Capítulo Vinte e três: O que mais? Um baile!
Hermione e Rony até tentaram uma reconciliação dos dois, mas ambos pediram para não interferirem - Aline por raiva, Harry por respeito à ela. Por isso, ele assistiu sem a menor empolgação todos os preparativos para o baile. - Não acredito que você não vai, Aline! Todos esses dias nos ajudando para nada? - Hermione já estava arrumada, sentada ao lado da amiga no dormitório. Gina estava em frente às duas.
- Mione, não existe razão para que eu vá! Fora vocês da Grifinória, não converso com ninguém; e, sejamos realistas, o que vou fazer num baile de namorados?! - Aline olhava ressentida para ela.
- Você e o Harry bem que poderiam parar...
- Por favor, deixe-o fora disso, ok? Já decidi e está decidido que eu não irei! Vão vocês e divirtam-se muito! - Aline exclamou, no que achou ser uma voz descontraída.
Hermione ainda tentou argumentar, sem obter resultado. Saiu triste e preocupada e Aline pôde ver como ela estava bonita numa veste azul-escura com pequenos pontos brilhantes, imitando de uma noite estrelada.
- Você não pode fazer isso. - Gina falou. - Está magoando seus amigos.
- Como assim?
- Se você ainda não percebeu, Rony e Mione empenharam-se para essa festa. - Gina explicava calmamente, como era seu feitio. - Eles pensaram que estariam ajudando a melhorar o clima no castelo; querem fazer as pessoas esquecerem um pouco o ataque e o disc...
- O discurso de Malfoy? É isso? - Aline a encarou curiosa, já adivinhando a resposta.
- Sim. - Gina olhou bem para a amiga. - Fizeram isso por você também. E seria, no mínimo, indelicado de sua parte não comparecer.
Aline encarou-a alguns instantes, pensando no que ela dissera, e, infelizmente, fazia sentido. Baixou os olhos, envergonhada.
- Tem razão, Gina. Estou sendo egoísta. Vá, Sig deve estar impaciente. Vou me arrumar e desço quando puder.
Ela não viu o sorriso no rosto da amiga quando esta levantou e esvoaçou a veste dourada porta a fora.
No dormitório masculino, Rony estava tendo mais dificuldade com Harry, talvez devido a sua pouca paciência.
- Você realmente quer perder a festa? Vai ser ótima! Os elfos domésticos trabalharam o dia todo, a empresa de decoração arrumou o salão e o saguão, vai ter música trouxa também...
- Já sei de tudo isso, Rony. É a décima quinta vez que você me lista as maravilhas desse baile. Leia os meus lábios: EU-NÃO-VOU. Eu não vou! - Harry começava a se irritar com a insistência.
- Bom, não sei como não percebi isso antes. - Rony resolveu jogar sujo. Tinha prometido a Mione arrastá-lo para o salão. - É claro que você não vai! Aline também não. Acho que vocês vão ficar fazendo companhia um para o outro aqui!
- Ela não vai? Mas ela ajudou em todos os preparativos! - Harry foi pego de surpresa, e mordeu a isca.
- Pois é. Ela disse que estava doente; então é claro que você vai ficar, não é?
Os dois sozinhos na torre seria uma oportunidade para conversarem, mas sabia que Aline não o procuraria e ele definitivamente acreditava que a namorada ainda estava ressentida. E, afinal, não seria tão mau dar só uma espiadinha no lugar, nem que fosse para tomar umas cervejas amanteigadas e adquirir coragem para enfrentá-la.
- Está bem. Troco de roupa e encontro vocês lá.
Rony abriu um sorriso de orelha a orelha e saiu do quarto com sua veste de gala cinzenta, encontrando Mione na sala comunal.
- E então? - Perguntou a garota, ansiosa.
- Você acha que alguém resiste a mim? - O namorado a enlaçou pela cintura e beijou-a levemente. - Ele virá daqui a pouco. E Aline?
- Acabei de deixá-la com Gina.
- Gina conseguirá convencê-la. A minha irmãzinha herdou a retórica da família! Que tal a gente ir? Você, como monitora-chefe, deve supervisionar a chegada dos casais apaixonados!
- Já pensei nisso, Sr. Weasley! - Mione beijou-o com um sorriso maroto. - Os outros monitores estão lá e cuidarão de tudo até a nossa chegada.
- Que será o mais rápido possível! - Os dois já saíam pelo buraco do retrato quando Gina alcançou-os.
- Ela virá! Essa festa vai ser ótima! - Exclamou, excitada. - Vamos gente, Sig deve estar fazendo buracos no saguão de tanto esperar!
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Harry não demorou vinte minutos para trocar de roupa, mas só apareceu no saguão de entrada mais de uma hora depois de Rony sair do dormitório. Ele ficou sentado na janela, observando a noite limpa.
- Parou de nevar. Agora os casais têm chance de escapar de Snape e seus feitiços explosivos.
Esquadrinhou cada centímetro da sala comunal antes de descer para certificar-se que Aline não estava lá. O aposento estava silencioso.
"Talvez esteja precisando de ajuda." - Pensou ao não encontrá-la. - "Voltarei cedo para procurá-la."
À medida que descia as escadas, um perfume agradável de flores frescas invadia seus sentidos. Ao chegar ao saguão, descobriu que várias mesinhas com cadeiras acolchoadas foram dispostas até a porta de entrada do castelo. Flutuando, acima delas, lamparinas de âmbar irradiavam uma luz suave e dourada, iluminando os grupos sentados ao redor de copos de cerveja e vinho quente.
A atmosfera estava repleta de pequenas gotinhas brilhantes, que às vezes grudavam nos cabelos ou rostos de alguém, arrematando o ambiente de sonho.
Harry teria sentado-se numa das poltronas se a visão do salão principal não o tivesse arrastado.
Mesas apareceram logo à entrada e estavam ao redor da pista de dança. A iluminação era mais clara que a do saguão, mas a pista estava na penumbra. Músicas românticas embalavam os casais que dançavam agarradinhos e ele reconheceu algumas da caixa musical, fazendo seu coração se apertar.
Forçando um pouco a visão, Harry distinguiu Gina e Sig dançando perto dele. O garoto o viu, chamou a atenção da namorada e os dois acenaram. Harry retribuiu. Rony e Mione pareciam muito felizes, rindo um para o outro. Dino e Lilá beijavam-se apaixonadamente, assim como Simas e Parvati. "O que estou fazendo aqui? Papel de palhaço!"
A pista lotada de repente começou a mover-se freneticamente, sacudindo Harry de seus pensamentos. Começava uma musica agitada, e os casais se separavam com passos ousados.
- Agora que você chegou, Harry? - Mione aproximou-se, puxando Rony pela mão. - O que achou?
- Bem romântico. Gostei do perfume, embora não veja nenhuma flor...
- Flor? Do que você... - Rony tinha os olhos brilhantes de alegria, e Harry sentiu-se pior ainda. - Ah! Esse é o toque de Hermione Granger. O ar foi enfeitiçado para ter o perfume que associamos à pessoa amada. Eu sinto um cheiro meio amadeirado, meio cítrico.
- E eu um perfume de fruta no ponto. - Riu Mione.
- Entretanto, acho que não vou ficar muito. Não tenho nada a fazer aqui, vocês entendem...
- Tadinho do Potter... Chorando a perda da namoradinha?
Harry virou-se com violência em direção a Draco Malfoy. Ele estava de braços dados com a namorada, Pansy Parkinson. Ambos exibiam sorrisos cínicos idênticos.
- Suma daqui, Malfoy! - Harry cerrou os punhos, falando entredentes. - A conversa não chegou às masmorras!
Malfoy descontraiu os lábios e sibilou:
- Também, quem iria querer um perdedor inútil como você, Potter? - E acrescentou, aproximando-se perigosamente de Harry. - Ela não vai ficar sozinha muito tempo. Ouvi comentários de que e elfa é uma delícia na cama!
SOC! PUM!
Harry acertara o queixo de Malfoy, fazendo-o cair sobre uma mesinha, onde estavam dois casais da Corvinal, e pulou sobre ele, socando e apanhando, até que Rony e Sig os separaram.
- Desapareça, seu verme! Você causou estragos para uma vida! - Sig disse com desprezo, atirando Malfoy para o saguão. Pansy seguiu o namorado, tentando limpar o sangue na boca dele.
Harry ganhara um olho roxo e um corte no lábio. Ainda bem que a briga fora num lugar onde havia pouca gente. A maioria dançava.
- Venha, vamos tomar alguma coisa. - Sugeriu Rony, levando-o para o outro lado do salão, em direção à mesa do buffet. - Para tirar o gosto amargo da boca.
Foi ao virar-se novamente para a pista, depois de abastecer uma caneca de cerveja amanteigada, que ele a viu.
Aline estava sentada numa mesa próxima, acompanhada por Sinistra, Snape, Dumbledore e McGonagall. Os professores conversavam animados; a garota, porém, olhava-o fixamente. Vira a briga e sabia a razão, Harry podia sentir.
Ele entornou a caneca e encheu-a pela segunda vez. Olhando em direção à mesa, encontrou os olhos cinzentos postos nele. Aline estava linda num vestido negro de mangas compridas, os cabelos trançados com fios de prata, os olhos brilhantes.
Ao longe, uma música lenta começou. Ele reconheceu os acordes: Do you wanna dance. O universo conspirava contra ele. Ou seria a favor?
Ele só percebeu que navegava entre as mesas rumo aquele olhar quando o perfume de flores inebriou seus sentidos. Ele ouviu sua própria voz decidida:
- Você não pode me negar isso.
Aline não respondeu. Apenas levantou e estendeu a mão. Harry a conduziu para a pista e eles tomaram posição de dança, extremamente tímidos. "Pelo menos para alguma coisa serviram as aulas de dança com Cho". Ele mirava um ponto acima do ombro de Aline. Quando a música estava terminando, arriscou um olhar e constatou que os olhos dela continuavam fixos nele e que havia lágrimas neles.
O rapaz engoliu em seco. Não conseguia desviar a atenção de Aline. As lágrimas desciam pelo rosto molhando seu vestido, mas ela não emitia um único som.
- Perdoe-me. - Sussurrou. - Sei que fui um imbecil, mas quero consertar tudo. Por favor...
- Por que?... - Um fiapo da voz de Aline libertou-se da garganta apertada. - Por que você fez isso conosco?
Harry surpreendeu-se quando ela enterrou o rosto em seu ombro. Não notou que várias pessoas admiravam a interação deles, toda a atenção voltada para Aline.
- Sssh... Calma. - Dizia baixinho, enquanto acariciava a cabeça dela. - Foi você quem sugeriu a trilha sonora? - Perguntou para animá-la, pois ouviu Still Loving You, do Scorpions, em seguida The great pretender, com The Platters. - Excelentes escolhas!
Aline voltou o rosto para ele, sem tirar a cabeça do apoio, mas não disse nada. O rapaz sentiu a respiração acelerada e quente dela e virou-se. Nenhum dos dois sentiu os lábios se aproximarem e se encostarem.
Harry investiu tudo naquele beijo com gosto salgado. Abraçou-a mais forte pela cintura, os lábios cheios de paixão. Aline não esboçou reação: nem correspondeu, tão pouco o rechaçou.
Então ele parou. Os olhos continuavam abertos como faróis, mas o brilho era mais intenso. As lágrimas continuavam caindo. Não adiantara.
- Preciso voltar à torre. - Declarou de súbito, soltando-a. - Aproveite a festa. - E virou-se para a porta, mas Aline o segurou.
- Quero ir até o jardim. - A voz soou firme. Harry levou-a pela pista, por entre as mesinhas, até alcançarem a porta de entrada.
Vários casais agora passeavam por uma área de jardim próxima, protegida por feitiços novos, Aline constatou. Estariam seguros.
Ele virou-se para ela, depois de caminharem até o limite do escudo protetor.
- Elenna, eu realmente sinto mui... - A garota colocou a mão na boca dele.
- Não diga nada. - Sussurrou ela, enquanto passava a mão pelos cabelos e a nuca dele, antes de beijá-lo.
Um senhor beijo. Pareciam dispostos a matar a sede das duas semanas de separação num gole só. Aline sentia os lábios dele nos dela com força, enquanto as mãos de Harry deslizavam por seus ombros e braços. Ela estremeceu ao toque em suas costas e o rapaz a abraçava mais e mais.
Quando pararam para tomar fôlego, Harry achou por bem esclarecer a situação.
- Isso significa que estou perdoado?
- Sim. Eu fui uma tola. - Aline estava vermelha de calor. - Uma idiota. Era óbvio que você tinha sido envenenado.
- Como você tem certeza?
- Ao me beijar lá dentro, você tinha gosto de cerveja e poção Desnorteante.
- Aquela que faz a pessoa ter reações exageradas?
- Você pode até ter ciúmes do Fabian. - Aline olhou-o séria. - Um sentimento sem propósito, devo acrescentar. Mas nunca agiria daquela forma.
- Quem poderia ser? Não imagino ninguém... Talvez o Malfoy, se bem que ele precisaria colocar a poção na comida, ou no suco...
- Descobriremos quem foi. De qualquer forma, o efeito dura poucos dias... - Aline segurou as mãos dele. - Sou eu que peço desculpas por ter ficado cega de raiva.
O garoto abriu um sorriso de orelha a orelha e acariciou o rosto dela.
- Estamos quites. Melhor, estamos perdoados! - E beijou-a novamente. Um beijo mais calmo, que foi descendo para o pescoço da namorada. - Acho que merecemos uma comemoração especial pela nossa reconciliação, que tal?
- Não sei, Harry. - A respiração de Aline estava forte, o corpo tremendo de desejo. - É arriscado.
- Podemos usar a minha capa. Prometo que não vai ter risco... Ah, não! - Exclamou de repente, puxando a garota para baixo. Os dois rolaram na grama molhada, pois estavam num terreno irregular.
- Harry Potter, que você pensa q... - Aline foi interrompida em sua indignação pela mão do namorado.
- Snape. - Ele mais apontou que falou. Ela seguiu o dedo e viu que o padrinho aparecera à porta e ralhava com vários alunos apanhados no flagra.
Harry retirou a mão e rolou, deitando de costas na grama.
- Esperamos que ele volte para o interior do castelo. - E enlaçou seus dedos nos de Aline.
Imediatamente pôs-se em alerta. Tinha ouvido uma risadinha abafada. Olhou para a namorada, que fez sinal de que também tinha ouvido, mostrando de onde vinha: um arbusto próximo.
"Vamos embora." Harry assentiu e eles sentaram-se para partir.
- Assim não, Draco. - Harry estancou. Conhecia aquele gemido. Seus olhos arregalaram-se e ele sinalizou para ficarem.
- Vai ser bom, minha querida. Você vai ver. - Malfoy tinha a voz abafada. - Darei tudo que aquele incompetente negou...
Ouviu-se um suspiro alto.
- Eles não vão ficar juntos, não é Draco? - A voz da garota denotava falta de fôlego.
Cho Chang. - Harry transmitiu para Aline.
- Não depois do servicinho que você fez, querida... Vem cá, vem! Você é tão linda!
Aline ouviu o que precisava e puxou Harry para subirem e entrarem no castelo. rapidamente limpou as vestes dele e seu vestido. Ela não sabia o que fazer, pois o namorado apresentava-se incrédulo.
- Como pode? Não é possível. - Repetia, desiludido.
Ela pensou em procurar Mione ou Gina, mas descartou essa possibilidade. Seria indelicado atrapalhá-las. Resolveu subir para a torre. Tentou falar com Harry, mas ele não tinha outro assunto.
- Você não vê, Elenna? Eu namorei aquela menina! Agora ela está lá, agarrando o Malfoy...
- Como se você não tivesse outra pessoa também, não é?
- Mas é diferente.
- O que importa é que sabemos quem te enfeitiçou. - Aline já se irritava com aquilo. Por que ele dava tanta atenção a Cho?
- Simplesmente não acredito! Ela me traiu.
Aline agüentou até a sala comunal, quando viu Rony sentado perto das escadas dos dormitórios.
- Vocês dois, hein!? - Disse ele, com um olhar triunfante. - Sabiam que metade do castelo sabe da volta?
- Rony, ela me envenenou! - Harry apressou-se a comunicar.
- Quem? Aline?
- Cho. Ela estava com Malfoy e ouvimos a confissão. - Aline informou. - O que você está fazendo aqui? Onde está Mione?
- No dormitório. Tábata Graile-Rerem sentiu-se mal. Deveres de monitora. E vocês?
- Seu amigo ficou magoadíssimo, então não havia mais clima para nada, não é mesmo? - A garota olhou chateada para um Harry com os olhos ainda arregalados e cara de espanto. - Não sou obrigada a ver isso! - Disse, enfática, passando por Rony e subindo para o quarto.
O amigo observou Harry por um momento.
- Rony, ela me envenenou. Não posso confiar em ninguém!
- Você é um idiota, Harry Potter!
- O que? Como assim?
- Que parte você não entendeu: o idiota ou o Harry Potter? A garota faz as pazes, dá uma chance e você fica todo besta porque a sua "ex" está com o Malfoy?
- Não é nada disso! Vocês não entendem? Ela é uma aluna e me conhece bem. Se estiver trabalhando com Voldemort ("Quer fazer o favor de dizer Você-sabe-quem?")... Estou me lixando para ela com aquela lombriga!
- Não foi isso que Aline e eu entendemos. Acho melhor você correr e explicar a ela, antes que seja tarde.
- Garotas! - Exclamou Harry, mas subiu os degraus de dois em dois, parando diante da porta com a plaqueta: "Alunas de 7º ano".
- Aline, vamos conversar. - Berrava, esmurrando a porta. - Você entendeu tudo errado.
Esperou. Nenhuma resposta.
- Aline, abra isso! Você precisa me ouvir!
- Chega por hoje, Potter! - A voz dela estava próxima. Devia estar encostada na porta.
- Querida, por favor. Eu não quero saber com quem Cho Chang está! Eu não me importo. - Baixou a voz. - Fiquei chateado por ela ser uma aluna que se bandeou para o outro lado, como você ficaria se um conhecido seu mudasse de partido. - Parou para escutar. Nenhum ruído.
Click!
A chave girou na fechadura. Ele encarou Aline. Antes que ela pudesse formular algum protesto, Harry agarrou-a pelos ombros e a beijou.
A garota fez esforços corajosos para se libertar, tentando empurrá- lo, mas logo se viu vencida e finalmente abraçou-o. Do aposento atrás dela vinha o murmúrio de vozes femininas:
- Nunca imaginei.... Ele sempre foi tão tímido! - Harry, com os olhos fechados, conseguia distinguir a voz de Parvati.
- Nossa! Se o Dino fizesse isso, eu iria ficar nas nuvens! - Aline sorriu com os lábios colados aos do rapaz.
- Vocês duas não têm mais o que fazer? - Hermione soou indignada. O casal soltou-se para olhá-la. - E vocês, dando showzinho em plena torre da Grifinória?! - A voz era de bronca, totalmente desacreditada pelo largo sorriso que a acompanhava. - Saiam da frente, sim?
Empurrou um pouco Aline e puxou as colegas escada a baixo. Os dois riram do gritinho de triunfo vindo da sala comunal.
- É tudo culpa desses dois! Eu ainda estou brava com você, sabia? - Aline afastou-o com as mãos, fazendo Harry parar na parede oposta.
- Acho que Gina e Sig têm participação também! - concluiu o garoto, puxando-a para si. - Temos que dar excelentes presentes de aniversário a eles, não concorda? - E beijou-a. - Onde é que estávamos ao sermos importunados? - Perguntou, já atacando o rosto e o pescoço da namorada.
Aline nem tentou fugir. Pendurou-se no pescoço do namorado e suspirou.
- Aonde iremos?
- Tenho o lugar ideal. - Sussurrou ele. - Espere por mim na sala comunal. Vou pegar a capa da invisibilidade.
A Mulher Gorda reclamou do trânsito incessante da noite ("Jovens! Todos inconseqüentes!") ao vê-los sair de mãos dadas.
Harry guiou Aline até uma sala o 4º andar, perto da sala de aula teórica de Astronomia. A garota respirava forte e tinha os dedos gelados.
- Encontrei esta sala há uns dias. Espere aqui fora um instante.
Aline esperou uns bons 15 minutos, encostada na parede. Então, ouviu música e descruzou os braços. Harry abriu a porta com um sorriso orgulhoso.
- Bem-vinda à nossa festa particular!
Ao mesmo tempo em que ele fechava a porta, ela se viu num quarto pequeno. Em um canto, um alegre fogo crepitava na lareira, a caixa musical aberta em cima; no outro, uma cama igual às do dormitório, só que maior. Pequeninas flores douradas decoravam o ambiente.
- Elanor! - Surpreendeu-se ela, pegando uma.
- Tentei conjurá-las o mais fielmente possível, seguindo a descrição do seu livro.
- São lindas!... São as minhas favoritas!
- Eu sei. As fiz com o seu cheiro... Senti o perfume de flores frescas a noite inteira. E ainda não terminou.
O garoto pegou um objeto do bolso e colocou-o no dedo de Aline. O anel de compromisso. Então, ele enlaçou-a e conduziu-a pelo cômodo calmamente ao som de Only you, Love is a many-splendored thing, My girl e outras canções românticas do repertório da caixa.
- Potter, você sabe criar um clima, não?
- Como você acha que consegui essa fama de garanhão? Eu trabalho como um elfo doméstico! Quer um pouco de vinho? Trouxe uma garrafa comigo.
E, é claro, depois eles cansaram de dançar; as carícias tornando-se mais ousadas, a respiração mais profunda, a temperatura aumentou consideravelmente. Eles se amaram sem pressa, tranqüilos, esquecendo-se das 70 e tantas regras quebradas naqueles momentos.
Bem mais tarde, Harry acordou sobressaltado. Sonhara com Cho e Malfoy invadindo uma casa, que ele sabia ser sua, e atacando Aline e um bebê. Sua filha. Ela arrancava a menina dos braços da mãe e a atirava pela janela. O grito de Aline despertou-o. Ele tateou a procura dos óculos, caídos atrás do travesseiro, e olhou assustado para o lado. Viu as costas da namorada, que dormia a sono solto.
"Você está um pouco crescidinho para acordar com pesadelos, Harry Potter.", pensou consigo.
Aconchegou-se a ela. Aline se mexeu e virou uma cara de sono para ele.
- Já está na hora de irmos?
- Não. Ainda devem ser umas três da manhã. - Ele deitou-se de costas, admirando o teto iluminado pela lareira. - Desculpe a falta de tato.
- Sem essa, Harry. - Aline ajeitou o corpo de maneira a apoiar a cabeça no peito do namorado e voltou a fechar os olhos.
- Harry... - Ela murmurou, testando se ele ainda estava acordado.
- Hum?...
- Posso fazer uma pergunta pessoal?
- Ora, Elenna Hunter, para que tanta formalidade? Entre dois amantes tudo é permitido.
- Oh, não! O proclamador de provérbios ataca!... Sério... Você e Cho chegaram a... você sabe... a fazer...
- O que? Você quer saber se Cho e eu passamos do limite?... Isso é importante?
- Não, é só que eu pensei... bem, vocês namoraram um ano, não é mesmo? E este quarto aqui, tão providencial que só você conhece...
Harry riu baixinho nos cabelos dela, passando mansamente a mão pela cintura e o quadril da namorada.
- Você ainda está enciumada? Eu não acredito, Elenna...
- E você está mudando de assunto!
- Está bem... - Harry suspirou, resignado. - Cho e eu não passamos do limite. Planejávamos para o aniversário dela... - Foi a vez de Aline sorrir. - O que?
- Planejar?
- É, ué! A gente pensava em tudo: quando sentar-se à mesa de uma ou outra casa, os horários e dias de namorarmos. Era tudo muito explicado, viu? Até a Srta. Perturbadora da Paz chegar. Eu hoje vivo num constante mergulho de vassoura!... E esse quarto estava abandonado desde que vim para Hogwarts, mas foi Rony quem me mostrou há umas cinco semanas.
Aline fez cócegas nas costelas do namorado ("Eu sou perturbadora, é? Ora, seu..."), sem sair dos braços dele.
- Ei, ei, calma aí! - Harry conseguiu pará-la e Aline deitou-se ao seu lado.
- Foi chocante saber dela?
- Sim. - Harry virou e a encarou. - Será que ela e Malfoy estão juntos há muito tempo?
- Acho que não. Penso que foi uma união apenas para nos separar.
- Isso é péssimo... Ela tornou-se um deles por minha causa.
Aline franziu a testa.
- Proíbo-o de acreditar nisso, Harry! Ela está apenas lutando por você, não quer dizer que ela seja uma Comensal da Morte. E, se for, terá sido uma escolha dela.
Harry assentiu.
- Eu e a minha mania de querer ser culpado de tudo, não é? Mas é que sempre acontece com pessoas ligadas a mim. - Ele estendeu a mão e contornou o rosto da namorada. - Cheguei a cogitar a hipótese de não voltarmos. Seria sensato nos afastarmos. - E voltou a fitar o teto.
Aline aninhou-se junto ao corpo dele e o jovem não pôde deixar de notar como eles se encaixavam perfeitamente. Ela acariciou e beijou o tórax e o abdômen dele. Por fim, pousou a cabeça no meio do peito de Harry.
- Sabia que gosto de dormir ouvindo seu coração? É como se fôssemos um ser uno.
- E nós somos, meu amor... Nós somos... - Murmurou ele, cerrando os olhos e dormindo com o agradável peso do corpo dela contra o seu, o perfume de flores frescas intenso como nunca.
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Aline deixou-se levar pela emoção, afinal ela sentia tanta falta da presença de Harry quanto ele sentia a dela.
A noite do baile serviu para esclarecer as suspeitas de ambos, mas foi uma noite. Nos dias seguintes, a garota continuou afastando-se gradualmente. O coração doía ao recusar seus convites para passear, ao afastá-lo quando ele a abraçava, contudo, não havia outro meio. Só ela sabia o quanto custava repudiá-lo.
O namorado sentia o relacionamento declinar novamente e uma enorme impotência diante do fato.
- Elfos podem ser tudo de bom, mas como têm a cabeça dura! - Reclamava com Rony.
- Continuo afirmando que ela está ocultando algo.
Ele desconfiava que tinha a ver com a descoberta de Cho, pois era quando os alunos da Corvinal ou da Sonserina estavam por perto que a namorada se retraia veementemente. Entretanto, não concebia tal ato de covardia de Elenna Hunter.
Hermione e Rony até tentaram uma reconciliação dos dois, mas ambos pediram para não interferirem - Aline por raiva, Harry por respeito à ela. Por isso, ele assistiu sem a menor empolgação todos os preparativos para o baile. - Não acredito que você não vai, Aline! Todos esses dias nos ajudando para nada? - Hermione já estava arrumada, sentada ao lado da amiga no dormitório. Gina estava em frente às duas.
- Mione, não existe razão para que eu vá! Fora vocês da Grifinória, não converso com ninguém; e, sejamos realistas, o que vou fazer num baile de namorados?! - Aline olhava ressentida para ela.
- Você e o Harry bem que poderiam parar...
- Por favor, deixe-o fora disso, ok? Já decidi e está decidido que eu não irei! Vão vocês e divirtam-se muito! - Aline exclamou, no que achou ser uma voz descontraída.
Hermione ainda tentou argumentar, sem obter resultado. Saiu triste e preocupada e Aline pôde ver como ela estava bonita numa veste azul-escura com pequenos pontos brilhantes, imitando de uma noite estrelada.
- Você não pode fazer isso. - Gina falou. - Está magoando seus amigos.
- Como assim?
- Se você ainda não percebeu, Rony e Mione empenharam-se para essa festa. - Gina explicava calmamente, como era seu feitio. - Eles pensaram que estariam ajudando a melhorar o clima no castelo; querem fazer as pessoas esquecerem um pouco o ataque e o disc...
- O discurso de Malfoy? É isso? - Aline a encarou curiosa, já adivinhando a resposta.
- Sim. - Gina olhou bem para a amiga. - Fizeram isso por você também. E seria, no mínimo, indelicado de sua parte não comparecer.
Aline encarou-a alguns instantes, pensando no que ela dissera, e, infelizmente, fazia sentido. Baixou os olhos, envergonhada.
- Tem razão, Gina. Estou sendo egoísta. Vá, Sig deve estar impaciente. Vou me arrumar e desço quando puder.
Ela não viu o sorriso no rosto da amiga quando esta levantou e esvoaçou a veste dourada porta a fora.
No dormitório masculino, Rony estava tendo mais dificuldade com Harry, talvez devido a sua pouca paciência.
- Você realmente quer perder a festa? Vai ser ótima! Os elfos domésticos trabalharam o dia todo, a empresa de decoração arrumou o salão e o saguão, vai ter música trouxa também...
- Já sei de tudo isso, Rony. É a décima quinta vez que você me lista as maravilhas desse baile. Leia os meus lábios: EU-NÃO-VOU. Eu não vou! - Harry começava a se irritar com a insistência.
- Bom, não sei como não percebi isso antes. - Rony resolveu jogar sujo. Tinha prometido a Mione arrastá-lo para o salão. - É claro que você não vai! Aline também não. Acho que vocês vão ficar fazendo companhia um para o outro aqui!
- Ela não vai? Mas ela ajudou em todos os preparativos! - Harry foi pego de surpresa, e mordeu a isca.
- Pois é. Ela disse que estava doente; então é claro que você vai ficar, não é?
Os dois sozinhos na torre seria uma oportunidade para conversarem, mas sabia que Aline não o procuraria e ele definitivamente acreditava que a namorada ainda estava ressentida. E, afinal, não seria tão mau dar só uma espiadinha no lugar, nem que fosse para tomar umas cervejas amanteigadas e adquirir coragem para enfrentá-la.
- Está bem. Troco de roupa e encontro vocês lá.
Rony abriu um sorriso de orelha a orelha e saiu do quarto com sua veste de gala cinzenta, encontrando Mione na sala comunal.
- E então? - Perguntou a garota, ansiosa.
- Você acha que alguém resiste a mim? - O namorado a enlaçou pela cintura e beijou-a levemente. - Ele virá daqui a pouco. E Aline?
- Acabei de deixá-la com Gina.
- Gina conseguirá convencê-la. A minha irmãzinha herdou a retórica da família! Que tal a gente ir? Você, como monitora-chefe, deve supervisionar a chegada dos casais apaixonados!
- Já pensei nisso, Sr. Weasley! - Mione beijou-o com um sorriso maroto. - Os outros monitores estão lá e cuidarão de tudo até a nossa chegada.
- Que será o mais rápido possível! - Os dois já saíam pelo buraco do retrato quando Gina alcançou-os.
- Ela virá! Essa festa vai ser ótima! - Exclamou, excitada. - Vamos gente, Sig deve estar fazendo buracos no saguão de tanto esperar!
*********************************************************************
Harry não demorou vinte minutos para trocar de roupa, mas só apareceu no saguão de entrada mais de uma hora depois de Rony sair do dormitório. Ele ficou sentado na janela, observando a noite limpa.
- Parou de nevar. Agora os casais têm chance de escapar de Snape e seus feitiços explosivos.
Esquadrinhou cada centímetro da sala comunal antes de descer para certificar-se que Aline não estava lá. O aposento estava silencioso.
"Talvez esteja precisando de ajuda." - Pensou ao não encontrá-la. - "Voltarei cedo para procurá-la."
À medida que descia as escadas, um perfume agradável de flores frescas invadia seus sentidos. Ao chegar ao saguão, descobriu que várias mesinhas com cadeiras acolchoadas foram dispostas até a porta de entrada do castelo. Flutuando, acima delas, lamparinas de âmbar irradiavam uma luz suave e dourada, iluminando os grupos sentados ao redor de copos de cerveja e vinho quente.
A atmosfera estava repleta de pequenas gotinhas brilhantes, que às vezes grudavam nos cabelos ou rostos de alguém, arrematando o ambiente de sonho.
Harry teria sentado-se numa das poltronas se a visão do salão principal não o tivesse arrastado.
Mesas apareceram logo à entrada e estavam ao redor da pista de dança. A iluminação era mais clara que a do saguão, mas a pista estava na penumbra. Músicas românticas embalavam os casais que dançavam agarradinhos e ele reconheceu algumas da caixa musical, fazendo seu coração se apertar.
Forçando um pouco a visão, Harry distinguiu Gina e Sig dançando perto dele. O garoto o viu, chamou a atenção da namorada e os dois acenaram. Harry retribuiu. Rony e Mione pareciam muito felizes, rindo um para o outro. Dino e Lilá beijavam-se apaixonadamente, assim como Simas e Parvati. "O que estou fazendo aqui? Papel de palhaço!"
A pista lotada de repente começou a mover-se freneticamente, sacudindo Harry de seus pensamentos. Começava uma musica agitada, e os casais se separavam com passos ousados.
- Agora que você chegou, Harry? - Mione aproximou-se, puxando Rony pela mão. - O que achou?
- Bem romântico. Gostei do perfume, embora não veja nenhuma flor...
- Flor? Do que você... - Rony tinha os olhos brilhantes de alegria, e Harry sentiu-se pior ainda. - Ah! Esse é o toque de Hermione Granger. O ar foi enfeitiçado para ter o perfume que associamos à pessoa amada. Eu sinto um cheiro meio amadeirado, meio cítrico.
- E eu um perfume de fruta no ponto. - Riu Mione.
- Entretanto, acho que não vou ficar muito. Não tenho nada a fazer aqui, vocês entendem...
- Tadinho do Potter... Chorando a perda da namoradinha?
Harry virou-se com violência em direção a Draco Malfoy. Ele estava de braços dados com a namorada, Pansy Parkinson. Ambos exibiam sorrisos cínicos idênticos.
- Suma daqui, Malfoy! - Harry cerrou os punhos, falando entredentes. - A conversa não chegou às masmorras!
Malfoy descontraiu os lábios e sibilou:
- Também, quem iria querer um perdedor inútil como você, Potter? - E acrescentou, aproximando-se perigosamente de Harry. - Ela não vai ficar sozinha muito tempo. Ouvi comentários de que e elfa é uma delícia na cama!
SOC! PUM!
Harry acertara o queixo de Malfoy, fazendo-o cair sobre uma mesinha, onde estavam dois casais da Corvinal, e pulou sobre ele, socando e apanhando, até que Rony e Sig os separaram.
- Desapareça, seu verme! Você causou estragos para uma vida! - Sig disse com desprezo, atirando Malfoy para o saguão. Pansy seguiu o namorado, tentando limpar o sangue na boca dele.
Harry ganhara um olho roxo e um corte no lábio. Ainda bem que a briga fora num lugar onde havia pouca gente. A maioria dançava.
- Venha, vamos tomar alguma coisa. - Sugeriu Rony, levando-o para o outro lado do salão, em direção à mesa do buffet. - Para tirar o gosto amargo da boca.
Foi ao virar-se novamente para a pista, depois de abastecer uma caneca de cerveja amanteigada, que ele a viu.
Aline estava sentada numa mesa próxima, acompanhada por Sinistra, Snape, Dumbledore e McGonagall. Os professores conversavam animados; a garota, porém, olhava-o fixamente. Vira a briga e sabia a razão, Harry podia sentir.
Ele entornou a caneca e encheu-a pela segunda vez. Olhando em direção à mesa, encontrou os olhos cinzentos postos nele. Aline estava linda num vestido negro de mangas compridas, os cabelos trançados com fios de prata, os olhos brilhantes.
Ao longe, uma música lenta começou. Ele reconheceu os acordes: Do you wanna dance. O universo conspirava contra ele. Ou seria a favor?
Ele só percebeu que navegava entre as mesas rumo aquele olhar quando o perfume de flores inebriou seus sentidos. Ele ouviu sua própria voz decidida:
- Você não pode me negar isso.
Aline não respondeu. Apenas levantou e estendeu a mão. Harry a conduziu para a pista e eles tomaram posição de dança, extremamente tímidos. "Pelo menos para alguma coisa serviram as aulas de dança com Cho". Ele mirava um ponto acima do ombro de Aline. Quando a música estava terminando, arriscou um olhar e constatou que os olhos dela continuavam fixos nele e que havia lágrimas neles.
O rapaz engoliu em seco. Não conseguia desviar a atenção de Aline. As lágrimas desciam pelo rosto molhando seu vestido, mas ela não emitia um único som.
- Perdoe-me. - Sussurrou. - Sei que fui um imbecil, mas quero consertar tudo. Por favor...
- Por que?... - Um fiapo da voz de Aline libertou-se da garganta apertada. - Por que você fez isso conosco?
Harry surpreendeu-se quando ela enterrou o rosto em seu ombro. Não notou que várias pessoas admiravam a interação deles, toda a atenção voltada para Aline.
- Sssh... Calma. - Dizia baixinho, enquanto acariciava a cabeça dela. - Foi você quem sugeriu a trilha sonora? - Perguntou para animá-la, pois ouviu Still Loving You, do Scorpions, em seguida The great pretender, com The Platters. - Excelentes escolhas!
Aline voltou o rosto para ele, sem tirar a cabeça do apoio, mas não disse nada. O rapaz sentiu a respiração acelerada e quente dela e virou-se. Nenhum dos dois sentiu os lábios se aproximarem e se encostarem.
Harry investiu tudo naquele beijo com gosto salgado. Abraçou-a mais forte pela cintura, os lábios cheios de paixão. Aline não esboçou reação: nem correspondeu, tão pouco o rechaçou.
Então ele parou. Os olhos continuavam abertos como faróis, mas o brilho era mais intenso. As lágrimas continuavam caindo. Não adiantara.
- Preciso voltar à torre. - Declarou de súbito, soltando-a. - Aproveite a festa. - E virou-se para a porta, mas Aline o segurou.
- Quero ir até o jardim. - A voz soou firme. Harry levou-a pela pista, por entre as mesinhas, até alcançarem a porta de entrada.
Vários casais agora passeavam por uma área de jardim próxima, protegida por feitiços novos, Aline constatou. Estariam seguros.
Ele virou-se para ela, depois de caminharem até o limite do escudo protetor.
- Elenna, eu realmente sinto mui... - A garota colocou a mão na boca dele.
- Não diga nada. - Sussurrou ela, enquanto passava a mão pelos cabelos e a nuca dele, antes de beijá-lo.
Um senhor beijo. Pareciam dispostos a matar a sede das duas semanas de separação num gole só. Aline sentia os lábios dele nos dela com força, enquanto as mãos de Harry deslizavam por seus ombros e braços. Ela estremeceu ao toque em suas costas e o rapaz a abraçava mais e mais.
Quando pararam para tomar fôlego, Harry achou por bem esclarecer a situação.
- Isso significa que estou perdoado?
- Sim. Eu fui uma tola. - Aline estava vermelha de calor. - Uma idiota. Era óbvio que você tinha sido envenenado.
- Como você tem certeza?
- Ao me beijar lá dentro, você tinha gosto de cerveja e poção Desnorteante.
- Aquela que faz a pessoa ter reações exageradas?
- Você pode até ter ciúmes do Fabian. - Aline olhou-o séria. - Um sentimento sem propósito, devo acrescentar. Mas nunca agiria daquela forma.
- Quem poderia ser? Não imagino ninguém... Talvez o Malfoy, se bem que ele precisaria colocar a poção na comida, ou no suco...
- Descobriremos quem foi. De qualquer forma, o efeito dura poucos dias... - Aline segurou as mãos dele. - Sou eu que peço desculpas por ter ficado cega de raiva.
O garoto abriu um sorriso de orelha a orelha e acariciou o rosto dela.
- Estamos quites. Melhor, estamos perdoados! - E beijou-a novamente. Um beijo mais calmo, que foi descendo para o pescoço da namorada. - Acho que merecemos uma comemoração especial pela nossa reconciliação, que tal?
- Não sei, Harry. - A respiração de Aline estava forte, o corpo tremendo de desejo. - É arriscado.
- Podemos usar a minha capa. Prometo que não vai ter risco... Ah, não! - Exclamou de repente, puxando a garota para baixo. Os dois rolaram na grama molhada, pois estavam num terreno irregular.
- Harry Potter, que você pensa q... - Aline foi interrompida em sua indignação pela mão do namorado.
- Snape. - Ele mais apontou que falou. Ela seguiu o dedo e viu que o padrinho aparecera à porta e ralhava com vários alunos apanhados no flagra.
Harry retirou a mão e rolou, deitando de costas na grama.
- Esperamos que ele volte para o interior do castelo. - E enlaçou seus dedos nos de Aline.
Imediatamente pôs-se em alerta. Tinha ouvido uma risadinha abafada. Olhou para a namorada, que fez sinal de que também tinha ouvido, mostrando de onde vinha: um arbusto próximo.
"Vamos embora." Harry assentiu e eles sentaram-se para partir.
- Assim não, Draco. - Harry estancou. Conhecia aquele gemido. Seus olhos arregalaram-se e ele sinalizou para ficarem.
- Vai ser bom, minha querida. Você vai ver. - Malfoy tinha a voz abafada. - Darei tudo que aquele incompetente negou...
Ouviu-se um suspiro alto.
- Eles não vão ficar juntos, não é Draco? - A voz da garota denotava falta de fôlego.
Cho Chang. - Harry transmitiu para Aline.
- Não depois do servicinho que você fez, querida... Vem cá, vem! Você é tão linda!
Aline ouviu o que precisava e puxou Harry para subirem e entrarem no castelo. rapidamente limpou as vestes dele e seu vestido. Ela não sabia o que fazer, pois o namorado apresentava-se incrédulo.
- Como pode? Não é possível. - Repetia, desiludido.
Ela pensou em procurar Mione ou Gina, mas descartou essa possibilidade. Seria indelicado atrapalhá-las. Resolveu subir para a torre. Tentou falar com Harry, mas ele não tinha outro assunto.
- Você não vê, Elenna? Eu namorei aquela menina! Agora ela está lá, agarrando o Malfoy...
- Como se você não tivesse outra pessoa também, não é?
- Mas é diferente.
- O que importa é que sabemos quem te enfeitiçou. - Aline já se irritava com aquilo. Por que ele dava tanta atenção a Cho?
- Simplesmente não acredito! Ela me traiu.
Aline agüentou até a sala comunal, quando viu Rony sentado perto das escadas dos dormitórios.
- Vocês dois, hein!? - Disse ele, com um olhar triunfante. - Sabiam que metade do castelo sabe da volta?
- Rony, ela me envenenou! - Harry apressou-se a comunicar.
- Quem? Aline?
- Cho. Ela estava com Malfoy e ouvimos a confissão. - Aline informou. - O que você está fazendo aqui? Onde está Mione?
- No dormitório. Tábata Graile-Rerem sentiu-se mal. Deveres de monitora. E vocês?
- Seu amigo ficou magoadíssimo, então não havia mais clima para nada, não é mesmo? - A garota olhou chateada para um Harry com os olhos ainda arregalados e cara de espanto. - Não sou obrigada a ver isso! - Disse, enfática, passando por Rony e subindo para o quarto.
O amigo observou Harry por um momento.
- Rony, ela me envenenou. Não posso confiar em ninguém!
- Você é um idiota, Harry Potter!
- O que? Como assim?
- Que parte você não entendeu: o idiota ou o Harry Potter? A garota faz as pazes, dá uma chance e você fica todo besta porque a sua "ex" está com o Malfoy?
- Não é nada disso! Vocês não entendem? Ela é uma aluna e me conhece bem. Se estiver trabalhando com Voldemort ("Quer fazer o favor de dizer Você-sabe-quem?")... Estou me lixando para ela com aquela lombriga!
- Não foi isso que Aline e eu entendemos. Acho melhor você correr e explicar a ela, antes que seja tarde.
- Garotas! - Exclamou Harry, mas subiu os degraus de dois em dois, parando diante da porta com a plaqueta: "Alunas de 7º ano".
- Aline, vamos conversar. - Berrava, esmurrando a porta. - Você entendeu tudo errado.
Esperou. Nenhuma resposta.
- Aline, abra isso! Você precisa me ouvir!
- Chega por hoje, Potter! - A voz dela estava próxima. Devia estar encostada na porta.
- Querida, por favor. Eu não quero saber com quem Cho Chang está! Eu não me importo. - Baixou a voz. - Fiquei chateado por ela ser uma aluna que se bandeou para o outro lado, como você ficaria se um conhecido seu mudasse de partido. - Parou para escutar. Nenhum ruído.
Click!
A chave girou na fechadura. Ele encarou Aline. Antes que ela pudesse formular algum protesto, Harry agarrou-a pelos ombros e a beijou.
A garota fez esforços corajosos para se libertar, tentando empurrá- lo, mas logo se viu vencida e finalmente abraçou-o. Do aposento atrás dela vinha o murmúrio de vozes femininas:
- Nunca imaginei.... Ele sempre foi tão tímido! - Harry, com os olhos fechados, conseguia distinguir a voz de Parvati.
- Nossa! Se o Dino fizesse isso, eu iria ficar nas nuvens! - Aline sorriu com os lábios colados aos do rapaz.
- Vocês duas não têm mais o que fazer? - Hermione soou indignada. O casal soltou-se para olhá-la. - E vocês, dando showzinho em plena torre da Grifinória?! - A voz era de bronca, totalmente desacreditada pelo largo sorriso que a acompanhava. - Saiam da frente, sim?
Empurrou um pouco Aline e puxou as colegas escada a baixo. Os dois riram do gritinho de triunfo vindo da sala comunal.
- É tudo culpa desses dois! Eu ainda estou brava com você, sabia? - Aline afastou-o com as mãos, fazendo Harry parar na parede oposta.
- Acho que Gina e Sig têm participação também! - concluiu o garoto, puxando-a para si. - Temos que dar excelentes presentes de aniversário a eles, não concorda? - E beijou-a. - Onde é que estávamos ao sermos importunados? - Perguntou, já atacando o rosto e o pescoço da namorada.
Aline nem tentou fugir. Pendurou-se no pescoço do namorado e suspirou.
- Aonde iremos?
- Tenho o lugar ideal. - Sussurrou ele. - Espere por mim na sala comunal. Vou pegar a capa da invisibilidade.
A Mulher Gorda reclamou do trânsito incessante da noite ("Jovens! Todos inconseqüentes!") ao vê-los sair de mãos dadas.
Harry guiou Aline até uma sala o 4º andar, perto da sala de aula teórica de Astronomia. A garota respirava forte e tinha os dedos gelados.
- Encontrei esta sala há uns dias. Espere aqui fora um instante.
Aline esperou uns bons 15 minutos, encostada na parede. Então, ouviu música e descruzou os braços. Harry abriu a porta com um sorriso orgulhoso.
- Bem-vinda à nossa festa particular!
Ao mesmo tempo em que ele fechava a porta, ela se viu num quarto pequeno. Em um canto, um alegre fogo crepitava na lareira, a caixa musical aberta em cima; no outro, uma cama igual às do dormitório, só que maior. Pequeninas flores douradas decoravam o ambiente.
- Elanor! - Surpreendeu-se ela, pegando uma.
- Tentei conjurá-las o mais fielmente possível, seguindo a descrição do seu livro.
- São lindas!... São as minhas favoritas!
- Eu sei. As fiz com o seu cheiro... Senti o perfume de flores frescas a noite inteira. E ainda não terminou.
O garoto pegou um objeto do bolso e colocou-o no dedo de Aline. O anel de compromisso. Então, ele enlaçou-a e conduziu-a pelo cômodo calmamente ao som de Only you, Love is a many-splendored thing, My girl e outras canções românticas do repertório da caixa.
- Potter, você sabe criar um clima, não?
- Como você acha que consegui essa fama de garanhão? Eu trabalho como um elfo doméstico! Quer um pouco de vinho? Trouxe uma garrafa comigo.
E, é claro, depois eles cansaram de dançar; as carícias tornando-se mais ousadas, a respiração mais profunda, a temperatura aumentou consideravelmente. Eles se amaram sem pressa, tranqüilos, esquecendo-se das 70 e tantas regras quebradas naqueles momentos.
Bem mais tarde, Harry acordou sobressaltado. Sonhara com Cho e Malfoy invadindo uma casa, que ele sabia ser sua, e atacando Aline e um bebê. Sua filha. Ela arrancava a menina dos braços da mãe e a atirava pela janela. O grito de Aline despertou-o. Ele tateou a procura dos óculos, caídos atrás do travesseiro, e olhou assustado para o lado. Viu as costas da namorada, que dormia a sono solto.
"Você está um pouco crescidinho para acordar com pesadelos, Harry Potter.", pensou consigo.
Aconchegou-se a ela. Aline se mexeu e virou uma cara de sono para ele.
- Já está na hora de irmos?
- Não. Ainda devem ser umas três da manhã. - Ele deitou-se de costas, admirando o teto iluminado pela lareira. - Desculpe a falta de tato.
- Sem essa, Harry. - Aline ajeitou o corpo de maneira a apoiar a cabeça no peito do namorado e voltou a fechar os olhos.
- Harry... - Ela murmurou, testando se ele ainda estava acordado.
- Hum?...
- Posso fazer uma pergunta pessoal?
- Ora, Elenna Hunter, para que tanta formalidade? Entre dois amantes tudo é permitido.
- Oh, não! O proclamador de provérbios ataca!... Sério... Você e Cho chegaram a... você sabe... a fazer...
- O que? Você quer saber se Cho e eu passamos do limite?... Isso é importante?
- Não, é só que eu pensei... bem, vocês namoraram um ano, não é mesmo? E este quarto aqui, tão providencial que só você conhece...
Harry riu baixinho nos cabelos dela, passando mansamente a mão pela cintura e o quadril da namorada.
- Você ainda está enciumada? Eu não acredito, Elenna...
- E você está mudando de assunto!
- Está bem... - Harry suspirou, resignado. - Cho e eu não passamos do limite. Planejávamos para o aniversário dela... - Foi a vez de Aline sorrir. - O que?
- Planejar?
- É, ué! A gente pensava em tudo: quando sentar-se à mesa de uma ou outra casa, os horários e dias de namorarmos. Era tudo muito explicado, viu? Até a Srta. Perturbadora da Paz chegar. Eu hoje vivo num constante mergulho de vassoura!... E esse quarto estava abandonado desde que vim para Hogwarts, mas foi Rony quem me mostrou há umas cinco semanas.
Aline fez cócegas nas costelas do namorado ("Eu sou perturbadora, é? Ora, seu..."), sem sair dos braços dele.
- Ei, ei, calma aí! - Harry conseguiu pará-la e Aline deitou-se ao seu lado.
- Foi chocante saber dela?
- Sim. - Harry virou e a encarou. - Será que ela e Malfoy estão juntos há muito tempo?
- Acho que não. Penso que foi uma união apenas para nos separar.
- Isso é péssimo... Ela tornou-se um deles por minha causa.
Aline franziu a testa.
- Proíbo-o de acreditar nisso, Harry! Ela está apenas lutando por você, não quer dizer que ela seja uma Comensal da Morte. E, se for, terá sido uma escolha dela.
Harry assentiu.
- Eu e a minha mania de querer ser culpado de tudo, não é? Mas é que sempre acontece com pessoas ligadas a mim. - Ele estendeu a mão e contornou o rosto da namorada. - Cheguei a cogitar a hipótese de não voltarmos. Seria sensato nos afastarmos. - E voltou a fitar o teto.
Aline aninhou-se junto ao corpo dele e o jovem não pôde deixar de notar como eles se encaixavam perfeitamente. Ela acariciou e beijou o tórax e o abdômen dele. Por fim, pousou a cabeça no meio do peito de Harry.
- Sabia que gosto de dormir ouvindo seu coração? É como se fôssemos um ser uno.
- E nós somos, meu amor... Nós somos... - Murmurou ele, cerrando os olhos e dormindo com o agradável peso do corpo dela contra o seu, o perfume de flores frescas intenso como nunca.
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Aline deixou-se levar pela emoção, afinal ela sentia tanta falta da presença de Harry quanto ele sentia a dela.
A noite do baile serviu para esclarecer as suspeitas de ambos, mas foi uma noite. Nos dias seguintes, a garota continuou afastando-se gradualmente. O coração doía ao recusar seus convites para passear, ao afastá-lo quando ele a abraçava, contudo, não havia outro meio. Só ela sabia o quanto custava repudiá-lo.
O namorado sentia o relacionamento declinar novamente e uma enorme impotência diante do fato.
- Elfos podem ser tudo de bom, mas como têm a cabeça dura! - Reclamava com Rony.
- Continuo afirmando que ela está ocultando algo.
Ele desconfiava que tinha a ver com a descoberta de Cho, pois era quando os alunos da Corvinal ou da Sonserina estavam por perto que a namorada se retraia veementemente. Entretanto, não concebia tal ato de covardia de Elenna Hunter.
