Capítulo 3 - A Anêmona Dançarina

- Flora! - exclamou Hagrid ao abriu a porta e ver a moça sorridente - Que bom vê-la aqui. Achei que viria mais tarde. Venha, entre, estou com alguns amigos aqui comigo.

Flora entrou na cabana de Hagrid e viu quatro alunos sentados no sofá, Hermione que lhe sorria, Harry que baixava a cabeça envergonhado, Rony que além de baixar a cabeça ficou rubro e Neville que sorriu meio sem jeito pelas bombas e pelo que seus amigos disseram sobre ela.

- Boa tarde, senhorita... Senhores, vejo que estão mais limpos hoje. - cumprimentou Flora. Os garotos se desconcertaram, Hermione e Hagrid não entenderam nada.

- Hagrid, vim mais cedo porque não agüentava de vontade de entrar na Floresta Proibida. A professora Sprout disse que não poderia vir, ela estava com um problema na estufa e me mandou vir sozinha.

- Que bom! Acho que podemos ir todos juntos, não?

- Claro! - concordou Flora - Seria ótimo, assim poderei conhecer todos. - ela sorriu para os rapazes que baixaram novamente a cabeça.

- Eu sou Hermione Granger e estes são meus amigos, Harry Potter, Rony Weasley e Neville Longbottom.

- Eu já conheci os senhores em outra ocasião. - afirmou Flora, os garotos se retraíram mais ainda - Eu gostaria de poder chamá-los pelo primeiro nome, posso?

- Claro! - disse Hermione contente. Hagrid os levou para a Floresta.

Flora ficou encantada, ela nunca entrara lá e achou tudo maravilhoso, ela falava com as plantas e deixava os alunos intrigados.

- Olá!... Como vai?... Mas como as outras te sufocam... Também gostei de conhecê-la... Oi!... - Flora conversava e anotava, anotava e conversava. Ela colheu algumas amostras de galhos e folhas e os guardou em sua valise.

- Hagrid, onde está o pinheiro mal humorado que a professora Sprout me falou?

- Logo ali, querida. Ele anda terrível ultimamente. Ninguém pode chegar perto que ele já começa a arremessar pinhas. - Hagrid os levou até o pinheiro e realmente parecia ser uma árvore mal humorada e tinha até uma "expressão de emburrada". O pinheiro percebeu Flora se aproximando e lhe arremessou uma pinha, ele ia arremessar outra, mas ela a interrompeu.

- Ei! Que mau humor! Você não acha que está exagerando? Tenho um amigo que era como você, não podia ver ninguém que já ia agredindo, isso não é bom, assim você ficará sempre sozinho.

- O quê? Como ninguém gosta de você? Ah... você não gosta que pisem em suas raízes expostas. Estão doendo?... Acho que posso... Deixe-me vê-las. - Flora se aproximou mais da árvore que não lhe fez nada de mais a não ser mostrar a ela suas raízes expostas, feridas e descascadas, o que espantou os alunos.

- Pobrezinha! Isso deve doer muito... Ratos do brejo? Entendo... deve ser horrível, mas por que eles as desenterraram?... Que maldade!... Com tantos galhos e troncos caídos... Realmente... estão fracas demais para você colocá-las de volta... Sim, vou tentar enterrá-las novamente. - Flora abriu sua valise e tirou de lá duas pás.

- Poderia me ajudar, Hagrid?

- Claro, querida! - Hagrid e Flora começaram a cavar a terra.

- Vão lá e ajudem-na. - disse Hermione cutucando os garotos.

- Mas... nós... tudo bem. - Harry se adiantou - Senhorita Sommer...

- Chamem-me de Flora.

- Flora... Deixe que nós ajudemos. Eu cavo primeiro. - Flora entregou a pá a ele, foi até a valise e olhou para Rony e Neville.

- Tenho mais duas pás aqui. - Flora retirou as pás da valise e Rony e Neville começaram a cavar também. Assim a árvore ficará boa logo, logo. - ela voltou a conversar com a árvore - Terminaremos logo. Não precisa agradecer... é claro que você ficará bem. Veja, estamos quase terminando. - Hagrid e os garotos (principalmente Hagrid) cavaram grandes valetas e ajudaram Flora a colocar as raízes nelas e a cobri-las com terra.

- Pronto! Agora você deve esperar que fiquem fortes novamente, assim poderá colocá-las onde quiser... Imagina!... Você é que é... permitiu que nos aproximássemos. Eu gostaria de lhe pedir um favor. Eu preciso de um galho verde, uma pinha fresca e uma lasca de sua casca... Oh! Obrigada! - o pinheiro lhe estendeu um dos galhos e Flora colheu a pinha e um pedaço dele, ela foi até o tronco e retirou um pouco da casca. - Obrigada você tem muita coragem. Claro que voltarei... Sim!... Tchau! - Flora se voltou aos garotos - Vamos? Acho que por hoje é o suficiente. - eles voltaram para a cabana de Hagrid. Hermione não resistiu e lhe perguntou.

- Flora, você fala com as plantas?

- Sim, Hermione. Eu falo com elas e elas comigo.

- Isso é fantástico! - exclamou Neville - Eu gostaria de aprender a fazer isso. Como você aprendeu? Fez algum curso no Brasil?

- Não, Neville. Eu nasci assim. Desde pequena converso com elas, mas ninguém ou quase ninguém acredita nisso.

- Mas nós vimos que é verdade. Aquela árvore parecia zangada e lhe jogou uma pinha, mas quando você começou a falar ela foi ficando calma, deixou que nos aproximássemos e até lhe deu um galho. - observou Harry.

- Mas as pessoas não acreditam muito. É difícil ter uma ocasião dessas em que a planta pode responder fisicamente.

- E o Salgueiro Lutador? Ele te entende?

- Sim! Ele é meu amigo desde pequena, mas na época em que eu estudava aqui a passagem até ele era cercada. Eu só conseguia ir até ele escondida e sozinha.

- Mas um dia eu te descobri lá. Não é mesmo, Flora?

- Sim, Hagrid. Você ficou apavorado por me ver balançando nos cipós dele. Você achou que ele ia me atirar longe, não?

- Sim, foi mesmo. Tomei um grande susto, mas percebi que você estava contente e aí entendi que o que diziam era verdade, você falava com as plantas.

- Você foi o único que soube a verdade.

- Os outros a achavam louca. Achavam que você inventava histórias malucas.

- Mas quando fui para o Brasil encontrei várias pessoas que acreditaram em mim, inclusive trouxas. O primeiro a acreditar foi Duarte.

- Você sofreu bastante com a incredulidade dos outros, Flora, - observou Hagrid - mas teve sorte e foi chamada para estudar no Brasil. - Flora baixou a cabeça encabulada - Pensando bem, teve muita sorte. Você partiu logo após aquele incidente com o Snape, não foi?

- Sim! Foi!

- O que aconteceu, Flora? - indagou Harry.

- Bem eu... Há dez anos atrás, quando eu estava no meio do sexto ano, uma velha árvore estava morrendo e ela estava apavorada com a idéia de ficar sozinha no momento. Então eu prometi que estaria com ela, era só ela me gritar quando sentisse que chegava a hora que eu iria até ela. - Flora se sentou em um tronco caído na entrada da cabana de Hagrid - Eu fiquei a semana toda a confortando, ia até ela todos os dias e conversávamos muito. Um dia... chegou a hora e eu estava na sala de aula, mais precisamente na aula de Poções e a escutei me chamando. Não pensei duas vezes, saí correndo das masmorras e fui até o jardim, estava chovendo muito e eu me abracei ao tronco dela. Mas o professor Snape me seguiu e me mandou entrar e voltar à sala de aula. Eu não obedeci, ele tentou me puxar, mas não desgrudei da árvore. Logo Hagrid e os outros professores chegaram e tentaram me convencer, mas eu não saí de modo algum. - Flora se levantou nervosa.

- A chuva aumentou e começou a relampejar muito, os professores ficaram impacientes e temerosos, mas o professor Snape ficou ao meu lado, na chuva, sério, me fitando... Ele disse que ficaria lá o tempo que fosse necessário. Um raio atingiu uma árvore próxima e os professores entraram no castelo me chamando, a professora Sprout quase desmaiou.

- Mas o Snape continuou ao seu lado, não é Flora? Ele jamais a deixaria sozinha lá, ele queria te castigar pela desobediência.

- É Hagrid, mas a situação piorou. Os relâmpagos aumentaram e atingiram outra árvore. O professor foi até mim e em arrancou dela com força, ele me pegou nos braços e ia voltar comigo para o castelo... - Flora pareceu incomodada - Então... Quando saíamos debaixo da árvore um raio a atingiu, ela se partiu em duas e... um grande galho caiu sobre nós nos derrubando... - Flora parou de falar, ela ficou muito abalada com a lembrança.

- Foi horrível, garotos. - disse Hagrid - Flora começou a gritar debaixo daqueles galhos e nós corremos até eles, retiramos os galhos e vimos... Snape estava desmaiado sobre Flora sangrando. O galho bateu bem na cabeça dele e o feriu seriamente. Flora não parava de chorar, a árvore estava totalmente destruída e no chão.

- Eu fiquei muito triste, eu não queria que nada daquilo acontecesse. O professor salvou minha vida e quase morreu. Ele ficou na enfermaria por quatro dias, enquanto que eu apenas desloquei o ombro.

- Eu estava na enfermaria quando você foi vê-lo, Flora. Ele se voltou a você, a chamou por aquele apelido que você detestava e a mandou ir embora. - Hagrid começou a rir - Ele disse que não queria vê-la na frente dele por pelo menos dez anos, você saiu correndo e chorando de lá, não é mesmo, Flora?

- Sim, Hagrid, foi isso mesmo.

- Dois dias depois você recebeu o convite para ir para o Colégio da Amazônia e partiu de Hogwarts. Você teve sorte, querida, o Snape ia lhe dar um belo castigo assim que ficasse bom.

- É, Hagrid, tive... muita sorte, mas agora tenho que ir. Eu devo levar essas amostras e analisá-las. E os rapazes também devem estar com fome, fizeram bastante esforço.

- Tudo bem, querida, mas apareça mais. Assim conversaremos sobre o tempo que estudou aqui.

- Sim, Hagrid, eu voltarei. - Flora foi para o castelo com os alunos.

- Nossa, Flora! - exclamou Hermione - Essa sua habilidade é mesmo incrível, bem que podia haver um modo de você provar a todos que é verdade. Deve ser muito chato quando duvidam de você.

- Ah... Antigamente eu me sentia mal e rejeitada, mas não mais. Hoje não me importo mais com isso. Espero surgir uma oportunidade e aí provo o que posso fazer, senão não me estresso com isso. Duarte me ajudou a pensar assim.

- Flora, por qual apelido o Snape te chamava? - indagou Hermione - Ele me chama de senhorita Sabe-Tudo-Granger e eu fico possessa. - Flora começou a rir.

- Ah, Hermione. Pelo que ouvi falar de você, o professor Snape sabe mesmo dar apelidos. Ele me chamava de senhorita Fala-Com-As-Plantas Sommer. É irritante, mas não deixa de ser verdade. Deixa?

- Realmente, não havia visto por esse lado.

- Ei, vejam! Que alvoroço é aquele? - disse Rony apontando em para as estufas.

- Vamos lá ver. - Harry se adiantou e foi em direção das estufas junto com Flora e seus amigos.

Dumbledore, Sprout e McGonagall falavam e gesticulavam na frente de uma das estufas e parecia que não entravam em um acordo, falavam ao tempo e meio desesperados. Dentro da estufa acontecia algo, ouvia-se um barulho de coisas quebrando e arrastando. De repente a porta se abriu e Snape saiu de lá apressado puxando Flitwick pelas vestes.

- Não adiantou, Severo?

- Não, Dumbledore. Nem as poções e nem os feitiços. Aquela planta continua furiosa. Ela quase nos esmagou arremessando uma bancada e acho que um vaso bateu na cabeça de Flitwick. Não sabemos mais o que fazer. - Snape colocou Flitwick de pé, mas o duende estava ainda tonto e teve que se apoiar na parede da estufa. A planta continuava a quebrar as coisas e a fazer um barulho enorme.

- Ai,ai,ai... teremos que interditar a melhor estufa do colégio. - lamentou Sprout - Se a anêmona não baixar aquela coroa nenhum feitiço ou poção funcionará. - ela olhou para Flitwick - Eu falei, eu falei, mas que idéia. Agora temos uma anêmona dançarina, gigante e nervosa.

Flitwick pareceu ficar menor ainda do que já era. Flora se aproximou.

- Incrível! Como uma simples planta pode conhecer tantos palavrões?

Os professores se voltaram a ela intrigados e Sprout foi até ela.

- Flora, querida! Vá para o castelo, temos um pequeno probleminha, mas já resolveremos. - a professora de Herbologia não queria que os outros soubessem que Flora ainda tinha a "mania" de querer falar com as plantas. - Em breve entrarei e conversaremos.

- Eu gostaria de poder ajudar, professora. Se eu falar com ela...

- Entre querida, vamos. - Sprout tentou levá-la para dentro do castelo, mas Flora se voltou para a estufa e entrou correndo se trancando nela.

Os professores ficaram surpresos e apreensivos. Snape ia atrás dela, mas Dumbledore o impediu.

- Deixe-a, Severo! Ela ficará bem. - Dumbledore lhe ordenou calmamente, mas com firmeza, então ele obedeceu e não entrou. Em um instante o barulho cessou e eles escutaram Flora falando.

- Mas por que está nervoso?... Não acredito!... Mas que insensibilidade! Não me admira que esteja tão furioso... É verdade!... Oh, obrigada! Que gentileza... - Flora falava e ria muito, os professores não entenderam ao certo o que acontecia, então se aproximaram do vidro para tentar ver algo, mas a planta jogou tanta terra para os lados que eles não puderam ver nada - Comigo?... Mas é claro! Eu adoraria... Realmente aqui é muito pequeno, espere só um momento. - Flora abriu a porta, todos a olharam ansiosos, ela foi até Dumbledore e lhe disso algo, ele pareceu concordar.

- Acho melhor se afastarem. - pediu Flora. Os professores se afastaram da porta, ela caminhou a uma certa distância da estufa - Pode vir! - a porta da estufa se abriu e a planta saiu.

Todos sacaram suas varinhas e aguardaram um ataque, a planta correu rodopiando até Flora, eles pensaram que ela ia atacá-la, mas surpreendentemente ela parou em frente à moça e fez-lhe uma reverência.

Dumbledore sacudiu sua varinha e uma música começou a tocar. A planta tomou Flora com seus galhos e começaram a dançar. Flora ria e rodopiava conduzida pela anêmona deixando todos surpresos. A moça e a planta, ali, dançando como uma perfeita dupla de dançarinos. A planta cresceu tanto que devia ter uns três metros de altura, ela se sustentava em suas raízes e galhos, erguia-se e abaixava-se levando Flora consigo. A moça às vezes parecia voar, as duas ficaram assim por vários minutos, os professores perceberam que a coroa da flor da anêmona começou a abaixar e elas foram diminuindo o ritmo lentamente até pararem.

- Obrigada! - disse Flora sorrindo - Você é um excelente dançarino. - "o" anêmona lhe fez outra reverência - Agora sabe que deve voltar ao normal. Vamos? - a planta movimentou sua "cabeça" afirmativamente. Flora lhe apontou a varinha. - Reducio! - a planta voltou ao tamanho normal e Flora a pegou nos braços, - Venha, querido. Vou plantá-lo em um belo vaso. - entrou na estufa e achou um vaso que milagrosamente não havia quebrado.

- Ela é mesmo incrível! - exclamou Harry a seus amigos.

- Apenas conversando conseguiu o que os professores não conseguiram. Domou a planta! - disse Rony. Mas Snape os ouviu e se aproximou deles.

- Potter, Weasley, Longbottom... o que fazem aqui? E todos sujos de terra?

Rony e Neville tremeram, Harry engoliu em seco e respondeu ao professor.

- Nós... é... estávamos na Floresta com a Flora. - Snape se aproximou mais deles com uma expressão assassina - Mas Hermione estava conosco e Hagrid também, nós ajudávamos na pesquisa dela.

- É verdade, professor Snape. - disse Hermione - Como Hagrid também é professor nós pudemos entrar. - Hermione imaginou que a preocupação de Snape era com a segurança deles.

- Vão para o castelo se limpar. - ordenou Snape - Vão! Desapareçam! - os garotos saíram arrastando Hermione que não entendeu nada.

- Prontinho! - disse Flora saindo da estufa - Ele já está plantado e muito contente.

- Ele? - estranhou Sprout.

- Sim! É uma anêmona macho, ele ficou indignado quando o professor Flitwick tentou dançar com ele. Disse também que dois garotos o levaram até aqui e que não admitiria mais que nenhum homem tentasse dançar com ele.

- Então foi isso! Não fazia idéia, Flora, achei que ela, digo, que ele ficara nervoso por ter crescido tanto. - Sprout estava surpresa - Agora terei que arrumar a estufa, talvez na segunda ela esteja funcionando.

- Quer ajuda, professora?

- Não, querida. Você já ajudou bastante. Flitwick me ajudará. - o pequeno duende concordou prontamente - Flora, querida... perdoe-me, eu... não sei o que dizer, nunca acreditei em você... fui muito insensível, eu não...

- Tudo bem, professora. Não precisa se desculpar. Nunca ninguém acreditou mesmo, mas agora sabem que é verdade e é o que importa. - Flora abraçou Sprout sorrindo.

Os professores ficaram envergonhados, lembraram-se das vezes que a puniram por acharem que ela mentia e se desculparam.

- Então vamos Flitwick, há muito trabalho a ser feito. - Sprout entrou na estufa com o duende.

- Foi formidável, Flora. Eu sabia que conseguiria. - Dumbledore lhe sorriu e entrou com McGonagall. Snape se aproximou dela.

- Flora... eu gostaria de me desculpar, quantas vezes eu...

- Não! Não precisa, o que passou, passou. Agora... - disse ela soltando os botões das mangas de seu vestido - Eu gostaria de me refrescar, está tão quente e depois de dançar por mais de meia hora com aquela planta fiquei com mais calor ainda. Eu me lembrava daqui sendo mais frio nesta época do ano, devia ter colocado um vestido mais fresco...

- Ah, sim... Vou acompanhá-la até o castelo.

- E quem disse que quero ir para lá? - Flora começou a caminhar pela área externa do castelo sorrindo para Snape que a seguia.

- Para onde vai então?

- Para o lago!

- O lago? Mas...

- Estou louca para entrar nele.

- Mas a lula-gigante... ela não vai deixar. Ela a colocará para fora e se insistir a arremessará longe e...

- Já conversei com as algas do fundo do lago e elas falaram com a lula, ela deixará que eu entre e nade a vontade.

- Mas, Flora, como...

- Não se preocupe, professor. Faço isso sempre no Brasil. - eles chegaram ao lado - Ainda bem que vim prevenida. - Flora se abaixou e falou para a água - Tudo bem? Posso entrar?

Flora começou a desabotoar seu vestido e o despiu, ela usava um maiô verde, discreto, mas muito bonito. Snape ficou constrangido, ela chegou à beira do lago e mergulhou nele. Agora Snape estava apreensivo, ficou com sua varinha em punho, mas Flora voltou à superfície sorrindo.

- A água está ótima! - Flora nadava de costas e dava cambalhotas na água - Senti saudades desta água, é tão diferente da de outros lugares.

- Senhorita Sommer...

- Flora!

- Flora... já entrou aí outras vezes?

- Claro! Assim que o tempo esquentava, eu vinha para cá e nadava por horas... - ela mergulhou novamente e voltou à superfície - Quantas vezes fui pega voltando ao castelo toda ensopada. Em uma ocasião o senhor mesmo me pegou. O senhor disse que como eu gostava tanto de ficar molhada que eu ia lavar os corredores do castelo como punição.

Snape se lembrou da ocasião e sorriu, ela não parecia aborrecida com aquilo e ria muito. Ela ficou contando das ocasiões que os outros professores a flagraram e das criaturas aquáticas que a lula gigante mostrava a ela.
- Gente! Gente! Adivinhem o que vi!

- Não faço idéia, Simas. - respondeu Harry penteando os cabelos molhados.

- A senhorita Sommer... no lago... nadando.

- Nadando? Tem certeza? - indagou Rony colocando sua camisa - E a lula?

- Não sei, mas Dino e eu ouvimos pela janela, ela ria muito e então olhamos com uma luneta. Ela está lá! Vamos! - Harry e Rony se entreolharam.

- Acho melhor não.

- Oras, Harry. Vamos lá! - insistiu Dino - A gente fica olhando de longe pela luneta.

Harry e Rony pensaram, eles estavam ficando amigos de Flora e queriam respeitá-la, mas a curiosidade e os hormônios falaram mais alto.

- Tudo bem, vamos! - Harry concordou e foram pelo Salão Comunal. Neville e Hermione conversavam e os vendo, os chamaram, mas eles nem deram ouvidos.

- Vem... Devagar... - Dino se esgueirava entre alguns arbustos - Olhem... ela está lá.

- É verdade, mas parece que fala com alguém. Quem será?

- Deve ser com a árvore, Simas. - respondeu Harry.

- Com a árvore? Enlouqueceu?

- Não, depois eu explico.

- Vamos lá, vamos. - insistiu Dino. Eles se esgueiraram e ficaram mais próximos olhando para Flora nadar, rir, falar, mergulhar, colocar as pernas para fora d'água.

- O que fazem aí? - gritou Hermione assustando-os.

- Quieta, Mione. - suplicou Rony.

- Nós os chamamos e vocês nem deram ouvidos, o que fazem... - Hermione foi interrompida por uma voz fria e furiosa.

- O que pensam que estão fazendo? - era Snape que os ouvira e fora até eles.

- N-nada, professor! - respondeu Simas e saiu correndo com Dino.

Harry e Rony se levantaram tremendo.

- O que houve? - gritou Flora da água. Hermione reconheceu a voz dela e se dirigiu ao lago.

- Olá, Flora! O que faz aí? A lula não se aborreceu?

- As plantas pediram a ela para me deixar entrar e ela deixou. Quando eu... - Flora foi interrompida pelo pio de uma coruja, que lançou um grande pacote à margem do lago. Hermione se aproximou e leu o destinatário.

- É para você, Flora. - Flora saiu do lago, conjurou um roupão, o vestiu, aproximou-se do pacote e leu o remetente.

- Aaaaah... - gritou Flora. Snape que passava um sermão nos garotos e decidia qual punição aplicaria neles, em Dino e Simas se assustou e foi até ela, os garotos o seguiram. Lá eles a viram toda sorridente abrindo o pacote.

- Que maravilha, que maravilha! É de Duarte! - Flora parecia muito contente. Ela retirou do pacote um calhamaço de revistas, uma pequena caixa e uma carta.

- Flora o que houve? - indagou Snape preocupado.

- Duarte... ele me enviou isso. - Flora pegou a carta que estava sobre a caixa.

- Um berrador! - exclamou Hermione.

- Típico de Duarte. - Flora abriu a carta que começou a falar com uma voz alta, grossa, mas jovem e alegre.

- "Flora, minha papoula, isso aqui está muito chato sem você. Eu não consigo dormir direito sem sentir seu cheiro, não tem ninguém para fazer meu café pela manhã e, barbaridade, você sabe que o meu é horrível! Onde você guardou minhas bombachas? Revirei a casa toda e não as encontrei."

- Estão na terceira gaveta à esquerda do seu guarda roupas.

- "Eu fiquei com a Daniela e ela queria me ver com elas, eheheh... Sabe como são as baianinhas, não é? Curiosas... Mas não se preocupe flor, não a levei para casa. Estou mandando as revistas que me pediu e também as fotos que tiramos em São Luís. Elas ficaram ótimas e flor... tu está uma gata com aquele biquininho que de para ti. A Academia das Plantas Mágicas me informou que o último livro que enviamos será publicado até o fim do ano. Eles estão muito contentes e eu também. A Lú mandou um beijo e mandou dizer que o Toni agora é amante da Camile."

- E eu perdi!

- "Todo o pessoal do laboratório mandou um beijo e o Matheusinho chora quase todos dias de saudades de você, mas já falei para ele tirar o cavalinho da chuva. Você é minha! Eheheh... Diga a Jeanie que quando eu chegar aí acerto as contas com ela."

- O quê? Você vem para cá?

- "Isso mesmo, flor! A Associação irá me mandar para ajudá-la e para realizar um trabalho com Poções. Teu loirão vai pintar na área. Deixe as incautas de sobreaviso, eu vou fazer uma rapa aí. A galera quer saber se tu já te amarrou por aí, eu lhes disse que tu jamais me trairia, flor. Apostei duzentos galeões e, é claro, tu vai mandar uma carta dizendo a eles que ganhei, já que é verdade. Não sei quando parto daqui,, mas espero que seja logo, pois não agüento mais de saudades tuas e nem a casa que está uma bagunça. Eu te amo, flor. Beijos! A. H. S. Duarte."

A carta se incendiou e virou cinzas. Flora sorria muito.

- Que bom! Duarte virá! - ela abriu a caixa que ele mandara e tirou várias fotos de dentro dela. Havia fotos de várias pessoas com Flora, em um laboratório, no meio de plantas, nas ruas de uma cidade, mas principalmente em praias. Todos pareciam felizes, acenavam, riam e gritavam muito.

- Quem são, Flora?

- Ah, Hermione, é a equipe com a qual eu trabalho no Brasil. Eles são maravilhosos. - Flora esparramou as fotos no gramado.

- Quem é esse loiro divino que está sempre a seu lado? - Hermione apontou para um rapaz muito bonito, alto, musculoso, de olhos super azuis e bronzeado como Flora. Ela olhou para as fotos e as analisou bem - Ou te abraçando... com você nas costas... te segurando no colo...

- Este é Duarte.

- Nossa, como ele é bonito! Ele é seu namorado? - Hermione ficou bastante impressionada com o rapaz.

- Não. Ele é meu melhor amigo.

- Mas... vocês moram juntos?

- Sim, moramos. Assim um cuida do outro. - Flora olhava saudosa para as fotografias.

- Uau! O que é isso? - exclamou Rony folheando uma revista.

- São fotos do carnaval no Brasil.

- Por que as pessoas põem essas roupas?

- Para se divertirem... depois eu explico a vocês, elas são para o professor Snape e... - Flora olhou para os lados e viu que Snape havia ido embora - Bem, eu levo para ele depois. - Flora apertou o botão que havia na lateral da caixinha, um bonequinho de um homem sentado em um banco e tocando violão surgiu e uma gostosa música começou a tocar.

- Que bonita, Flora! - admirou Hermione.

- Chama-se Bossa Nova e eu adoro. Duarte realmente me conhece muito bem. Eu senti falta de ouvir a música de lá.

- Flora... na carta ele diz umas coisas que... dá a impressão que vocês são... bastante íntimos.

- E somos, Hermione. - disse Flora sorrindo - Como dois irmãos. - Hermione fez uma cara de dúvida - Sei que parece estranho, mas nós somos assim mesmo e no Brasil isso é absolutamente normal. Ele falava aquelas coisas brincando, somos só amigos.

Harry, Rony e Neville se encantavam com as revistas e babavam nas fotos de Flora e de outras moças nas praias.

- Bem, é melhor nós entrarmos, estou faminta. - Flora se levantou, tirou o roupão e colocou seu vestido. Hermione fez os garotos se virarem e eles, a contra gosto, obedeceram.
- Toc, toc, toc... - alguém batia na porta da sala de Snape. Ele foi até a porta, sentiu um cheiro familiar, hesitou um pouco e a abriu.

- Professor... por que foi embora? - Flora entrou na masmorra , seus cabelos ainda estavam molhados - Veja! Trouxe as revistas que Duarte enviou. - ela as colocou sobre a mesa e ele se aproximou.

- Flora, não sei se fica bem você entrar daquela forma no lago. - disse Snape ainda constrangido, ela se virou para ele - Aqui não é como no Brasil. Você deveria saber, pois estudou durante muitos anos em Hogwarts. E além do mais não está com seu namorado, ele pode não gostar - Flora baixou a cabeça e começou a tremer.

- Perdoe-me, professor. Eu não queria... Eu... - ela não conseguia falar - Perdoe-me! - Snape notou o nervosismo dela.

- Procure ser mais discreta. Aqueles alunos... eles... sabe o que faziam lá, não? - ela balançou a cabeça afirmativamente - Então... não fique por aí daquele modo. - ele levantou a cabeça dela e viu que ela lacrimejava - Não chore, Flora. Não é para tanto. - Snape a fez se sentar em uma cadeira e procurou fazer algo que ele nunca fizera a ninguém antes. Ele procurou animá-la. - Você dança muito bem! Fiquei impressionado! - Flora começou a sorrir - E sem falar que provou a todos nós que fala com as plantas. Eu gostaria de me desculpar novamente.

- Não precisa, professor Snape. Está tudo bem. - Flora se levantou e pegou as revistas - Veja! Espero que goste. - Flora começou a explicar todas as fotos e o que as pessoas faziam. Snape achou aquilo tudo muito estranho.