Capítulo Dezenove: Visita Inesperada



Os outros alunos já estavam lá. As férias tinham sido mais curtas que o normal devido às aulas extras e aos atentados. Os pais tentavam manter os filhos o maior tempo possível longe do mundo sem segurança fora de Hogwarts. Deixaram a bagagem na torre de Grifinória e voltaram ao Salão Principal para o jantar.

"Aposto que foi só uma desculpa para ele ficar com ela!"

Harry virou de repente. Conhecia aquela voz arrastada, mas Draco Malfoy estava longe deles. Como poderia ser isso?

"Olha a cara do idiota! Como a vagabunda quer um cara desses?"

O que estava acontecendo? Aline sentiu a confusão.

"Harry, são os pensamentos dele. Não faça nada!"

"O que significa isso? Como posso ouvir pensamentos?"

Aline fez sinal para sentarem.

"Você dormiu com uma Elfa e esperava sair ileso? Alguns dos meus poderes impregnaram seu espírito."

"Eu absorvi seus poderes? Mas eu não queria... não tinha a intenção..."

"Mas eu queria. Ouvir pensamentos é apenas uma das minhas capacidades inatas. Você foi atraído pelos de Malfoy porque eram sobre você e eu. Depois explico o resto."

Aline sorria, apesar das grosserias que Malfoy continuava a pensar. Ele sentou-se ao lado da namorada, Pansy Parkinson, e começou a contar como fora excitante o Natal.

- Querem ver Malfoy fazer papel de idiota? - Aline cochichou.

- Isso ele já é o tempo todo! - exclamou Rony.

- Esse truque usei para provocar uma briga numa estalagem em Dresden entre dois bruxos certa vez. Eles seguiam nosso rastro havia dias e queríamos escapar sem lutar, meu pai e eu. O lance é fazê-los dizer o que estão escondendo. Prestem atenção.

"Harry, esta é uma boa oportunidade para testar seus poderes novos. Você vai fazer Malfoy engolir cada pensamento. Relaxe a mente, não deixe que as idéias malucas dele tomem conta das suas. Concentre-se nele, tente sentir as idéias na mente dele. Depois, procure a verdade e force-o a dizê-la."

Harry achou difícil se concentrar com a voz de Malfoy na cabeça. Esforçou- se para não ouvir o que o garoto pensava. Demorou um tempo para que ele pudesse sentir sua mente fluindo, rompendo as defesas do garoto, revelando suas intimidades. Uma enorme sensação de poder arrepiou os pêlos de Harry e ele quis descobrir tudo. Mas foi com muita sede ao pote. Malfoy incomodou- se visivelmente, retraindo a mente e quebrando a ligação.

"Calma, não faça assim. Entre aos poucos em contato com ele e procure apenas o que precisa, nada mais."

Dessa vez foi mais fácil chegar ao ponto certo. Quando afinal Harry encontrou, ordenou que Draco dissesse a verdade. No mesmo instante ele ouviu da mesa da Sonserina:

- ...vocês iriam rir mesmo da Pansy aqui. Ela comeu um peru inteiro sozinha! Até os criados se assustaram! - berrava Malfoy.

- O que você está dizendo, Draco? - Pansy retrucou numa voz esganiçada. - Cale a boca!

- Ora, querida, todo mundo sabe que você come muito! Parecia um troll com a coxa do peru na mão! - Ele ria e ao mesmo tempo lutava para ficar calado, como se não quisesse dizer aquilo.

- Como é que você se atreve a me insultar dessa forma?! - a garota estava vermelha.

Draco nem viu quando a Srta. Parkinson se levantou e o ameaçou com a varinha. Tinha subido na mesa, agarrando todas as travessas de comida que conseguiu carregar e empilhando-as na frente da namorada. O Salão inteiro tremia com os risos dos alunos. Crabbe e Goyle tentavam tirá-lo de lá, mas eram repelidos por pés e braços. Movimentava-se como um robô: mãos e pernas duras; ao mesmo tempo agindo e não querendo agir.

Rony se dobrou na mesa, nem respirava. Hermione ficou impressionada e temerosa. Viu alguns professores dirigindo-se para lá e chamou a atenção de Aline.

"Chega, Harry. Volte."

Harry saiu do transe. Era incrível o que poderia fazer e ele desejou fazer tudo de uma vez. Assim que deixou de comandar Malfoy, o garoto caiu na mesa, suado e exausto, sem entender o que estava fazendo ali. Harry não estava melhor. A respiração difícil, ele enterrou a cabeça nos braços e fechou os olhos para se recuperar. Percebeu o esforço que fora dominar uma pessoa; e ele ainda não tinha prática.

O Prof. Snape aproximou-se dizendo a Crabbe e Goyle que levassem Draco dali rapidamente. Cada um segurou um braço, tirando-o do Salão debaixo de muitas risadas e comentários. Então Snape lançou um olhar para a mesa da Grifinória e viu Harry inerte. Seu rosto ficou mais branco, se isso era possível, e olhava de Harry para Aline, ligando rapidamente os fatos. Saiu a largas passadas do Salão.



- Nunca vou esquecer esse momento! - Rony parecia radiante enquanto eles subiam devagar as escadas de mármore.

Demorou para Harry recuperar as forças e eles poderem sair do Salão. No saguão vários grupos comentavam o comportamento insólito de Malfoy. Aline, porém, teve consciência de Severo e do que significava terem feito aquilo. Ela se deixara levar pela emoção, coisa que Timoth teria reprovado com certeza. Observava o rosto pálido de Harry, os olhos brilhando de excitação, subindo os degraus com dificuldade.

- Como você está?

- Um pouco cansado. Não sentia quanta energia estava gastando.

Quatro alunas do terceiro ano passaram correndo por eles, olhando rápido para a meio-elfo.

- Desculpe, Harry. Deveria ter explicado antes de fazê-lo usar poderes élficos. Eles exigem mais energia física que os poderes bruxos, apesar de serem psicológicos em sua maioria. E demoramos mais a nos recuperar depois de usá-los. Mas talvez tenha sido melhor. Gato escaldado tem medo de água fria, como dizem!

- Parece que corri daqui até Londres sem parar.

- Foi bom você não ter usado a varinha. Se tivesse usado estaria desmaiado.

- Verdade, Mione. A varinha potencializa os poderes. Mas os Elfos não precisam de varinha, mesmo os jovens, mesmo eu sendo apenas metade Elfo.

- Como você conseguiu transmitir seus poderes ao Harry?

- Bem, isso é muito difícil. É necessário um contato entre um meio-elfo e um homem... - Aline e Harry coraram violentamente. - Depois, uma invocação permite transferir alguns poderes para a outra pessoa. Minha mãe fez o mesmo com meu pai. Pode-se dizer que ele é um pouco Elfo agora. Não geneticamente, entretanto.

- Mas Harry sempre vai ficar cansado assim? Se for, esses poderes serão meio inúteis, não é? - Rony olhava espantado para os olhos brilhantes de Harry. - Ele vai ficar vulnerável num combate.

- Se ele treinar, o cansaço será menor. Ele não sentirá tanto os efeitos dos pensamentos de Voldemort e estará protegido contra qualquer tentativa de dominação. Precisamos descobrir os poderes que ele adquiriu. Alguns serão permanentes, outros desaparecerão logo. Vamos começar amanhã.

- Não vou negar que gostei de dominar Malfoy. Ele poderia ter feito qualquer coisa que eu mandasse. Como a Maldição Imperius sem varinha.

- Isso é uma grande responsabilidade! Você não precisa de varinhas ou quaisquer artefatos para dominar e destruir.

Chegavam agora diante do retrato da Mulher Gorda. Disseram a senha (Surpresa misteriosa) e entraram na sala barulhenta da torre da Grifinória. Encontraram os colegas conversando animados sobre as férias e juntaram-se a eles. Simas tinha visitado Dino e estava impressionado com a vida dos trouxas, especialmente os aparelhos eletrônicos. O videogame e a TV pareciam mágicos.

- Tenho certeza de que um bruxo os inventou!

Neville tinha visitado os pais e não queria falar sobre o assunto. Apenas os amigos mais chegados sabiam que os Longbottom enlouqueceram depois de torturados por Comensais da Morte e estavam internados no Hospital St. Mungus para Doenças e Acidentes Mágicos.

Parvati e Lilá tinham permanecido no castelo, auxiliando a Profª Sibila com umas previsões para a revista Nostradamus Atual.

Harry notou que Colin Creevey e Tábata Graile-Rerem estavam entretidos num canto da sala. O garoto, fã de Harry, nem notou a passagem de seu ídolo, fato que ele constatou com satisfação.

Gina mostrava as fotos que tirara no castelo com Siegfried para as amigas. Os quatro pararam para conversar com ela.

- Sig me levou para conhecer os pais dele, que vieram a Londres a negócios. Foram muito gentis. Rony, você sabia que eles conhecem papai?

- Então o namoro está firme, Gina?

- Ah, Aline! O Sig é maravilhoso! - Gina tinha o olhar sonhador e o sorriso bobo de quem está apaixonado. Harry e Rony sorriram aliviados.

Contudo, todos estavam preocupados com os Comensais da Morte. O Ministério estava tendo problemas como nunca com os constantes ataques a trouxas e opositores de Voldemort. Ninguém sabia onde encontrá-los, não tinham a menor idéia de como pará-los.



********************************************************************* Deitado sem conseguir dormir, Harry estava ansioso para aprender mais sobre seus poderes novos. Aline explicara que eram quase todos psicológicos, como ler pensamentos, controlar a mente, telepatia, precognição. Isso ele conhecia. Se alguém tentasse atacá-lo, saberia antes. O que mais? Aline o parara no ar durante a partida de Quadribol e tirara a dor da cicatriz, transferindo-a para o chão da masmorra. E isso era bem físico. Talvez ele conseguisse. Também não precisava da varinha. Quanto tempo precisaria treinar para não se sentir exausto? Ele ficaria realmente poderoso. Poderia enfrentar Voldemort.

"Vejo que o Sr. Potter não consegue dormir!"

O susto fez Harry pular na cama. Olhou ao redor e distinguiu uma sombra na penumbra do quarto. A voz era familiar. O vulto se aproximou e ele viu a imagem borrada de Aline. Não parecia sólido... Seria um fantasma?

"Sou o espírito de Elenna, não um fantasma, pois ela não está morta. Sou a consciência dela."

O queixo de Harry caiu. Ele olhava intrigado aquela aparição, sem saber o que perguntar primeiro.

- Você não deveria estar aqui...

"Geralmente vou para o Oeste, onde estão meus antepassados, quando preciso descansar. Encontro-os num porto muito bonito. Mas senti sua inquietação e resolvi vê-lo. Quer vir comigo? Você irá gostar, tenho certeza."

"Posso fazer isso? Meu espírito pode sair do corpo?"

"Tente. Vai ajudar a recuperar a energia perdida. O corpo descansa. Você já está quase dormindo. Liberte sua consciência."

A sombra sentou na borda da cama e pousou a mão na testa do garoto. Seu corpo relaxou imediatamente. Um vulto com sua aparência levantou. Ele mal pôde acreditar. Aline sorria, tomando a mão dele. "Confie em mim." Estava agindo como sua mãe, quando viera visitá-la da primeira vez.

Os espíritos flutuaram pelo quarto, subindo cada vez mais. Harry viu seu corpo quieto, ainda respirando, ainda vivo. Sentiu-se aliviado e olhou para cima, para as estrelas que se aproximavam mais e mais. Logo o castelo e a propriedade de Hogwarts eram apenas um ponto na terra. Uma estranha sensação surgiu dentro dele, como se pela primeira vez ele soubesse seu lugar no mundo.

A lua alta no céu iluminava tudo à sua volta e ele sentiu seus raios atravessando sua consciência, ou seja lá o que fosse. Sentiu o vento passando e refrescando cada molécula. As árvores e os animais nas florestas e rios crescendo, vivendo, morrendo e nascendo. Ele fazia parte de tudo aquilo. A natureza estava nele, em cada átomo. Sentia seus sofrimentos, sua felicidade, suas conquistas. Não poderia jamais esquecer isso se quisesse viver.

"Aqui é mais fácil explicar o que aconteceu. Quando nossos corpos se uniram, eu transmiti a você uma parte dos dons conferidos a mim. São dons naturais, quero dizer, todos dependem da sua maneira de pensar sobre a natureza. Assim, você teria mais armas para se defender de Voldemort. Fiquei fraca sem eles, mas já consegui me recuperar um pouco."

"Para onde estamos indo?"

"Ver minha mãe. Essa é uma dádiva para a filha de Laurëtinwe pois sua presença foi tirada de mim cedo demais. Aprendi muito lá... Ela fez o mesmo com Timoth para que ele pudesse resistir. Acredito que era essa a minha missão. Oferecer a você as armas."

"Quer dizer que tenho os mesmos poderes que você?"

"Não sei quais ficarão. Depende do seu desejo. Você precisa aprender a lidar com eles, treinar para não ficar exausto. Você pode experimentar os que conseguiu descobrir. A telepatia, a leitura dos pensamentos e o controle da mente e outros que você perceberá. Sua cicatriz não doerá tanto, pois sua resistência a ataques mentais aumentará."

"Não fique ansioso. Sei que temos pouco tempo. Por isso resolvi trazê-lo comigo. Aqui você descansará rapidamente, espero."

Os dois espíritos voltaram-se para o Oeste, seguindo na direção de uma grande estrela. Harry sentiu a alegria pulsando em Aline. Apertou a mão da namorada quando eles se aproximaram de um conjunto de nuvens, descendo para a ilha que havia por trás delas. Ele viu um porto onde estavam ancorados barcos muito brancos em formato de cisne, uma cidade imponente atrás de altas muralhas resplandecentes. Parecia feita de marfim. Pessoas andavam pelas ruas. Florestas com árvores imensas rodeavam a fortaleza, cortadas por estradas que a ligavam a aldeias menores, igualmente brancas.

Quando chegaram a uma imponente construção no topo de um morro, desceram até pousar suavemente na grama macia. O portão ficava logo a frente. A casa brilhava ao luar como prata, cercada de jardins.

Uma mulher jovem saiu ao encontro dos dois. Seus cabelos eram dourados, seu rosto luminoso. Aline correu para ela e as duas se abraçaram. Harry veio atrás, um tanto desconcertado.

- Mãe! Senti tanta saudade!

- Querida, estava esperando vocês. Os dois. - disse ela, olhando para Harry. - Como foi a viagem, Harry Potter?

- É um prazer conhecê-la, Sra. Hunter. Apreciei bastante a viagem e creio ter aprendido algo também.

- Que bom! Gostaria que soubesse que você é o primeiro homem que vem até esse Porto em muitas Eras do mundo. Nem a Timoth Hunter foi permitida a entrada. Espero que descanse o suficiente.

Laurëtinwe tinha uma expressão indefinível no rosto. Sabedoria e tristeza. Onde estaria Lílian Potter agora?

- Mãe, Harry e eu... Bem, nós... Ele absorveu alguns poderes meus agora...

- Sei o que vocês fizeram, Elenna. Digo apenas que tomem cuidado. Seria necessário mais tempo para que ele compreendesse plenamente o mundo para os descendentes dos Elfos, tempo do qual não dispomos. Acredito que você, Harry Potter, poderá descobrir o suficiente para sua missão.

O olhar da Senhora era mais profundo que o de Aline, mas Harry conseguiu sustentá-lo. Muitos anos depois ele se lembraria da luz e do som da voz dela com clareza. As palavras jamais seriam esquecidas.

Os três sentaram embaixo de uma árvore frondosa. Laurëtinwe acalmou os sentidos de Harry contando histórias de antigamente com sua voz musical. Ele queria perguntar onde estavam, mas estava atordoado com a tradição élfica cantada num lugar tão surreal. Sem querer, entrou naquele estado delicioso entre o sono e o despertar. Então ela deu-lhe conselhos e conversou com ele sobre acontecimentos futuros.

- Não consigo me conformar. Por que isso tem que acontecer conosco? Por que no nosso tempo?

- Harry, não pense assim. - Ela passava a mão no braço dele e o acalmava. - Melhor acreditar que se nada disso acontecesse, você não seria como é.

- Pelo menos eu teria meus pais.

- Há muito tempo, antes que meus avós nascessem, foi profetizado que uma pessoa viria para dar equilíbrio e paz às forças que governam o mundo. Você conhece essa profecia, Harry Potter?

- Não. - respondeu o garoto, já adivinhando quem era essa pessoa. Aline dissera a Sirius e Remo que sentira o poder nele. Harry ouvira a conversa sem querer, quando passava pela sala.

- As pessoas que o protegem não querem admitir, mas as suspeitas de que seja você atormenta suas mentes. Seus inimigos pensam o mesmo. Você ouviu a canção de Elenna quando estava inconsciente? É parte da profecia. Lembra-se do sonho que insistia em aparecer no verão?

- Como a senhora sabe do sonho?

- Há muitos poderes governando o mundo, não apenas as trevas, como parece que está acontecendo. Sendo assim, você estava destinado a enfrentar essa situação. Você e Elenna. E nunca nos é dada uma missão que não possamos cumprir. Isso é encorajador, não acha?

Ela fitou o rosto do garoto alguns instantes. A expressão grave de Harry desapareceu.

- Acho que vocês podem ir agora, Elenna. Ele está recuperado. Mas lembre- se: Harry é humano e precisa de cautela para conseguir o que você faz naturalmente.

- Laurëtinwe, nós conseguiremos? Quer dizer, poderemos viver em paz?

- Grandes poderes trazem grandes responsabilidades, filha. Vocês são especiais. Você descende do Belo Povo e Harry conseguiu chegar aos Portos para o Palácio dos Mortos. Da missão de vocês consigo ver muito pouco. Não se preocupe com o futuro, ou não viverá o presente. Voltem agora.

Ela beijou Aline e Harry. Eles seguiram velozes para as terras mortais. A aurora banhou os vultos que passavam. Seus corações encheram-se de esperança.

N/A: Bem, o que acharam? Gostaram da mãe da Elenna? Por que vcs não escrevem nada? Tenho a leve impressão de que ninguém está lendo essa história...