Capítulo Quatro: No Expresso



O Expresso de Hogwarts já estava partindo quando chegaram à estação. Aline relutara muito em ir. Com a volta de Voldemort não queria deixar seu pai sozinho. Desde sempre ele tinha sido um dos seus opositores mais atuantes. E era exatamente por isso que ela iria embora. Timoth temia pela filha. Só ficaria menos tenso quando Aline estivesse perto de Dumbledore. O próprio diretor sugerira essa temporada na Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts.

A garota estava temerosa. Havia muitos anos que estivera numa escola, nunca em uma de bruxos. Seu corpo inteiro brilhava.

Conseguiram a última cabine do trem. Colocaram o malão com o material escolar, a mala com roupas, a caixa musical e a gaiola de Elfgold - uma coruja dourada, no momento raivosa por viajar presa. Todos já haviam embarcado. Alguns viram o brilho prateado das janelas, mas logo voltaram às suas conversas e novidades sobre as férias. Aline abraçou Tim com muita força e ele passou os dedos pelos seus cabelos, longos como os da mãe.

"Será melhor assim, querida. Não ficaria tranqüilo com você aqui. Voldemort é capaz de tudo... e os seguidores dele à solta... Quase não conseguimos libertar Fabian e as Bastian... Você finalmente conhecerá gente como você. Poderá ter muitos amigos."

Aline suspirou; já tinham discutido o assunto demais. Ele beijou a filha e colocou-a dentro do trem.



Harry Potter estava com Rony Weasley e Hermione Granger numa cabine no meio do trem, conversando sobre os feitos do verão.

- ... e esse é o sonho. Não consegui descrevê-lo bem nas cartas, mas me deixou intrigado. Quem serão esses soldados brilhantes? A única coisa que posso deduzir é que estão do nosso lado.

- Realmente é muito estranho, Harry. Não sei o que possa ser. O que você acha, Rony? - Mione virou-se para o namorado, que olhava pela janela. - Rony, estamos falando com você!

O garoto chamou a atenção para um brilho estranho no fim da plataforma.

- Uau! O que será aquilo?

- Ah, Rony, você é tão bobo! - disse Mione, sentada ao lado do namorado.- Com certeza deve ser algum funcionário com uma lanterna. Olha a fumaça na plataforma

- Uma lanterna desse tamanho!? É do tamanho de uma pessoa! Mas ninguém irradia luz assim, irradia? Não, esperem... Só tem uma pessoa no mundo que pode... Lembro de papai falando dela, uma notícia que saiu no jornal da semana passada...

- Quando resolver contar pra gente você avisa tá, Rony?

- O Harry viu também, lembra Harry? Mandei a você pela Edwiges.

- Era uma aluna nova ou coisa assim. - Harry também espiava pela janela. - Mas lá não dizia nada sobre luz prateada. Olhem, entrou no trem.

- Já sei! Aline Hunter. Dizem que ela é metade Elfa...

- O que? Ela é um elfo doméstico?

- Mione, você pode decorar todos os livros da biblioteca, mas não vai saber nada sobre Elfos, com letra maiúscula. Eles são parecidos com os humanos, só que mais poderosos e são imortais. Nada a ver com o Dobby. Aline Hunter irradia luz prateada porque a mãe dela era Elfa. Eles são raros hoje em dia. Nem os bruxos sabem muita coisa sobre eles.

- E como é que você sabe?

- Gui coleciona reportagens sobre ela há mais de sete anos. - Rony gostou de saber algo melhor que a namorada.

Hermione não acreditava existir algo não descrito na biblioteca de Hogwarts, mas ficou intrigada com essa figura nova.

- Vocês gostariam de visitá-la? Nunca vi uma Elfa antes. Que tal?

- Não sei. - opinou Harry. O trem afastava-se rápido de Londres. - ela parece querer ficar sozinha. Chegou depois que todos já tinham embarcado.

- Um ser do mundo mágico que não está nos livros... Como nunca vi nenhuma reportagem sobre ela?

Rony abriu a boca, mas foi impedido de responder. Cho Chang entrou na cabine e varreu a imagem prateada da mente dos garotos. Mione não gostava dela, portanto, a recepção foi menos calorosa do que a visitante esperava. Ela namorava Harry e às vezes parecia particularmente amável, em outras ocasiões - notadamente durante o perigo das aventuras dele - preferia manter distância. Harry começava a se aborrecer com isso. Ele a cumprimentou friamente. A garota fingiu não notar.

Cho veio com duas amigas e ficaram um longo tempo falando sobre as aulas e as férias. Ela ficara um ano a mais em Hogwarts a pedido dos pais, que consideravam mais prudente mantê-la sob as asas de Dumbledore. Harry, Rony e Hermione estavam no sétimo e último ano.

Logo em seguida, Gina, irmã de Rony, aparecia à porta.

- Olá, pessoal - disse ela, sentando-se entre Harry e Cho. Parecia que Gina tinha seguido as garotas.

- Oi, Gina. - Harry sorriu para ela. - Como vão suas amigas?

A garota corou até a raiz dos cabelos ruivos, como sempre acontecia quando Harry lhe dirigia a palavra.

- Vão bem. - ela gaguejava um pouco. - Vim só ver o que vocês estão fazendo... Logo voltarei para a minha cabine. - Gina não olhava para Cho. Na verdade, a ignorava descaradamente.

Hermione encostou a cabeça no ombro de Rony, sorrindo da situação. Ele também ria da expressão sem-graça de Harry.

Quando o carrinho de lanche passou, ali pelas duas da tarde, Cho e as amigas voltaram para suas cabines. Então veio o som. Parecia, e era, música.

- Nunca ouvi nenhum tipo de música no Expresso de Hogwarts! - estranhou Hermione.

- Que estará acontecendo? - Gina olhou intrigada para a porta.

- Talvez estejam melhorando o serviço. - ponderou Rony, a boca cheia de pastilhas flamejantes de hortelã, faíscas verdes saltando enquanto falava.

Harry estava mais perto da saída e observava a parte de trás do trem.

- Vem da última cabine. E tem uma luz prateada.



Aline fala: "Angústia, tristeza e medo. Elfgold dormia na gaiola, depois que conversei com ele e o acalmei. Abriu a caixa musical e as canções de Loreena McKennit em conjunto com a paisagem na janela me fizeram viajar. O que estaria me esperando na escola? Conhecia algumas pessoas lá e claro que já ouvira muito sobre ela, mas durante anos foi assunto secundário em minhas preocupações.

Como os alunos me receberão? A incerteza era nova para mim, não me sentia em harmonia para ler pensamentos ou sentimentos de ninguém. Tinha aprendido a usar seus poderes, entretanto não conseguia controlá-los tanto quanto gostaria.

Campos, árvores, plantações, vilas passavam ligeiros. Onde ficaria Hogwarts afinal?

Uma batida na porta me despertou. A mulher do carrinho tinha deixado uma abertura...

- Com licença. - disse um rapaz de cabelos vermelhos e sardas no rosto - Nós ouvimos a música.

- Ah, desculpe-me. Não sabia que estava tão alta. Vou diminuir um pouco.

- Não, pode deixar. É muito bonita. - uma garota de cabelos fofos surgiu logo atrás, fazendo o rapaz sardento entrar na cabine. Atrás dela um outro garoto, de óculos redondos, cabelos muito negros e olhos muito verdes. - Sou Hermione Granger, este é Rony Weasley e esse é Harry Potter. - nossos olhos se encontraram e foi uma surpresa tremenda, uma sensação de descobrir para onde toda a minha vida tinha me encaminhado. Como ele se parecia com meu pai!

- E você só pode ser Aline Hunter. - disse uma garota também de cabelos vermelhos que espiava por trás deles.

- Ah, essa é minha irmã, Gina.

Levantei e fiz uma reverência:

- Muito prazer em conhecê-los! Fico admirada que saibam meu nome.

Convidei-os a sentar. Rony parecia maravilhado, Hermione curiosa e Gina sequer piscava.

- Nossa, você é mesmo meio Elfa? Como seu corpo brilha desse jeito? E essa coruja toda dourada?

- Por que você está indo para Hogwarts? De onde você é? Que roupas são essas?

Suas perguntas fizeram-me rir e acalmaram-me. Mostrei as orelhas pontudas, contei como Elfgold me fora dado por Fabian e que era enfeitiçado para brilhar quando quisesse. As minhas roupas são mesmo um tanto diferentes: vestes leves de seda, geralmente com o mesmo cinto de folhas lavradas em prata, mais justas que as tradicionais.

Cada resposta gerava outra pergunta. Eles estavam gostando de tantas informações novas. Como todo o mundo, não tinham quase nenhum conhecimento sobre Elfos ou meio-elfos. Sabiam alguma coisa sobre mim, mas não muito. Harry não disse uma palavra, mas senti que ele estava confuso em relação a mim e prestava atenção a cada notícia.

Naturalmente leio os pensamentos das pessoas que se aproximam. É um instinto de defesa que só meu pai conseguia perceber. Rony me achou misteriosa e uma maravilhosa novidade; e brigava consigo mesmo. Hermione queria fazer de mim seu objeto de estudo e estava encantada com as histórias que eu contava. Gina não parava de abrir a boca de espanto; era a que mais perguntava. Harry tentava esconder-se, evitando olhar diretamente para mim. Foi ele quem notou a caixa musical.

- Como funciona?

- Bem, ela armazena lembranças de apresentações das quais gostei, as imagens e os sons. Está vendo a cantora? Ela é minha favorita nesse estilo, que os trouxas chamam 'new age'. A caixa é um baú-guardador de músicas. Quando quero escutá-las é só abri-lo. O princípio é o mesmo da Penseira do Profº Dumbledore.

- É uma espécie de penseira.

- Cinema controlado pela mente.

- Como você consegue falar conosco e controlar a caixa?

- Não se esqueça que sou Elfa também. A capacidade mental dos Elfos é superior à dos humanos. Não que eu esteja me gabando...

- Você conhece Dumbledore?

- Sim. É amigo de meu pai, Timoth Hunter. Atuei ao lado dele em certas ocasiões. Uma pessoa excelente!

- E os seus poderes? Gina disse que são diferentes, e pelo visto são mesmo.

- Ainda os estou descobrindo, portanto não quero falar sobre eles.

Hermione insistiu e eu resolvi brincar um pouco.

Concentrei minha atenção no espaço ao redor da cabine, percebi que alguém estava vindo com a intenção de falar comigo e informei a ela. Hermione fez cara de incrédula mas no instante seguinte a porta se abriu. Duas garotas apareceram, uma delas segurava uma revista. Pareciam aborrecidas.

- Tinha certeza. Luz prateada, música de trouxa. É só comparar com a revista, Pansy.

Meus companheiros não gostaram do tom agressivo com que ela falou.

- Do que você está falando, Lunhout?

- Ah, Potter, você já está aqui, é? E não perde a mania de estar sempre por fora. Também, morando com aqueles trouxas... Estamos falando dessa elfazinha que inventou de se meter na nossa escola. Parece que vocês estão gostando, não é? Já estão íntimos dela! Cuidado, Granger, ou ela vai roubar seu namoradinho pobretão e seu amiguinho maluco de quebra.

- Por favor, do que é que vocês estão falando? - eu sabia o que era. Podia ver claramente seu intuito. Assim mesmo queria que ela dissesse.

Elas atiraram-me a revista "Segredos de Alcova". Uma foto minha estava na capa, onde se lia: "Cuidado, garotas de Hogwarts. A mulher mais tentadora do mundo bruxo ataca!". Dentro havia uma matéria sobre a minha ida a Hogwarts ao lado de uma foto onde eu posava com o arco preparado, Elfgold no ombro direito.

'Aline Hunter, considerada a jovem mais poderosa do universo bruxo, está de malas prontas para ingressar na Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts. Conforme nos relatou Rita Skeeter, nossa correspondente em Paris, a Srta. Hunter está à procura de mais conhecimento mágico, já não lhe bastando os adquiridos em suas inúmeras incursões por universos paralelos, conspirações malignas e batalhas com bruxos das trevas.

Segundo ela própria confidenciou à Skeeter, suas aventuras com o pai já estavam ficando repetitivas. 'Quero ampliar meus horizontes. Conhecer gente da minha idade', disse, cheia de esperança.

Conhecida por ser filha da meio-elfo Laurëtinwe e do bruxo Timoth Hunter, a bela bruxa de longos cabelos castanhos, olhos cinzentos penetrantes e incríveis poderes não vai ter dificuldades em arrumar companhia logo. Dizem que os homens que a vêem são envolvidos num Feitiço de Amor Eterno. As garotas que têm namorados em Hogwarts que se cuidem!'

- Nunca li tanta bobagem! Que história é essa de Feitiço de Amor? Nunca falei nada disso! E onde conseguiram essa foto?! Que absurdo! - estava indecisa entre rir ou xingar.

- Não sabe, é?! Pois trate de voltar para o buraco de onde você veio e deixe a gente em paz!

- Ora, francamente, é ridículo vocês acreditarem nisso! Essa revista é estúpida! - Hermione tinha vindo em meu socorro, mas eu estava até me divertindo. Fora os insultos, era bom saber da minha fama. Ia dizer isso quando uma presença me fez tremer. Havia mais alguém ali que não se revelara. Não consegui me controlar ao descobrir quem era.

- Olhe aqui, garota, se você está preocupada com Malfoy, preferiria olhar para um basilisco ou discutir a teoria da relatividade com uma quimera a me aproximar dele!

Harry olhou-me cheio de espanto e dúvida e de novo para a porta. Draco Malfoy apareceu com seu sorriso amarelo.

- Ora, ora, Srta. Hunter, como sabia que eu estava aqui?

- Não foi difícil sentir o mau-cheiro. Não mande sua namoradinha espionar em seu lugar, Malfoy. Ela não sabe fazer isso muito bem.

- Vim aqui lhe oferecer amizade, mas pelo que vejo você já foi envenenada por essa ralé! - o olhar de desprezo que ele lançou para meus acompanhantes fez todos se levantarem.

- Se você não sabe nada da história da sua família, deveria conversar mais com seu pai. Talvez você não fizesse tanta bobagem. Agora retire-se da minha cabine ou vai se arrepender!

Parecia ser apenas uma missão de reconhecimento pois ele não estava com seus habituais asseclas, Vicent Crabbe e Gregory Goyle, como Rony me contou depois. Fechou a cara e foram embora fervendo de humilhação.

Sentei e me esqueci de tudo por um momento, tentando recuperar a calma. A cabine brilhava, ofuscando todos. Meu pai sabia que havia um Malfoy em Hogwarts? Por que não fui avisada? Será que deveria voltar? Ele me pareceu muito fraco. Sim, eu poderia lidar com ele se não perdesse o controle.

Hermione me despertou.

- Precisamos nos arrumar. Estamos chegando. Você vai ficar bem?

- Ficarei sim, obrigada. Desculpem a cena horrível. Creio que exagerei.

- Não tem importância. Malfoy merece. Até logo.

Troquei de roupa com o trem já quase parando na estação. As vestes negras de Hogwarts não ficaram tão ruins. Deixei o cinto de folhas e ficou legal.

Quando desci estava uma confusão de meninos de várias idades, Rúbeo Hagrid chamando os do primeiro ano. Hermione e Gina vieram perguntar como eu iria para o castelo. Confessei que não sabia se era com os novatos ou com os veteranos. Hagrid tirou minha dúvida. Eu iria com os do primeiro ano, pois nunca havia estado na escola antes."