Capítulo Vinte e quatro: A Separação
Enfim, o mistério foi desvendado na aula especial de astronomia. Todos os alunos do quinto ao sétimo ano foram reunidos no alto da Torre Oeste para ver o último eclipse lunar completo do século. O fenômeno seria objeto de estudo até o final das aulas, portanto todos deveriam tomar notas. A segurança fora reforçada, de modo que professores e monitores eram vistos em pontos estratégicos da torre.

Hermione escolheu um lugar perto do parapeito, de onde teriam uma visão melhor. Rony e Dino discutiam a hipótese de Você-Sabe-Quem aparecer naquele momento. Gina e Sig usavam um telescópio para ajudar Neville com as coordenadas. Lilá, Parvati e Harry anotavam os movimentos de Vênus cobrindo a lua branca.

Aline e Simas ajudavam a Profª Sinistra a explicar o poder da Lua em influenciar a vida das pessoas para um grupo de alunos da Lufa-Lufa. Apesar de estar um pouco afastada de Harry, seus sentidos estavam ligados nele. Mas nem mesmo toda a vigilância ou precognição preparou-a para o susto que levou.

Harry estava sentado displicente na amurada. Parara de escrever e analisava o objeto em sua mão. Eram os anéis de Aline, que ela emprestara para ele treinar com Rony esta tarde. Viu que os anéis emitiam uma fraca luz branca quando expostos à lua.

Aline realmente estava diferente. Nunca deixara de treinar com ele. Na penumbra do eclipse, os anéis iluminavam seu rosto. Os dele não faziam isso. Ia perguntar à namorada a razão, quando sentiu o esbarrão. Não notara a aproximação de Malfoy. Ele se atirou contra Harry. Aline virou-se um segundo antes, sem conseguir impedir.

Harry teve pouco tempo para reagir. Colocou a mão dos anéis embaixo do corpo e conjurou a ajuda do ar. Uma ventania se formou, transportando-o de volta. Mas ele pensou que estivesse indo para alguma estrela, o brilho ofuscando sua visão. Quando pousou, porém, a escuridão era total. A única coisa que conseguiu ver foram vultos cobrindo os olhos e uma figura radiante desaparecendo pela escada.

- Ela queria nos cegar!

- O que ela pensava que estava fazendo?

- Meus Deus, alguém apague a luz!

- Acho que nunca mais vou enxergar!

Rony tateava o ar à sua frente. Harry aproximou-se dele. Hermione esfregava o rosto, perguntando que diabos acontecia naquela escola.

- Abra os olhos, Rony!

- Harry, você não caiu?! O que está fazendo aqui em cima?

- Pensamos que você tivesse se esborrachado!

- Consegui me segurar graças aos anéis. Onde está Aline? O que foi todo aquele brilho?

- Ah, Harry... - Mione apenas murmurava, a voz pesarosa. - Acho que ela está numa grande encrenca dessa vez...

- Sem sombra de dúvida! Ela quase cegou todos nós. Olha o coitado do Simas. - Rony apontou o garoto desmaiado.

- O que houve?

- Não sei direito... Quando ela viu você caindo começou a brilhar. Olhava para Malfoy com tanto ódio! Levantou o braço e parece que ia jogar uma bola de luz nele; então, ela desistiu e saiu correndo... Harry, aonde você vai? Espere... Rony, vamos com ele!

Harry saiu correndo, imaginando onde Aline poderia se esconder. A garota, com certeza, tinha consciência do que fizera. Hermione e Rony o alcançaram facilmente, pois ele estava cansado pelo esforço de voar.

- Talvez ela esteja na torre de Grifinória.

- Vocês acham que ela iria para lá? Logo vai ter muita gente. Talvez o Corujal.

- Vamos procurar primeiro na Torre. Depois nos outros lugares, ok?

Os três andavam agora, Harry quase se arrastava pelas escadas e corredores. Quando chegaram à sala comunal, ele se atirou a uma poltrona e pediu que a amiga fosse verificar se Aline estava no dormitório. Ela voltou confirmando.

- Vi o brilho pela porta, mas não entrei. Vamos os três.

À medida que subiam, ouviam os soluços vindos do quarto. Já não havia tanto brilho, mas não precisaram acender as luzes para ver Aline arrumando as malas.

- Você está bem! - Ela correu e abraçou o namorado. Harry, mesmo fraco, conseguiu manter-se de pé.

- Claro que estou, graças aos seus anéis! - Sentaram-se e ele abraçou os ombros dela. Aline respirou fundo.

- O que foi aquilo? - Hermione perguntou com cautela.

- A pior coisa que fiz na vida! Revelei meu espírito para pessoas inocentes.

- Bem, não sei se entendo isso...

- Hermione, por favor, não é hora de interrogatório!

- Deixe, Rony. Preciso mesmo desabafar... e acredito poder confiar em vocês, em todo caso. Hermione, meu espírito não é como o seu ou o de Rony; ele queima minha carne. Se eu vivesse milhares de anos, como os Elfos puros, no final eu seria como um vidro brilhante aos seus olhos, entende?

- No dia do ataque dos dementadores, Harry e eu libertamos nossos espíritos momentaneamente, para dispersá-los. Por isso as queimaduras nos nossos corpos, especialmente no de Harry. Hoje foi a mesma coisa, só que não era o lugar certo. Espero não ter ferido ninguém, ou... Quase matei Draco...

- Você pensou que Malfoy tinha me matado?

- Sim, e eu jamais conseguiria viver sabendo que você morreu por minha causa!

- O que? Como assim por sua causa? Ele já detestava Harry antes de você vir para cá.

- Não pense que foi por sua causa, Aline. Malfoy não perderia uma chance de me prejudicar.

- Mas ele não desejava a sua namorada antes, desejava?

Os três a olharam estupefatos.

- Como assim, deseja? Ele tentou fazer alguma coisa com você?

- Não, porque ele nos teme. Mas eu soube do desejo dele desde a primeira vez que me viu. Malfoy me cobiça como o pai dele cobiçava minha mãe.

- Isso não faz sentido. Você deve estar imaginando coisas.

- Um dia contei a você que Lúcio Malfoy matara minha mãe. A razão é que ele a desejava, mas Laurëtinwe jamais seria dele. Então, ele tentou destruir meu pai. Foi à nossa casa para matar Timoth naquele dia. Está tudo se repetindo! Na última discussão que tivemos, senti que Draco estava disposto a tudo e temi por você. Por isso resolvi ficar longe. Agora vejo como errei. Se estivesse perto, ele não ousaria.

Um silêncio perturbador caiu sobre o quarto. Rony levantou a cabeça ao ouvir barulho de gente na torre.

- Eles voltaram. Harry, temos que ir.

- Não podemos deixar as duas aqui, sozinhas. As outras garotas podem agir com violência.

- Eu não posso mais ficar aqui. - Aline levantava-se para continuar arrumando as malas. - Já causei problemas suficientes.

Nenhum dos amigos tentou detê-la. Não sabiam o que fazer. A garota começou a jogar suas roupas e livros dentro das malas.

"Por favor, Elenna, deve haver outra solução. Vamos falar com Dumbledore. Ele dará um jeito!"

"Harry, é impossível ficar. Estarei colocando sua vida em risco, mais do que ela já está. E deveria protegê-lo. Não contava com Malfoy..."

"Se você for, irei também. Hogwarts não pode expulsar quem luta contra as trevas!"

- Srta. Hunter, o Prof. Dumbledore deseja vê-la imediatamente.

A Profª McGonagall estava parada na soleira da porta, extremamente séria. Os quatro se assustaram ao ouvir sua voz. Hermione ia protestar, mas Aline impediu.

- Estou com a bagagem pronta, professora.

- Siga-me, mocinha! - E virou-se, descendo as escadas.

Aline saiu do quarto e deu com as caras zangadas dos colegas. Alguns vaiavam, outros esfregavam os olhos ainda sob o efeito da luz; muitos faziam caretas. Ela procurava não olhar para eles. Os amigos vinham atrás como podiam. Quando chegou ao pé da escada teve que parar. Havia muita gente em volta. A maioria gritava palavras desagradáveis, até que a professora ordenou que saíssem do caminho. Foi aí que sentiu a mão de Harry pegando a sua. Virou-se para ele.

"Não adianta brigar. Não vou soltar!"

Um sorriso apareceu antes que ela pudesse refreá-lo. Os dois seguiram a professora através do retrato, por corredores e escadas, até chegarem à sala do diretor.

Alvos Dumbledore encontrava-se sentado em sua mesa, com a cabeça apoiada nas mãos, absorto em pensamentos. A vice-diretora pigarreou para chamar sua atenção.

- Prof. Dumbledore, aqui está a Srta. Hunter. Não pude impedir Potter de vir também.

- Deixe-o, por favor, Minerva. Afinal, é do interesse dele o que decidirmos.

Dumbledore olhou para os dois jovens. Aline, resoluta e triste; Harry, raivoso e temeroso. Os garotos sentiram os olhos do professor percorrerem seus pensamentos, examinando suas vontades.

- Sentem-se. - A voz não denotava raiva e sim preocupação.

- Primeiro, Harry, gostaria de informá-lo que o Sr. Malfoy já foi punido pelo descuido que resultou em sua queda. Fico contente em ver que você tem treinado e conseguiu escapar de uma queda feia.

- Não foi descuido, professor. Ele queria acabar comigo.

- Nunca acuse alguém sem provas, Harry. Se não temos provas de que ele agiu de forma premeditada, ele é inocente.

- Quanto à senhorita, queira por favor explicar a razão da sua reação.

Aline encarava Dumbledore, mas não conseguiu dizer nada por algum tempo.

- Acreditei que Harry tivesse sido atacado. Desde o ataque dos dementadores estive em constante alerta, senhor. Quando vi o que tinha acontecido não me controlei. Espero que ninguém tenha sido ferido.

- Quanto a isso, pode ficar descansada. - respondeu a professora. - Simas Finnigan era quem estava mais próximo e Madame Pomfrey garantiu que ele ficará bem.

- Você tem consciência do que fez, Aline?

- Sim, professor. Fui precipitada e isso foi um enorme erro.

- Você sabe o que isso significa?

- O senhor não vai mandá-la embora, vai? - Harry não conseguia ficar quieto. - O senhor sabe que ela não fez por mal.

- Harry, Aline sabe melhor que qualquer um aqui que grandes poderes implicam grandes responsabilidades e conseqüências.

- Vocês todos se esquecem que ela é humana? Parem de cobrar tanta sabedoria e prudência! Ela tem o direito de explodir com tanta pressão!

- Não, não tenho, Harry. - Ela o olhava com uma firmeza inexistente na voz. - Infelizmente, as minhas explosões podem destruir pessoas.

- Amanhã Timoth estará aqui para levá-la.

- Não! Se ela for eu irei junto. Como o senhor pode deixar Malfoy aqui e mandar Aline embora.

- Harry, as férias da Páscoa serão em duas semanas. Vamos apenas antecipar as de Aline. Creio que ela não agüentaria ficar no castelo. Durante o feriado decidiremos o que fazer. O melhor, por enquanto, é tirá-la daqui. Sinto muito. Pelos dois. Minerva, gostaria que você os acompanhasse à torre de Grifinória e dissesse aos alunos para terem paciência, nada de acusações. Tenho que escrever a Timoth e aos pais de Simas. Boa noite a todos.
Quando chegaram à sala comunal, Rony correu ao encontro deles.

- A coisa está complicada. Lilá e Parvati não querem Aline no quarto. Hermione e Gina estão trazendo as malas aqui para baixo.

- Onde ela vai dormir? Professora, a senhora não pode fazer nada?

McGonagall falou e discutiu em vão. Nenhuma garota queria Aline por perto. O máximo que a professora conseguiu foi deixarem que ela ficasse na sala comunal até o dia seguinte. Rony ajudou a arrumar a bagagem num canto da sala. Harry não saía de perto da namorada, caso alguém passasse dos limites.

- Talvez fosse melhor a senhorita dormir nos meus aposentos, Srta. Hunter.

- Não, obrigada. Estarei bem aqui.

Quando a professora saiu, os cinco sentaram no canto mais afastado e ficaram ali até a sala se esvaziar, o que levou um tempo espantosamente curto.

- Bem, podemos colocar seu colchão perto da lareira. Ninguém mais vai descer hoje.

Quando ficou bastante tarde, os amigos foram deitar também.

Harry passou muito tempo virando de um lado para o outro. Como podiam fazer isso? Logo com ela! Tanta gente não merecia sequer ter entrado na escola! Timoth Hunter tinha razão de não querer ficar em Hogwarts. Provavelmente teria sido expulso também. O que podia fazer? Tinha que ajudar!

Com esses pensamentos ele se viu saindo do quarto e aparecendo na penumbra da sala. Aline estava sentada com o rosto virado para a lareira. A luz do fogo brincava no rosto sério da garota. Ouviu baixinho Scorpions cantando Lady Starlight com a Filarmônica de Berlim.

- Olá, gentil senhorita. Posso me sentar ao seu lado? Todos os outros lugares estão ocupados! A senhorita parece um tanto triste. O que a aflige?

- Nada, a não ser a idéia de deixar pessoas que aprendi a amar.

- E elas não a amam?

- Penso que sim.

- E por que a deixam partir?

- Não podem evitar. Têm medo de mim agora.

- Isso não é muito inteligente. Eu não temo a senhorita.

- Bom, talvez o senhor não saiba com quem está lidando!

- Ah, um sorriso! Isso decididamente é uma evolução... A senhorita parece um tanto cansada. Não quer se deitar? Eu faço companhia.

Aline estava realmente exausta. Deitou-se e Harry a cobriu. Depois, deitou- se ao seu lado.

Ela aconchegou-se ao corpo dele.

- Harry, por favor, prometa que você não sairá de Hogwarts.

- Por que? - Perguntou ele, beijando a cabeça da namorada.

- Apenas prometa e eu partirei mais aliviada... Por favor.

- Ok. Eu prometo, mas não pense nisso. Feche os olhos e deixe-me cuidar de você um pouco. - Ficou acariciando os longos cabelos e confortando-a até o sono os apanhar.
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Timoth Hunter recebera o aviso de madrugada e antes do amanhecer apareceu para levar a filha.

- Parece que aconteceu o que eu sempre temi, Dumbledore.

- Você não confia em Elenna, Timoth?

- Confio mais nela do que em mim. Refiro-me a Malfoy. Desde que soube dele aqui esperava algo assim.

- Calma, Tim. Aline está bastante perturbada em deixar Hogwarts e, principalmente, Harry Potter. Espero que ela possa voltar.

- Sinto pelos dois. Não queria o envolvimento deles, mas era inevitável. A missão dela levava a isso. Vamos buscá-la.

Encontraram os dois dormindo tranqüilos nos braços um do outro. Dumbledore esbarrou numa mesa, deixando cair vários livros. Eles acordaram assustados. Harry, olhando os bruxos, levantou-se rápido.

- Desculpem, Sr. Hunter, Prof. Dumbledore. Não é o que estão pensando!...

- Você não sabe quais são os meus pensamentos, Harry. Não teve tempo de lê- los! - Timoth sorriu. - Acalme-se, rapaz. - Abaixou-se e beijou a filha. - Então, a desordeira está pronta para umas férias com o papai? Temos que ir antes que os outros acordem.

As malas no carro, despedidas com promessas de "te vejo logo" da parte de Gina, Sig, Rony e Hermione; triste e sem palavras da parte de Harry. Severo Snape estava presente, bem como Minerva McGonagall e Rúbeo Hagrid. Os Hunter entraram no carro e saíram da propriedade sem olhar para trás.