Capítulo Vinte e dois: Brigas e Soluções
Alvo Dumbledore provavelmente esperava reações apaixonadas dos pais dos alunos, mas nada preparou Hogwarts para a torrente de cartas que chegou nos dias seguintes ao ataque. Quais providências o diretor tomaria? Por que não se precavera? O casal Zabin permaneceu várias horas na sala do diretor, pelo visto exigindo indenização pelo sofrimento de Blás.
O garoto tinha se recuperado rápido. Dois dias depois falava para quem quisesse ouvir que tinha conseguido livrar-se dos monstros com um feitiço anti-dementador bem colocado. Ninguém acreditava muito, não depois de verem a luminosidade branca que derretera as criaturas.
Todos queriam falar com Aline e Harry e perguntar como, por Merlin, eles tinham feito aquilo, mas os dois permaneceram cinco dias na enfermaria, recuperando a pele queimada e alguns ossos quebrados com a violência da ação. Madame Pomfrey, seguindo determinação de Dumbledore, só permitia visitas breves.
Harry treinava bastante os poderes mentais pois planejava uma investida.
- Não podemos ficar esperando o golpe. Temos que agir. A cada dia ele fica mais forte.
- Ah, Harry. Tenho medo quando você fala assim. Parece que vai sair correndo pela porta como um louco atrás de Você-Sabe-Quem.
- Não agüento mais ficar aqui parado, Mione!
- Papai escreveu contando que o Ministério está investigando a invasão como prioridade. - Rony olhava Mione apreensiva e Harry nervoso. Tentou contemporizar. - Eles vão pegar os maníacos que fizeram isso.
Aline estivera preocupada com Timoth. Após a visita à casa dos Malfoy ele desaparecera. Mas logo teve que se preocupar consigo mesma. No momento em que pisou no Salão Principal foi abordada por Draco Malfoy e companhia.
- O que você pensa que está fazendo, sua idiota de orelhas pontudas? Que idéia é essa de mandar aquele louco maltrapilho à minha casa, ameaçar o meu pai?
- Você com certeza está delirando, Malfoy. Saia da minha frente.
Ela tentou passar pela direita e Crabbe estava lá. Recuou e viu Goyle. Estava cercada.
- Você vai me ouvir! Se não eu...
- Não me faça rir, por favor! Se não você o quê? Vai correndo contar ao Sr. Lúcio Malfoy, para ele mandar mais dementadores atrás de mim?
- Meu pai não tem nada com isso!
Aline não queria mais brincar. Ficou imóvel, observando os olhos gelados de Malfoy. Enfim entendeu; e teve medo.
"Saia da minha frente, Malfoy!"
O garoto sorriu ao ver quem chegava apressado pelo corredor.
- Ora, Potter, aonde a vaca vai o boi vai atrás, não é? Podemos sempre contar com você para defender as pobres criaturinhas indefesas!
- Pare de perturbá-la, Malfoy, se não quiser apanhar agora!
- Estamos todos com os nervos à flor da pele! Calma, Potterzinho. Estava apenas conversando com a sua namoradinha. Dizendo a ela para se mandar! - Ele falava cada vez mais alto, atraindo a atenção de quem passava. - Todo mundo sabe que os dementadores queriam você e Potter, então porque vocês simplesmente não se mandam e deixam a gente em paz?
- Harry, vamos embora. Deixa esse lunático para lá!
A partir desse dia, mais cartas chegaram à diretoria, exigindo que Aline Hunter e Harry Potter saíssem imediatamente de Hogwarts. Aline mal pôde acreditar que as pessoas mudassem de opinião tão depressa!
- Isso passa. - Tentava acalmar Rony. - Logo vão ver o absurdo disso tudo!
Os cinco sentavam afastados do resto da Grifinória porque Aline não agüentava ouvir murmúrios mandando-a desaparecer dali.
- Se vocês não estivessem lá, teriam sugado a alma daquele garoto. Ninguém percebe isso? - Hermione estava indignada.
- Talvez eles pensem que se nós não estivéssemos aqui, os dementadores não teriam vindo. - Comentou Harry amargurado.
- Quem garante isso?
- Quem se importa com esses tolos? Eles simplesmente vivem suas vidas normais, sem pensar nos outros, sem ajudar, sem se preocupar com a pessoa que está ao lado.
Simas chegara perto para falar com Rony e escutou a conversa.
- É verdade, Simas está certo. Deixem que pensem o que quiserem. - Gina olhava apreensiva para os amigos. - A única pessoa que realmente importa é Dumbledore e ele definitivamente não vai expulsar vocês dois!
Harry sentiu que não era bem a opinião alheia que perturbava Aline. Ela passara a agir de uma maneira estranha depois da discussão com Draco. Ficava horas sozinha, falava pouco e evitava ficar perto dele.
- O que está acontecendo, Elenna? - Harry perguntou, sentando-se ao lado da namorada na aula de Feitiços.
- Não é nada de importante. Preciso pensar. Só.
Mostrava-se nervosa e impaciente, mesmo com os professores.
- Acho que ela pensa que se for embora vai resolver tudo. - teorizava Hermione quando Aline conversava com Gina e Sig sobre a transformação temporária em um animal diferente.
- Ela está escondendo alguma coisa. Fica sentada sozinha, pensando e pensando. - Rony escutava as reclamações de Harry sobre a mudança da garota. - Talvez esteja passando uma fase de introspecção ou coisa parecida. Hermione às vezes fica assim também.
- Nunca vi Mione tão distante, Rony. Além do mais, Aline fala normalmente com os outros.
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BAILE DOS NAMORADOS
14 PRÓXIMO
SALÃO PRINCIPAL DE HOGWARTS
MUITA MÚSICA E DIVERSÃO
- Quem teve essa idéia? - Indagou Harry ao ler o cartaz no mural de avisos.
- Mione e eu sugerimos aos monitores. Com esse clima horrível, tínhamos que fazer alguma coisa. - Rony não parecia muito feliz com a tinta rosa brilhante e os coraçõezinhos que dançavam pelo pergaminho. - Hermione anda uma pilha (expressão aprendida com Arthur!) com as brigas entre os alunos. Todo mundo está a ponto de explodir nessa escola! Dumbledore aceitou na hora.
Era verdade, pensou Harry. Pequenas discussões irrompiam pelos corredores, até mesmo entre professores. As medidas extremas tomadas após o ataque dos dementadores impediam que os alunos andassem livres pela propriedade, passeassem por Hogsmeade ou mesmo, em certas ocasiões, ficassem sozinhos fora das salas comunais. Essa falta de liberdade pressionava e revoltava a todos.
- Você já pensou no que vai dar a Mione?
- Vou dar um chicote para ela lidar com os transgressores! - Brincava Rony ao afastarem-se para a aula de Feitiços. - ... Sério. Não sei ainda. Talvez um Broche Pulsante ou um Brinco Formatum.
- O que são essas coisas? - Harry ainda tinha certa dificuldade com jóias do universo mágico.
- O Broche Pulsante aumenta e diminui de tamanho. É bem legal. O Percy deu um com violetas para Penny. O Brinco Formatum tem 25 opções de formas para se escolher. Acho que vou dar esse. É mais útil. - Rony parou no lugar combinado para esperarem as garotas e olhou para Harry. O amigo mal continha a risada. - O que foi?
- Você tornou-se um especialista em presentes para garotas!
- HÁ! HÁ!... Muito engraçado! E você, o que vai dar para a sua garota?
- Ainda não pensei sobre isso. - Coçou a cabeça, acanhado. A verdade é que nem se lembrou do dia dos namorados. Quem sabe isso não animaria Aline?
- Olá, seus tratantes! - Ela cutucava-o nas costelas. As duas se aproximaram sem fazer barulho. - Vocês não iriam nos esperar na porta da biblioteca?
- Ué... - Harry fez cara de desentendido. - Pensei que fosse aqui, perto da armadura cantora! - E acrescentou - Você está mais animada hoje, não?
- Talvez.
- Vamos, gente. - Hermione puxava Rony pela mão. - O resto da turma já entrou... Vocês estão sabendo do baile?
- Claro! - Aline ia de braços dados com Harry. - Quem vocês vão convidar? O Potter devia chamar a Murta-que-Geme. Ela morre reclamando que ele não aparece mais para visitá-la!
Os quatro riam ao entrar na sala: primeiro Mione, em seguida Rony e Harry.
- Aline Hunter!
Ela parou na porta. Olhou em volta e viu o dono da voz.
- Fabian! - Correu e o abraçou. - O que você está fazendo aqui, seu cachorro?! Nem me avisou!
Harry voltou imediatamente e o que viu deixou-o furioso. O que aquele sujeito estava fazendo com a sua namorada pendurada no pescoço? E ela o beijava no rosto!
- Harry, este é Fabian, Fabian Fastred. Já falei dele para você, lembra?
O jovem alto, de cabelos louros escuros e olhos azuis estendeu a mão sorrindo. Harry apertou-a mais forte do que o necessário.
- É um prazer conhecê-lo, Harry Potter. Elenna fala muito de você nas cartas!
- Como vai? - Foi tudo que ele conseguiu dizer. Voltou-se para a namorada. - Vamos? O professor está esperando.
Aline olhou para a cara enfurecida de Harry e não entendeu, afinal, não estava fazendo nada demais, estava? Sentiu que haveria briga se ela não entrasse, mas queria muito conversar com Fabian. Ele com certeza trazia notícias de Timoth e dos ataques recentes; além de ser seu amigo, seu único e melhor amigo por longos anos.
- Não, quero conversar com Fabian. - Os dois a olharam: Harry incrédulo; Fabian sério.
- Não vim para atrapalhar, Elenna. Posso esperar o fim das aulas.
- Me espere aqui, sim? Só vou explicar a Flitwick e voltarei num instante.
Ela entrou na sala, sem esperar para ouvir o protesto que o namorado visivelmente faria.
- E então, Harry, como vão as aulas?
- É Potter para você, Fastred. - Harry sentia profundo nojo do rapaz. Olhava-o com desprezo. Sumiu pela porta. Sequer viu Aline soprar-lhe um beijo ao sair da sala.
Entretanto, ao sentar-se com Rony, uma sensação esquisita apoderou-se dele. de repente, a raiva de Fastred sumira e ele questionou-se a razão de ter ficado tão furioso ao ver Aline abraçar o amigo. Eles se conheciam há anos, ela contara suas aventuras juntos. A namorada era bastante espontânea, não fora isso que o conquistara?
- O que está acontecendo comigo? - Murmurou para si mesmo.
- O que foi que você disse? - Cochichou Rony.
- Quase bati num amigo de Aline que veio visitá-la. Não sei por que. - E contou ao amigo o encontro com Fastred.
- Não arrume confusão. Hoje de manhã ela quase te pega conversando com a Cho.
- Eu não estava conversando com ela! - Rugiu. - Ela tomou a iniciativa de sentar-se do meu lado!
- É, mas do jeito que ela estava debruçada sobre seu prato, parecia que...
- Por favor, vocês querem ficar quietos? - Hermione sibilou. - Deixem as fofocas para depois, está bem?
- Peça desculpas ao cara. - Aconselhou Rony, mexendo só um lado da boca.
Harry assentiu. Pensara mesmo em fazer isso. Fora estúpido ao deixar o ciúme levar a melhor. Fastred parecia ser legal (pelo menos os Hunter falavam muito bem dele), e, de mais a mais, Aline estava com ele, não com o irlandês louro.
A primeira parte da aula passou e Harry convenceu-se de que fizera papel de bobo. Na segunda parte, que era prática, os alunos treinaram feitiços de Aumento e Redução. Harry tinha que engordar e diminuir Neville e posicionou- se perto de uma janela. Quando foi a vez de Neville enfeitiçar o parceiro, este foi atirado para trás e por sorte não saiu voando pelo vidro.
Ao apoiar-se no peitoril para levantar, viu algo que o deixou novamente fora de si: Aline e Fabian sentados, bem próximos, num banco à sombra do castelo. a garota ria de se acabar. O sangue subiu rápido, corando o rosto de Harry. Ao virar-se para Neville, ele lançou-lhe um feitiço tao intenso que o colega ficou com 60 cm de altura por seis horas.
Lá pela hora do jantar, a raiva de Harry alcançara níveis inacreditáveis em um rapaz sempre discreto e racional. Parecia que toda a turma da Sonserina tinha visto Aline de mãos dadas com um "garoto maravilhoso", ou conversando aos sussurros com um "visitante charmoso, ou até beijando-o na biblioteca. O mais estranho era Harry dar ouvidos a esse tipo de comentário. Em geral, ele ignorava as maledicências, bastante freqüentes visto que tanto ele quanto Aline eram famosos; porém ouviu todas. Ele não vira a namorada a tarde inteira.
Quando ela apareceu, ele estava jantando. Trazia Fastred pela mão.
Fingindo não ver a cara amarrada do namorado, Aline aproximou-se e anunciou:
- Fabian acabou ficando para o jantar. Conversamos tanto que nem vimos o tempo passar...
- Ninguém pediu satisfações suas! - Exclamou Harry asperamente, chamando a atenção de quem estava perto.
- Como disse? Eu não estou dando satisfações, estou apenas...
- Não quero saber o que você está ou não fazendo, Hunter! - Ele levantou-se e a encarou, os olhos faiscando. Aline recuou. - Você esqueceu o seu lugar?
- O que está acontecendo aqui? Isso é algum tipo de brincadeira? Se for, é de muito mau-gosto.
- Harry, pega leve. - Rony segurou o braço do amigo, tentando fazê-lo sentar. Olhava para Mione em busca de ajuda, mas ela estava paralisada de choque.
- Me solta, Rony! Não é a sua namorada que fica pelos cantos com outro! - O tom dele aumentava. As pessoas nas outras mesas começaram a ouvir também.
- Retire o que disse, Harry. - Aline também estava nervosa e sua voz soou estridente. - Retire agora. Como você se atreve?
- Eu fiquei sabendo, viu? Sei de tudo! Não preciso de uma namorada que fica se esfregando com o primeiro que aparece! - Ele gritou, trazendo um silêncio de expectativa. Os rostos estavam virados para o casal extremamente tenso ao lado da mesa da Grifinória. Sorte os professores ainda não terem chegado.
Aline franziu a testa, não acreditando no que ouvira. Desviou o olhar de Harry para o anel de noivado no indicador direito, ao modo dos Elfos. Retirou a jóia e colocou-a sobre a mesa.
- Desculpe tê-lo feito perder tempo. Foi realmente um erro lamentável. - Virou as costas e saiu correndo, subindo as escadas.
Só então Fabian manifestou-se. Aproximou-se de Harry, que ofegava e o encarava com raiva. Fez menção de dar um tapa na cara do garoto, tal era sua revolta. Ao invés, recuou.
- Você é o maior cretino que eu já encontrei! - Sentenciou, saindo a largas passadas.
O salão explodiu em falação. As pessoas comentavam, apontavam, riam, horrorizavam-se. Harry continuava olhando para o lugar onde estivera Aline, perplexo demais para se mover.
- O que você pensa que fez? Enlouqueceu? - Rony arrastava-o para a torre de Grifinória. - Como é que você pôde dizer aquelas coisas dela?
- Harry, você não podia estar no seu juízo perfeito! - Mione seguia os dois. Tinha uma expressão descrente e a voz era apenas um muxuxo. - Quero dizer, como você pôde agir assim? E sem motivo! Isso é tão estranho...!
O garoto não ouviu uma palavra do que os dois amigos disseram, de repreensão ou de incredulidade. Ele ficara sem ação ao ver Aline sair do salão. Sentia como se tivesse retomado o controle da mente, perdido ao ver a namorada com outro.
Ele começou então a duvidar de todos os boatos, lembrando do que ela lhe disse no Natal : "os Elfos só amam uma vez na vida". Lembrou-se também dos momentos que passaram juntos naquela noite e em várias outras provas de amor que ela dera.
- Não sei porquê agi assim. Foi mais forte. Quando vi os dois juntos, não consegui raciocinar direito, só pensei em traição. - Dizia Harry ao sentarem na sala comunal. - Estou arrependido. Não queria dizer aquilo, mas alguma coisa me forçou a fazê-lo. - E passou as mãos pelos cabelos, desnorteado.
Ele não distinguia Mione ou Rony, sentados em poltronas à sua frente, olhando-o apreensivos. Na verdade, seu olhar estava desfocado e a voz hesitante, nem percebendo que estava acompanhado.
- Ela foi para a torre de Astronomia. - Ele ouviu Gina falar. Saiu do estado letárgico e levantou-se de súbito. - É melhor você não ir até lá! - A amiga gritou quando o viu desaparecer pelo buraco do retrato, mas ele não ouviu. O único pensamento era pedir perdão.
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Aline ouvia as acusações de Harry sem saber como agir. À medida que a voz dele aumentava, seu coração encolhia, até ela acreditar que ele tivesse sumido. Definitivamente, ela não merecia a humilhação da desconfiança, a vergonha de encarar Fabian.
Harry sabia, ela havia dito inúmeras vezes, que Fabian era seu mais querido amigo. O breve envolvimento deles fora esquecido há tempos. Ela estava totalmente desiludida ao deixar o salão principal e subir até a torre. Nunca se sentira tão excluída desde que chegara a Hogwarts.
Com esses pensamentos animadores, ela sentou-se no parapeito e começou a cantar baixinho, as lágrimas molhando o rosto virado para as estrelas.
Gina tentou falar com ela, mas Aline não respondia, mergulhada inteira nas recordações dos momentos passados naquele lugar: os planos que Harry fazia de sempre ficarem juntos, ou simplesmente da presença dele ali, acompanhando-a na monitoria da Profª Sinistra e rindo das músicas antiquadas. Se ela não se encontrasse tão nervosa, teria percebido que o seu Harry raramente se alterava, não se deixava levar por fofocas e, muito menos, teria sido tão irracional.
Não demorou para que ele próprio aparecesse. Surgiu desconfiado na porta e parou um instante na soleira, como se pedisse permissão para entrar. Aline apenas observou-o chegar perto. A um metro de distancia, ele parou. Seu olhar parecia confuso.
- Elenna, escute, não sei o que me deu... Eu realmente não queria...
Aline levantou-se, eletrizada.
- Escute você, Potter! Você tem consciência do que fez? Sequer pude olhar para Fabian quando ele se foi! Você pensa que isso é uma brincadeira? Se pensa, podia ter tido a gentileza de me avisar! - A garota falava tão rápido que ele só podia ouvir. - Jamais me senti tão traída e humilhada! Não me venha dizer que não queria! Todos viram o "grande" Harry Potter dizer que a namorada dele é uma vadia! Com certeza, estão pensando que eu dou para a escola inteira, não é? Se era isso que você queria, parabéns! - Ela respirou fundo, tentando abafar um soluço. - Mas o que mais dói, Potter, é saber que você não confia em mim...
- Elenna, por favor, eu não sei o que aconteceu... Por favor...
- Pode ficar descansado, - Aline limpava as lágrimas rispidamente, controlando ao máximo a voz trêmula. - Fique sossegado, Potter, porque eu sou uma vadia profissional. Não esqueci a razão de ter vindo. - Ela andou até estar paralela a ele, sem encará-lo. - Quando estiver me esfregando com os outros pelos cantos, não vou descuidar da sua segurança. - E desceu as escadas com o coração cortado em tiras.
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As poucas pessoas que ainda conversavam com Aline não notaram diferença: ela continuava atenciosa e prestativa com quem a procurasse; companheira dos amigos e eficiente em seus deveres.
Grande parte dos alunos preferia manter distância dela, acreditando na história de Malfoy sobre o ataque dos dementadores, mas ela não se importava pois estava bastante ocupada ajudando Hermione e os monitores na organização do baile.
- Podemos ter músicas bruxas e trouxas. Muitos alunos cresceram ouvindo cantores trouxas. - Opinava ela nas reuniões. Preferiu guardar para si a tristeza que sentia. Apenas uma pequena mudança operara-se no seu comportamento: sempre saía quando Harry se aproximava.
Eles não haviam trocado uma única palavra desde a discussão na torre, por iniciativa dela. Ele tentava de todas as formas explicar-se.
Mas explicar como?, Harry pensava. Nem eu entendo o que fiz!
Ele estava arrasado e sabia que a culpa era só dele. Mal chegava numa roda de amigos onde Aline estivesse, ela virava-se em cerimônia e saía. Harry via que isso a deixava mais isolada, e a conhecia o suficiente para acreditar que a namorada fazia isso por acreditar que eles eram amigos dele antes de serem dela.
Os dois estavam tão ligados que ele sentia a tristeza dela em seu próprio peito, a vontade dela em acabar com toda essa besteira; entretanto, ele também sentia que ela estava muito magoada - e esse sentimento levava a melhor.
Alvo Dumbledore provavelmente esperava reações apaixonadas dos pais dos alunos, mas nada preparou Hogwarts para a torrente de cartas que chegou nos dias seguintes ao ataque. Quais providências o diretor tomaria? Por que não se precavera? O casal Zabin permaneceu várias horas na sala do diretor, pelo visto exigindo indenização pelo sofrimento de Blás.
O garoto tinha se recuperado rápido. Dois dias depois falava para quem quisesse ouvir que tinha conseguido livrar-se dos monstros com um feitiço anti-dementador bem colocado. Ninguém acreditava muito, não depois de verem a luminosidade branca que derretera as criaturas.
Todos queriam falar com Aline e Harry e perguntar como, por Merlin, eles tinham feito aquilo, mas os dois permaneceram cinco dias na enfermaria, recuperando a pele queimada e alguns ossos quebrados com a violência da ação. Madame Pomfrey, seguindo determinação de Dumbledore, só permitia visitas breves.
Harry treinava bastante os poderes mentais pois planejava uma investida.
- Não podemos ficar esperando o golpe. Temos que agir. A cada dia ele fica mais forte.
- Ah, Harry. Tenho medo quando você fala assim. Parece que vai sair correndo pela porta como um louco atrás de Você-Sabe-Quem.
- Não agüento mais ficar aqui parado, Mione!
- Papai escreveu contando que o Ministério está investigando a invasão como prioridade. - Rony olhava Mione apreensiva e Harry nervoso. Tentou contemporizar. - Eles vão pegar os maníacos que fizeram isso.
Aline estivera preocupada com Timoth. Após a visita à casa dos Malfoy ele desaparecera. Mas logo teve que se preocupar consigo mesma. No momento em que pisou no Salão Principal foi abordada por Draco Malfoy e companhia.
- O que você pensa que está fazendo, sua idiota de orelhas pontudas? Que idéia é essa de mandar aquele louco maltrapilho à minha casa, ameaçar o meu pai?
- Você com certeza está delirando, Malfoy. Saia da minha frente.
Ela tentou passar pela direita e Crabbe estava lá. Recuou e viu Goyle. Estava cercada.
- Você vai me ouvir! Se não eu...
- Não me faça rir, por favor! Se não você o quê? Vai correndo contar ao Sr. Lúcio Malfoy, para ele mandar mais dementadores atrás de mim?
- Meu pai não tem nada com isso!
Aline não queria mais brincar. Ficou imóvel, observando os olhos gelados de Malfoy. Enfim entendeu; e teve medo.
"Saia da minha frente, Malfoy!"
O garoto sorriu ao ver quem chegava apressado pelo corredor.
- Ora, Potter, aonde a vaca vai o boi vai atrás, não é? Podemos sempre contar com você para defender as pobres criaturinhas indefesas!
- Pare de perturbá-la, Malfoy, se não quiser apanhar agora!
- Estamos todos com os nervos à flor da pele! Calma, Potterzinho. Estava apenas conversando com a sua namoradinha. Dizendo a ela para se mandar! - Ele falava cada vez mais alto, atraindo a atenção de quem passava. - Todo mundo sabe que os dementadores queriam você e Potter, então porque vocês simplesmente não se mandam e deixam a gente em paz?
- Harry, vamos embora. Deixa esse lunático para lá!
A partir desse dia, mais cartas chegaram à diretoria, exigindo que Aline Hunter e Harry Potter saíssem imediatamente de Hogwarts. Aline mal pôde acreditar que as pessoas mudassem de opinião tão depressa!
- Isso passa. - Tentava acalmar Rony. - Logo vão ver o absurdo disso tudo!
Os cinco sentavam afastados do resto da Grifinória porque Aline não agüentava ouvir murmúrios mandando-a desaparecer dali.
- Se vocês não estivessem lá, teriam sugado a alma daquele garoto. Ninguém percebe isso? - Hermione estava indignada.
- Talvez eles pensem que se nós não estivéssemos aqui, os dementadores não teriam vindo. - Comentou Harry amargurado.
- Quem garante isso?
- Quem se importa com esses tolos? Eles simplesmente vivem suas vidas normais, sem pensar nos outros, sem ajudar, sem se preocupar com a pessoa que está ao lado.
Simas chegara perto para falar com Rony e escutou a conversa.
- É verdade, Simas está certo. Deixem que pensem o que quiserem. - Gina olhava apreensiva para os amigos. - A única pessoa que realmente importa é Dumbledore e ele definitivamente não vai expulsar vocês dois!
Harry sentiu que não era bem a opinião alheia que perturbava Aline. Ela passara a agir de uma maneira estranha depois da discussão com Draco. Ficava horas sozinha, falava pouco e evitava ficar perto dele.
- O que está acontecendo, Elenna? - Harry perguntou, sentando-se ao lado da namorada na aula de Feitiços.
- Não é nada de importante. Preciso pensar. Só.
Mostrava-se nervosa e impaciente, mesmo com os professores.
- Acho que ela pensa que se for embora vai resolver tudo. - teorizava Hermione quando Aline conversava com Gina e Sig sobre a transformação temporária em um animal diferente.
- Ela está escondendo alguma coisa. Fica sentada sozinha, pensando e pensando. - Rony escutava as reclamações de Harry sobre a mudança da garota. - Talvez esteja passando uma fase de introspecção ou coisa parecida. Hermione às vezes fica assim também.
- Nunca vi Mione tão distante, Rony. Além do mais, Aline fala normalmente com os outros.
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BAILE DOS NAMORADOS
14 PRÓXIMO
SALÃO PRINCIPAL DE HOGWARTS
MUITA MÚSICA E DIVERSÃO
- Quem teve essa idéia? - Indagou Harry ao ler o cartaz no mural de avisos.
- Mione e eu sugerimos aos monitores. Com esse clima horrível, tínhamos que fazer alguma coisa. - Rony não parecia muito feliz com a tinta rosa brilhante e os coraçõezinhos que dançavam pelo pergaminho. - Hermione anda uma pilha (expressão aprendida com Arthur!) com as brigas entre os alunos. Todo mundo está a ponto de explodir nessa escola! Dumbledore aceitou na hora.
Era verdade, pensou Harry. Pequenas discussões irrompiam pelos corredores, até mesmo entre professores. As medidas extremas tomadas após o ataque dos dementadores impediam que os alunos andassem livres pela propriedade, passeassem por Hogsmeade ou mesmo, em certas ocasiões, ficassem sozinhos fora das salas comunais. Essa falta de liberdade pressionava e revoltava a todos.
- Você já pensou no que vai dar a Mione?
- Vou dar um chicote para ela lidar com os transgressores! - Brincava Rony ao afastarem-se para a aula de Feitiços. - ... Sério. Não sei ainda. Talvez um Broche Pulsante ou um Brinco Formatum.
- O que são essas coisas? - Harry ainda tinha certa dificuldade com jóias do universo mágico.
- O Broche Pulsante aumenta e diminui de tamanho. É bem legal. O Percy deu um com violetas para Penny. O Brinco Formatum tem 25 opções de formas para se escolher. Acho que vou dar esse. É mais útil. - Rony parou no lugar combinado para esperarem as garotas e olhou para Harry. O amigo mal continha a risada. - O que foi?
- Você tornou-se um especialista em presentes para garotas!
- HÁ! HÁ!... Muito engraçado! E você, o que vai dar para a sua garota?
- Ainda não pensei sobre isso. - Coçou a cabeça, acanhado. A verdade é que nem se lembrou do dia dos namorados. Quem sabe isso não animaria Aline?
- Olá, seus tratantes! - Ela cutucava-o nas costelas. As duas se aproximaram sem fazer barulho. - Vocês não iriam nos esperar na porta da biblioteca?
- Ué... - Harry fez cara de desentendido. - Pensei que fosse aqui, perto da armadura cantora! - E acrescentou - Você está mais animada hoje, não?
- Talvez.
- Vamos, gente. - Hermione puxava Rony pela mão. - O resto da turma já entrou... Vocês estão sabendo do baile?
- Claro! - Aline ia de braços dados com Harry. - Quem vocês vão convidar? O Potter devia chamar a Murta-que-Geme. Ela morre reclamando que ele não aparece mais para visitá-la!
Os quatro riam ao entrar na sala: primeiro Mione, em seguida Rony e Harry.
- Aline Hunter!
Ela parou na porta. Olhou em volta e viu o dono da voz.
- Fabian! - Correu e o abraçou. - O que você está fazendo aqui, seu cachorro?! Nem me avisou!
Harry voltou imediatamente e o que viu deixou-o furioso. O que aquele sujeito estava fazendo com a sua namorada pendurada no pescoço? E ela o beijava no rosto!
- Harry, este é Fabian, Fabian Fastred. Já falei dele para você, lembra?
O jovem alto, de cabelos louros escuros e olhos azuis estendeu a mão sorrindo. Harry apertou-a mais forte do que o necessário.
- É um prazer conhecê-lo, Harry Potter. Elenna fala muito de você nas cartas!
- Como vai? - Foi tudo que ele conseguiu dizer. Voltou-se para a namorada. - Vamos? O professor está esperando.
Aline olhou para a cara enfurecida de Harry e não entendeu, afinal, não estava fazendo nada demais, estava? Sentiu que haveria briga se ela não entrasse, mas queria muito conversar com Fabian. Ele com certeza trazia notícias de Timoth e dos ataques recentes; além de ser seu amigo, seu único e melhor amigo por longos anos.
- Não, quero conversar com Fabian. - Os dois a olharam: Harry incrédulo; Fabian sério.
- Não vim para atrapalhar, Elenna. Posso esperar o fim das aulas.
- Me espere aqui, sim? Só vou explicar a Flitwick e voltarei num instante.
Ela entrou na sala, sem esperar para ouvir o protesto que o namorado visivelmente faria.
- E então, Harry, como vão as aulas?
- É Potter para você, Fastred. - Harry sentia profundo nojo do rapaz. Olhava-o com desprezo. Sumiu pela porta. Sequer viu Aline soprar-lhe um beijo ao sair da sala.
Entretanto, ao sentar-se com Rony, uma sensação esquisita apoderou-se dele. de repente, a raiva de Fastred sumira e ele questionou-se a razão de ter ficado tão furioso ao ver Aline abraçar o amigo. Eles se conheciam há anos, ela contara suas aventuras juntos. A namorada era bastante espontânea, não fora isso que o conquistara?
- O que está acontecendo comigo? - Murmurou para si mesmo.
- O que foi que você disse? - Cochichou Rony.
- Quase bati num amigo de Aline que veio visitá-la. Não sei por que. - E contou ao amigo o encontro com Fastred.
- Não arrume confusão. Hoje de manhã ela quase te pega conversando com a Cho.
- Eu não estava conversando com ela! - Rugiu. - Ela tomou a iniciativa de sentar-se do meu lado!
- É, mas do jeito que ela estava debruçada sobre seu prato, parecia que...
- Por favor, vocês querem ficar quietos? - Hermione sibilou. - Deixem as fofocas para depois, está bem?
- Peça desculpas ao cara. - Aconselhou Rony, mexendo só um lado da boca.
Harry assentiu. Pensara mesmo em fazer isso. Fora estúpido ao deixar o ciúme levar a melhor. Fastred parecia ser legal (pelo menos os Hunter falavam muito bem dele), e, de mais a mais, Aline estava com ele, não com o irlandês louro.
A primeira parte da aula passou e Harry convenceu-se de que fizera papel de bobo. Na segunda parte, que era prática, os alunos treinaram feitiços de Aumento e Redução. Harry tinha que engordar e diminuir Neville e posicionou- se perto de uma janela. Quando foi a vez de Neville enfeitiçar o parceiro, este foi atirado para trás e por sorte não saiu voando pelo vidro.
Ao apoiar-se no peitoril para levantar, viu algo que o deixou novamente fora de si: Aline e Fabian sentados, bem próximos, num banco à sombra do castelo. a garota ria de se acabar. O sangue subiu rápido, corando o rosto de Harry. Ao virar-se para Neville, ele lançou-lhe um feitiço tao intenso que o colega ficou com 60 cm de altura por seis horas.
Lá pela hora do jantar, a raiva de Harry alcançara níveis inacreditáveis em um rapaz sempre discreto e racional. Parecia que toda a turma da Sonserina tinha visto Aline de mãos dadas com um "garoto maravilhoso", ou conversando aos sussurros com um "visitante charmoso, ou até beijando-o na biblioteca. O mais estranho era Harry dar ouvidos a esse tipo de comentário. Em geral, ele ignorava as maledicências, bastante freqüentes visto que tanto ele quanto Aline eram famosos; porém ouviu todas. Ele não vira a namorada a tarde inteira.
Quando ela apareceu, ele estava jantando. Trazia Fastred pela mão.
Fingindo não ver a cara amarrada do namorado, Aline aproximou-se e anunciou:
- Fabian acabou ficando para o jantar. Conversamos tanto que nem vimos o tempo passar...
- Ninguém pediu satisfações suas! - Exclamou Harry asperamente, chamando a atenção de quem estava perto.
- Como disse? Eu não estou dando satisfações, estou apenas...
- Não quero saber o que você está ou não fazendo, Hunter! - Ele levantou-se e a encarou, os olhos faiscando. Aline recuou. - Você esqueceu o seu lugar?
- O que está acontecendo aqui? Isso é algum tipo de brincadeira? Se for, é de muito mau-gosto.
- Harry, pega leve. - Rony segurou o braço do amigo, tentando fazê-lo sentar. Olhava para Mione em busca de ajuda, mas ela estava paralisada de choque.
- Me solta, Rony! Não é a sua namorada que fica pelos cantos com outro! - O tom dele aumentava. As pessoas nas outras mesas começaram a ouvir também.
- Retire o que disse, Harry. - Aline também estava nervosa e sua voz soou estridente. - Retire agora. Como você se atreve?
- Eu fiquei sabendo, viu? Sei de tudo! Não preciso de uma namorada que fica se esfregando com o primeiro que aparece! - Ele gritou, trazendo um silêncio de expectativa. Os rostos estavam virados para o casal extremamente tenso ao lado da mesa da Grifinória. Sorte os professores ainda não terem chegado.
Aline franziu a testa, não acreditando no que ouvira. Desviou o olhar de Harry para o anel de noivado no indicador direito, ao modo dos Elfos. Retirou a jóia e colocou-a sobre a mesa.
- Desculpe tê-lo feito perder tempo. Foi realmente um erro lamentável. - Virou as costas e saiu correndo, subindo as escadas.
Só então Fabian manifestou-se. Aproximou-se de Harry, que ofegava e o encarava com raiva. Fez menção de dar um tapa na cara do garoto, tal era sua revolta. Ao invés, recuou.
- Você é o maior cretino que eu já encontrei! - Sentenciou, saindo a largas passadas.
O salão explodiu em falação. As pessoas comentavam, apontavam, riam, horrorizavam-se. Harry continuava olhando para o lugar onde estivera Aline, perplexo demais para se mover.
- O que você pensa que fez? Enlouqueceu? - Rony arrastava-o para a torre de Grifinória. - Como é que você pôde dizer aquelas coisas dela?
- Harry, você não podia estar no seu juízo perfeito! - Mione seguia os dois. Tinha uma expressão descrente e a voz era apenas um muxuxo. - Quero dizer, como você pôde agir assim? E sem motivo! Isso é tão estranho...!
O garoto não ouviu uma palavra do que os dois amigos disseram, de repreensão ou de incredulidade. Ele ficara sem ação ao ver Aline sair do salão. Sentia como se tivesse retomado o controle da mente, perdido ao ver a namorada com outro.
Ele começou então a duvidar de todos os boatos, lembrando do que ela lhe disse no Natal : "os Elfos só amam uma vez na vida". Lembrou-se também dos momentos que passaram juntos naquela noite e em várias outras provas de amor que ela dera.
- Não sei porquê agi assim. Foi mais forte. Quando vi os dois juntos, não consegui raciocinar direito, só pensei em traição. - Dizia Harry ao sentarem na sala comunal. - Estou arrependido. Não queria dizer aquilo, mas alguma coisa me forçou a fazê-lo. - E passou as mãos pelos cabelos, desnorteado.
Ele não distinguia Mione ou Rony, sentados em poltronas à sua frente, olhando-o apreensivos. Na verdade, seu olhar estava desfocado e a voz hesitante, nem percebendo que estava acompanhado.
- Ela foi para a torre de Astronomia. - Ele ouviu Gina falar. Saiu do estado letárgico e levantou-se de súbito. - É melhor você não ir até lá! - A amiga gritou quando o viu desaparecer pelo buraco do retrato, mas ele não ouviu. O único pensamento era pedir perdão.
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Aline ouvia as acusações de Harry sem saber como agir. À medida que a voz dele aumentava, seu coração encolhia, até ela acreditar que ele tivesse sumido. Definitivamente, ela não merecia a humilhação da desconfiança, a vergonha de encarar Fabian.
Harry sabia, ela havia dito inúmeras vezes, que Fabian era seu mais querido amigo. O breve envolvimento deles fora esquecido há tempos. Ela estava totalmente desiludida ao deixar o salão principal e subir até a torre. Nunca se sentira tão excluída desde que chegara a Hogwarts.
Com esses pensamentos animadores, ela sentou-se no parapeito e começou a cantar baixinho, as lágrimas molhando o rosto virado para as estrelas.
Gina tentou falar com ela, mas Aline não respondia, mergulhada inteira nas recordações dos momentos passados naquele lugar: os planos que Harry fazia de sempre ficarem juntos, ou simplesmente da presença dele ali, acompanhando-a na monitoria da Profª Sinistra e rindo das músicas antiquadas. Se ela não se encontrasse tão nervosa, teria percebido que o seu Harry raramente se alterava, não se deixava levar por fofocas e, muito menos, teria sido tão irracional.
Não demorou para que ele próprio aparecesse. Surgiu desconfiado na porta e parou um instante na soleira, como se pedisse permissão para entrar. Aline apenas observou-o chegar perto. A um metro de distancia, ele parou. Seu olhar parecia confuso.
- Elenna, escute, não sei o que me deu... Eu realmente não queria...
Aline levantou-se, eletrizada.
- Escute você, Potter! Você tem consciência do que fez? Sequer pude olhar para Fabian quando ele se foi! Você pensa que isso é uma brincadeira? Se pensa, podia ter tido a gentileza de me avisar! - A garota falava tão rápido que ele só podia ouvir. - Jamais me senti tão traída e humilhada! Não me venha dizer que não queria! Todos viram o "grande" Harry Potter dizer que a namorada dele é uma vadia! Com certeza, estão pensando que eu dou para a escola inteira, não é? Se era isso que você queria, parabéns! - Ela respirou fundo, tentando abafar um soluço. - Mas o que mais dói, Potter, é saber que você não confia em mim...
- Elenna, por favor, eu não sei o que aconteceu... Por favor...
- Pode ficar descansado, - Aline limpava as lágrimas rispidamente, controlando ao máximo a voz trêmula. - Fique sossegado, Potter, porque eu sou uma vadia profissional. Não esqueci a razão de ter vindo. - Ela andou até estar paralela a ele, sem encará-lo. - Quando estiver me esfregando com os outros pelos cantos, não vou descuidar da sua segurança. - E desceu as escadas com o coração cortado em tiras.
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As poucas pessoas que ainda conversavam com Aline não notaram diferença: ela continuava atenciosa e prestativa com quem a procurasse; companheira dos amigos e eficiente em seus deveres.
Grande parte dos alunos preferia manter distância dela, acreditando na história de Malfoy sobre o ataque dos dementadores, mas ela não se importava pois estava bastante ocupada ajudando Hermione e os monitores na organização do baile.
- Podemos ter músicas bruxas e trouxas. Muitos alunos cresceram ouvindo cantores trouxas. - Opinava ela nas reuniões. Preferiu guardar para si a tristeza que sentia. Apenas uma pequena mudança operara-se no seu comportamento: sempre saía quando Harry se aproximava.
Eles não haviam trocado uma única palavra desde a discussão na torre, por iniciativa dela. Ele tentava de todas as formas explicar-se.
Mas explicar como?, Harry pensava. Nem eu entendo o que fiz!
Ele estava arrasado e sabia que a culpa era só dele. Mal chegava numa roda de amigos onde Aline estivesse, ela virava-se em cerimônia e saía. Harry via que isso a deixava mais isolada, e a conhecia o suficiente para acreditar que a namorada fazia isso por acreditar que eles eram amigos dele antes de serem dela.
Os dois estavam tão ligados que ele sentia a tristeza dela em seu próprio peito, a vontade dela em acabar com toda essa besteira; entretanto, ele também sentia que ela estava muito magoada - e esse sentimento levava a melhor.
