Capítulo Um: Prólogo



- Cuidado, Tim. Desço em seguida.

A passagem escura e aparentemente interminável seguia por baixo da cabana. O vulto ofegante parou, tentando perceber algum movimento. A única luz na escuridão fria e sem estrelas vinha da abertura no capuz, por onde se viam os olhos brilhantes. A respiração condensava-se em uma nuvem iluminada pela claridade.

Já era noite quando enfim alcançaram o topo da montanha, no Himalaia nepalês. Viajaram dias para descobrir o esconderijo onde seus amigos estavam prisioneiros. Dois estrangeiros chamariam atenção, mas a região era deserta. Um entrara há bastante tempo no túnel que descobriram atrás da cabana abandonada. O vento assobiava entre as paredes de pedra.

O vulto tirou cuidadosamente o grande arco das costas, preparou uma flecha e começou a descer. O caminho era íngreme e em espiral por dezenas de metros, indo até o coração da montanha. Archotes iluminavam o caminho em alguns trechos.

Nenhum obstáculo apareceu até o chão tornar-se plano. O ambiente ficou mais claro. Num corredor, surgiram várias aberturas laterais, tendo como sentinelas gárgulas entalhadas na própria montanha. Masmorras com as grades escancaradas, como se os prisioneiros tivessem fugido de repente.

Os olhos das gárgulas brilhavam estranhamente, vigiando todos os movimentos do invasor. Este não fazia qualquer ruído: seus passos eram tão leves quanto a brisa de verão. Ao virar à direita, a jornada foi interrompida por uma porta gigantesca. Pelas frestas viam-se luzes. Gritos distantes e som de metal contra metal denunciavam uma batalha.

O vulto tirou a luva, revelando uma mão que emanava intensa luz prateada, colocou os anéis e tocou a grossa porta de aço, que se abriu com um estrondo.

Dentro da câmara havia um cenário promissor. Várias cadeiras partidas a um canto, tiras de borracha e correntes de ferro pendendo dos braços e pernas. Diversos frascos e garrafas derramavam líquidos pegajosos pelas mesas encostadas nas paredes circulares, deixando o ar com cheiros diferentes, variando entre o enxofre e a essência de jasmim.

O mais animador, entretanto, eram os quatro bruxos flutuando confusamente pelo ar com caras de espanto, seus corpos chocando-se num balé bizarro. Abaixo deles, com as varinhas erguidas, estavam Ângela e Hannah Bastian, Fabian Fastred e Timoth Hunter, ainda com a capa que o escondera na neve. Mostravam fadiga e cansaço, mas estavam rindo, observando os inimigos loucos de raiva.

O vulto desarmou o arco e tirou o capuz. O brilho da pele estava diminuindo agora. A garota sorria.

- Vocês não deixaram nada para mim!

De repente, porém, ficou tensa e voltou a armar o arco. Rápida, ela girou, mirou e deixou a flecha voar em direção à passagem por onde viera. Segundos depois, um gemido de agonia e um bruxo com uma adaga despencou pela porta, atingido no olho direito. A Capa da Invisibilidade caíra de seu rosto.

- Bem, querida, acredito que era o último. Vamos para casa!