Capítulo Dez: Nem tudo são flores
Depois de algumas semanas, Aline sentia-se sufocada com tanta atenção. À medida que o clima ficava mais frio com a chegada do outono, a sala comunal e a biblioteca ficavam mais cheias. Ela via poucos lugares onde pudesse ficar sossegada. Porém, tinha o apoio dos amigos.
Hermione perguntava tudo sobre seus conhecimentos, insaciável. Gina a tratava com grande reverência, apesar de não conseguir disfarçar uma inquietação quando a via com Harry. Rony apreciava suas histórias e ela adorava as dele e de Mione. Como quisera uma vida normal, como trouxa ou como bruxa!
Divertiu-se ao saber que Gui Weasley era fã das suas aventuras. Começou uma correspondência com ele, por intermédio de Gina.
- Seu irmão é muito diferente, Gina! Olha só o cabelo dele! E esse brinco?! - comentava ela ao receber uma foto de Gui. - Na carta ele diz que a namorada, Fleur Delacour, está morrendo de ciúmes. Mas eu não quero tomá-lo dela, que exagero... O que foi? - perguntou ela ao ver as caras dos garotos. Mione ria.
- Não é possível! Como Gui pode estar namorando a Fleur? - Rony olhava para Harry boquiaberto.
- Vocês a conhecem? Tem uma foto deles juntos aqui. - os dois se espremeram para olhar.
- Ah, parem com isso, vocês dois. - Mione amarrou a cara. - Ela já tem dono, ouviu, Ronald Weasley?
- Calma, Mione! - Rony abraçou namorada e deu-lhe beijinhos estalados na bochecha. - Só estava curioso, quero dizer, eles não se conheciam... Como conseguiu?
- Vou perguntar a ele na próxima carta, ok? Agora parem com essa cena de ciúme. Todo mundo aqui sabe que vocês se amam! - Hermione e Rony coraram juntos. Os amigos riram da sincronia.
Com Harry passava mais tempo sozinha. Eles andavam pela propriedade durante horas, quando o tempo permitia, descobrindo fatos comuns em ambas as vidas. Aline contou a Harry que seus pais tinham sido amigos, mas ele não acreditou. Às vezes passeavam escondidos dentro da Floresta. Ela ensinou- lhe o prazer de caminhar entre as árvores, em meio aos sons dos animais e do vento.
O amigo não era diferente de outros garotos que ela conhecera, mas, ao mesmo tempo, era. Talvez fosse a tristeza pela perda dos pais, ou o peso da responsabilidade, que ele imaginava ser só dele, ou ainda tudo isso unido no enorme senso de dever que transparecia em seu olhar franco. Esse amigo tão singular afinal de contas era Harry Potter. Não o menino que sobreviveu, mas o bebê que ela visitava na casa da tia Li.
Harry contou a ela o sonho do verão. Aline reconheceu algo familiar, porém conservou a opinião para si. Era bastante discreta e perguntava mais do que respondia. A única revelação que fez foi a de que seu nome não era Aline.
- Conto isso a você, mas peço que não comente com ninguém.
- Por que você não usa seu nome?
- Tim acha que não seria justo. Foi minha mãe quem escolheu. Ninguém sabe o significado, entende?
- Não, mas estou curioso! Que nome é? É algo naquela língua que você mencionou?
- Elenna. Significa "na direção da estrela".
- Agora entendo as estrelas na noite em que chegamos. Elas tinham um brilho que eu nunca tinha visto. É um lindo nome! Realmente não deve ser usado por quem não entenda.
O resto da escola a tratava como um ET. Prestavam atenção demais nela.
- Calma, é a novidade! Logo vai ter outra por aí. - Hermione tentava tranqüilizar.
- Não entendo porque vocês esquentam tanto! Afinal, ser famoso tem suas vantagens!
- A questão, Rony, é que vou enlouquecer se não pararem de me apontar como uma anormalidade!
O desabafo da garota foi mais alto do que deveria. Madame Pince, olhou-os de cara feia.
- Escute, todos estão admirados com seus poderes. Você é jovem demais para saber tanto. Deveria sentir-se orgulhosa.
- Harry, não é bem assim. Sei que você também não gosta de exposição. Não estou acostumada, não quero isso. Além do mais, estou aqui para uma mis...
Ela parou de repente.
- Uma missão?!
- Ah, esqueçam... Desculpe o grito, Rony. Prometo me controlar... Aí vem Cho, Harry. Acho que vou dar uma volta no jardim antes da aula. Até mais.
Dizendo isso, Aline arrumou depressa suas anotações e saiu da mesa, esbarrando num aluno da Corvinal, Siegfried Hayden, ao sair da biblioteca.
- Desculpe, Srta. Hunter, não tive a intenção...
- Não foi nada, Hayden. Com licença.
Hermione notara suas saídas sempre que Cho se aproximava deles.
Há dias ela tentava aproximar-se de Harry. O garoto fugia dessa conversa. Cho parecia ver seu reinado ameaçado por Aline e sempre aparecia misteriosamente para surpreendê-los nas estufas ou perto do lago ou nos pátios, onde quer que estivessem. Harry começava a achá-la sem graça, infantil demais. Percebia como incomodava Aline vê-la perto dele.
- Olá, Harry. Você tem um tempo para a gente conversar?
- Ah, acho que não. Tenho algumas lições de Astronomia para terminar e uma redação sobre Poções de Invisibilidade bem difícil... e mais umas coisas aqui.
- Ok, deixa para depois então. Tchau.
Ela saiu cabisbaixa.
- Harry, você deveria mesmo falar com ela e acabar com essa enrolação. - aconselhou Hermione, no que foi apoiada por um aceno de Rony.
Ele também pensava assim, mas estranhamente não conseguia agir quando se tratava de Cho e Aline. Tinha consciência da atração que sentia por essa, mas talvez ainda gostasse daquela. Não compreendia de onde surgira o "talvez", nem porque pensava tanto na amiga.
- É, mas não agora. Ainda não consigo conversar com ela.
- O que será que Aline tem contra ela?
- Nada. Está apenas chateada com o holofote que colocaram em cima dela!
Nessa mesma tarde, depois da aula de Hagrid (ele levara alguns Murtiscos para explicar à turma a maneira correta de preparar a pseudoflor de suas costas. Ingerida em conserva, ela produz resistência a feitiços e azarações, mas pode provocar o crescimento de pêlos púrpura nas orelhas.), Harry convidou Aline para uma caminhada.
- Sinto que você quer perguntar alguma coisa, Harry. - Aline resolveu quebrar o silencio após darem duas voltas ao redor do lago. - Pode falar.
- Er... Não sei... É um fato que notei...
- É sobre Cho?
- É. - ele baixou os olhos. - Vamos sentar. Podemos conversar melhor... Realmente não entendo porque você sai quando ela se aproxima.
- É óbvio, não? -a garota ergueu as sombrancelhas, pensando: "Por que estamos tendo essa conversa?" - Vocês são namorados. Não quero atrapalhar.
- Mas não atrapalha. - disse ele rápido. - Não precisa sair, está bem? Mione e Rony não saem.
- Harry, você gosta da minha companhia porque somos amigos, mas Cho não é obrigada a me aturar.
- Do que você está falando?
Aline sorriu.
- Vai me dizer que o famoso Harry Potter não sabe do seu fã-clube? Não tente negar, ele existe, quer você assuma a fama ou não!
- Você pirou? - ele fechou a cara e aumentou a voz.
- Cho adora causar sensação andando com você... Sem contar a Gina.
- Gina é minha amiga!
- Não me trate como débil. Vejo os sentimentos de Gina, ela não disfarça muito bem. E eu cheguei de intrometida. Você já notou o tempo que passamos juntos?
- E você ri? Já se colocou no meu lugar? Minha namorada me exibe como um cachorrinho de exposição, uma das minhas amigas tem ciúmes de mim e você vai e joga isso na minha cara!
- Você pediu! Sabe que sou assim e me chamou para conversar sobre Cho! - Ela estava indignada. Harry olhou-a sem encontrar resposta.
- É verdade. Desculpe-me. - ele baixou o tom e ensaiou um sorriso. - Não imaginei que fôssemos falar de assuntos tão íntimos.
Aline colocou a mão no braço do amigo. Imediatamente, o conhecido choque seguido de arrepio percorreu o corpo de Harry. Claro que ele notara o tempo que passavam juntos! Como não notaria?
- Vamos embora então, antes que você comece a me perguntar sobre os meus sete namorados! - ela recuperara o humor.
- Sete?
- Claro, um para cada dia da semana. Esqueceu que sou irresistível?!
Levantaram-se e começaram a voltar para o castelo, aproveitando o ar fresco para refletir sobre a conversa. Antes de entrarem, Harry segurou-a pela mão. Foi a vez da garota sentir o choque e o arrepio.
- Quanto ao nosso assunto...?
- Prometo tentar não fugir de Cho, a menos que vocês comecem a se agarrar na minha frente!... Quanto a Gina, é assunto seu. Não comentarei com ninguém.
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Na noite anterior ao Dia das Bruxas, Aline recebeu um bilhete anônimo dizendo que deveria ficar na Torre da Grifinória e deixar os rapazes de Hogwarts em paz. Hermione riu ao ler o papel que a amiga apresentou-lhe, mas parou quando viu sua expressão de tristeza.
- Ah, Aline, você não está ligando para essas invejosas, está? Não posso acreditar.
- Assim nunca conseguirei ser uma aluna normal, Mione. Não vou a esse banquete.
- Vai sim! E vai mostrar a elas que você não quer roubar nada de ninguém! Esse pessoal não sabe nada!
Aline saiu do quarto e foi até o Corujal. Elfgold estava encarapitado perto de Edwiges. Os dois pareciam ter-se dado muito bem, ela notara. Sempre que via Elf voando ou na entrega de cartas, ele estava acompanhado pela coruja branca de Harry. A dona não pôde deixar de rir da coincidência. Ele veio ao seu chamado. Os Elfos conseguiam entender as linguagens dos animais. Elf tentou tranqüilizá-la, sem êxito.
Ela deixou-o e refugiou-se numa sala vazia do sexto andar. Precisava pensar ou não conseguiria seguir em frente. Seu coração estava em constante sobressalto, as pessoas causavam-lhe medo, desejava jamais ter ido para Hogwarts. Mas se assim procedesse, se desistisse, seus intentos seriam inúteis.
Por que tinha esses sentimentos atrapalhando? Não aprendera a lidar com eles nos subterrâneos que percorrera com o pai, perseguindo seres nefastos. Eram obstáculos diferentes, mascarados em bondade e curiosidade, porém impediam seu progresso. Só havia duas opções: enfrentar e aprender a lidar com a curiosidade e a desconfiança; ou recuar. "Bem", pensou Aline, "vamos em frente". Timoth jamais a deixaria voltar atrás.
Havia a questão de Harry Potter, de como ele mexia com sua mente. Aline adivinhava seu poder, não mentira a Dumbledore. Ela não sabia agir com ele. Nunca havia se apaixonado antes, mas sabia dos sintomas. Seu pai lhe contou o que sentia por sua mãe - o mundo parecia perfeito, brilhante, colorido; exatamente o que ela sentia quando tinha Harry ao seu lado.
Ele parecia confuso. Ela se esforçava para não ler seus sentimentos. Cho estava sempre por perto e eles eram namorados. Havia ainda a paixão de Gina e Aline não queria magoar a amiga. Quanto ao sobressalto, por ora nada faria. A única decisão era não tentar se esconder mais. A vergonha de ser o que era agora a envergonhava. Mostraria a todos o esplendor das Elfas.
Aline saiu decidida da sala e quase derrubou Hayden novamente.
- Desculpe, Srta. Hunter... A senhorita está ocupada? - O rosto do garoto ficou muito vermelho ao falar com ela. Ele fazia parte do grupo que a admirava. Aline notara que havia pelo menos dois fãs-clubes em Hogwarts: o primeiro, formado em sua maioria por garotas, para Harry Potter; o segundo, cujos membros eram quase todos homens, para ela mesma.
- Não, Hayden. O que é? "Será que ele está me seguindo?"
- Bem, ouvi falar da sua transformação. A senhorita é realmente muito boa, sabe? Gost... Gostaria de saber se poderia estudar Transformação com a senhorita na biblioteca... Isto é, a senhorita ensina Gina Weasley, não é?
Então era isso! Era por isso que ele sempre estava perto deles? Aline sorriu bondosa.
- Claro que sim, Siegfried. Estarei à disposição. Gina e eu estudamos após as aulas de vocês, às terças e quintas.
Depois de algumas semanas, Aline sentia-se sufocada com tanta atenção. À medida que o clima ficava mais frio com a chegada do outono, a sala comunal e a biblioteca ficavam mais cheias. Ela via poucos lugares onde pudesse ficar sossegada. Porém, tinha o apoio dos amigos.
Hermione perguntava tudo sobre seus conhecimentos, insaciável. Gina a tratava com grande reverência, apesar de não conseguir disfarçar uma inquietação quando a via com Harry. Rony apreciava suas histórias e ela adorava as dele e de Mione. Como quisera uma vida normal, como trouxa ou como bruxa!
Divertiu-se ao saber que Gui Weasley era fã das suas aventuras. Começou uma correspondência com ele, por intermédio de Gina.
- Seu irmão é muito diferente, Gina! Olha só o cabelo dele! E esse brinco?! - comentava ela ao receber uma foto de Gui. - Na carta ele diz que a namorada, Fleur Delacour, está morrendo de ciúmes. Mas eu não quero tomá-lo dela, que exagero... O que foi? - perguntou ela ao ver as caras dos garotos. Mione ria.
- Não é possível! Como Gui pode estar namorando a Fleur? - Rony olhava para Harry boquiaberto.
- Vocês a conhecem? Tem uma foto deles juntos aqui. - os dois se espremeram para olhar.
- Ah, parem com isso, vocês dois. - Mione amarrou a cara. - Ela já tem dono, ouviu, Ronald Weasley?
- Calma, Mione! - Rony abraçou namorada e deu-lhe beijinhos estalados na bochecha. - Só estava curioso, quero dizer, eles não se conheciam... Como conseguiu?
- Vou perguntar a ele na próxima carta, ok? Agora parem com essa cena de ciúme. Todo mundo aqui sabe que vocês se amam! - Hermione e Rony coraram juntos. Os amigos riram da sincronia.
Com Harry passava mais tempo sozinha. Eles andavam pela propriedade durante horas, quando o tempo permitia, descobrindo fatos comuns em ambas as vidas. Aline contou a Harry que seus pais tinham sido amigos, mas ele não acreditou. Às vezes passeavam escondidos dentro da Floresta. Ela ensinou- lhe o prazer de caminhar entre as árvores, em meio aos sons dos animais e do vento.
O amigo não era diferente de outros garotos que ela conhecera, mas, ao mesmo tempo, era. Talvez fosse a tristeza pela perda dos pais, ou o peso da responsabilidade, que ele imaginava ser só dele, ou ainda tudo isso unido no enorme senso de dever que transparecia em seu olhar franco. Esse amigo tão singular afinal de contas era Harry Potter. Não o menino que sobreviveu, mas o bebê que ela visitava na casa da tia Li.
Harry contou a ela o sonho do verão. Aline reconheceu algo familiar, porém conservou a opinião para si. Era bastante discreta e perguntava mais do que respondia. A única revelação que fez foi a de que seu nome não era Aline.
- Conto isso a você, mas peço que não comente com ninguém.
- Por que você não usa seu nome?
- Tim acha que não seria justo. Foi minha mãe quem escolheu. Ninguém sabe o significado, entende?
- Não, mas estou curioso! Que nome é? É algo naquela língua que você mencionou?
- Elenna. Significa "na direção da estrela".
- Agora entendo as estrelas na noite em que chegamos. Elas tinham um brilho que eu nunca tinha visto. É um lindo nome! Realmente não deve ser usado por quem não entenda.
O resto da escola a tratava como um ET. Prestavam atenção demais nela.
- Calma, é a novidade! Logo vai ter outra por aí. - Hermione tentava tranqüilizar.
- Não entendo porque vocês esquentam tanto! Afinal, ser famoso tem suas vantagens!
- A questão, Rony, é que vou enlouquecer se não pararem de me apontar como uma anormalidade!
O desabafo da garota foi mais alto do que deveria. Madame Pince, olhou-os de cara feia.
- Escute, todos estão admirados com seus poderes. Você é jovem demais para saber tanto. Deveria sentir-se orgulhosa.
- Harry, não é bem assim. Sei que você também não gosta de exposição. Não estou acostumada, não quero isso. Além do mais, estou aqui para uma mis...
Ela parou de repente.
- Uma missão?!
- Ah, esqueçam... Desculpe o grito, Rony. Prometo me controlar... Aí vem Cho, Harry. Acho que vou dar uma volta no jardim antes da aula. Até mais.
Dizendo isso, Aline arrumou depressa suas anotações e saiu da mesa, esbarrando num aluno da Corvinal, Siegfried Hayden, ao sair da biblioteca.
- Desculpe, Srta. Hunter, não tive a intenção...
- Não foi nada, Hayden. Com licença.
Hermione notara suas saídas sempre que Cho se aproximava deles.
Há dias ela tentava aproximar-se de Harry. O garoto fugia dessa conversa. Cho parecia ver seu reinado ameaçado por Aline e sempre aparecia misteriosamente para surpreendê-los nas estufas ou perto do lago ou nos pátios, onde quer que estivessem. Harry começava a achá-la sem graça, infantil demais. Percebia como incomodava Aline vê-la perto dele.
- Olá, Harry. Você tem um tempo para a gente conversar?
- Ah, acho que não. Tenho algumas lições de Astronomia para terminar e uma redação sobre Poções de Invisibilidade bem difícil... e mais umas coisas aqui.
- Ok, deixa para depois então. Tchau.
Ela saiu cabisbaixa.
- Harry, você deveria mesmo falar com ela e acabar com essa enrolação. - aconselhou Hermione, no que foi apoiada por um aceno de Rony.
Ele também pensava assim, mas estranhamente não conseguia agir quando se tratava de Cho e Aline. Tinha consciência da atração que sentia por essa, mas talvez ainda gostasse daquela. Não compreendia de onde surgira o "talvez", nem porque pensava tanto na amiga.
- É, mas não agora. Ainda não consigo conversar com ela.
- O que será que Aline tem contra ela?
- Nada. Está apenas chateada com o holofote que colocaram em cima dela!
Nessa mesma tarde, depois da aula de Hagrid (ele levara alguns Murtiscos para explicar à turma a maneira correta de preparar a pseudoflor de suas costas. Ingerida em conserva, ela produz resistência a feitiços e azarações, mas pode provocar o crescimento de pêlos púrpura nas orelhas.), Harry convidou Aline para uma caminhada.
- Sinto que você quer perguntar alguma coisa, Harry. - Aline resolveu quebrar o silencio após darem duas voltas ao redor do lago. - Pode falar.
- Er... Não sei... É um fato que notei...
- É sobre Cho?
- É. - ele baixou os olhos. - Vamos sentar. Podemos conversar melhor... Realmente não entendo porque você sai quando ela se aproxima.
- É óbvio, não? -a garota ergueu as sombrancelhas, pensando: "Por que estamos tendo essa conversa?" - Vocês são namorados. Não quero atrapalhar.
- Mas não atrapalha. - disse ele rápido. - Não precisa sair, está bem? Mione e Rony não saem.
- Harry, você gosta da minha companhia porque somos amigos, mas Cho não é obrigada a me aturar.
- Do que você está falando?
Aline sorriu.
- Vai me dizer que o famoso Harry Potter não sabe do seu fã-clube? Não tente negar, ele existe, quer você assuma a fama ou não!
- Você pirou? - ele fechou a cara e aumentou a voz.
- Cho adora causar sensação andando com você... Sem contar a Gina.
- Gina é minha amiga!
- Não me trate como débil. Vejo os sentimentos de Gina, ela não disfarça muito bem. E eu cheguei de intrometida. Você já notou o tempo que passamos juntos?
- E você ri? Já se colocou no meu lugar? Minha namorada me exibe como um cachorrinho de exposição, uma das minhas amigas tem ciúmes de mim e você vai e joga isso na minha cara!
- Você pediu! Sabe que sou assim e me chamou para conversar sobre Cho! - Ela estava indignada. Harry olhou-a sem encontrar resposta.
- É verdade. Desculpe-me. - ele baixou o tom e ensaiou um sorriso. - Não imaginei que fôssemos falar de assuntos tão íntimos.
Aline colocou a mão no braço do amigo. Imediatamente, o conhecido choque seguido de arrepio percorreu o corpo de Harry. Claro que ele notara o tempo que passavam juntos! Como não notaria?
- Vamos embora então, antes que você comece a me perguntar sobre os meus sete namorados! - ela recuperara o humor.
- Sete?
- Claro, um para cada dia da semana. Esqueceu que sou irresistível?!
Levantaram-se e começaram a voltar para o castelo, aproveitando o ar fresco para refletir sobre a conversa. Antes de entrarem, Harry segurou-a pela mão. Foi a vez da garota sentir o choque e o arrepio.
- Quanto ao nosso assunto...?
- Prometo tentar não fugir de Cho, a menos que vocês comecem a se agarrar na minha frente!... Quanto a Gina, é assunto seu. Não comentarei com ninguém.
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Na noite anterior ao Dia das Bruxas, Aline recebeu um bilhete anônimo dizendo que deveria ficar na Torre da Grifinória e deixar os rapazes de Hogwarts em paz. Hermione riu ao ler o papel que a amiga apresentou-lhe, mas parou quando viu sua expressão de tristeza.
- Ah, Aline, você não está ligando para essas invejosas, está? Não posso acreditar.
- Assim nunca conseguirei ser uma aluna normal, Mione. Não vou a esse banquete.
- Vai sim! E vai mostrar a elas que você não quer roubar nada de ninguém! Esse pessoal não sabe nada!
Aline saiu do quarto e foi até o Corujal. Elfgold estava encarapitado perto de Edwiges. Os dois pareciam ter-se dado muito bem, ela notara. Sempre que via Elf voando ou na entrega de cartas, ele estava acompanhado pela coruja branca de Harry. A dona não pôde deixar de rir da coincidência. Ele veio ao seu chamado. Os Elfos conseguiam entender as linguagens dos animais. Elf tentou tranqüilizá-la, sem êxito.
Ela deixou-o e refugiou-se numa sala vazia do sexto andar. Precisava pensar ou não conseguiria seguir em frente. Seu coração estava em constante sobressalto, as pessoas causavam-lhe medo, desejava jamais ter ido para Hogwarts. Mas se assim procedesse, se desistisse, seus intentos seriam inúteis.
Por que tinha esses sentimentos atrapalhando? Não aprendera a lidar com eles nos subterrâneos que percorrera com o pai, perseguindo seres nefastos. Eram obstáculos diferentes, mascarados em bondade e curiosidade, porém impediam seu progresso. Só havia duas opções: enfrentar e aprender a lidar com a curiosidade e a desconfiança; ou recuar. "Bem", pensou Aline, "vamos em frente". Timoth jamais a deixaria voltar atrás.
Havia a questão de Harry Potter, de como ele mexia com sua mente. Aline adivinhava seu poder, não mentira a Dumbledore. Ela não sabia agir com ele. Nunca havia se apaixonado antes, mas sabia dos sintomas. Seu pai lhe contou o que sentia por sua mãe - o mundo parecia perfeito, brilhante, colorido; exatamente o que ela sentia quando tinha Harry ao seu lado.
Ele parecia confuso. Ela se esforçava para não ler seus sentimentos. Cho estava sempre por perto e eles eram namorados. Havia ainda a paixão de Gina e Aline não queria magoar a amiga. Quanto ao sobressalto, por ora nada faria. A única decisão era não tentar se esconder mais. A vergonha de ser o que era agora a envergonhava. Mostraria a todos o esplendor das Elfas.
Aline saiu decidida da sala e quase derrubou Hayden novamente.
- Desculpe, Srta. Hunter... A senhorita está ocupada? - O rosto do garoto ficou muito vermelho ao falar com ela. Ele fazia parte do grupo que a admirava. Aline notara que havia pelo menos dois fãs-clubes em Hogwarts: o primeiro, formado em sua maioria por garotas, para Harry Potter; o segundo, cujos membros eram quase todos homens, para ela mesma.
- Não, Hayden. O que é? "Será que ele está me seguindo?"
- Bem, ouvi falar da sua transformação. A senhorita é realmente muito boa, sabe? Gost... Gostaria de saber se poderia estudar Transformação com a senhorita na biblioteca... Isto é, a senhorita ensina Gina Weasley, não é?
Então era isso! Era por isso que ele sempre estava perto deles? Aline sorriu bondosa.
- Claro que sim, Siegfried. Estarei à disposição. Gina e eu estudamos após as aulas de vocês, às terças e quintas.
