CAMINHOS

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Segundo Caminho...

Em uma grande mansão, ao sul de Londres, Inglaterra, um jovem senhor de cabelos azuis, denominados certa vez como "azuis-meia-noite", olhos de uma mesma cor, omitidos por um par de óculos de fino aro, observa da varanda de seu quarto, mais exatamente, o vasto jardim levemente iluminado pelo sol recém nascido. As flores brilhavam, mostrando uma beleza além da imaginável. Principalmente por haver, naquele belo jardim, uma flor mágica, ou melhor, duas.

Uma delas, bela, grande, totalmente desenvolvida. A outra, um botão...um lindo botão, nascido daquela outra bela flor. Flores...Todas possuíam um nome, e aquelas duas não eram uma exceção.

Kaho e Hitsuki...

As duas belas flores na vida daquele senhor cujo o nome é Eriol, mas outrora já fora Lead Clow.

Clow...

Um mago tão poderoso quanto a imaginação pode criar. Um mago capaz de modificar o passado, o presente e o destino, controlar as forças da natureza e de toda e qualquer espécie. Uma pessoa tão poderosa que se não fosse pela gentileza existente em seu coração poderia ser temida, e com razão. Seu poder era sua glória, e ao mesmo tempo sua perdição.

Um poder tão forte que podia controlar a vida dos outros e saber o que o destino lhes reservava, algo tão poderoso que se fosse necessário, ele não morreria, porém, essas coisas não eram, como ele próprio costumava dizer, algo divertido. Afinal, a parte humana existente naquele mago ansiava pela surpresa, pelo não saber o que a vida lhe reservava. Então, para isso, ele morreu, resolvendo renascer como um garoto, agora homem feito, Eriol Hiiragisawa.

Eriol...

Uma pessoa normal, de aparência fria e misteriosa. Não era para menos. Possuía muitos poderes, quase igualados ao de Clow, mas que, ao contrário dele, não conseguia ao certo, distinguir o que ocorreria no futuro. Sim, sabia, mas por vezes o destino conseguia lhe escapar das mãos e fazer-lhe ter grandes surpresas. Entre elas, o grande amor por Kaho Mizuki.

Sim, já amara outra pessoa. Amara não por dizer que amava, amara porque realmente amava. Sim, Eriol amara muito Tomoyo, a ponto de quase casar com ela, mas o destino pregou-lhe uma peça e mostrou que existia alguém de quem ele gostava, admirava e amava mais...

Uma mulher doce, amável, bela...Perfeita. Uma mulher que Eriol sempre idealizara e que encontrara para a eterna felicidade dele. Uma mulher completa que o entendia tão bem quanto ele próprio. Uma mulher que já o amava antes mesmo de ele se dar conta que também sentia mesmo. Enfim, "A Mulher" que faria da vida dele tão perfeita quanto ela...Kaho.

*****

Em meio aos seus devaneios, ele sente uma mão em seu ombro...

- Ah, olá querida.  – Eriol sorri, beijando levemente os lábios de sua esposa

- Está tudo bem amor? Estás tão distante...  – Kaho sorri, encostando a cabeça no ombro do marido, que outrora fora pequeno, menor que ela, e agora, era forte e alto, mais alto do que ela imaginara que ele podia ser.

- Não, é que estava pensando na nossa vida...  – explica

- É, já fazem seis anos, quase sete que estamos juntos.  – complementa Kaho.

- Sim...é verdade.  – Eriol sorri

Seis...Quase sete anos atrás. Fora nessa época que deixara Tomoyo e se casara com Kaho, tão repentinamente, mas fora o melhor. Falando nisso....Como será que ela andava? Estaria bem? Não tinha idéia. Desde que se separaram, não tiveram mais contato. Só sabia que casara e tivera um filho. Isso graças a Sakura que algumas vezes parecia lembrar de ligar para seu velho amigo, porém jamais se prolongava no assunto "Tomoyo".

- Ah, Eriol, recebi um telegrama de Nakuru.  – avisa Kaho

- De Nakuru?  – questiona Eriol com um leve sorriso

Nakuru saíra de casa com Spinel. Eles sempre mandavam cartas e ligavam, mas Eriol nunca sabia exatamente onde os dois guardiões se encontravam. Ao que entendia, eles estavam fazendo um "Tour" pelo mundo...conseguindo algumas coisas aqui e acolá.

- O que ela disse?  – continua Eriol

- Ela disse que passou em Tomoeda por um curto período e encontrou com Sakura e Shaoran.  – diz Kaho com uma expressão séria

- E eles, como estão?  – Eriol estranha a expressão de Kaho, mas permanece sorrindo

- Sakura e Shaoran estão ótimos, e terão o segundo filho ainda este mês...  – Kaho sorri

- Que ótimo para os dois! Preciso ligar para eles então.  – Eriol diz com um belo sorriso

- Mas...  – Kaho para um instante e sua expressão muda de vez –  ...Nakuru soube que Touya morreu em um acidente de carro, no início desse mês.

- O quê?! Touya?!  – Eriol olha pasmo para Kaho

- E não é só...  – Kaho pausa mais uma vez, tomando um pouco de ar –  ...Nakuru soube que Touya...Estava casado com Tomoyo e tinha um filhinho, Eiji.

- Touya....casado....com Tomoyo?  – Eriol permanecia pasmo, procurando um lugar para se sentar e colocar as idéias no lugar...

Acabou sentando-se na cama de casal, e começou a reorganizar as idéias...Tomoyo estava casada com Touya e tinha um filho...como era mesmo o nome do menino? Ah, Eiji. E nesse mês, Touya morreu...em um acidente...

- Como Daidouji está?

- Nakuru disse que tanto Shaoran quanto Sakura disseram que não falavam com ela fazia alguns dias, pois ela andava 'presa em lembranças'...  – Kaho observa o olhar distante de Eriol...

- Pobre...Tomoyo...  – Eriol não sabia o que dizer...não tinha o que dizer...

- Sim...ela deve estar sofrendo...

- Sim... "sofrendo novamente..."  – pensa Eriol...porque acontecia tanta coisa com aquela pobre jovem? Ela era tão boa, por que essas coisas tinham de acontecer com ela?

- Tudo bem Eriol?  – diz Kaho preocupada com a estranha reação de Eriol

- Tudo bem.  – Eriol sorri, nem aparentando ser forçado –  Só fiquei meio abalado com essas notícias...eu nunca imaginaria...

- ...Touya com Tomoyo e ainda que algo dessa grandeza acontecesse com os dois?  – pergunta Kaho

- Sim...isso...exatamente. Como sempre, você acerta meus pensamentos.  – Eriol sorri para sua esposa, segurando-lhe as mãos delicadamente

- Não...apenas pensei na mesma coisa.  – Kaho sorri

Pequenos passos...

- Hitsuki!  – diz Eriol com um sorriso, pegando a pequena filha nos braços.

- Papa... – Hitsuki dá um sorrisinho infantil.

Hitsuki possuía apenas quatro anos, mas era esperta como os pais. Possuía sedosos cabelos vermelhos, como a mãe e grandes olhos, azuis, como o pai.

- Vocês acordaram muito cedo?

- Hitsuki me acordou e acabamos indo passear no jardim. Nem tomamos café ainda.  – explica Kaho

- Tudo bem, eu prepararei o café das minhas duas donzelas.  – Eriol sorri

- Muito obrigada.  – Kaho sorri

- Não é nada. Afinal, você não tem passado muito bem, não é querida?  – diz Eriol com uma leve cara preocupada

- Hã? Como você...?

- Eu senti outro dia sua magia baixando por um curto período. Porém, quando me aproximei, você olhou para mim sorrindo e senti que não tinha mais nada te incomodando.  – explica Eriol rapidamente

- Sim...eu não ando bem. Algumas vezes tropeço...Bem....Mais do que normalmente. Porém logo volto ao normal.  – Kaho nota o olhar de censura nos olhos de Eriol –  Me perdoe meu querido. Eu não quis te preocupar. Não deve ser nada além de um mal estar.

- Mas Kaho....  – Eriol coloca a mão levemente no rosto de Kaho –  ...Por mais que você tente, eu sempre me preocuparei com você...e Hitsuki. Amo as duas, você sabe disso. Qualquer coisa que te acontecer, será o terror para mim.  – Eriol passa a mão levemente pelo rosto de Kaho

- Sim...Eu sei. Bem, mas faz um tempo que nada acontece, então, não tem por que você se preocupar.  – Kaho sorri, colocando sua mão sobre a de Eriol –  Agora, vamos fazer o café pois Hitsuki deve estar faminta e eu também.

- Claro.  – Eriol sorri, enquanto levanta, carregando Hitsuki, segurando a mão de Kaho e andando até a cozinha para então, prepararem o café da manhã em família, de que eles tanto apreciam.

*****

Algumas horas depois, próximo ao horário de almoço, os três resolvem, por decisão de Kaho, passearem pelas ruas de Londres, para apreciar a chegada da primavera.

As ruas de Londres estavam mais claras, mesmo com uma certa névoa e um certo frio que percorriam as ruas da cidade. Era uma bela visão, em comparação com o inverno gelado e impiedoso que tiveram nesse ano. Porém, que não deixara de ser belo pois, por onde olhassem, haviam grandes quantias de neve, que, se podia jurar, brilhavam como se possuíssem luz própria.

Eriol e Kaho não tinham fome e Hitsuki aparentemente também não, afinal, recusara todo e qualquer tipo de alimento que a oferecessem, sendo assim, acabaram indo a um café, escolhendo uma das mesas colocadas em frente a ele, para assim, poderem apreciar melhor a brisa...

- Hum...como é doce esse leve odor de flores.  – diz Kaho com um sorriso

- Sim. Me faz lembrar o Japão, onde as cerejeiras embelezavam as ruas tornando-as verdadeiros tapetes rosas, com um doce odor, misturado com o frescor da brisa.  – diz Eriol com os olhos levemente cerrados, enquanto levava uma xícara de chá aos lábios.

- É verdade. Que saudade de lá. Faz tempo que não vamos visitar Sakura e os outros.  – Kaho dá um leve sorriso como se lembranças estivessem passando em sua memória

- Sim. Lembro-me da época em que éramos apenas crianças, e meu maior divertimento era "alfinetar" meu querido descendente quanto a Sakura. Além de claro, provocar pequenos imprevistos.  – Eriol sorri de modo maldoso.

Kaho dá uma leve risada. Enquanto isso, Hitsuki permanecia sentada no colo da mãe, tentando de alguma maneira, pegar uma pequena borboleta azul...

- Shaoran...Sim, ele era engraçado. Tinha tanta desconfiança de mim, sendo que eu nada planejava fazer a não ser ajudar Sakura.

- O mesmo quanto a mim. Porém para comigo ele tinha motivos. Tornei a vida de Sakura um inferno, naquela época, e ainda arranjava tempo para deixar Li o mais nervoso e envergonhado possível.  – Eriol dá uma leve risada, Kaho também.

Sim...As lembranças boas sempre são divertidas quando relembradas. Trazem bons momentos, momentos alegres, inesquecíveis. Mesmo pessoas sérias, como Kaho e Eriol, não conseguiam deixar de sorrir ao lembrar fatos bons do passado, fatos marcantes que foram tão importantes e os fizeram do jeito que são agora.

De repente, ambos param de rir, ficando com uma expressão mais séria, porém ainda com um sorriso...

- O que houve Kaho?  – pergunta Eriol, ainda sério...

- Não...É que lembrei-me de Nakuru pulando em cima de Touya.  – Kaho dá um leve sorriso

- Eu também...  – Eriol também sorri

Essa era outra parte das lembranças, as más. Aquelas que mostram dor, tristeza, saudade e todo o tipo de sentimento negativo que o homem possui dentro de si.

- Hum...Eu...Não consigo crer ainda que Touya está morto.  – comenta Kaho

- Eu também não. Justo ele que, mesmo perdendo seus poderes, possuía uma capacidade incrível de dedução e percepção, e apesar de tudo, sabia como viver.  – Eriol para, analisando o que dissera...

- Assim como Tomoyo, não é?  – Kaho sorri, para certo espanto de Eriol

Eriol olha com ternura para Kaho...

- Sim. Exatamente como Tomoyo.

- Eles realmente tinham coisas em comum, não é?

- Sim...tinham...e muito.

Ambos permanecem em silêncio por alguns instantes, enquanto Hitsuki observava a borboleta que agora, permanecia parada no ar...

- Hitsuki...deixe a pobre borboleta em paz.  – diz Kaho com um sorriso divertido

Hitsuki olha para mãe com um olhar infantil, acompanhado de um sorriso. Logo, a borboleta volta a se mover, ganhando os céus...

- A princesinha já está conseguindo lidar bem a magia?  – diz Eriol calmamente, colocando a mão na cabeça da filha...

- Parece que sim. Outro dia tive a impressão de que uma das portas estava parcialmente invisível.  – diz Kaho calmamente

- Hehe. Acho que isso quer dizer que ela possui poder da lua...Se bem que apenas o tempo irá nos dizer.  – Eriol sorri docemente

- Acredito que sim.  – Kaho também sorri

Logo eles pagam a conta, voltando então para sua casa.

*****

Chegando, Eriol coloca Hitsuki, que dormira no caminho, na cama e Kaho resolve se deitar, pois estava sentido novamente certo mal estar. Eriol resolve sentar-se na antiga poltrona do Mago Clow, para poder então, descansar e pensar um pouco...

"Ah...Como é bom o silêncio..."  – Eriol dá um leve sorriso –  "Isso me lembra..."  – sua expressão volta a ser preocupada –  "Kaho...Por que será que ela anda tão fraca e indisposta? Há algo de errado, tenho certeza."  – uma clara preocupação é demonstrada, afinal, motivos possuía. Não pensara nem em seus piores sonhos na possibilidade de perdê-la, e não seria agora que isso podia acontecer. Não agora, que uma família havia se formado de forma tão bela e plena.

Não...nada de mal podia acontecer. Não queria sofrer. Não do mesmo modo que Tomoyo. Sim, ela sim deveria estar sofrendo. Apostava sua vida que ela amava Touya mais do que a ela própria, e que ele sentia o mesmo, apoiando-a fosse quando fosse.

Em meio aos seus pensamentos, Eriol sente sua pálpebras ficarem pesadas, pegando rapidamente no sono...

*****

Vozes...

- Como ela está?  – pergunta uma voz preocupada...Eriol não tinha a mínima idéia de quem se tratava.

- Nada bem. A magia está enfraquecendo lentamente a cada instante. Acho que deve ser aquela doença...  – diz outra voz

- Ouvi falar dos casos de muitos magos poderosos terem morrido de repente. Porém a magia não está sendo drenada por ninguém, posso sentir nitidamente que ela está sumindo, como vapor.  – diz outra voz que, desta vez, lembrava em muito a de Eriol...

- Talvez, essa seja a essência da doença, fazer a magia de determinado mago, simplesmente desaparecer.  – diz a outra voz...

- Acredito que sim. Irei analisar os outros casos. Logo te contatarei para estudarmos o caso de Kazuko.  – diz a voz que em tanto lembrava a de Eriol  – Não se preocupe Masaru, dará tudo certo.

- Obrigado...Clow.  – diz o homem denominado Masaru

"Clow?!"  – pensa Eriol

*****

- Eriol? Querido?  – diz uma voz doce, movendo-o calmamente

- Hã? Kaho?  – Eriol abre os olhos rapidamente, em sobressalto

- O que foi querido? Está tudo bem?  – pergunta Kaho, estranhando a atitude do marido

- Si...sim.  – Eriol sorri, disfarçando o espanto –  Apenas tive um sonho que me alterou.

- Entendo...Bem, vamos jantar, já preparei tudo.  – Kaho dá um belo sorriso, ajudando Eriol a se levantar

- Vamos, querida.  – Eriol sorri

Ambos caminham até a sala de jantar, de mãos dadas, sorrindo...

**********

Os dias passaram calmamente. Nada de muito incomum aconteceu, apenas os mal-estares de sempre, ocorridos em Kaho, as preocupações de Eriol quanto a isso. Porém, nada que ultrapassasse esses limites chegando a se tornar perigoso para o bem estar da família.

Pensando nisso, Eriol senta-se novamente em sua antiga poltrona, fechando os olhos, como se meditando...

"Monotonia... Antes talvez eu não suporta-se isso, mas agora, acho até melhor. Sinto que algo está para acontecer e prefiro que permaneça desse modo..."  – Eriol sentia que alguma coisa estava estranha –  "Há algo errado...Muito errado. Nunca nossa vida fora monótona, por que agora isso está começando? Algo está para acontecer...mas o quê?"

Eriol fecha os olhos com mais força, concentrando-se para ver se descobre algo...Sente uma magia...enfraquecendo-se lentamente...de repente...mais rápido. Um choro. Eriol abre os olhos em espanto, saindo correndo em seguida...

"É Hitsuki quem está chorando...então..."  – ele continua a correr, subindo a grande escadaria da mansão –  "Kaho..."  – um suor frio corre por seu rosto e corpo...

Ao chegar no quarto da filha, de onde os choros vinham, Eriol vê Kaho estirada no chão, pálida e Hitsuki ao lado, chorando. Eriol retira a filha de perto da mãe, levando Kaho até o quarto deles, colocando-a na cama. Alguns minutos depois...

- 'Eriol...'  – diz Kaho com uma voz fraca

- Kaho...o que você tem afinal?  – diz Eriol visivelmente preocupado

- Não sei...me sinto um pouco fraca...  – Mizuki sorri levemente

- Melhor você descansar.  – diz Eriol calmamente, colocando a mão sobre a face da esposa

- Sim. Mas, agora, cuide de Hitsuki. Acho que a assustei um pouco.  – Kaho sorri calmamente

- Irei. Qualquer coisa, me chame...virei correndo.  – Eriol dá um leve sorriso e beija a testa de Kaho

Caminhando lentamente, Eriol sente que aos poucos a magia de Kaho diminuía...Aquele sonho...

- Ma...ma....  – Hitsuki chorava no quarto, despertando Eriol

Eriol chega no quarto, e encontra Hitsuki sentada o chão, do mesmo modo que a deixara...

- Calma filha, a mamãe já está melhor.  – Eriol diz, mentindo, pegando a pequena no colo

- Mama...caiu...assustada...  – Hitsuki tinha lágrimas nos olhos

- É ela teve um leve desmaio...Mas não precisa ficar assustada filha, eu estou aqui...  – não podia garantir que Kaho ficaria boa, afinal ele próprio não sabia – Agora querida, acho que está na hora de você dormir.  – Eriol coloca Hitsuki na cama

- Boa noite papa...  – Hitsuki dá um leve sorriso

- Boa noite filhinha, durma bem.  – Eriol sorri, beijando o rosto da filha

- Papa...

- Sim?

- Livo...

- Livro?

- Sim...nos livos tem o pouque da mama te caído?  – diz Hitsuki, com sua voz infantil em tom sonolento –  O gatinho que papa tinha, disse que nos livos tem tudo, talvez...tenha...

- Tem razão filhinha...vou olhar...agora, durma.  – Eriol sorri

- Tá...

Eriol observa sua filha por alguns instantes, como era esperta, do mesmo modo que a mãe. Livros...Sim, os livros de Clow devem ter algum tipo de anotação. Por que não pensara nisso antes?

Logo, ele caminha até a biblioteca, procurando alguns livros de anotações de Clow, encontrando algo que despertou seu interesse...

*****

"Doenças Mágicas"

"Em meio a minha longa vida, deparei-me com tantos acontecimentos estranhos, os quais posso considerar como doenças, pois atingiam as pessoas de tal forma que apenas poções e feitiços conseguiam curar-lhes. Sendo assim, como uma precaução para que mortes como as que presenciei antes de se encontrar a então dita cura, não aconteçam no futuro, me vi no dever de escrever aqui, antes de minha eterna partida."

Sim, muitos dos livros de Clow, foram feitos antes de ele decidir que sua hora chegara, e então o destino dele deveria finalmente se cumprir.

"Dos mais estranhos casos, recordo-me dos de morte súbita, mas esses eram por uso de magia de forma exagerada e indevida ou por terem deixado de usá-la por muito tempo..."

Assim foi, Clow descrevia muitos casos, que a Eriol, pouco interessavam, passando o olho simplesmente sem muita atenção, até que em uma página, mais próxima do fim, algo que fez Eriol lembrar de seu sonho...

"...Recordo-me também do estranho caso que ocorreu, se me lembro bem há três anos, no fim do outono, início da primavera. Cerca de cinco ou seis pessoas foram vítimas desse acontecimento, em que o mago ou maga, perdia aos pouco sua magia. Porém acontecia de forma tão lenta que quase não se notava, e apenas se tornava realmente visível apenas quando a magia estava para se esgotar."

"Para mostrar o que ocorre exatamente, vou citar um caso de um antigo amigo, Masaru Kodao. Ele e sua esposa Kazuko eram poderosos magos, mesmo tendo apenas, cerca de 30 anos."

Masaru...Kazuko...esses eram os nomes citados no sonho de Eriol, sim era uma lembrança.

"De acordo com o que Masaru me contara na época, Kazuko, de repente, começou a sentir estranhas tonturas, mal estar e, às vezes, chegava a desmaiar, assustando-o sempre, e deixando-o de sobreaviso após que tal fato ocorreu pela primeira vez. Tempos depois, Kazuko apareceu pálida, caindo inconsciente logo em seguida. Logo, ele resolveu chamar a mim e a Suichirou, outro mago, conhecedor de grandes curas."

Tonturas, mal estar, desmaios...sim, Kaho estava dessa sentido tais coisas, à alguns dias atrás...

Eriol prosseguiu a leitura calmamente. Em certo momento, algo o surpreendeu e uma expressão séria e pensativa veio a sua face, porém, logo essa foi substituída por uma de decepção.

"Esse é o único jeito...mas...como conseguirei, ou melhor, quem será capaz de me ajudar...tendo essa magia?"  – Eriol sente uma tristeza percorrer-lhe o peito –  Acho...que vou perdê-la afinal...  – Eriol fecha os olhos, sentindo algo molhado em seus olhos...

"Lágrimas...a quanto tempo não as vejo?"  - Eriol refletiu calmamente...sim, fazia tempo que não via lágrimas saindo de seus próprios olhos...

Da última vez que ocorrera, ele era uma criança, de cinco ou seis anos. Sua mãe tinha acabado de falecer, e o pequeno Eriol sentia-se desamparado e sozinho na grande mansão dos Hiiragisawa. Uma pessoa só, em meio a tanta gente existente nesse mundo.

Mortes...é, Eriol se acostumara com essa vida cheia de perdas. Primeiro, seu pai, que falecera em um acidente de que Eriol mal lembrava, e agora, sua mãe, de uma estranha doença que a atacou de repente, tirando-lhe rapidamente a vida.

Naquela época já aprendera a utilizar seus poderes da sua vida passada, e já encontrara o báculo do sol. Decidira então, para não mais se sentir sozinho, utilizar uma magia de que se lembrava bem da sua antiga vida. Uma magia capaz de criar vidas com formas, fosse humanas ou simplesmente, animais. Assim, criou Nakuru Akizuki, algo como uma irmã (ou irmão) para Eriol que, apesar de não possuir sexo definido, teria a aparência de uma alegre jovem, ou Ruby Moon, guardiã da lua, dos poderes da luz (ying), bela como o guardião que sua vida passada criara, Yue. Além dela, um outro guardião chamado Spinel Sun (ou Suppi, como apelidado per Nakuru) e que em sua forma falsa teria a aparência de um gatinho, aparentemente de pelúcia, porém inteligente e cheio de problemas com doces, já na forma verdadeira, uma grande pantera de um tom de azul muito escuro, chegando a aparentar ser preto, poderes do sol com magia das trevas (yang).

Sim, criou-os para fazer-lhe companhia, e para tempos depois ajudar-lhe a lutar contra Sakura, mestras das cartas outrora chamadas Clow.

Eriol limpou as lágrimas, colocando seus pensamentos novamente em ordem...

- Já sei o que irei fazer...ligarei para Sakura...Ela pode conhecer alguém, que possa me ajudar...  – ele observa o relógio oito horas da noite – Farei isso amanhã, Sakura há esta hora ainda deve estar dormindo...

(Nota da autora: Eriol está em Londres, Inglaterra, e Sakura, no Japão. Sendo assim, por causa do fuso horário se são oito horas da noite em Londres, no Japão devem ser mais ou menos cinco horas da manhã...)

Calmamente ele guarda o livro, com a página devidamente marcada...caminhando logo em seguida até seu quarto para poder descansar um pouco antes de conversar com Sakura...

*****

No dia seguinte, Eriol acordou, levantando-se rapidamente, observando que já eram sete horas da manhã.

"Acho que dormi demais..."  – pensa, enquanto observa a leve claridade vinda das janelas de seu quarto, deixando este levemente iluminado.

Suas costas doíam-lhe um pouco, pois acabara dormindo na poltrona de seu quarto para não atrapalhar o sono de Kaho que dormia tão tranqüilamente e de forma tão angelical, que nem aparentava estar doente...

- 'Kaho...'  – ele sentia claramente...pouco a pouco a energia de Kaho estava chegando ao fim, porém ela parecia não sofrer...não tanto quanto ele...

- 'Eriol...'  – disse uma voz fraca, vinda da parte menos clara do quarto...

Eriol anda até lá rapidamente. Lá estava Kaho, deitada na cama, com os olhos levemente abertos como uma pessoa preste a perder sua alma para a morte...

- 'Eriol...'  – Kaho dá um leve sorriso

- 'Estou aqui, querida...'  ­– Eriol sorri

- 'Vo...cê me parece triste querido...'  – Kaho passa sua mão de leve sobre o rosto de seu marido

- 'Não...é impressão sua amor.'  – Eriol sorri, porém algo um tanto quanto falso...

- 'Não adianta esconder nada de mim, querido. Você não me engana mais. Sei que sofre...e por minha causa...por meu estado.'  – Kaho entristece levemente

- 'Sim...novamente você tem razão...estou sofrendo pois sei que se eu não tomar cuidado, irei te perder...e para sempre...'  – Eriol baixa a cabeça levemente...

Kaho fica observando o rosto sério de seu amado marido...

- 'Não se preocupe, Eriol...'  – Kaho puxa a cabeça de Eriol para mais perto de sua boca –  '...Aconteça o que acontecer, lembre-se disso: a felicidade virá até você, não é necessário que você fique procurando-a...'  – logo em seguida, Kaho dá um doce beijo em Eriol, que fica parado por alguns instantes, retribuindo logo em seguida...

- O que voc...  – Kaho adormecera novamente...desta vez, Eriol duvidava que ela fosse acordar...

Eriol caminha até o telefone para finalmente falar com Sakura sobre o ocorrido, enquanto isso, em sua mente, aquelas últimas e doces palavras de Kaho permaneciam em sua mente, como uma charada indecifrável...

"Aconteça o que acontecer, lembre-se disso: a felicidade virá até você, não é necessário que você fique procurando-a..."

Não sabia o que seu amor havia querido lhe dizer com isso, mas não importava, em todo caso, aquelas simples palavras, fizeram ele se sentir melhor e, por algum motivo...mais esperançoso...

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Notas da autora:

Esse capítulo foi um pouco mais light que o outro, menos tenso assim posso dizer...^^'

Kaho...coitada...o que o destino resolve para ela e Eriol? E Tomoyo? Descubram no próximo capítulo! ^_~