Capítulo 8 - As apostas, as inconveniências e o desespero de Duarte

- Um pouco mais fundo, Harry... isso... certo... agora preencha com terra. - disse Flora com Jeanie toda enroscada nela - Só faltam vinte e duas árvores.

- Eu te falei, guri - disse Duarte sentado em uma mesa repleta de mudas e tomando chimarrão - Ela não ia aceitar. Mulher tem que ser tratada com jeitinho. Não pode ir chegando desse jeito não, tchê.

- Mas é que eu pensei... bem, eu e a Cho... faz tempo que estamos juntos e...

- E pensou que ela ia aceitar fazer aquilo, hein? Espertinho!

- Mas Duarte... depois de tampo tempo, o que custava?

- Duarte tem razão, Harry. Eu fiquei decepcionada com você. Onde já se viu... querer que ela fizesse sua redação... foi bem feito para você.

- Eheh... eu que me dei bem... além de levar dez galeões, vou ficar aqui, sentado, tomando chimarrão e só olhando para você ajudar Flora.

- Nunca mais aposto nada com você, Duarte. Você disse que era só algumas plantinhas... Veja só, setenta árvores.

- Duarte só entra em uma aposta para ganhar, Harry. Aprenda isso.

- É, eu aprendi e Rony também. Ele perdeu três galeões, dois Fogos Filibusteiros e um saco de feijões de todos os sabores.

- E sem falar do Dino e do Simas, Harry. Eles não te contaram que eu ganhei vinte galeões deles?

- Não! O que apostaram?

- Apostei que conseguia comer mais carne assada que Crabbe e Goyle juntos. Ganhei, claro.

- Nossa! Que estômago, hein? Aqueles dois são uns esganados.

- É que Duarte é um legítimo gaúcho, Harry. Totalmente carnívoro.

- É que eu tenho que manter este corpinho sarado que mamãe me deu. Os músculos podem muita carne, viu Harry?

- Eu bem que queria ter músculos como os seus, Duarte, mas nasci assim, pequeno e magricela. Nunca ficarei como você.

- Imagina, Harry. Quando nasci eu era um ratinho, com o tempo que... fiquei assim, fortão, gostosão. Se quiser eu te dou uns "toques" de como ficar com um corpo bem definido.

- Eu gostaria muito. Quem sabe assim a Cho aceita fazer meu dever.

- Olá, Flora, olá Duarte, olá Harry! - exclamaram Hermione, Rony e Neville ao chegarem aos jardins.

- Harry, você tirou oito na redação do Snape.

- Oito? Oito? Tem certeza, Mione? Não foi um seis, não?

- Não! Foi oito mesmo.

- Eu tirei sete. - afirmou Rony - Está ótimo, pensei que ia tirar um cinco ou um quatro. Mione tirou dez, é claro.

- E você, Neville?

- Tirei cinco.

- Mas a redação dele valia sete. - afirmou Hermione - Bem, as outras também valiam e o Snape sempre dava um ou dois, quando não zerava a redação dizendo que não entendeu a letra.

- Que bicho mordeu o Snape?

- Acho que foi uma flor, Harry. - disse Duarte - Alguém quer chimarrão?

- Eu quero! - Hermione se emperiquitou ao lado de Duarte.

- Como vão suas pesquisas com o professor Snape, Duarte?

- Muito bem, Hermione. O professor é um gênio realmente. Sem ele não conseguiria fazer tudo a tempo. Desde que aquele maldito do Richter apertou o cronograma, tenho trabalhado como um cão. Até nos fins de semana, coisa que não faço nunca.

- Que pena que irá embora em três semanas, não poderá vir a formatura.

- É mesmo uma pena, Hermione, eu gostaria de poder dançar um pouco mais com você. - Duarte se insinuou para ela que corou - O seu namoradinho aí não permitiu no outro baile.

- Mione e eu não somos namoradinhos, Duarte.

- Ah, não? Pensei que fossem... Pelo jeito que andam por aí e se olham... - agora Hermione ficou toda vermelha.

- Pois você e Flora também ficam... ficam por aí... de um jeito estranho e não são namorados.

- Mas Rony... Flora... Flora é como se fosse minha irmã... Não tem nada a ver, não é onze-horas?

- É, Duarte. Não tem nada a ver mesmo. Nunca teve.

- Mas não parece.

- Acredite, Harry. - Duarte saltou da mesa - O coração de Flora já tem dono, há séculos. - Flora ficou vermelha.

- É verdade, Flora? Quem é?

- É um ex-aluno de Hogwarts, Harry. Da época de seu pai.

- Da época de meu pai? Quem seria? Como o conheceu?

- Bem... foi... - Duarte teve a boca tapada pela mão de Flora.

- Vocês não o conhecem. Não é mesmo... DU-AR-TE? - disse Flora em tom de ameaça. Duarte acenou que sim com a cabeça e ela o soltou.

- Arght...púúú...púúú... fez-me engolir terra.

- Bem feito... era para você estar me ajudando... Já que está aí à toa. Por que não vai ajudar o professor Snape?

- Eu já vou, só estou esperando o Draco Malfoy.

- Malfoy? - estranharam os Grifinórios

- Para que, Duarte? - indagou Flora

- Para receber outra aposta. Eheh... nesta eu me dei bem, guria.

- O que apostaram?

- Ah, Neville. Eu não te disse que faria ele "cair do cavalo"? Pois então, foi o que fiz. Apostei com ele que eu seria capaz de montar e domar um cavalo alado selvagem antes que ele... eu venci, claro, ele não conseguiu ficar montado nem por vinte segundos. Que paspalhão!

Harry, Rony, Neville e Hermione caíram na gargalhada e Flora balançava a cabeça.

- Eu queria ter visto essa, Duarte. Deve ter sido hilário.

- E foi, Harry. Hagrid rolou no chão de tanto rir. Antes de cair, Draco ficou pendurado na cela, balançando que nem um saco de batatas e eu... Iiiiirráá... Domando meu cavalo nos ares. Barbaridade, levei quinhentos galeões nessa.

- Quinhentos? - assustou-se Rony - E se você perdesse, Duarte?

- Eu jamais perderia tal aposta, Rony, mas se perdesse eu pagaria, lógico.

- Duarte é filho de um fazendeiro muito rico, Rony. Por isso essa... habilidade com montarias e essa falta de medo de perder dinheiro.

- Filho não, Flora, enteado... eheh... me diverti muito naquela fazenda, especialmente com as potrancas.

- Pare, Duarte... Poupe-nos de suas aventuras bucólicas... Veja, Draco está chegando e parece furioso.

- Boa tarde para todos. - disse Malfoy secamente acompanhado por Crabbe e Goyle. É claro que "todos" eram Flora e Duarte, ele jamais seria educado com os Grifinórios - Vim pagar o que devo a você, Duarte. Tome os quinhentos galeões.

- Teu pai não encrencou não, Draco?

- Claro que não. Eu gasto isso por semana... só estava desprevenido anteontem. - Draco deu um olhar de desprezo aos Grifinórios - Bem, deixe-me ir. Até mais senhorita Sommer, até mais Duarte.

Assim que Draco Malfoy sumiu das vistas deles, os garotos desataram a rir.

- Bem, bem, bem... Que tal gastarmos um pouco desse dinheiro em Hogsmeade amanhã? - disse Duarte olhando para os garotos.

- Nós? Você quer ir conosco a Hogsmeade?

- Sim, Rony, e por minha conta. "Topam?"

- Eu "tópo"! - adiantou-se Hermione

- Nós também. Não é, Harry? Neville?

- Sim!

- Claro!

- Então está combinado, passaremos o dia lá. Agora devo ir às masmorras, tenho algum trabalho a fazer ainda.

- Eu também tenho que ir pessoal. - disse Neville - Lembrei-me de algo importante. Até logo. - e saiu correndo.

- Ei, Harry... Neville anda estranho, não? Até está se lembrando das coisas.

- É mesmo, Rony. Todos os dias pela manhã e pela tarde ele some.

- Não deve ser nada garotos. - afirmou Hermione
- E então, Neville? Como vai com sua planta?

- Muito bem, senhor Richter. Ela cresce rápido, o bulbo já foi replantado três vezes nesta semana. Daqui a dois dias eu a plantarei definitivamente no solo.

- Que bom que está conseguindo, Neville. Sapo de chocolate?

- Sim, obrigado.
- Flora! - exclamou Duarte ao vê-la entrar no laboratório de Snape - Estamos com um terrível problema e só você pode nos ajudar.

- O que seria? - indagou ela abrindo a janela para Jeanie entrar.

- Precisamos que vá com alguma aluna do primeiro ano até a ala hospitalar. - disse Snape - Precisamos de um pouco de sangue e nenhuma delas gostaria de vir até aqui.

- Do primeiro ano? Por quê?

- É que uma vez peguei sangue de uma garota do quinto ano, deu tudo errado. Prefiro não arriscar.

- Não, professor... Quando disse que Flora nos ajudaria com isso, não era para levar a garota à Madame Pomfrey, não. - Duarte foi até Flora - Dá um pouco do seu sangue, flor?

- Claro! - Flora se sentou em uma cadeira e estendeu o braço.

- Pode tirar, professor... Eu garanto! - afirmou Duarte.

Flora não entendeu o que ele garantia. Snape, muito constrangido, começou a extrair o sangue de Flora com uma seringa.

- Eu ainda não entendi... Para que querem o sangue e por que tinha que ser uma aluna do primeiro ano?

- É para fazer a Poção do Fogo Zíngaro, prímula. Ela é bastante forte, mas não pode ir qualquer sangue.

- Hã... E onde a aluna do primeiro ano entra nisso? - insistiu Flora

- É que tem que ser sangue de virgem, flor.

Flora fechou os olhos e ficou vermelhinha.

- Eu... Acho que é o suficiente - Snape terminou a extração e passou poção cicatrizante no braço de Flora. Ela se levantou rapidinho e se afastou envergonhada.

- É suficiente sim, professor Snape. O sangue dela é bem forte, já fiz esta poção uma vez, pode por a metade da quantidade.

- Metade? - estranhou Snape - Por quê?

- É que Flora além de ser virgem nunca foi beijada, o que na idade dela é... - Jeanie se enroscou em Duarte fazendo-o se calar. Flora escondeu o rosto nas mãos e Snape ficou sem jeito.

- Pode soltá-lo, Jeanie - ordenou Flora. A planta obedeceu e a moça encarou Duarte furiosa.

- Calma, Flora... calma... não se exalte...

- Olha aqui Ariosvildio Herniaclides Sacolé Duarte, você não devia ficar falando da vida dos outros assim. - Flora pegou um livro e saiu da masmorra.

- Ela nunca perde a classe. - afirmou Duarte a Snape - Mas... é... acho melhor deixá-la sozinha um pouco.
- Senhor Longbottom, viu Flora?

- Não, professora Sprout. A última vez que a vi foi à tarde, depois da prova que o professor Snape deu.

- Não a encontro em lugar algum, ela perdeu o jantar e nem Duarte ou Snape sabem onde ela está.

- Não está com o senhor Richter?

- Não! Parece que Duarte o trancou no banheiro do primeiro andar.
- Ai, ai, ai... - choramingava Duarte - Não encontro meu girassol. Já revirei o castelo todo, professor. Ela não está em nenhuma das casas, não está na biblioteca, nem no lago, nas estufas ou nos jardins. Nem Hagrid ou Filch a viram... O que eu fiz? O que eu fiz? - Duarte batia as mãos na cabeça - Minha begônia, meu crisântemo... Será que ela foi para a Floresta? Será? Ah, meu Deus! E se ela se perder? E se ela se ferir? Se acontecer alguma coisa com ela eu me mato. Eu quero o meu lírio do campo... - Duarte chorava que nem um bebezinho.

- Calma, Duarte... acho que sei onde ela pode estar.

- O quê? O senhor sabe? Vamos, vamos até lá!

- Acho melhor o senhor ficar... Ela ainda deve estar aborrecida.

- Sim, é verdade, mas... peça a Jeanie vir até aqui se a encontrar, sim?

Realmente Duarte revistou o castelo inteiro. Ele conseguiu entrar nas casas ajudado pelas garotas, claro, e ainda colocou Filch para procurá-la também. Até Pirraça ajudou após receber fogos, chicletes e comida estragada como suborno. Ninguém, vivo ou morto, a encontrou. Snape saiu do castelo, passou pelos jardins e foi até onde ninguém pensou em ir. Justamente porque ninguém pensava em ir até lá nunca. Ele foi até o Salgueiro Lutador.

A uma certa distância ele começou a sentir o perfume de Flora que o vento lhe trazia. Ele se aproximou mais e a viu sentada ao alto dos cipós da árvore que lhe serviam de balanço. Ela olhava para um papel e sorria docemente. Snape ficou contemplando a moça, sentiu-se aquecido e sorriu. Ela pegou uma foto, olhou para ela, a beijou e começou a balançar sorrindo mais ainda.

- Flora! - exclamou Snape. Ela parou seu balanço e o Salgueiro a desceu até que pudesse tocar o chão com os pés.

- Professor! Venha, aproxime-se, o Salgueiro me disse que pode.

- Está ficando tarde, Flora. É melhor você entrar.

- Eu já estava indo professor. É que acabei de receber esta carta e fiquei lendo. Duarte está preocupado, não?

- Sim, está e muito.

- Aposto como ele está batendo as mãos na cabeça e dizendo entre lágrimas que vai se matar se algo acontecer comigo.

- Exatamente, Flora. Você realmente o conhece muito bem.

- Como a palma de minha mão. Sabe, professor, quando conheci Duarte fiquei encantada com por ele... Ele é igualzinho a meu pai... idêntico... em tudo. A amizade entre nós veio fácil e passamos a ficar sempre juntos, colados um no outro.

- Foi por isso que mudou tanto, Flora. Antes era tímida e retraída e vivia chorando pelos cantos. Hoje é alegre, radiante e sempre sorridente.

- É-é professor... eu... Duarte me ajudou muito e eu a ele. Quando ele perdeu a mãe há sete anos atrás ele ficou arrasado, no leito de morte ela revelou que ele não era filho do marido dela e sim de um homem com quem ela teve um caso e que ela mal conhecia. Um "gringo" como ela dizia. Duarte ficou perdido, ele e seu suposto pai nunca se deram bem, mas enfim... o homem morreu também e ele ficou como eu, órfão de mãe e com pai desaparecido. Fomos morar na mesma casa e ficamos mais unidos ainda. Parece que um completa o outro. Somos como dois irmãos realmente. Nós nos conhecemos e nos entendemos perfeitamente, mas, claro, às vezes, acontece algo do tipo. Eu já me acostumei, mas de vez em quando tenho que dar um "gelo" nele para que se contenha. Não estou magoada com ele e nem aborrecida.

- Ele pediu para que Jeanie fosse até ele assim que eu a encontrasse. - imediatamente a planta se arrastou até o castelo - Carta do Brasil, Flora?

- Não! É de Remo!... Eu estava escrevendo em meu diário quando uma coruja a entregou - Flora sorriu novamente e desta vez Snape se sentiu triste - Ele está bem, disse que conseguiu um emprego com um horário super flexível e Sírius conseguiu uma casa para eles com um porão seguro. Assim ninguém nota que ele é lobisomem. Torço para que sua poção dê certo professor, assim Remo poderá ter uma vida normal.

- Dará tudo certo, Flora. Agora vamos?

- Sim! - Flora saltou do balanço e deixou cair algo de dentro de seu diário. Snape se abaixou e pegou. Era uma foto, a mesma que ela beijava instantes antes.

- Lúcio, eu, Lupin e Black... Onde conseguiu esta foto, Flora? Eu tinha uma, mas perdi. Foi tirada há... bem há muito tempo atrás, quando disputamos um concurso de poções, nós quatro fomos os finalistas. Lúcio e eu vencemos, naturalmente.

- Ééé... Remo me mandou - Flora baixou a cabeça corando.

- Você o ama muito, não?

- O quê? - surpreendeu-se Flora vermelha agora - Q-quem?

- Remo Lupin, Flora. Você deve amá-lo muito. Confesso que ele subiu em meu conceito depois do que Duarte disse. Ele poderia ter se aproveitado, mas a respeitou. Na condição dele jamais conseguiria lhe dar...

- P-pro-professor... e-eu... - Flora estava mais envergonhada do que jamais estivera em sua vida.

- Flora! - gritou Simon Richter chegando até eles.

- Richter! Por que está assim... todo molhado?

- O que deu naquele seu amigo? Ficou louco de vez?

- O que houve?

- Eu esperava que você me respondesse. Eu estava indo jantar quando de repente ele me agarrou e saiu me arrastando até o banheiro feminino do primeiro andar e me trancou lá.

- Aí você resolveu tomar banho de roupa e tudo.

- Não! - vociferou Richter fazendo Flora dar um passo para trás e segurar no braço de Snape - Tem uma maldita fantasma lá dentro que fica choramingando sem parar, eu estava ficando louco ouvindo aquela coisa, depois de séculos dei um basta e a mandei calar a boca. Sabe o que ela fez?

- Chorou mais ainda e o molhou com suas lágrimas.

- Não! - vociferou ele novamente, desta vez Flora foi parar atrás de Snape

- Senhor Richter, - disse Snape lançando um olhar terrível - contenha-se! Se quer se explicar... tenha educação.

- Aquela fantasma idiota entrou na tubulação e inundou o banheiro todo, quase morri afogado, por sorte o zelador conseguiu abrir a porta.

- Sinto muito, Richter. Não faço idéia porque ele fez isso. Duarte anda trabalhando demais, deve ser stress. - disse Flora falsamente e segurando o riso.

- Stress? É isso que ele vai ter quando eu comunicar isso à Associação. - Richter deu um rodopio e ia saindo

- Você não vai comunicar nada, Richter. - disse Flora decididamente e se colocando em frente a Snape.

- O quê? - Richter se voltou a ela - O que você pensa que...

- Eu penso que a Associação vai gostar muito de saber que tipo de feitiços você anda praticando em suas horas vagas.

- Você não faria isso, Flora. Você prometeu.

- Prometi? Acho que não... além de desastrada ando meio desmemoriada, sabe?

- Tudo bem, Flora... tudo bem... eu... não direi nada à Associação.

- Ótimo, Richter. Agora entre e vá se trocar ou ficará resfriado.

Richter olhou furioso para Flora e para Snape e entrou no castelo.

- Bravo, Flora! Já era hora de colocá-lo em seu devido lugar. Agiu com firmeza. Parabéns!

- Obrigada, professor Snape. - Flora sorriu e ele se sentiu bem novamente

- Flora! Flora! Flora! Florinha! - era Duarte que vinha ao encontro dela correndo e aos berros - Minha vitória régia! - ele se ajoelhou diante dela e se agarrou nas pernas dela chorando - Por favor... perdoe-me, perdoe-me, minha prenda. Eu nunca mais falo nada que te magoe. Faço qualquer coisa para ti, qualquer coisa, mas não fique brava comigo. Não me deixe, eu não vivo sem ti. Quase morri de desespero durante esse tempo que ficou desaparecida.

- Duarte... não exagera, foram apenas algumas horas.

- Uma eternidade!!! - gritou ele mais ainda - Perdoe-me... e... eu limpo a casa toda quando voltarmos ao Brasil. Não faço mais bagunça, não deixo as tampas dos vasos sanitários levantadas, lavo todas as tuas roupas na mão, faço as compras no supermercado...

- Hum... interessante... E o que mais?

- Ajudo a lavar a louça... a limpar a varanda e o jardim. Faço a comida todos os dias...

- Irc... deixa que eu cozinho... eu acho que isso é suficiente, Duarte... Está perdoado.

- Estou? - Duarte se levantou e a abraçou com força - Ela me perdoou, professor... Ela me perdoou... - Duarte beijava o rosto e as mãos dela fazendo-a rir.

- Chega... chega... Duarte... menos... menos....

- Obrigado, Flora... mas vamos entrar, não jantou ainda e deve estar com fome

- Estou mesmo. Vamos, professor?

- Ei... deixe-me te levar de cavalinho. - Duarte colocou Flora nas costas e saiu correndo com ela para dentro do castelo - Eia... pocotó... pocotó... pocotó...

Snape os observou com um sorriso que se desvaneceu ao olhar para a foto novamente.
- E nunca mais ouviram falar dele, Duarte?

- Não, Hermione. O pai de Flora desapareceu na Amazônia, há dezesseis anos. Pouco antes de ela ingressar em Hogwarts. Ele foi dado como morto, ninguém nunca ouviu ou soube de algo que indicasse que estava vivo. - Duarte entrou na Dedosdemel.

- Que triste!

- É, Neville, é muito triste. Flora até hoje não o considera morto, apenas desaparecido.

- O que ele pesquisava mesmo na época?

- Uma planta, Harry. Aliás, era o que ele dizia, pois nunca ninguém ouviu falar nela. Parece que era uma planta carnívora gigante que vivia no subsolo e em pântanos, uma coisa dessas. Nenhum Herbólogo do mundo atestou a existência da tal planta. Ele veio pesquisar aqui em Hogwarts e em Beauxbatons primeiro, depois foi para a Amazônia. Coitado, só encontrou seu fim. Dizem que as bruxas guerreiras Amazonas o capturaram para fazer uma oferenda ao monstro que vive no fundo do rio, mas elas sempre negaram.

- Flora deve sofrer muito com isso, não?

- Sofre sim, Rony, embora não demonstre.

- Ela não quis vir conosco?

- Não! Mas vou lhe levar alguns doces já que resolveu ficar trabalhando, como sempre. Será que aqui tem doce "light"? Florinha tem que cuidar daquele corpinho escultural...

- Trabalhar com o Snape. - observou Rony azedamente - É mais um castigo.

- Bah... Flora e o professor Snape se dão bem, Rony. Eu também gosto muito dele, ele é "maior gente fina".

- Vocês têm conceitos estranhos no Brasil, Duarte.

- Não entendi, tchê!