi a única pessoa que me ajudou a levantar. Isso prova que você é uma boa pessoa. Por isso você pode ficar com o livro. Ele irá fazer com que você veja as coisas mais claramente. Talvez possa lhe ensinar algumas coisas úteis."

Kaoru pegou o livro. Ele parecia quente em suas mãos. Por alguma razão, aquele livro fazia com que ela se sentisse bem.

"Arigatou." Kaoru agradeceu.

Depois de pagarem a conta, saíram do Akabeko.

"Obrigado pelo almoço maravilhoso, minha jovem. Agora devo me despedir."

"Espere! Eu vou ajudá-lo a encontrar sua sobrinha." Kaoru voluntariou-se.

"Domo arigatou, mas eu acho que já sei onde estou. Posso encontrar o caminho."

"Tem certeza?"

"Sim. A floricultura da minha sobrinha é dobrando aquela esquina. Foi um prazer conhecê-la, Kamiya-san. Espero que o livro possa ajudá-la." O homem deu alguns passos, antes de virar-se novamente. "Ah... Eu sugiro que você o leia à noite, quando estiver sozinha. Adeus."

"Adeus." Kaoru disse, vendo o homem dobrar a esquina, antes de começar a caminhar para casa.

"Deveria ter perguntado o nome dele." Kaoru disse a si mesma, após alguns minutos. Apenas então percebeu que não havia dito seu nome ao homem e que ele havia a chamado 'Kamiya-san'. Um arrepio percorreu sua espinha.

Um raio iluminou o céu e começou a chover novamente. Kaoru não pensou mais sobre isso, enquanto corria para casa.

***

Kaoru deu o remédio para Yahiko. Sua febre havia baixado, graças aos cuidados de Kenshin, mas o garoto ainda estava quieto e cansado. Kaoru sentiu-se afeiçoada pela criança doente. Tinha vontade de abraçá-lo e beijar sua testa. Isto é, se ele não houvesse aberto a boca.

"É amargo!"

"É remédio. Você tem que tomar para ficar bem."

"Está provavelmente tentando me envenenar... Busu!"

"Sua criança ingrata! Estou apenas tentando cuidar de você!"

Como Kenshin conseguia lidar com aquele peste, era um completo mistério para ela. Yahiko sempre fazia o que Kenshin pedia. Admirava-o. Por que o garoto não poderia ter o mínimo de respeito por ela, que era sua professora?

"Eu não quero que ninguém cuide de mim! Não preciso que ninguém cuide de mim..." Yahiko gritou.

"Quem irá lhe dar o remédio, então?"

"Kenshin."

"Bom, Kenshin não está em casa!" Kaoru gritou de volta.

Kenshin havia saído durante a tarde, apesar de estar chovendo. Não disse onde estava indo e quando voltaria. Talvez quisesse dizer, mas Kaoru ainda não estava conversando com ele.

Depois de finalmente conseguir convencer Yahiko a tomar o remédio, Kaoru foi à cozinha para fazer chá para si mesma. Conseguia sentir seus músculos tensos, provavelmente por discutir com o garoto. Um chá iria ajudá-la a se acalmar.

"Kenshin... Por que você tem que sair e me deixar com um menino que é uma peste?" Kaoru murmurou para si. "Como consegue manejá-lo?"

"Você sabe..." Uma voz a surpreendeu. "Se você o trata como uma criança, ele vai agir como criança. Tem que tratá-lo como um igual e ele a respeitará."

"Kenshin!" Kaoru quase gritou, colocando uma mão sobre o peito.

"Quando ele a provoca e você retruca, ele a trata como uma igual. Ele a rebaixa ao nível dele."

"Você está dizendo que eu ajo como uma criança?"

"Não."

"Está insinuando isso."

"Kaoru-dono..."

"Kaoru-dono o quê? O que iria dizer? Não aja como criança? Eu não sou criança! Quando você vai parar de me ver como uma?" Kaoru gritou e saiu da cozinha, com passos pesados.

Kenshin respirou fundo. Ela era cabeça-dura, mas isso era uma das coisas que a fazia especial. 'Não vejo você como uma criança, Kaoru... Nunca vi.' Kenshin pensou, colocando a mão sobre o bolso interno de seu gi.

Kaoru entrou em seu quarto e deslizou a porta, até que ela fechasse com um alto baque. Como ele ousava chamá-la de criança? Ele, dentre todas as pessoas... Ele, que havia quebrado o vaso de sua mãe. Era isso... Iria puni-lo. Iria lhe dar um gelo. Ele teria que... que... limpar toda a casa até que ela conseguisse ver seu reflexo no chão.

Kaoru estava pensando nos possíveis castigos que poderia infligir a Kenshin, quando viu o livro que o velho havia lhe dado. Estava sobre seu futon. O homem havia dito que o livro iria ajudá-la com Kenshin. Perguntou-se que tipo de livro seria aquele... 'Leia à noite, quando estiver sozinha... O que ele quis dizer com isso?' Kaoru pensou. 'Talvez é um livro hentai... É por isso que eu devo estar sozinha...' As bochechas dela ficaram vermelhas. 'Não vou abrir.'

Kaoru olhou para o outro lado e decidiu fazer alguma outra coisa. Vestiu seu yukata, olhando desconfiadamente para o livro de quando em quando. Encarou o livro, como se ele fosse fugir a qualquer instante. Finalmente, decidiu abri-lo. 'Não vai machucar se eu der uma olhada.'

Kaoru abriu a primeira página.

" 'Era uma vez, no reino de Tokyo, vivia uma linda e gentil princesa.'" Kaoru leu. "Ah! É apenas um conto de fadas."

" 'A princesa vivia só em um dojo, pois seus pais já haviam falecido. Um dia ela desafiou um bravo cavaleiro nas ruas, confundindo-o com um assassino. Após o verdadeiro assassino haver sido encontrado, ela convidou o cavaleiro para viver com ela.' Soa como a minha história com Kenshin." Kaoru deu uma risadinha e continuou. " 'Um dia, a princesa se aborreceu porque o cavaleiro havia quebrado o vaso de sua mãe, e saiu para esclarecer seus sentimentos. Encontrou um homem velho nas ruas e o ajudou. Para agradecer sua gentileza, o homem lhe deu este livro...'" Kaoru olhou para o livro com uma expressão de choque. Era a sua história. Continuou lendo. " 'Quando estava sozinha, começou a ler o livro e descobriu que ele contava a sua história."

"É impossível..." Kaoru murmurou, sem conseguir parar de ler.

'Ela pensou que era impossível, mas ali estava o livro. O que a princesa não sabia é que se tratava de um livro mágico.'

"Livro mágico?" Kaoru quase gritou.

'Sim, um livro mágico que a levaria em uma jornada para fazer seus sonhos realidade.'

"Você está brincando comigo?"

'Não. Livros mágicos não brincam.'

"Então, o que acontecerá em seguida?"

'A princesa começou a se sentir muito sonolenta e seu corpo parecia sem peso. Tentou com afinco, mas não conseguia manter seus olhos abertos. Então, ela adormeceu.'

As pálpebras de Kaoru estavam pesadas. Seus olhos fecharam-se. Sentiu como se estivesse flutuando no ar... Tão cansada que não conseguia mais ficar acordada. Então, ela deslizou para a terra dos sonhos, onde seu próprio conto de fadas estava para começar.

-----------------------
Continua...
-----------------------

Se você leu até aqui, por favor deixe o seu review. Eu estava escrevendo esta história em inglês, mas algumas drásticas alterações na trama me deixaram com vontade de escrevê-la em português. Por favor, diga-me o que acha.