Capítulo 2 - Flora Wilhelm Sommer
- Ei, Neville, soube de algo?
- Não, Rony, ninguém a viu.
- E vocês... Simas, Dino?
- Também não. Ninguém mais a viu, parece que o Snape sumiu a noite passada também.
- É mesmo, ele não estava no jantar. Será que ele a seqüestrou?
- Não diga tolices, Rony. Foi apenas coincidência.
- Hum... Harry Potter defendendo Snape. É uma coisa muito rara de se ver.
- Não estou defendendo ninguém, Rony. Se houvesse acontecido alguma coisa do tipo, Hogwarts toda já saberia.
- Deixem de especulação, garotos. Vamos descer, talvez ela já esteja no refeitório calma e tranqüila e vocês aqui achando que aconteceu algo de errado.
- Sim, senhorita Granger - disse Rony fazendo uma reverência - Sensata como sempre. - ele estendeu o braço a ela - Permita-me acompanhá-la.
- Bobo!
- Está vendo algo, Rony?
- Não! Acho que ela não está... espere! Ela acabou de entrar com a Sprout.
- Por que todos não sentam?
- Porque querem saber o que houve, Hermione. Assim como nós. Por sorte Rony é bem alto.
- Ela está conversando com os professores Flitwick e Sprout... e está rindo.... eheheh... que risada bonita.
- É, dá ouvir daqui. - disse Simas esticando o pescoço.
- O Flitwick parece envergonhado... está todo vermelho, nunca vi um duende assim. A Sprout está balançando a cabeça... a Flora está rindo mais ainda... que bocão, mas ela deve beij... sai da frente idiota.
- O que foi?
- O Malfoy entrou na minha frente. - Rony esticou mais ainda o pescoço, não adiantou e então subiu na cadeira - Ai! - ele desceu rapidinho.
- O que foi agora?
- O Snape... ele acabou de entrar e me olhou fuzilando.
Todos os alunos começaram a se sentar. Dumbledore entrara.
- Vejam, ela é realmente bonita.
- O que será que ela vai fazer aqui? - Hermione estava curiosa.
- Não sei, mas espero que venha trabalhar aqui, talvez ela nos dê aulas ou auxilie Sprout. - disse Rony entusiasmado - Seria muito bom ter uma professora bonita como ela.
- Ai, ai! Você só pensa nisso, Rony. Mamãe disse que nesses assuntos não teve trabalho nenhum com nossos irmãos, mas com você...
- Oras, Gina, eu só a elogiei.
Os alunos ficaram murmurando e especulando sobre Flora. Lá pelo final do desjejum Sprout toda orgulhosa a apresentou.
- Senhores... Gostaria de lhes apresentar a senhorita Flora Wilhelm Sommer. Ela veio a Hogwarts para realizar uma pesquisa sobre as plantas mágicas curativas e agressivas. A senhorita Sommer é especialista em plantas, já recebeu vários prêmios, condecorações, já publicou livros e mais livros. Ela é a melhor do ramo e... - Flora segurou no braço de Sprout, lhe lançou um olhar de súplica e sussurrou a ela.
- Por favor, professora, não!
Sprout pigarreou e continuou.
- Bem, ela fará pesquisas em Hogwarts e eu gostaria que a recebessem bem. Obrigada!
Flora iniciou suas pesquisas imediatamente. Como ela adorava as pesquisas de campo, fez todo o levantamento na biblioteca primeiro, assim poderia depois se dedicar inteiramente às plantas. Em três dias fez o levantamento de todas as plantas mágicas agressivas e curativas da Floresta, bem, de pelo menos as que estavam catalogadas.
- O que fará amanhã, Flora?
- Amanhã irei conversar com a Murta, arei aos jardins, verei Jeanie e verificarei algumas árvores.
- Achei sua... "amiga" bastante interessante, querida. Não via uma daquelas desde que seu pai morreu... - Sprout percebeu o fora - Desculpe-me, querida, não queria lembrá-la disso.
- Tudo bem, professora. Não há problema algum, mas agora, com licença, vou até as estufas replantar essa raiz, ela cresceu bastante e não está cabendo mais no vaso. Se bem que acho que não vou encontrar um lugar frio e totalmente escuro enquanto as folhas brotam e comecem a crescer.
- Realmente, querida, terá dificuldade. A primavera este ano está sendo muito quente e há sol e calor em todo o jardim e as estufas também são quentes. E essa Anilaria é tão sensível...
- Bem, vou procurar pelo castelo, deve haver um lugar bom para ela. - Flora desceu até as estufas e trocou a raiz de vaso, depois foi procurar um lugar escuro e frio para ela, mas não encontrou nenhum, onde não havia luz era quente e abafado e onde estava frio havia claridade das velas e a maioria dos lugares era quente, iluminado e cheio de gente.
Aquela plantinha era muito delicada, precisava brotar na primavera, mas sem tomar luz alguma e o calor a sufocava antes que ela florescesse, Flora já estava desanimada e achou que a plantinha ia morrer quando se lembrou de um lugar, lá seria ideal, era frio escuro e silencioso. A planta ficaria bem lá, ela então jantou e se dirigiu ao lugar e um pouco apreensiva bateu à porta.
- Pois não! - era Snape que abria a porta de sua sala. Ele se surpreendeu em ver Flora lá e novamente sentiu o doce cheiro de flores dela.
- Com licença, professor. Desculpe-me incomodá-lo, mas... eu gostaria de lhe pedir um favor.
- Entre, senhorita Sommer. - convidou Snape. Flora entrou - Que favor seria?
- Eu gostaria de sua permissão para deixar esta planta em uma das masmorras. Aqui é frio e escuro e... o senhor usa todas elas? - Flora segurava o vaso tremulamente.
- Não, mas... aí só há terra. - afirmou Snape observando o vaso.
- Não! Plantei uma raiz e ela ainda não brotou. Ela não pode receber luz ou calor até brotar.
- Pode deixá-la na última masmorra, não há nada nela.
- Obrigada, professor! - Flora agradeceu com um belo sorriso - Como vai com as folhas que lhe trouxe?
- Muito bem, senhorita. Dentro de dois dias estará pronta, venha ver. - Snape a levou até um borbulhante caldeirão - Ela ficou espessa como nas suas instruções, é realmente fascinante...
Snape parou de falar, a moça parecia absorta no caldeirão, ele notou que os olhos dela voltaram a lacrimejar.
- Senhorita Sommer, está bem?
Flora se voltou a ele sorrindo.
- Sim, estou ótima! Vejo que está indo muito bem com as folhas, com certeza conseguirá ajudar seu amigo. Levarei a planta até a última masmorra então, tem certeza de que não vai atrapalhar?
- Definitivamente não. Como eu disse ela está vazia e eu não a utilizo nunca. Venha, abrirei a porta para a senhorita. - Snape a conduziu até a sala, abriu a porta, iluminou a ponta de sua varinha e ela pode vê-la.
- É de fato perfeita! - Flora colocou o vaso no centro da escura masmorra e saiu - Ela brotará em três dias, suas folhas crescerão até a próxima lua crescente aí eu a levarei ao jardim onde ela florescerá em um mês.
- É uma planta complicada, senhorita e bastante... sensível.
- Ela é mesmo, mas quando floresce... - os olhos de Flora brilharam - É maravilhosa! E desta vez será especial, teremos uma lua azul este mês.
- É verdade, uma lua azul... é bastante rara, mas o que isso tem a ver com ela?
- É que esta Anilaria florescendo na lua azul... ela... Acho melhor não contar, quando chegar a hora eu lhe mostro, é maravilhoso. - Flora sorria imaginando a planta florescendo, Snape a observava intrigado, algo nela parecia estranho. Ele não sabia se era pela moça estar sempre sorrindo ou por ela tê-la visto lacrimejando por duas vezes seguidas, sem motivo aparente.
- Professor, eu gostaria de lhe pedir também um auxílio. Eu preciso testar algumas plantas e... - Flora hesitou um pouco - O senhor é o melhor nisso, digo... não sei como... sou um pouco desastrada e...
- A senhorita quer que eu a auxilie testando as plantas nas poções.
- Sim! Isso mesmo! Tenho receio de errar e não saber se foi com a planta ou com a poção. No Brasil, Duarte era o encarregado disso e... nós trabalhávamos em equipe.
- Será um prazer ajudá-la, senhorita. E a propósito... Como vai com suas pesquisas?
- Bem! Já cadastrei todas as ... - Flora se calou diante de um sinal de silêncio que Snape fez. Parece que ele ouviu algo nos corredores. Silenciosamente ele caminhou para a direção em que ouvira o barulho, Flora o seguiu quieta e também pôde ouvir um murmúrio. Eles viraram um corredor e da escuridão viram cinco garotos.
- Ande logo, coloque mais, Harry.
- Calma, Rony, as bombas têm que ficar na distância certa, assim o efeito será melhor.
- Eu não devia ter vindo com vocês, se nos pegarem... estaremos perdidos.
- Não se preocupe, Neville, não nos pegarão. Estamos quase terminando.
- Eu adoraria ver a cara do chato e ranzinza do Snape quando as bombas explodirem e o sujarem de estrume. - disse Dino escondendo uma bomba na parede.
- Será incrível! Ainda bem que Rony e Harry conseguiram esses sacos na sala da McGonagall, ela havia confiscado todos.
- É! Mas quase fomos pegos, depois de ajudarmos a Sprout com aquela planta maluca, Snape, o morcegão da escuridão nos encontrou. - disse Harry se lembrando.
- Mas não descobriu nada, só nos tirou pontos, vamos colocar logo as bombas e... - Rony ficou quieto e inspirou profundamente - Estão sentindo esse cheiro?
- Cheiro? Mas esses sacos são exatamente para não deixar o estrume... - Harry parou de falar, também sentiu o cheiro - É mesmo, um cheiro bom... de... flores...
- Está mesmo... - concordou Neville - Deve ser do jardim, é logo aqui do lado.
- Por que será que está cheirando tão forte?
- Não sei, Simas, mas... é delicioso. Sabe o que me lembra? - disse Rony sorrindo.
- O quê? - indagaram os quatro amigos.
- O cheiro da senhorita Flora Sommer. - respondeu Rony passando a mão pelo rosto - O cheiro dela é demais!
- É mesmo! - concordou Simas - E vocês já viram quando ela anda?
- Sim! Que balanço! Toda empinadinha! Ela é brasileira, é por isso.
- Não deviam falar assim. - censurou Neville - Pena que ela não nos dá aulas também. Ela é realmente muito boa em Herbologia.
Os quatro amigos olharam para Neville querendo lhe dar um chacoalhão.
- Acorda, Neville! Quem aqui quer aprender Herbologia com ela?
- Gostaríamos de aprender outras coisas...
- Não sejam desrespeitosos. - retrucou Neville.
- Não estamos sendo.
- Não ainda!
- Mas se ela quiser, eheh... não me importaria de "pesquisar" algum arbusto com ela. - disse Rony maliciosamente.
- Que horror, Rony!
- Horror, Neville? Aquela deusa deve ter tudo no lugar. Aposto que ela nua deve ser maravilhosa. Aqueles seios enormes... aquela cinturinha fina... e como ela é alta, deve ter um quilômetro de pernas... Aquilo é mulher que não acaba mais. Quantos anos será que ela tem?
- Vinte e seis! - disse Snape saindo da escuridão e assustando os cinco Grifinórios. Ele lançou seu olhar mais aterrorizante e lhes disse com sua voz ultraletal - Muito bem! Vejo que tenho uma grande lista de infrações aqui. Acho que estão encrencados, senhores. Estão fora de seus dormitórios após o horário permitido, instalaram artefatos proibidos nos corredores do castelo e referiram-se desrespeitosamente a um professor e a uma pesquisadora de Hogwarts. Deixe-me ver... para cada um de vocês... vinte pontos a menos por não estarem em suas casas... trinta pontos a menos pelas bombas e cem a menos pelo desrespeito.
- Pelo menos as bombas não explodiram - murmurou Simas a Dino, mas Snape o ouviu e apontou sua varinha para as bombas.
- Buuuumm!!! - as oito bombas explodiram em volta dos garotos. Realmente o efeito foi incrível, eles colocaram quatro bombas no chão, duas de cada lado do corredor, com dois metros de distância entre elas e mais quatro nas paredes da mesma forma, a dois metros do chão. O estrume os cobriu por inteiro.
- Ah... menos cinqüenta pontos pelo barulho e pela sujeira. Cumprirão detenção durante sete noites seguidas, amanhã lhes informarei qual será... - Snape se aproximou mais deles e deu um pequeno e maldoso sorriso - Mas, acho que o pior castigo virá agora, não lhes pouparei a vergonha. - Snape olhou para trás e fez um sinal para Flora se aproximar, ela saiu da escuridão e parou ao lado dele.
Os alunos arregalaram os olhos, ela os ouvira dizer aquelas coisas e agora os encarava séria.
- Acho que devem desculpas à senhorita. - sibilou Snape.
- D-d-des-des... - gaguejaram eles. Não conseguiam falar, a vergonha era muita.
- A senhorita está esperando. - insistiu Snape.
- Desculpe-nos, senhorita Sommer.
- Não queríamos ofendê-la.
- Nem desrespeitá-la.
- Fomos grosseiros e...e...
- Perdoe-nos.
Flora apenas assentiu com a cabeça mantendo a expressão séria.
- Agora, limpem tudo isso e sem magia imediatamente, não há como a senhorita Sommer passar e já é tarde. - Snape se voltou para Flora - A senhorita esqueceu um livro em minha sala no dia em que chegou, vamos buscá- lo, talvez quando voltarmos esses garotos já tenham limpado tudo.
Snape deu as costas aos alunos e se dirigiu a sua sala acompanhado por Flora. Ele parecia bastante zangado com o que eles disseram.
- Senhorita Sommer, peço que desconsidere o que ouviu. Não quero que pense que todos os alunos de Hogwarts são... - Snape foi interrompido por Flora que começou a gargalhar histericamente levando a mão à boca tentando se conter. Snape ficou desconcertado.
- "Como ela ri daquelas ofensas todas? - pensou ele vendo que ela não parava - Será que está em choque?"
Flora se sentou em uma cadeira, ela estava vermelha como um pimentão, quase não conseguia respirar e engasgou.
- Senhorita... está bem? - Snape foi até ela e a acudiu. Ele a fez se levantar, abriu os braços dela e a fez endireitar a cabeça. Flora foi se acalmando e recuperando o fôlego e agora apenas sorria, arfando apoiada a Snape.
- Professor... obrigada... eu... eu... - ela mal conseguia falar. Snape lhe deu copo d'água para, ela bebeu e ficou mais controlada.
- Desculpe-me, professor, mas foi tão engraçado... os rostos deles, cheios de estrume e com aquela expressão... ficaram realmente envergonhados.
- Ficaram mesmo, mas... eles a ofenderam. A senhorita deveria estar zangada, não?
- Eu? Bem... eles não ofenderam propriamente. Não é mesmo?
Desta vez Snape ficou envergonhado. Realmente até ele concordava com o que os garotos disseram.
- Eles são adolescentes... e lá no Brasil geralmente é assim, já me acostumei e passei a achar graça, mas lógico, não na frente dos abusadinhos.
Snape deu um sorriso torto e foi pegar o livro na estante, nesse momento Vladmir voou sobre a masmorra assustando Flora.
- Aaaah!!! - gritou ela se escondendo atrás de Snape - O que é aquilo?
- Calma senhorita... é apenas meu morcego... de estimação. Ele não lhe fará mal.
- Morcego de estimação? - ela ficou mais aliviada - Ele deve ser novo, não? Eram algumas cobras antigamente... se não me engano.
- Exatamente! Tem uma boa memória, senhorita.
- Sim e uma cicatriz até hoje no tornozelo.
- Como?
- N-nada!
Snape pegou o livro a que se referira no corredor e entregou a ela.
- Tome! É o livro que deixou aqui. Eu o guardei sem perceber que não era meu. É de seu pai, não é?
- Sim! Ele... ele era muito bom Herbólogo. Obrigada!
- Não precisa agradecer. Sente-se, senhorita, aqueles garotos devem demorar um pouco. Conte-me sobre o Brasil, nunca estive lá, ouvi dizer que é um país bastante interessante.
- Realmente, é muito interessante. É tão diferente daqui, as pessoas são...são calorosas e cheias de vida. Eu andei pelo mundo todo e nunca encontrei nada parecido, em lugar algum. Há uma naturalidade no modo de falar, no modo de se vestir e de tratar os outros. Eu nasci lá, mas meu pai me criou aqui na Inglaterra desde os três anos, então quando fui para lá achei tudo novidade e me apaixonei. Por isso que sempre volto para lá, adoro o país, ele é tão diferente, grande e diversificado. Encontram-se tantas coisas incríveis lá. - Flora ficou contando sobre os costumes do país, sobre o clima, as praias maravilhosas que ela e Duarte adoravam e das comidas extravagantes que experimentara. Ela evitou falar das plantas (pois da última vez que estivera com o professor já falara demais). Ela contou da música exuberante e diversificada e das festas regionais.
- A maior delas é o Carnaval É incrível! As pessoas saem às ruas dançando e pulando ao som de uma música bem animada, fantasiadas de diversas coisas e ela dura dias, o país todo praticamente para. Eu particularmente não participo, mas é bastante interessante de se ver.
- Que ritual estranho! Sair às ruas para que?
- É que há desfiles de carros todos equipados e enfeitados. Alguns grupos se organizam e competem entre si para ver quem se sai melhor. Esses grupos são chamados de Escolas de Samba. As pessoas se reúnem para assistir e escolher a melhor.
- E qual é o objetivo disso?
- Nenhum! É apenas por diversão.
- Diversão? - estranhou Snape - Só isso? Não compreendo esse tipo de coisa, é irracional.
- No começo eu também não compreendia, mas com o tempo aprendi a apreciar. É bastante bonito e divertido. Mas nem todos vêm desfiles, as pessoas gostam muito de dançar atrás de um trio elétrico...
- Um o quê?
- Trio elétrico. É um grande carro com equipamento de som. Alguns cantores sobem neles e cantam para o povo que o segue durante a noite toda dançando freneticamente pelas ruas.
- Eles ficam enfeitiçados? - indagou Snape. Flora abriu um grande sorriso.
- Não! Eles ficam apenas dançando e... não há como explicar, e senhor teria que ver para entender. Acho que Duarte tem algumas revistas sobre isso, vou pedir para que ele as mande para mim. Assim o senhor entenderá.
Flora ficou contando sobre outros assuntos para Snape, que parecia bastante interessado. Ela falava muito bem e ele admirava sua alegria, Flora parecia muito feliz com o que fazia e onde vivia. Ela parecia conhecer todos os costumes e detalhes de cada região do imenso país e Snape ficou impressionado com a desenvoltura dela. Flora sempre fora tímida e retraída e agora parecia extrovertida e expansiva. Eles ficaram conversando por horas e à medida que o tempo passava a conversa ficava mais animada. Snape até já ria de algumas histórias engraçadas. Ele serviu vinho para os dois e a conversa foi ficando mais animada ainda.
- Aprendi a usar todos os objetos trouxas. Duarte me ensinou a dirigir e passei a adorar carros. Eles são tão interessantes e tão coloridos e tem um botaõzinho neles que a gente aperta e eles começam a gritar. Chama-se buzina.
Snape riu achando aquilo estranho, mas engraçado. Ele nunca entrara em um carro trouxa.
- Fiquei totalmente viciada. Havia época que não perdia um capítulo sequer, Duarte tinha que me arrancar da frente da televisão. E há tantas, as pessoas até discutem sobre elas nas ruas.
- Da primeira vez comi tanto que tive indigestão. Só não comi os pés, o rabo e a orelha do porco, mas aquele feijão... é ótimo.
- Aprendi a cozinhar e Duarte adora minha comida, às vezes pede para eu cozinhar para ele mesmo quando estamos hospedados em um hotel.
- No calor as pessoas usam pouquíssimas roupas e há tantas praias maravilhosas. Duarte e eu adoramos praias.
Flora contava, gesticulava e ria muito. Snape ficou enlevado com ela. Há muito tempo que ele não se distraía ou tinha uma conversa do tipo, totalmente casual e sem um objetivo específico. Aquela era apenas uma conversa.
- Os trouxas de lá adoram futebol, são totalmente fanáticos, mais que os bruxos por Quadribol.
- É maravilhoso! A única coisa que sinto falta lá é da neve. Mesmo nos lugares mais frios neva muito pouco, o que é uma pena. Mas o resto é formidável.
- Por tudo o que me contou deve ser mesmo. Agora me sinto um conhecedor da cultura brasileira. - brincou Snape sorrindo.
- O senhor tem que ir lá. Irá gostar.
- Quem sabe, senhorita Sommer...
- Ah, por favor, lá no Brasil o tratamento é mais informal e eu me acostumei. Eu gostaria que me chamasse de Flora.
Snape se surpreendeu com o pedido.
- Claro... Flora. Mas... na primeira oportunidade que eu tiver, irei até lá.
- Se precisar de uma guia, estarei a sua disposição. O país é imenso e é fácil se perder por lá.
O caldeirão borbulhou, Snape foi até ele e conferiu se estava tudo bem. Flora o seguiu.
- Bem, professor Snape... tagarelei demais. O senhor já deve estar com a cabeça doendo de tanto me ouvir falar. Acho melhor eu ir.
- Absolutamente não, Flora! A conversa está muito agradável, mas já é tarde, é melhor que vá mesmo ou Sprout aparecerá aqui novamente procurando por você. Aqueles garotos já devem ter limpado todo o corredor.
Flora pegou seu livro e Snape a conduziu pelos corredores.
- É, eles limparam mesmo aqui. - observou Flora - Pensei que ia durar a noite toda.
Quando Snape e Flora se aproximavam da grande porta de entrada das masmorras, alguém a abriu e entrou.
- Senhorita Granger, o que faz aqui há esta hora?
- Bem, professor, estou indo para sua aula. - disse Hermione estranhando a pergunta. Snape a olhou confusamente. "Aula?" - Toda terça pela manhã o senhor dá aulas para o sexto ano de Grifinória e Sonserina. - neste momento vários alunos Sonserinos e Grifinórios entraram pela porta e se dirigiram a sala de aula com Hermione.
Snape e Flora ficaram se olhando surpresos, realmente o tempo passara rápido demais. Harry, Rony, Neville, Dino e Simas chegaram cheios de olheiras por terem passado metade da noite acordados limpando a sujeira das bombas e ficaram petrificados diante deles, principalmente Rony que ficou mais vermelho que seus cabelos.
- Bem, professor Snape, muito obrigada pela... atenção. Atém mais, com licença! - Snape assentiu com a cabeça e Flora se foi. Ele pôde constatar que realmente ela tinha um... balanço diferente, os garotos também olharam.
- Senhores... - sibilou Snape. Os cinco alunos se voltaram a ele - Para a sala! - eles o obedeceram prontamente.
- Ei, Neville, soube de algo?
- Não, Rony, ninguém a viu.
- E vocês... Simas, Dino?
- Também não. Ninguém mais a viu, parece que o Snape sumiu a noite passada também.
- É mesmo, ele não estava no jantar. Será que ele a seqüestrou?
- Não diga tolices, Rony. Foi apenas coincidência.
- Hum... Harry Potter defendendo Snape. É uma coisa muito rara de se ver.
- Não estou defendendo ninguém, Rony. Se houvesse acontecido alguma coisa do tipo, Hogwarts toda já saberia.
- Deixem de especulação, garotos. Vamos descer, talvez ela já esteja no refeitório calma e tranqüila e vocês aqui achando que aconteceu algo de errado.
- Sim, senhorita Granger - disse Rony fazendo uma reverência - Sensata como sempre. - ele estendeu o braço a ela - Permita-me acompanhá-la.
- Bobo!
- Está vendo algo, Rony?
- Não! Acho que ela não está... espere! Ela acabou de entrar com a Sprout.
- Por que todos não sentam?
- Porque querem saber o que houve, Hermione. Assim como nós. Por sorte Rony é bem alto.
- Ela está conversando com os professores Flitwick e Sprout... e está rindo.... eheheh... que risada bonita.
- É, dá ouvir daqui. - disse Simas esticando o pescoço.
- O Flitwick parece envergonhado... está todo vermelho, nunca vi um duende assim. A Sprout está balançando a cabeça... a Flora está rindo mais ainda... que bocão, mas ela deve beij... sai da frente idiota.
- O que foi?
- O Malfoy entrou na minha frente. - Rony esticou mais ainda o pescoço, não adiantou e então subiu na cadeira - Ai! - ele desceu rapidinho.
- O que foi agora?
- O Snape... ele acabou de entrar e me olhou fuzilando.
Todos os alunos começaram a se sentar. Dumbledore entrara.
- Vejam, ela é realmente bonita.
- O que será que ela vai fazer aqui? - Hermione estava curiosa.
- Não sei, mas espero que venha trabalhar aqui, talvez ela nos dê aulas ou auxilie Sprout. - disse Rony entusiasmado - Seria muito bom ter uma professora bonita como ela.
- Ai, ai! Você só pensa nisso, Rony. Mamãe disse que nesses assuntos não teve trabalho nenhum com nossos irmãos, mas com você...
- Oras, Gina, eu só a elogiei.
Os alunos ficaram murmurando e especulando sobre Flora. Lá pelo final do desjejum Sprout toda orgulhosa a apresentou.
- Senhores... Gostaria de lhes apresentar a senhorita Flora Wilhelm Sommer. Ela veio a Hogwarts para realizar uma pesquisa sobre as plantas mágicas curativas e agressivas. A senhorita Sommer é especialista em plantas, já recebeu vários prêmios, condecorações, já publicou livros e mais livros. Ela é a melhor do ramo e... - Flora segurou no braço de Sprout, lhe lançou um olhar de súplica e sussurrou a ela.
- Por favor, professora, não!
Sprout pigarreou e continuou.
- Bem, ela fará pesquisas em Hogwarts e eu gostaria que a recebessem bem. Obrigada!
Flora iniciou suas pesquisas imediatamente. Como ela adorava as pesquisas de campo, fez todo o levantamento na biblioteca primeiro, assim poderia depois se dedicar inteiramente às plantas. Em três dias fez o levantamento de todas as plantas mágicas agressivas e curativas da Floresta, bem, de pelo menos as que estavam catalogadas.
- O que fará amanhã, Flora?
- Amanhã irei conversar com a Murta, arei aos jardins, verei Jeanie e verificarei algumas árvores.
- Achei sua... "amiga" bastante interessante, querida. Não via uma daquelas desde que seu pai morreu... - Sprout percebeu o fora - Desculpe-me, querida, não queria lembrá-la disso.
- Tudo bem, professora. Não há problema algum, mas agora, com licença, vou até as estufas replantar essa raiz, ela cresceu bastante e não está cabendo mais no vaso. Se bem que acho que não vou encontrar um lugar frio e totalmente escuro enquanto as folhas brotam e comecem a crescer.
- Realmente, querida, terá dificuldade. A primavera este ano está sendo muito quente e há sol e calor em todo o jardim e as estufas também são quentes. E essa Anilaria é tão sensível...
- Bem, vou procurar pelo castelo, deve haver um lugar bom para ela. - Flora desceu até as estufas e trocou a raiz de vaso, depois foi procurar um lugar escuro e frio para ela, mas não encontrou nenhum, onde não havia luz era quente e abafado e onde estava frio havia claridade das velas e a maioria dos lugares era quente, iluminado e cheio de gente.
Aquela plantinha era muito delicada, precisava brotar na primavera, mas sem tomar luz alguma e o calor a sufocava antes que ela florescesse, Flora já estava desanimada e achou que a plantinha ia morrer quando se lembrou de um lugar, lá seria ideal, era frio escuro e silencioso. A planta ficaria bem lá, ela então jantou e se dirigiu ao lugar e um pouco apreensiva bateu à porta.
- Pois não! - era Snape que abria a porta de sua sala. Ele se surpreendeu em ver Flora lá e novamente sentiu o doce cheiro de flores dela.
- Com licença, professor. Desculpe-me incomodá-lo, mas... eu gostaria de lhe pedir um favor.
- Entre, senhorita Sommer. - convidou Snape. Flora entrou - Que favor seria?
- Eu gostaria de sua permissão para deixar esta planta em uma das masmorras. Aqui é frio e escuro e... o senhor usa todas elas? - Flora segurava o vaso tremulamente.
- Não, mas... aí só há terra. - afirmou Snape observando o vaso.
- Não! Plantei uma raiz e ela ainda não brotou. Ela não pode receber luz ou calor até brotar.
- Pode deixá-la na última masmorra, não há nada nela.
- Obrigada, professor! - Flora agradeceu com um belo sorriso - Como vai com as folhas que lhe trouxe?
- Muito bem, senhorita. Dentro de dois dias estará pronta, venha ver. - Snape a levou até um borbulhante caldeirão - Ela ficou espessa como nas suas instruções, é realmente fascinante...
Snape parou de falar, a moça parecia absorta no caldeirão, ele notou que os olhos dela voltaram a lacrimejar.
- Senhorita Sommer, está bem?
Flora se voltou a ele sorrindo.
- Sim, estou ótima! Vejo que está indo muito bem com as folhas, com certeza conseguirá ajudar seu amigo. Levarei a planta até a última masmorra então, tem certeza de que não vai atrapalhar?
- Definitivamente não. Como eu disse ela está vazia e eu não a utilizo nunca. Venha, abrirei a porta para a senhorita. - Snape a conduziu até a sala, abriu a porta, iluminou a ponta de sua varinha e ela pode vê-la.
- É de fato perfeita! - Flora colocou o vaso no centro da escura masmorra e saiu - Ela brotará em três dias, suas folhas crescerão até a próxima lua crescente aí eu a levarei ao jardim onde ela florescerá em um mês.
- É uma planta complicada, senhorita e bastante... sensível.
- Ela é mesmo, mas quando floresce... - os olhos de Flora brilharam - É maravilhosa! E desta vez será especial, teremos uma lua azul este mês.
- É verdade, uma lua azul... é bastante rara, mas o que isso tem a ver com ela?
- É que esta Anilaria florescendo na lua azul... ela... Acho melhor não contar, quando chegar a hora eu lhe mostro, é maravilhoso. - Flora sorria imaginando a planta florescendo, Snape a observava intrigado, algo nela parecia estranho. Ele não sabia se era pela moça estar sempre sorrindo ou por ela tê-la visto lacrimejando por duas vezes seguidas, sem motivo aparente.
- Professor, eu gostaria de lhe pedir também um auxílio. Eu preciso testar algumas plantas e... - Flora hesitou um pouco - O senhor é o melhor nisso, digo... não sei como... sou um pouco desastrada e...
- A senhorita quer que eu a auxilie testando as plantas nas poções.
- Sim! Isso mesmo! Tenho receio de errar e não saber se foi com a planta ou com a poção. No Brasil, Duarte era o encarregado disso e... nós trabalhávamos em equipe.
- Será um prazer ajudá-la, senhorita. E a propósito... Como vai com suas pesquisas?
- Bem! Já cadastrei todas as ... - Flora se calou diante de um sinal de silêncio que Snape fez. Parece que ele ouviu algo nos corredores. Silenciosamente ele caminhou para a direção em que ouvira o barulho, Flora o seguiu quieta e também pôde ouvir um murmúrio. Eles viraram um corredor e da escuridão viram cinco garotos.
- Ande logo, coloque mais, Harry.
- Calma, Rony, as bombas têm que ficar na distância certa, assim o efeito será melhor.
- Eu não devia ter vindo com vocês, se nos pegarem... estaremos perdidos.
- Não se preocupe, Neville, não nos pegarão. Estamos quase terminando.
- Eu adoraria ver a cara do chato e ranzinza do Snape quando as bombas explodirem e o sujarem de estrume. - disse Dino escondendo uma bomba na parede.
- Será incrível! Ainda bem que Rony e Harry conseguiram esses sacos na sala da McGonagall, ela havia confiscado todos.
- É! Mas quase fomos pegos, depois de ajudarmos a Sprout com aquela planta maluca, Snape, o morcegão da escuridão nos encontrou. - disse Harry se lembrando.
- Mas não descobriu nada, só nos tirou pontos, vamos colocar logo as bombas e... - Rony ficou quieto e inspirou profundamente - Estão sentindo esse cheiro?
- Cheiro? Mas esses sacos são exatamente para não deixar o estrume... - Harry parou de falar, também sentiu o cheiro - É mesmo, um cheiro bom... de... flores...
- Está mesmo... - concordou Neville - Deve ser do jardim, é logo aqui do lado.
- Por que será que está cheirando tão forte?
- Não sei, Simas, mas... é delicioso. Sabe o que me lembra? - disse Rony sorrindo.
- O quê? - indagaram os quatro amigos.
- O cheiro da senhorita Flora Sommer. - respondeu Rony passando a mão pelo rosto - O cheiro dela é demais!
- É mesmo! - concordou Simas - E vocês já viram quando ela anda?
- Sim! Que balanço! Toda empinadinha! Ela é brasileira, é por isso.
- Não deviam falar assim. - censurou Neville - Pena que ela não nos dá aulas também. Ela é realmente muito boa em Herbologia.
Os quatro amigos olharam para Neville querendo lhe dar um chacoalhão.
- Acorda, Neville! Quem aqui quer aprender Herbologia com ela?
- Gostaríamos de aprender outras coisas...
- Não sejam desrespeitosos. - retrucou Neville.
- Não estamos sendo.
- Não ainda!
- Mas se ela quiser, eheh... não me importaria de "pesquisar" algum arbusto com ela. - disse Rony maliciosamente.
- Que horror, Rony!
- Horror, Neville? Aquela deusa deve ter tudo no lugar. Aposto que ela nua deve ser maravilhosa. Aqueles seios enormes... aquela cinturinha fina... e como ela é alta, deve ter um quilômetro de pernas... Aquilo é mulher que não acaba mais. Quantos anos será que ela tem?
- Vinte e seis! - disse Snape saindo da escuridão e assustando os cinco Grifinórios. Ele lançou seu olhar mais aterrorizante e lhes disse com sua voz ultraletal - Muito bem! Vejo que tenho uma grande lista de infrações aqui. Acho que estão encrencados, senhores. Estão fora de seus dormitórios após o horário permitido, instalaram artefatos proibidos nos corredores do castelo e referiram-se desrespeitosamente a um professor e a uma pesquisadora de Hogwarts. Deixe-me ver... para cada um de vocês... vinte pontos a menos por não estarem em suas casas... trinta pontos a menos pelas bombas e cem a menos pelo desrespeito.
- Pelo menos as bombas não explodiram - murmurou Simas a Dino, mas Snape o ouviu e apontou sua varinha para as bombas.
- Buuuumm!!! - as oito bombas explodiram em volta dos garotos. Realmente o efeito foi incrível, eles colocaram quatro bombas no chão, duas de cada lado do corredor, com dois metros de distância entre elas e mais quatro nas paredes da mesma forma, a dois metros do chão. O estrume os cobriu por inteiro.
- Ah... menos cinqüenta pontos pelo barulho e pela sujeira. Cumprirão detenção durante sete noites seguidas, amanhã lhes informarei qual será... - Snape se aproximou mais deles e deu um pequeno e maldoso sorriso - Mas, acho que o pior castigo virá agora, não lhes pouparei a vergonha. - Snape olhou para trás e fez um sinal para Flora se aproximar, ela saiu da escuridão e parou ao lado dele.
Os alunos arregalaram os olhos, ela os ouvira dizer aquelas coisas e agora os encarava séria.
- Acho que devem desculpas à senhorita. - sibilou Snape.
- D-d-des-des... - gaguejaram eles. Não conseguiam falar, a vergonha era muita.
- A senhorita está esperando. - insistiu Snape.
- Desculpe-nos, senhorita Sommer.
- Não queríamos ofendê-la.
- Nem desrespeitá-la.
- Fomos grosseiros e...e...
- Perdoe-nos.
Flora apenas assentiu com a cabeça mantendo a expressão séria.
- Agora, limpem tudo isso e sem magia imediatamente, não há como a senhorita Sommer passar e já é tarde. - Snape se voltou para Flora - A senhorita esqueceu um livro em minha sala no dia em que chegou, vamos buscá- lo, talvez quando voltarmos esses garotos já tenham limpado tudo.
Snape deu as costas aos alunos e se dirigiu a sua sala acompanhado por Flora. Ele parecia bastante zangado com o que eles disseram.
- Senhorita Sommer, peço que desconsidere o que ouviu. Não quero que pense que todos os alunos de Hogwarts são... - Snape foi interrompido por Flora que começou a gargalhar histericamente levando a mão à boca tentando se conter. Snape ficou desconcertado.
- "Como ela ri daquelas ofensas todas? - pensou ele vendo que ela não parava - Será que está em choque?"
Flora se sentou em uma cadeira, ela estava vermelha como um pimentão, quase não conseguia respirar e engasgou.
- Senhorita... está bem? - Snape foi até ela e a acudiu. Ele a fez se levantar, abriu os braços dela e a fez endireitar a cabeça. Flora foi se acalmando e recuperando o fôlego e agora apenas sorria, arfando apoiada a Snape.
- Professor... obrigada... eu... eu... - ela mal conseguia falar. Snape lhe deu copo d'água para, ela bebeu e ficou mais controlada.
- Desculpe-me, professor, mas foi tão engraçado... os rostos deles, cheios de estrume e com aquela expressão... ficaram realmente envergonhados.
- Ficaram mesmo, mas... eles a ofenderam. A senhorita deveria estar zangada, não?
- Eu? Bem... eles não ofenderam propriamente. Não é mesmo?
Desta vez Snape ficou envergonhado. Realmente até ele concordava com o que os garotos disseram.
- Eles são adolescentes... e lá no Brasil geralmente é assim, já me acostumei e passei a achar graça, mas lógico, não na frente dos abusadinhos.
Snape deu um sorriso torto e foi pegar o livro na estante, nesse momento Vladmir voou sobre a masmorra assustando Flora.
- Aaaah!!! - gritou ela se escondendo atrás de Snape - O que é aquilo?
- Calma senhorita... é apenas meu morcego... de estimação. Ele não lhe fará mal.
- Morcego de estimação? - ela ficou mais aliviada - Ele deve ser novo, não? Eram algumas cobras antigamente... se não me engano.
- Exatamente! Tem uma boa memória, senhorita.
- Sim e uma cicatriz até hoje no tornozelo.
- Como?
- N-nada!
Snape pegou o livro a que se referira no corredor e entregou a ela.
- Tome! É o livro que deixou aqui. Eu o guardei sem perceber que não era meu. É de seu pai, não é?
- Sim! Ele... ele era muito bom Herbólogo. Obrigada!
- Não precisa agradecer. Sente-se, senhorita, aqueles garotos devem demorar um pouco. Conte-me sobre o Brasil, nunca estive lá, ouvi dizer que é um país bastante interessante.
- Realmente, é muito interessante. É tão diferente daqui, as pessoas são...são calorosas e cheias de vida. Eu andei pelo mundo todo e nunca encontrei nada parecido, em lugar algum. Há uma naturalidade no modo de falar, no modo de se vestir e de tratar os outros. Eu nasci lá, mas meu pai me criou aqui na Inglaterra desde os três anos, então quando fui para lá achei tudo novidade e me apaixonei. Por isso que sempre volto para lá, adoro o país, ele é tão diferente, grande e diversificado. Encontram-se tantas coisas incríveis lá. - Flora ficou contando sobre os costumes do país, sobre o clima, as praias maravilhosas que ela e Duarte adoravam e das comidas extravagantes que experimentara. Ela evitou falar das plantas (pois da última vez que estivera com o professor já falara demais). Ela contou da música exuberante e diversificada e das festas regionais.
- A maior delas é o Carnaval É incrível! As pessoas saem às ruas dançando e pulando ao som de uma música bem animada, fantasiadas de diversas coisas e ela dura dias, o país todo praticamente para. Eu particularmente não participo, mas é bastante interessante de se ver.
- Que ritual estranho! Sair às ruas para que?
- É que há desfiles de carros todos equipados e enfeitados. Alguns grupos se organizam e competem entre si para ver quem se sai melhor. Esses grupos são chamados de Escolas de Samba. As pessoas se reúnem para assistir e escolher a melhor.
- E qual é o objetivo disso?
- Nenhum! É apenas por diversão.
- Diversão? - estranhou Snape - Só isso? Não compreendo esse tipo de coisa, é irracional.
- No começo eu também não compreendia, mas com o tempo aprendi a apreciar. É bastante bonito e divertido. Mas nem todos vêm desfiles, as pessoas gostam muito de dançar atrás de um trio elétrico...
- Um o quê?
- Trio elétrico. É um grande carro com equipamento de som. Alguns cantores sobem neles e cantam para o povo que o segue durante a noite toda dançando freneticamente pelas ruas.
- Eles ficam enfeitiçados? - indagou Snape. Flora abriu um grande sorriso.
- Não! Eles ficam apenas dançando e... não há como explicar, e senhor teria que ver para entender. Acho que Duarte tem algumas revistas sobre isso, vou pedir para que ele as mande para mim. Assim o senhor entenderá.
Flora ficou contando sobre outros assuntos para Snape, que parecia bastante interessado. Ela falava muito bem e ele admirava sua alegria, Flora parecia muito feliz com o que fazia e onde vivia. Ela parecia conhecer todos os costumes e detalhes de cada região do imenso país e Snape ficou impressionado com a desenvoltura dela. Flora sempre fora tímida e retraída e agora parecia extrovertida e expansiva. Eles ficaram conversando por horas e à medida que o tempo passava a conversa ficava mais animada. Snape até já ria de algumas histórias engraçadas. Ele serviu vinho para os dois e a conversa foi ficando mais animada ainda.
- Aprendi a usar todos os objetos trouxas. Duarte me ensinou a dirigir e passei a adorar carros. Eles são tão interessantes e tão coloridos e tem um botaõzinho neles que a gente aperta e eles começam a gritar. Chama-se buzina.
Snape riu achando aquilo estranho, mas engraçado. Ele nunca entrara em um carro trouxa.
- Fiquei totalmente viciada. Havia época que não perdia um capítulo sequer, Duarte tinha que me arrancar da frente da televisão. E há tantas, as pessoas até discutem sobre elas nas ruas.
- Da primeira vez comi tanto que tive indigestão. Só não comi os pés, o rabo e a orelha do porco, mas aquele feijão... é ótimo.
- Aprendi a cozinhar e Duarte adora minha comida, às vezes pede para eu cozinhar para ele mesmo quando estamos hospedados em um hotel.
- No calor as pessoas usam pouquíssimas roupas e há tantas praias maravilhosas. Duarte e eu adoramos praias.
Flora contava, gesticulava e ria muito. Snape ficou enlevado com ela. Há muito tempo que ele não se distraía ou tinha uma conversa do tipo, totalmente casual e sem um objetivo específico. Aquela era apenas uma conversa.
- Os trouxas de lá adoram futebol, são totalmente fanáticos, mais que os bruxos por Quadribol.
- É maravilhoso! A única coisa que sinto falta lá é da neve. Mesmo nos lugares mais frios neva muito pouco, o que é uma pena. Mas o resto é formidável.
- Por tudo o que me contou deve ser mesmo. Agora me sinto um conhecedor da cultura brasileira. - brincou Snape sorrindo.
- O senhor tem que ir lá. Irá gostar.
- Quem sabe, senhorita Sommer...
- Ah, por favor, lá no Brasil o tratamento é mais informal e eu me acostumei. Eu gostaria que me chamasse de Flora.
Snape se surpreendeu com o pedido.
- Claro... Flora. Mas... na primeira oportunidade que eu tiver, irei até lá.
- Se precisar de uma guia, estarei a sua disposição. O país é imenso e é fácil se perder por lá.
O caldeirão borbulhou, Snape foi até ele e conferiu se estava tudo bem. Flora o seguiu.
- Bem, professor Snape... tagarelei demais. O senhor já deve estar com a cabeça doendo de tanto me ouvir falar. Acho melhor eu ir.
- Absolutamente não, Flora! A conversa está muito agradável, mas já é tarde, é melhor que vá mesmo ou Sprout aparecerá aqui novamente procurando por você. Aqueles garotos já devem ter limpado todo o corredor.
Flora pegou seu livro e Snape a conduziu pelos corredores.
- É, eles limparam mesmo aqui. - observou Flora - Pensei que ia durar a noite toda.
Quando Snape e Flora se aproximavam da grande porta de entrada das masmorras, alguém a abriu e entrou.
- Senhorita Granger, o que faz aqui há esta hora?
- Bem, professor, estou indo para sua aula. - disse Hermione estranhando a pergunta. Snape a olhou confusamente. "Aula?" - Toda terça pela manhã o senhor dá aulas para o sexto ano de Grifinória e Sonserina. - neste momento vários alunos Sonserinos e Grifinórios entraram pela porta e se dirigiram a sala de aula com Hermione.
Snape e Flora ficaram se olhando surpresos, realmente o tempo passara rápido demais. Harry, Rony, Neville, Dino e Simas chegaram cheios de olheiras por terem passado metade da noite acordados limpando a sujeira das bombas e ficaram petrificados diante deles, principalmente Rony que ficou mais vermelho que seus cabelos.
- Bem, professor Snape, muito obrigada pela... atenção. Atém mais, com licença! - Snape assentiu com a cabeça e Flora se foi. Ele pôde constatar que realmente ela tinha um... balanço diferente, os garotos também olharam.
- Senhores... - sibilou Snape. Os cinco alunos se voltaram a ele - Para a sala! - eles o obedeceram prontamente.
