Capítulo Nove: Um passeio para melhorar



- Quer dizer que você nunca viu um tronquilho? - perguntou Aline a Harry,com a voz exageradamente escandalizada.

- Não. Por que o espanto? - ele ria da cara horrorizada dela. - Sei que eles são difíceis de encontrar. Não fiquei procurando criaturinhas feitas de gravetos pela Floresta!

- Mas deveria! Os tronquilhos são ótimos amigos. Tim teve dois quando era criança.

Os dois estavam sentados junto à janela na Torre de Grifinória. Rony e Mione tinham ido dar um passeio. Eram quase oito da noite e eles tiveram um dia cheio, com tempos duplos de Defesa contra Arte das Trevas e Transformação. Aline contava a Harry os animais mágicos que já possuíra enquanto faziam uma pesquisa para a aula de Hagrid.

- Que tal se fôssemos procurar alguns? - ela propôs animada.

- Nem pensar. Vamos pegar uma bela detenção e vamos atrasar a matéria. E estamos proibidos de entrar na Floresta, você se esqueceu?

- Ah, Harry... Por favor... - a garota passou o braço por cima da mesa onde eles estudavam e pousou a mão sobre a dele. Harry não pôde evitar um choque percorrer-lhe a coluna e um friozinho na barriga, como acontecia sempre que ela o tocava. - A gente não demora... Prometo... Nem a Mione está preocupada com essa lição.

- Ok. - ele nunca resistia aos pedidos dela. Começava a acreditar que Aline certamente tinha um encantamento que não aceitava recusas. - É uma boa espairecer um pouco. Tempo duplo de Transformação foi demais para mim.

- Você bem que gostou das primeiras horas! - provocou a garota.

- DCAT é minha melhor matéria. Mas não demoramos, certo?

- Claro. - Aline disse e levantou-se, ainda segurando a mão de Harry. Ele correu os olhos pela sala. Felizmente ninguém olhava. Se ele observasse melhor, veria Gina erguer a vista do livro de Feitiços para ver os dois saindo de mãos dadas.

Harry não protestou, nem tentou largar a mão da amiga. Ao contrário, quando desciam cuidadosamente as escadas, ele percebeu que haviam entrelaçado os dedos, o aperto um pouco mais forte e que ela andava cautelo próxima a ele, embora seus passos não fizessem o menor ruído.

Encontraram algumas das interessantes criaturinhas-graveto perto da cabana de Hagrid. Harry espantou-se ao ouví-los falar um inglês perfeito.

- Boa noite, caro senhor e estimada senhorita! A que devemos a honra desta visita?

Seus nomes exteriores (eles tinham outros nomes, conhecidos somente entre a comunidade tronquilha) eram Violet, Greenleeves e Seeds. Aline teve que prometer não tentar tocá-los. Pareciam diminutos e frágeis feixes de gravetos amarrados no meio, com olhinhos castanhos e curiosos. Contaram sua luta para defender suas árvores, que eram seu lar e sua vida. Sempre que uma árvore morre, um tronquilho vai junto, privando o mundo de seres gentis e pacíficos.

Os garotos sentaram-se num tronco caído e ouviram as histórias olhando para a lua crescente. Harry sentia a amiga chegar mais perto, sem notar que ele próprio aproximava seu corpo do dela. Aline apoiou a cabeça em seu ombro, ouvindo Greenleeves contar como os dementadores os matavam facilmente e agradecer a proteção que Hogwarts dava à Floresta. Quase instintivamente, o garoto passou o braço pelos ombros da garota, acomodando-a. O próprio Harry surpreendeu-se com a atitude, mas agora sentia o calor do corpo de Aline e seu hálito fresco quando ela ria.

Quando as luzes do castelo começaram a rarear, os dois voltaram devagar, e novamente de mãos dadas, para a Torre.

Na sala comunal, vazia àquela hora, encontraram Mione e Rony conversando baixinho perto da lareira.

- Onde vocês se meteram? - perguntou o amigo ao vê-los.

- Ficamos preocupados. Chegamos a pensar que tinham arrumado uma detenção.

- Não, nós fomos à Floresta conhecer alguns tronquilhos. - Harry começou a contar o encontro com os bichinhos enquanto sentava-se no chão, apoiando as costas na poltrona onde Aline sentara. Antes de subir para o quarto, Aline abaixou-se e beijou de leve o rosto dele.

- Obrigada, foi um passeio excelente! Temos que repetir!

Harry ficou muito vermelho. Rony olhava para o amigo, mal contendo a risada. Hermione também ria com um brilho que dizia "passeio para ver tronquilhos, é?"

Após dez dias de convivência, ele descobrira que sim, era possível conquistar a afeição até de Snape. Ainda mais se fosse Aline Hunter. Ela mostrava-se tão diferente das meninas que Harry já conhecera que o garoto até desconfiou.

A meio-elfo não o idolatrava como a maioria das alunas, como uma espécie de ser inatingível; tão pouco o controlava como Cho, fazendo questão de exibir a todos sua "propriedade particular".

O mais próximo seria compará-la a Hermione, mas mesmo elas eram diferentes. Mione tinha um certo temor em expor sentimentos, de estar invadindo sua privacidade, talvez por ele próprio ser um tanto reservado e introvertido. O garoto, mais que qualquer outro, percebeu que Aline não se importava em demonstrar afeição com gestos. No inicio, Harry assustou-se, porém, não demorou a gostar bastante dos abraços e beijos no rosto.