Capítulo Cinco: Mais um Ano



- Uau, Harry! O que você achou dela, hein?! Quem diria que algum dia veríamos uma Elfa de verdade! Ela parece bem poderosa. Já lutou com Dumbledore, e tudo mais! Aquela matéria não mentiu quando falou das lutas. Lembro de papai falando que é um absurdo expor alguém tão jovem, mas admitiu que a ajuda dela é valiosa.

- Não sei o que pensar sobre ela... Alguma coisa aconteceu quando a vi.

- Rony, você às vezes me decepciona. Não viu como ela estava triste? - Hermione vinha logo atrás deles e estava um tanto ciumenta. - É inacreditável que você ainda pense que ela é uma deusa! Nem sabe usar os poderes direito.

- Não é nada disso, Mione. - Gina corrigia a amiga. - É que os Elfos são discretos. Não falam mais do que devem. Pensava que Aline Hunter seria toda exibida, cheia de si por ser tão famosa! Leio reportagens sobre ela desde que era pequena. Mas ela é muito legal. Gui vai enlouquecer quando lhe contar que ela está aqui.

- Se ela nem sabia que era famosa! - e emendou com um sorriso malicioso. - Agora entendo porque nunca li nada sobre ela. Segredos de Alcova é, Rony?... Em todo caso, espero que ela fique na Grifinória. Acho que poderíamos aprender muito com ela. E confesso que gostei dela.

Harry prestava pouca atenção à conversa. Pensava no que vira ao entrar na cabine. Nada de excepcional, a não ser que fosse excepcional ver uma pessoa tão triste e tão bela. Seu olhar transparente, seu sorriso iluminador. Parecia um bichinho assustado, não uma grande bruxa. Pensara nela enquanto se aprontava para o desembarque e pensou nela durante a travessia de carruagem e a entrada no castelo.

Viu os amigos sorrindo da mesa da Grifinória. De repente percebeu: aquele era seu último ano na escola. Lord Voldemort voltara com todo seu poder, ameaçando-o de todas as formas. Conseguira livrar-se das garras do bruxo várias vezes, mas ficava cada vez mais difícil. Da última vez, há apenas cinco meses, tinha sido por um triz. Onde conseguiria proteger-se dele? Ou melhor, como conseguiria derrotá-lo?

As preocupações desapareceram ao sentar-se com os amigos. Não adiantava sofrer por antecipação. Apesar de todas as tentativas de seu inimigo, ele jamais fora morto.

- Ei, Harry, como foram as férias? - Simas Finnigan tinha o rosto bronzeado.

- Tudo ok. Você foi à praia?

- Visitamos Mônaco, mas tivemos que voltar logo porque Você-Sabe-Quem estava por lá, pelo que soubemos. Pronto para mais um ano? Dizem que o último é o melhor.

- É verdade que Aline Hunter estava no trem? - quis saber Parvati Patil. - Estão dizendo que vocês ficaram com ela na cabine.

- Sim. Ela estava sozinha e resolvemos fazer companhia. Muito legal.

- Ela é diferente da gente? Quero dizer, ela não foi criada como nós, nem é pura como a gente. Não é humana, em todo caso.

Harry sentiu um lampejo de raiva... Definitivamente, eram pensamentos típicos de um sonseriano.

- Asseguro que ela é absolutamente normal. Só teve experiências diferentes. Você vai vê-la logo. Ela está chegando com os alunos do primeiro ano.

- Alguma mudança de professores? - perguntou, tentando mudar de assunto.

Olhou rapidamente para a mesa principal. Lá estavam todos, como no ano anterior. Quando a professora McGonagall levantou-se e entrou pela porta atrás da mesa ele soube que os alunos do primeiro ano estavam chegando. Em seguida, viu Hagrid com seu habitual casaco de toupeira. Realmente a noite estava fria. O meio-gigante sentou-se e sorriu para o garoto. Harry retribuiu. Estava em casa novamente.

Olhou ao redor para ver as pessoas nas outras mesas. Vários alunos que deveriam ter terminado os estudos no ano anterior estavam de volta.

- Houve um entendimento entre o Ministério e Dumbledore para que os ex-alunos pudessem ficar mais um ano. - Rony cochichou para o amigo. - Eles terão aulas extras de Defesa contra as Artes das Trevas.

Harry viu Cho e algumas amigas na mesa da Corvinal. Ainda se sentia magoado pelo último ano, quando ela simplesmente o deixara só justamente na hora em que ele mais precisava. Nada poderia ser mais traidor.

Quase nenhum ex-aluno da Sonserina tinha voltado. Draco Malfoy conversava com o grupo mais perto dele, apontando Harry. Ele desviou o olhar. Sem problemas esse ano.

Começou a prestar atenção no grupo à sua volta. O assunto era a nova aluna. Rony, Gina e Hermione estavam respondendo um questionário interminável sobre Aline Hunter. Ele estava confuso. Não conseguia tirá-la da cabeça nem esquecer sua voz baixa e suave. Jamais sentira isso antes. A novidade se espalhou por todo Salão.

- Com tudo que ela sabe, vai dar aula de Defesa contra as Artes das Trevas. - Gina parecia gostar bastante dela, como uma espécie de fã.

- Talvez ela venha fazer uma pesquisa de como Você-Sabe-Quem começou. - Sugeriu Dino Thomas, sentado ao lado de Simas.

- Então ela fica na Sonserina.

- Ah, como vocês são bobos! Não é óbvio? Ela quer estar perto de Dumbledore. Está morrendo de medo dos Comensais irem atrás dela! Rony mesmo disse que ela estava apavorada.

Hermione não pensava assim.

- Pelo que vi, não parece alguém que tenha medo. Não por ela. Acho que está aqui para aprender, como nós. Ela nunca teve a chance de estudar magia. O que faz é puro instinto.

Harry concordava em parte com essa explicação, contudo não pôde se manifestar. A porta do Salão se abriu e os alunos novatos entraram seguindo McGonagall. Só então ele olhou para o teto enfeitiçado. As estrelas estavam enormes e brilhantes como nunca. Quase não eram necessárias as centenas de velas suspensas sobre as mesas. Um silêncio de expectativa varreu a conversa das mesas.

As crianças entraram assustadas, sem saber o que as aguardava. Aline Hunter não estava entre eles.



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"- Hagrid, eu não fazia idéia de que era tão famosa. Saí até em revista!

- Verdade? Bom, você fez coisas importantes para o mundo dos bruxos e ainda é muito jovem. Deve ser por isso.

A noite estava anormalmente estrelada. Fazia muito frio, de modo que recostei em Hagrid, tão quentinho e fofo com seu casaco de toupeira. Pedi sua companhia no barco porque não desejava os olhares de espanto e curiosidade que vinham sobre mim desde o desembarque. Meu brilho quase iluminava a extensão do lago. Como antigo amigo de meus pais, ele fez de tudo para me acalmar.

- Talvez no inicio você se sinta um passarinho na gaiola mas vai se acostumar. Hogwarts é um excelente lugar para fazer amigos.

- Meu pai não pensou assim.

- Tim podia ter ficado. Dumbledore insistiu para que ficasse. Mas ele estava inquieto. Achava que o ataque às forças das trevas deveria ser radical, aberto. Sinto por Timoth. Ele com certeza teria aprendido muito se tivesse ficado.

- Papai gosta das coisas claras. Ele se opunha a ficar perto dos sonserinos. Por falar neles, não sabia que um Malfoy estuda em Hogwarts. Por que ninguém me avisou, Hagrid?

- Não sei, Aline. Deixe isso para lá. Finja que ele não existe. Eu faço isso. Venha, já estamos chegando.

Os barquinhos aportaram um a um e seguimos por uma longa escadaria de pedra que levava ao saguão. Eu fingia não notar os olhos fixos em mim e o espaço que os garotos procuravam manter da minha pessoa. No alto nos esperava a Profª McGonagall. Ela pediu a todos que aguardassem e se preparassem para a Cerimônia de Seleção. Quando terminou virou-se para mim e pediu que a acompanhasse a uma sala paralela.

- Bem, Srta. Hunter, estamos felizes em tê-la conosco este ano. O Profº Dumbledore pediu que a senhorita fosse levada para uma Seleção, separada dos demais alunos, visto sua situação especial.

- Sim, professora. É só dizer o que devo fazer.

- Primeiro, tenha calma mocinha! - exclamou ela ao ver meu nervosismo. - Ele dará uma explicação aos alunos sobre a sua estada aqui. Tudo isso é inédito.

- E qual será a minha situação aqui?

- Você verá logo. Venha, vou levá-la à sala atrás do Salão Principal. Quando for a hora, virei buscá-la.

Enquanto explicava a organização da escola, ela me conduzia por passagens secretas até chegarmos a uma sala com lareira ardente, poltronas altas e vários retratos de bruxos em movimento. Ela se foi e eu fiquei a admirar as pinturas.

Conseguia ouvir o burburinho do salão mas decidi não saber o que acontecia lá. Desviei minha atenção para os bruxos nas pinturas. Alguns dormiam, outros conversavam animados com o colega do lado. Pensei poder descobrir alguma figura ancestral de Elfos, afinal foram eles quem ensinaram a magia aos homens mortais. Não havia nenhuma. Definitivamente tínhamos sido expurgados.

Tínhamos? Será que eu poderia me considerar uma descendente das personagens maravilhosas de que falam as histórias? Desde Beren e Luthien, Idril e Tuor, Elwing e Eärendil, passando por Galadriel e Arwen até chegar à minha mãe? Metade sim.

Sentei-me junto ao fogo concentrando minha atenção nas chamas, procurando a lembrança de Laurëtinwe. Meu pai dizia que a serenidade dela fazia o brilho desaparecer. As chamas formaram sua imagem. Sua alma veio e me confortou com palavras delicadas. Seu amor me envolveu. Estava pronta para enfrentar mais uma batalha.

Foi assim que o Profº Dumbledore me encontrou. A mão em meu ombro quebrou minha concentração. Ele sorriu e eu retribui o gesto. Levantei-me e o abracei.

- Até o último momento pensei que seu pai recuaria. É maravilhoso tê- la aqui. Espero que tenha gostado da viagem.

- Foi muito boa, professor. Alguns alunos me encontraram e acabaram com a minha solidão. Conheci Harry Potter. Fingi que não conhecia sua fama e ele ficou contente por eu não ter grudado os olhos na cicatriz. Não preciso da visão para isso.

- Harry é uma pessoa extraordinária, como você deve saber. E tem uma certa impaciência com as pessoas observando-o, como você, querida Elenna.

- Conheço sua predileção por ele. Pelo que pude sentir, é corajoso e inteligente. Um verdadeiro herói dos bruxos. - sorri ao dizer isso e os olhos azuis de Dumbledore cintilaram.

- Vejo que você está em plena forma, não?! Minerva me alertou que talvez precisasse acalmá-la antes da Seleção.

- Acho que posso agüentar a exposição. Consegui parar de brilhar.

Ele me beijou na testa.

- Venha. A noite está estrelada como não via há mais de dezoito anos. Estão nos esperando.

Atravessamos a sala. Laurëtinwe me acompanhou."