Capítulo Zero: Acontecimentos



A garotinha estava animada no banco de trás do carro. Olhava atentamente a paisagem da janela e falava pelos cotovelos.

- Casa tia Lí? Demola muito?

A mãe sorriu para ela, dizendo que ainda teriam uns dez minutos pela frente.

- Você não vai fazer o nenê chorar desta vez, vai, querida? - a voz do motorista era calma e, pelo tom, ele também sorria.

- Não, papai. Eu blinco nenê! - disse ela com um sorriso maroto. - Gosto nenê!

Logo chegaram ao sobrado onde a garotinha acostumou-se a ir aos fins de semana. Mal abriram a porta da frente, ela correu escada acima, entrou no segundo quarto à esquerda e parou ao lado do berço, rindo como se visse seu brinquedo favorito.

- Oi, nenê!

- Ele está dormindo, filha. - sua mãe a seguira, junto com a tia Li.

- Deixe, Laurë! Toda menina gosta de bebês.

- Ele está tão fofo, Lily. Nem parece ter só oito meses.

A garotinha esticava os bracinhos para encostar no bebê, mas recuou quando viu os olhos muito verdes observando-a.

- Cordô, mamãe! Nenê cordô! Quelo blincá ele!!

- A sua mocinha foi quem cresceu. - tia Li aproximou-se dela, passando a mão pela cabeça cheia de cachinhos. - Daqui alguns dias vai fazer aniversário, não é? Quantos anos você vai ter, hein?

Ela mostrou a mão com três dedinhos levantados.

- Então acho que já sabe cuidar de bebês. Muito bem, sente-se na cadeira e você poderá segurá-lo, está bem?

Com certa dificuldade, a menina conseguiu acomodar-se na cadeira do quarto e se preparar, como sempre fazia, para receber o bebê. Ele sorria para ela e ela o beijava e brincava com ele, totalmente despreocupada. As duas mulheres riram.



Na madrugada em que Harry Potter sobreviveu, a família Hunter encontrava-se escondida num castelo nas Highlands escocesas. Fazia alguns meses que a garotinha não visitava a tia Li, fato que deixou-a nervosa por vários dias. Não era fácil esconder-se de bruxos das trevas, ainda mais com uma criança pequena, pensavam seus pais.

A notícia da queda de Lord Voldemort chegou rápida aos ouvidos deles e, apesar de conhecerem Lílian e Tiago Potter, tiveram esperança de que tempos novos começavam. Saíram do exílio e voltaram para casa.

Entretanto, numa tarde, o pai da menininha encontrou-a chorando e acariciando compulsivamente seu pufoso. Um choro muito sentido, que vinha da alma. E ele também chorou. Chorou até suas lágrimas secarem para sempre.

Vinte e três dias antes, depois de horas de discussão, os Dursley finalmente concordaram em ficar com Harry Potter e não mandá-lo para um orfanato. O bebê estava acomodado em uma cesta de vime na sala de estar e ouvia assustado os urros do tio Valter e os gritos estridentes da tia Petúnia. Há dias quase não chorava e comia pouco. Sentia saudades.



Guida Dursley só conheceu o novo morador da rua dos Alfeneiros quatro anos depois de Harry ser deixado no batente da porta. Ao compará-lo com seu sobrinho, Guida identificou de imediato a péssima influência que aquele moleque estranho teria na vida de Dudley, o seu querido Duda.

Era arredio, quase não conversava e procurava manter distância de qualquer visita ou habitante da casa. Dormia no armário sob a escada. Jamais era abraçado ou recebia qualquer tipo de carinho. Tia Guia achava-o doentio e dissimulado. Não confiava nele, portanto o queria debaixo do seu nariz. Comprava presentes para Duda, mas nada para o intruso.

Harry simplesmente não compreendia porque era tratado diferente. Só sabia que devia gratidão e obediência aos bondosos tios que o haviam acolhido - pois eles não se cansavam de repetir isso. Para pagar a gentileza, lavava a louça, esfregava o chão, usava as roupas velhas do primo e não fazia nenhuma pergunta, ou poderia ser trancado no armário por vários dias.

Durante uma noite desse outono, a garotinha acordou assustada. Um formigamento a fez levantar e correr para o quarto do pai. Ela sempre fazia isso, desde a tarde em que sua mãe partira. Timoth Hunter estava acordado, observando um mapa desgastado onde flechas apontavam para uma montanha. Ergueu os olhos quando a menina entrou chorando com as mãos nas orelhas.

- Papai, não sei o que aconteceu! Eu não tive culpa, juro! - correu para o colo dele.

- Calma, filha! - o pai estava aflito. Ela nunca chorava sem um forte motivo. - O que foi que houve? Tire as mãos das orelhas.

Estavam pontudas, como as da mãe.



Na noite em que Rúbeo Hagrid entregou a carta convocando Harry Potter a ingressar na Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts, Aline Hunter deparou- se com o primeiro duelo de sua vida.

Acompanhava o pai numa expedição pela Sierra Madre mexicana, em busca do esconderijo de um Sacerdote Viperino que assombrava a população trouxa do lugar, raptando os primogênitos para rituais de magia negra. Eles não sabiam que o bandido tinha seguidores.

Ao chegarem ao local, tiveram que lutar. Aline teve que lutar pela primeira vez - antes ela só assistia o pai - e, apesar de seus treze anos, ela conseguiu derrotar um rapaz mais velho, demonstrando agilidade e adivinhando os golpes do inimigo.



Uma semana antes de Aline encontrar o grupo que Timoth reunira, Harry estava sentado em Hogwarts, aguardando o Profº Lockhart terminar de falar sobre sua luta com sete vampiros na Cornualha. Depois de seis semanas, as aulas de Defesa contra as Artes das Trevas tornaram-se uma piada. Harry surpreendeu-se saudoso das aulas de Quirrel, antes de lembrar-se do que viera depois. Então, ele começou a imaginar as partidas de quadribol do campeonato e as táticas para vencer.

As irmãs Bastian eram bastante divertidas. Ângela tinha a mesma idade que seu pai, Hannah era mais nova, quase da sua idade. Eram irlandesas e formulavam planos interessantes para perseguir bruxos. Fabian Fastred estudara com Hannah e estava determinado ao combate depois de presenciar atrocidades cometidas pelos "loucos das trevas".

Dobby, o elfo doméstico, saía correndo atrás de Lúcio Malfoy para terminar de engraxar seus sapatos - pela última vez - quando Aline despediu- se de Timoth no Lago de Glastonbury, embarcando na balsa que a levaria através das brumas, onde ficaria por dezesseis meses. Ela só sairia para ajudar o pai a explorar as Cavernas Cintilantes com sua visão aguda e acompanhá-lo ao mundo da bruxa Serafina Pekalla.



Harry acordava pela quarta vez na noite, sem conseguir dormir. A presença de tia Guida o incomodava sobremaneira. Ele gastava os neurônios tentando arrumar uma forma de desaparecer da casa, ou fazê-la desaparecer. Tentava pensar em Hogsmeade, em Rony e Mione, mas ficava cada dia mais difícil. Além disso, Duda estava mais seguro de si com a tia levando Harry sob vigilância cerrada. Era extremamente aborrecido precisar escapar das armadilhas do primo depois de tê-lo mantido à distância no ano anterior.

Duas sacerdotisas de Avalon apresentavam a Aline um bosque de carvalhos onde teria lugar na próxima parte do seu aprendizado sobre "a tradição". Ficaria isolada por cinco meses. Ela estava fascinada com as descobertas. Agora aprenderia a lidar com poderes essenciais e costumes milenares.



Remo Lupin corria desarvorado pela Floresta Proibida, em forma lupina, desviando das acromântulas e assustando os tronquilhos. Quando tombou exausto, os centauros o acolheram, enviando-o em segurança para longe de Hogwarts.

No frio do Pólo Norte, quatro figuras pararam para cortar uma fenda no ar com uma faca sutil afiada o suficiente para abrir janelas para outros mundos.

- Preciso de outro feitiço para manter os óculos limpos. - Timoth reclamava com a filha.

Fabian tossia. Auxiliando Will Parry, encontrariam Lira Belacqua e Serafina Pekalla para descobrirem como acabar com a rebelião dos ursos de armadura de seu mundo.



- Eu não posso convidá-lo, mas tenho que fazer isso, senão vou me arrepender para o resto da vida... Tenho que encontrar um jeito!

Enquanto Gina Weasley se martirizava, tentando criar coragem para dizer a Harry que adoraria ser seu par no baile do Torneio Tribuxo, Aline abatia mais um dos bruxos que invadiam sua casa. Nesse mesmo dia, ela e o pai refugiaram-se em Paris e Gina aceitava o convite de Neville Longbottom.

Severo Snape sentia a Marca Negra queimar em seu braço. Voldemort estava de volta e duelava com Harry enquanto o professor tentava chegar a Alvo Dumbledore para alertá-lo. Aline sentava-se num bistrô na avenida Champs Elissès com Fabian, Timoth, Hannah e Ângela. Conversavam animados sobre as férias mais que merecidas. Fabian tentava convidar Aline para um passeio, mas ela recusava. Por enquanto.



Aline terminou o namoro com Fabian na véspera de completar dezoito anos, mas não guardaram rancor. Ela explicou ao rapaz que ele não era o homem da sua vida. Fabian sequer espantou-se com a maneira direta da garota (depois de anos, a conhecia muito bem).

Exatamente três meses antes, Cho Chang e Harry beijavam-se pela primeira vez. Harry perdera a resistência das pernas quando percebeu estar com a garota da sua vida. Cho convidou-o para uma volta por Hogsmeade de braços dados.

Sete horas depois de Aline libertar seu pai usando controle da mente, Draco Malfoy atacou Harry pelas costas. Hermione Granger teve a impressão que Cho vira Malfoy chegar, mas a garota disse que olhava para o outro lado. Ela quase não apareceu na ala hospitalar para visitar o namorado.

Em julho, Ronald Weasley e Hermione completaram um ano de namoro. Harry sentia uma pontinha de inveja da sorte dos amigos (ele acreditava que os dois formavam o melhor casal da escola, opinião compartilhada por todos os amigos.) e esperava que seu relacionamento com Cho fosse especial também.



Aline comemoraria seus dezenove anos dali há dois meses da maneira habitual (com os amigos do grupo de Timoth). Estava discutindo sobre o turno de vigilância da Mansão Rosencrafth com Ângela. Do outro lado do Mar do Norte, Cho deixava Harry sozinho para defender os corpos inertes de Rony, Mione, Gina Weasley e Collin Creevey de três Comensais da Morte. Sirius Black e Remo Lupin chegaram à tempo.