Capítulo Vinte e seis: A guerra
Garotos correndo de um lado para o outro. Estátuas derrubadas, malas abertas com roupas caídas, mesas reviradas. Livros jaziam abandonados na biblioteca ou nas salas de aula deixadas às pressas. Algumas pessoas simplesmente desabavam pelos corredores e precisavam ser levadas à ala hospitalar. Os monitores pouco podiam fazer para restabelecer a ordem. Os professores não eram encontrados, a não ser que se procurasse nas torres e extremos da propriedade.
- Jamais imaginei que eles tivessem o atrevimento de atacar a escola! - Minerva McGonagall estava apavorada e furiosa.
- Eles realmente foram longe demais! - A voz do pequeno Fiodr Flitiwick soou mais aguda que de costume.
- Querem nos pegar todos juntos. É mais útil. Uma vitória completa. - Severo Snape observava os jardins da janela.
- Senhores, não é hora para deliberações. Precisamos agir! - Dumbledore irradiava poder por todos os poros da pele. Seus olhos azuis faiscavam. - Os alunos precisam ser removidos imediatamente. Forças do Ministério estão a caminho.
- Penso que não chegarão a tempo!
- Mesmo assim devemos resistir, Severo. É nosso dever. A hora não poderia ser mais negra, mas nossa coragem pode vencer o medo. Todos aos seus postos!
O saguão estava apinhado de gente. Hagrid levava pequenos grupos para as carruagens e encaminhava-os para o trem. O sol se punha para uma noite de pouca esperança.
Quando a terceira remessa de carruagens chegou ao limite da propriedade, um forte estampido arrepiou os cabelos de todos. Um raio vermelho suspendeu a primeira carruagem da fila e arremessou-a de encontro à que vinha atrás.
Gritos de pânico, correria; os alunos voltavam aos tropeços para o castelo. As portas bateram com estrondo. Uma névoa escura invadia todo o gramado, seguida por centenas de vultos negros iluminados pelas varinhas em riste. Estavam presos.
Os bruxos seguiam rápidos e logo cercaram a escola. Dez figuras destacaram- se da massa negra e começaram a forçar a pesada porta de carvalho. Do outro lado, Snape e McGonagall tentavam mantê-la fechada enquanto os outros professores levavam os alunos para cima e para o Salão Principal. Dumbledore subira à torre e convocava ajuda ao mesmo tempo em que procurava afastar os arrombadores.
Quanto tempo ficaram naquelas posições ele não soube. Suas investidas surtiam pouco efeito contra centenas de bruxos decididos. Quando a escuridão tomou conta do céu, enfim surgiram dezenas de vassouras do esquadrão do Ministério descendo rasantes sobre a horda. Vultos caíram atingidos por seus feitiços. Parecia um espetáculo de luzes vermelhas, azuis, verdes; todas riscando a noite desesperada.
Então ele chegou.
Lord Voldemort vinha animando seu exército, abrindo caminho até estar em frente à porta. Ergueu a varinha e arremessou-a longe. Seus seguidores, estimulados pelo mestre, derrubavam os bruxos das vassouras, enquanto os demais entravam correndo no castelo.
Quem estava no saguão na hora da explosão recuou imediatamente diante dos olhos vermelhos de Voldemort. Mas ele não entrou. Antes ordenou que os Comensais limpassem o ambiente, o que fizeram com eficácia. Diversos alunos morreram antes de saber como foram atingidos. Os professores tinham que lutar contra cinco ou seis bruxos de uma única vez.
Os gritos de sofrimento eram ouvidos na torre de Grifinória, onde vários jovens se refugiaram amedrontados.
- Entraram. Eles entraram! Estamos perdidos!
Hermione se agarrava ao braço de Rony com tanta força que o deixou dormente. Gina escondia o rosto no peito de Siegfried (ele recusara-se a deixá-la e ir para sua Casa). Eles não tiveram tempo de fugir para o trem. Harry observava da janela a movimentação no gramado.
- Voldemort chegou.
Harrry Potter não queria estar ali. Tentara permanecer no saguão, mas Snape não permitira, para espanto de todos. O garoto sabia que o professor estava pensando na afilhada ao ameaçá-lo com a varinha, mandando-o ficar na torre.
- Você-Sabe-Quem?! Agora estamos perdidos! - Gina segurava-se em Sig. Harry não sabia qual casal tremia mais. - Nem Dumbledore pode lutar contra centenas de bruxos e Você-Sabe-Quem ao mesmo tempo!
Mais tropas do Ministério chegaram, desta vez por terra. Algumas vassouras pousaram nos terraços do castelo. Agora os atacantes estavam cercados, começando a sofrer baixas mais contundentes. Mas dezenas haviam entrado no castelo, e Voldemort desaparecera.
Os combatentes caíam vitimados por toda espécie de feitiços cruéis. Alguns faziam desaparecer partes do corpo (olhos, pernas ou braços), outros explodiam as veias e artérias, provocando hemorragias; outros ainda torturavam os oponentes, ou simplesmente os matavam rapidamente. Nunca, em toda a história da Comunidade Bruxa, bruxos cometeram tantas atrocidades contra bruxos.
Foi esse o cenário que Aline Hunter viu abaixo das nuvens, sobrevoando a propriedade com o grupo de Timoth. Profundamente concentrados, Sirius, Lupin, Arabella, Fabian, Hannah e Ângela analisavam a situação.
- Desceremos na torre. - Fabian armava a estratégia. - A batalha fora do castelo pode ficar à cargo do Ministério. Voldemort e seus seguidores mais perigosos estão dentro da escola.
- Não podemos ser vistos. A surpresa é a nossa principal arma. - As irmãs Bastian sabiam que não conseguiriam ficar invisíveis nos céus de Hogwarts. - Voaremos nesta altura, chegando pelo precipício.
- Vou sair. Não posso ficar aqui escutando essas pessoas morrendo!
Harry levantou-se de repente e abriu o malão procurando e Capa de Invisibilidade.
- Harry, por favor, não faça isso! Fique aqui. De que adianta você ir lá?
- De que adianta ficar? Se vou morrer, não vai ser parado aqui! Voldemort está "me" procurando!
- Pare de dizer tolices!
- Fiquem na torre. Não me sigam! - Saltou para fora da sala e bateu o retrato com um feitiço, barrando a saída com algumas cadeiras. Não ia ser responsável por mais mortes. Depois agarrou a varinha, colocou os anéis na mão esquerda e saiu correndo até a escadaria de mármore.
Do alto ele podia ver as faíscas dos feitiços nas paredes, em todos os andares. Quando alcançou os degraus, prosseguiu com cautela, escutando e olhando em todas as direções. O inimigo estava próximo, ele sentia.
O grupo pousou silencioso. Esconderam as vassouras na parte escura da torre e desceram cuidadosamente vários lances de escadas, chegando a um corredor estreito, virando à direita e saindo atrás de uma tapeçaria de salgueiro. A passagem abria-se para um amplo corredor e na parede ao fundo brilhavam as luzes da batalha.
Estavam no terceiro andar, e lá encontraram Minerva McGonagall e dois monitores lutando para defender um grupo assustado de alunos do segundo ano. Quatro bruxos encapuzados riam dos gritos que um dos garotos emitia quando atingido pela Maldição Cruciatus. Fabian e Lupin correram para ajudar, imobilizando rapidamente os bandidos.
A professora trancou-os numa sala vazia. Aline aconselhou a mandar os alunos para a torre pela passagem. Timoth sugeriu que se separassem e avançassem com extrema vigilância. Aline, Sirius, Arabella, Minerva, Ângela e Jasmin subiriam a escadaria principal; Timoth, Lupin, Fabian e Hannah desceriam até as masmorras.
"Ele está perto, pai. Você sente o terror do castelo?"
"Sim, mas ainda não sei onde. Tenha cuidado."
Harry escapara por pouco de um ataque. Dois assassinos perseguiam oficiais do Ministério escada à cima. Quase tropeçaram nele. Harry conseguira se esconder atrás de uma estátua do sétimo andar, bem em tempo de surpreender um Comensal, paralisá-lo e amarrá-lo.
A caminho do sexto andar, deparou-se com três garotas saindo correndo de uma sala, quando um raio trator as puxou de volta. Ouviu risadas grosseiras.
- Tem certeza que não são sangues-ruins? Não quero me infectar!
- E se forem? Essa aqui é bem gostosinha!
- Nós merecemos uma diversão, rapazes!
As meninas, que deviam ser do quinto ano, gritavam por socorro. Harry esgueirou-se até a porta. A cena que viu deixou-o nauseado. Três encapuzados apalpavam os corpos delas. Ele usou os anéis para jogá-los contra a parede, mas ao erguer a mão deixou-a sair da capa. Sentiu uma pancada e um quarto Comensal sobre ele, chutando e socando. A Capa da Invisibilidade caiu do rosto, um alvo fácil para o inimigo.
Lentamente, Harry ergueu a varinha e atingiu-o no abdômen. Levantou-se a tempo de defender-se dos outros, o feitiço tão forte que eles voaram pela janela. As garotas tinham desmaiado e, fraco, ele também teria sucumbido. Porém, pegou a capa e partiu, apoiando-se nas paredes de pedra.
O instrumento dava maior liberdade de movimentos e, claro, ele conseguia se aproximar dos atacantes com segurança. Arrancou a varinha de vários, imobilizando-os.
A capa, entretanto, não barrava a sensação de Voldemort. Eles estavam ligados pelo feitiço que não funcionara. A dor na cicatriz começara novamente quando ele tocou o corrimão para descer ao quinto andar. Encolheu- se e viu o que temia mais que tudo.
Alvo Dumbledore altivo e impassível. Diante dele cinco Comensais da Morte, petrificados. Mesmo assim, o diretor estava em guarda, apontando para alguém atrás das estátuas, fora da visão de Harry. Ele sabia quem era.
- Você não pode passar!
- Um velho acabado como você não pode me deter, Dumbledore. Saia do caminho! Ou vou matá-lo lentamente!
Uma risada fria e aguda congelou o sangue de Harry. O que ele poderia fazer?
- Voldemort, essa foi sua última jogada. A mais cruel e a mais desesperada. Seu exército está vencido. Não ouse me ameaçar em Hogwarts!
Ele não poderia se revelar sem distrair Dumbledore. Poderia atacar Voldemort mentalmente. Tentou relaxar, esquecer a incômoda dor. Não conseguia, pois a imagem de Voldemort invadia seus pensamentos se ele baixava a guarda; e a dor aumentava se ele lutasse contra ela. Ficou tonto e quase caiu da escada. Assim não ia funcionar.
Decidiu não afastar a dor, mas aceitá-la como parte dele, como seu cabelo ou sua cicatriz. Foi tão forte que lágrimas saíram de seus olhos, mas ele estava preparado. O Inimigo não conseguiria derrotá-lo. Começou a acostumar- se com a sensação. Era mais fácil agora que não precisava fazer duas coisas ao mesmo tempo. Só quando sentiu a mente firme, concentrou-se e procurou a mente de Voldemort. No entanto, outra presença interrompeu a conexão. Aline estava ali.
Por todos os andares, Aline e seus companheiros encontraram a mão de Voldemort. Seus fiéis seguidores destruíam tudo e todos no caminho. Ela ia à frente, usando o seu poder sensitivo para não caírem numa armadilha. Sirius ia ao seu lado, transformado em cachorro; Arabella, Minerva, Jasmin e Ângela vigiavam a retaguarda.
Entretanto, ela não conseguia estar alerta sempre. Num momento em que ela procurava por Harry (sabia que ele estava andando pelo castelo), seis bruxos pularam sobre eles, vindos de uma sala por onde passaram segundos antes. Rapidamente enfeitiçaram Arabella, paralisando-a; Minerva transformou-se na gata malhada, tentando escapar das mãos de dois encapuzados, mas acabou petrificada. Ângela não foi morta por dois graças a Sirius, que se atirou sobre eles, mordendo suas mãos, braços e pescoços. Jasmin acabou estuporada antes que pudesse se defender. Sirius correu para junto dela, aflito.
Mas eles se recuperaram rápido e teriam destruído o grupo se Aline não empunhasse o arco com precisão, acertando uma flecha na testa do bruxo que corria com uma adaga para apunhalá-la. Em seguida, com o auxiílio dos anéis, os fez levitar pelo vão das escadas, deixando que caíssem.
"Não podemos ficar aqui, Sirius. Voldemort está perto. Harry corre perigo. Eles estão com Dumbledore."
Sirius ficou confuso alguns instantes. Nunca tinham usado telepatia com ele. Voltou à sua forma humana e fez sinal para prosseguirem.
Seguiram por vários corredores vazios. Por isso, o som da discussão entre Dumbledore e Voldemort chegou-lhes bem antes de encontrá-los. Aproximaram- se devagar do canto da parede e viram os dois bruxos próximos à escadaria de mármore. Aline via o poder e a tensão palpável entre os dois. Poderosos e imponentes. Um duelo de nervos entre os maiores bruxos da atualidade. Voldemort estava de costas para eles.
"Se formos rápidos, podemos atacá-lo."
Todos os sentidos dela estavam concentrados nas duas figuras. Não podia tirar a atenção de Dumbledore antes de atingir o inimigo.
"Vou tentar avisar Dumbledore que estamos aqui. Espere um pouco."
Para ela era mais fácil. Conseguiu atingir Dumbledore e tranqüilizá-lo, antes que ele esboçasse qualquer sinal de perturbação. Foi quando recuou que sentiu outra presença.
"Harry está aqui, Sirius. No alto da escada. Está tentando atacar Voldemort."
Aline entrou em contato com Harry e lhe explicou o que fariam. Depois puxou o arco e escolheu uma flecha fina.
"Quando você atacar, eu atiro e Sirius o ataca. Temos que desarmá-lo em primeiro lugar."
A garota respirou fundo, preparou a flecha no arco e girou para atirar. Mas não percebera que duas bruxas se aproximavam, golpeando Sirius e ela.
Aline soltou um grito que tirou toda a concentração de Harry. Ele se levantou, deixando a capa escorregar pelos ombros. Voldemort se virara, porém voltou com fúria renovada. Dumbledore segurou o olhar assassino e teria vencido se a visão de Harry no alto da escada não tivesse precipitado seus movimentos. Voldemort apontou a varinha para Harry e Dumbledore só teve tempo de pular na frente do feitiço mortal. Caiu aos pés de Lord Voldemort.
Desesperado, Harry lançou-se sobre o bruxo e os dois lutaram ferozmente: mordendo, chutando, rasgando, aproximando-se perigosamente do peitoril.
Sirius recobrou o equilíbrio e jogou-se em cima das bruxas, a boca canina babando de raiva. Atingiu uma no pescoço; a outra recebeu uma patada no rosto. Aline já estava correndo em direção ao bolo de braços e pernas que era Harry e Voldemort quando eles caíram. Sirius passou voando por ela para descer a escada até o saguão. Foi interrompido por um casal que não usava capuz. Eram os Lestrange, que estiveram anos em Azkaban, aguardando o retorno de seu mestre. Servos fidelíssimos do Lord das Trevas.
- Crucio! - Gritaram os dois.
Conhecidos pela excepcional crueldade, eles lançaram a Maldição no cão preto. Sirius gania e uivava de dor. Fizeram o mesmo com Aline. Ela sentiu cada fibra de seu corpo esticar até a tensão máxima, depois se partir. Caiu no chão, gritando, sem conseguir respirar. Eles tiravam o feitiço e o lançavam novamente, para que a dor fosse maior. Mas o casal Lestrange nunca havia lutado com alguém de sangue élfico.
A Maldição não passava de controle mental. Levou alguns minutos para Aline se acostumar com a energia do feitiço, o que a deixou bastante machucada, debatendo-se no chão e nas paredes. Ao sintonizar sua energia com a da Maldição, ela conseguiu anular seu efeito. Os atacantes não acreditavam em seus olhos quando a garota levantou e os desarmou. Depois avançou sobre eles, com fogo nos olhos, e eles recuaram.
Sirius desmaiara com a dor, mas ainda respirava. Aline passou pelo enorme cão e atirou os inimigos contra a parede diversas vezes. Amarrou-os e dirigiu-se à escada.
Antes de descer, porém, ela ouviu um canto de ave poderoso. Olhou para cima e viu Fawkes voando devagar, até pousar sobre o corpo inerte do dono. A garota viu os olhos de contas da fênix piscarem, cheios de lágrimas. O tom de seu canto faria até o mais duro coração quebrar e chorar. Em meio ao desespero da cena, Fawkes começou a brilhar. O calor que emanava foi tão intenso que ela explodiu em chamas, envolvendo o corpo do bruxo. Não demorou muito e o belo pássaro reduzia-se a cinzas, das quais jamais renasceria.
Aline assistiu impassível. Uma sensação terrível apunhalou seu peito. Ela virou-se para a escada. Tentava correr e o corpo não correspondia. Seus músculos, ossos e articulações pareciam danificados para sempre.
Voldemort e Harry caíram sobre um amontoado de corpos no saguão. Essa foi a sorte de Harry, que estava por baixo. Tinha o rosto todo inchado e sangrava em várias partes do corpo. Os óculos haviam partido, de modo que ele usava sua percepção como guia. Voldemort não estava muito melhor, apesar da queda não o ter afetado tanto.
Eles se separaram e permaneceram imóveis, analisando a situação. Voldemort sorria do estado do garoto que o desafiava. As lágrimas teimavam em sair dos olhos de Harry, mas ele não procurava escondê-las.
Das masmorras vinham sons das batalhas que o grupo de Timoth travava com os Comensais da Morte. Dos andares superiores não se ouvia mais nada, exceto a respiração ofegante de Aline, descendo à escada e encontrando os dois inimigos entre as pilhas de cadáveres. Ao pisar no saguão, ela ouviu uma outra voz às suas costas.
- Agora está muito melhor! - Draco Malfoy fugira das masmorras.
Malfoy também sorria. Tinha a varinha tão próxima à garota que ela não pôde defender- se quando ele jogou-a do outro lado do aposento. Ela bateu na parede e sentiu a perna rachar ao cair no chão. Harry lançou-se contra ele e encontrou Voldemort no caminho.
- Crucio! - Harry começou a berrar. Malfoy parecia louco com sua risada histérica. Finalmente tinham vencido!
"Harry, resista. É um feitiço mental. Voldemort não sabe que podemos resistir a isso!"
Os dois estavam fracos demais. Harry tentou por algum tempo, obtendo pouco sucesso. O sacrifício de Dumbledore não deixava sua mente fluir. Aline percebeu que ele não conseguiria lutar contra os dois, pois Malfoy também lançava a Cruciatus. Agarrando-se a uma mulher que jazia sentada ao seu lado, ela conseguiu se equilibrar, apoiando-se nos corpos até chegar à soleira da porta do Salão Principal. Ficou de pé e levantou a mão dos anéis, lançando o feitiço no mesmo instante que Malfoy lançava o seu em direção a ela. Aline voou até bater na parede no fundo do salão e caiu mole no chão.
Harry conseguiu livrar-se da Maldição. Malfoy saíra voando e caíra pela escada das masmorras. Levantou e fugiu de outro feitiço de Voldemort escondendo-se atrás de uma pilha de cadáveres. Sabia que só tinha uma chance. Teria que reunir forças suficientes para segurar a varinha e mantê- la ligada à de Voldemort. Elas eram irmãs, feitas com pena da mesma fênix. O bruxo também estava perdendo as forças. Ele tinha que conseguir.
Agarrou seu precioso tesouro, decidido. Sua percepção aguçada procurou a presença maligna pela sala. Quando conseguiu localizá-lo, Harry levantou-se e lançou um feitiço. Imediatamente formou-se o elo entre as varinhas. A pele de Harry brilhava como a de Aline. Mas ele não devia pensar nela, nem em nada que não fosse a varinha, até encontrar um meio de vencê-lo. Não ia soltar.
Lentamente Aline recobrou os sentidos. O salão estava parcialmente iluminado. Na luz inconstante ela pôde ver os corpos de vários bruxos, jovens e adultos. De alguns ainda subia uma fumaça espessa, negra e mal- cheirosa. Outros mantinham os olhos abertos, com as sombras dançando em seus rostos infelizes. Ela conseguiu ficar de pé, apesar da perna quebrada. Tentou se firmar na parede e ver de onde vinha a claridade.
Respirando com dificuldade, chegou à porta do Salão Principal, escancarada com as dobradiças soltas. Apoiou-se no portal e ergueu os olhos cinzentos. Ali estavam dois bruxos lutando com todas as suas forças, de suas varinhas unidas lampejos verdes e dourados coloriam as paredes de pedra. Extremamente firmes e concentrados para perceber a presença dela.
Então houve um desequilíbrio nas energias. As varinhas se desligaram e os dois caíram de joelhos. Aline reuniu coragem para uma corrida até o mais jovem.
Harry parecia estar em transe. Não a viu chegar. Tremia dos pés à cabeça. As vestes encharcadas de sangue.
Voldemort não parecia melhor, embora estivesse menos ferido fisicamente. Levantou-se primeiro. Aline percebeu um segundo antes de acontecer. Era como um sonho, tudo em câmera lenta. O bruxo a viu, ergueu a varinha e lançou a Maldição Avada Kedavra. Ela se virou com as mãos como escudo, ainda com os anéis de mallorn e mithril. O feitiço parou ali, sem atingi- la.
"Harry, rápido! Agora é a hora! Levante-se!"
Harry ouviu o chamado no fundo da mente e esforçou-se para erguer os olhos. Aline, de pé ao lado dele, segurava o feitiço de Voldemort. Ele começava a penetrar as mãos e os braços dela, matando a carne. Aline brilhava cada vez menos. Num último esforço, Harry levantou-se e apontou a varinha e a mão aberta com os anéis para o Inimigo.
"Consegue jogar o feitiço de volta? Vamos juntos... Agora!"
- AH!!!!
- Avada Kedavra!
Aline devolveu o feitiço no momento em que Harry lançava o dele. Ouviu-se um grito estridente e a escuridão tomou conta de tudo.
Garotos correndo de um lado para o outro. Estátuas derrubadas, malas abertas com roupas caídas, mesas reviradas. Livros jaziam abandonados na biblioteca ou nas salas de aula deixadas às pressas. Algumas pessoas simplesmente desabavam pelos corredores e precisavam ser levadas à ala hospitalar. Os monitores pouco podiam fazer para restabelecer a ordem. Os professores não eram encontrados, a não ser que se procurasse nas torres e extremos da propriedade.
- Jamais imaginei que eles tivessem o atrevimento de atacar a escola! - Minerva McGonagall estava apavorada e furiosa.
- Eles realmente foram longe demais! - A voz do pequeno Fiodr Flitiwick soou mais aguda que de costume.
- Querem nos pegar todos juntos. É mais útil. Uma vitória completa. - Severo Snape observava os jardins da janela.
- Senhores, não é hora para deliberações. Precisamos agir! - Dumbledore irradiava poder por todos os poros da pele. Seus olhos azuis faiscavam. - Os alunos precisam ser removidos imediatamente. Forças do Ministério estão a caminho.
- Penso que não chegarão a tempo!
- Mesmo assim devemos resistir, Severo. É nosso dever. A hora não poderia ser mais negra, mas nossa coragem pode vencer o medo. Todos aos seus postos!
O saguão estava apinhado de gente. Hagrid levava pequenos grupos para as carruagens e encaminhava-os para o trem. O sol se punha para uma noite de pouca esperança.
Quando a terceira remessa de carruagens chegou ao limite da propriedade, um forte estampido arrepiou os cabelos de todos. Um raio vermelho suspendeu a primeira carruagem da fila e arremessou-a de encontro à que vinha atrás.
Gritos de pânico, correria; os alunos voltavam aos tropeços para o castelo. As portas bateram com estrondo. Uma névoa escura invadia todo o gramado, seguida por centenas de vultos negros iluminados pelas varinhas em riste. Estavam presos.
Os bruxos seguiam rápidos e logo cercaram a escola. Dez figuras destacaram- se da massa negra e começaram a forçar a pesada porta de carvalho. Do outro lado, Snape e McGonagall tentavam mantê-la fechada enquanto os outros professores levavam os alunos para cima e para o Salão Principal. Dumbledore subira à torre e convocava ajuda ao mesmo tempo em que procurava afastar os arrombadores.
Quanto tempo ficaram naquelas posições ele não soube. Suas investidas surtiam pouco efeito contra centenas de bruxos decididos. Quando a escuridão tomou conta do céu, enfim surgiram dezenas de vassouras do esquadrão do Ministério descendo rasantes sobre a horda. Vultos caíram atingidos por seus feitiços. Parecia um espetáculo de luzes vermelhas, azuis, verdes; todas riscando a noite desesperada.
Então ele chegou.
Lord Voldemort vinha animando seu exército, abrindo caminho até estar em frente à porta. Ergueu a varinha e arremessou-a longe. Seus seguidores, estimulados pelo mestre, derrubavam os bruxos das vassouras, enquanto os demais entravam correndo no castelo.
Quem estava no saguão na hora da explosão recuou imediatamente diante dos olhos vermelhos de Voldemort. Mas ele não entrou. Antes ordenou que os Comensais limpassem o ambiente, o que fizeram com eficácia. Diversos alunos morreram antes de saber como foram atingidos. Os professores tinham que lutar contra cinco ou seis bruxos de uma única vez.
Os gritos de sofrimento eram ouvidos na torre de Grifinória, onde vários jovens se refugiaram amedrontados.
- Entraram. Eles entraram! Estamos perdidos!
Hermione se agarrava ao braço de Rony com tanta força que o deixou dormente. Gina escondia o rosto no peito de Siegfried (ele recusara-se a deixá-la e ir para sua Casa). Eles não tiveram tempo de fugir para o trem. Harry observava da janela a movimentação no gramado.
- Voldemort chegou.
Harrry Potter não queria estar ali. Tentara permanecer no saguão, mas Snape não permitira, para espanto de todos. O garoto sabia que o professor estava pensando na afilhada ao ameaçá-lo com a varinha, mandando-o ficar na torre.
- Você-Sabe-Quem?! Agora estamos perdidos! - Gina segurava-se em Sig. Harry não sabia qual casal tremia mais. - Nem Dumbledore pode lutar contra centenas de bruxos e Você-Sabe-Quem ao mesmo tempo!
Mais tropas do Ministério chegaram, desta vez por terra. Algumas vassouras pousaram nos terraços do castelo. Agora os atacantes estavam cercados, começando a sofrer baixas mais contundentes. Mas dezenas haviam entrado no castelo, e Voldemort desaparecera.
Os combatentes caíam vitimados por toda espécie de feitiços cruéis. Alguns faziam desaparecer partes do corpo (olhos, pernas ou braços), outros explodiam as veias e artérias, provocando hemorragias; outros ainda torturavam os oponentes, ou simplesmente os matavam rapidamente. Nunca, em toda a história da Comunidade Bruxa, bruxos cometeram tantas atrocidades contra bruxos.
Foi esse o cenário que Aline Hunter viu abaixo das nuvens, sobrevoando a propriedade com o grupo de Timoth. Profundamente concentrados, Sirius, Lupin, Arabella, Fabian, Hannah e Ângela analisavam a situação.
- Desceremos na torre. - Fabian armava a estratégia. - A batalha fora do castelo pode ficar à cargo do Ministério. Voldemort e seus seguidores mais perigosos estão dentro da escola.
- Não podemos ser vistos. A surpresa é a nossa principal arma. - As irmãs Bastian sabiam que não conseguiriam ficar invisíveis nos céus de Hogwarts. - Voaremos nesta altura, chegando pelo precipício.
- Vou sair. Não posso ficar aqui escutando essas pessoas morrendo!
Harry levantou-se de repente e abriu o malão procurando e Capa de Invisibilidade.
- Harry, por favor, não faça isso! Fique aqui. De que adianta você ir lá?
- De que adianta ficar? Se vou morrer, não vai ser parado aqui! Voldemort está "me" procurando!
- Pare de dizer tolices!
- Fiquem na torre. Não me sigam! - Saltou para fora da sala e bateu o retrato com um feitiço, barrando a saída com algumas cadeiras. Não ia ser responsável por mais mortes. Depois agarrou a varinha, colocou os anéis na mão esquerda e saiu correndo até a escadaria de mármore.
Do alto ele podia ver as faíscas dos feitiços nas paredes, em todos os andares. Quando alcançou os degraus, prosseguiu com cautela, escutando e olhando em todas as direções. O inimigo estava próximo, ele sentia.
O grupo pousou silencioso. Esconderam as vassouras na parte escura da torre e desceram cuidadosamente vários lances de escadas, chegando a um corredor estreito, virando à direita e saindo atrás de uma tapeçaria de salgueiro. A passagem abria-se para um amplo corredor e na parede ao fundo brilhavam as luzes da batalha.
Estavam no terceiro andar, e lá encontraram Minerva McGonagall e dois monitores lutando para defender um grupo assustado de alunos do segundo ano. Quatro bruxos encapuzados riam dos gritos que um dos garotos emitia quando atingido pela Maldição Cruciatus. Fabian e Lupin correram para ajudar, imobilizando rapidamente os bandidos.
A professora trancou-os numa sala vazia. Aline aconselhou a mandar os alunos para a torre pela passagem. Timoth sugeriu que se separassem e avançassem com extrema vigilância. Aline, Sirius, Arabella, Minerva, Ângela e Jasmin subiriam a escadaria principal; Timoth, Lupin, Fabian e Hannah desceriam até as masmorras.
"Ele está perto, pai. Você sente o terror do castelo?"
"Sim, mas ainda não sei onde. Tenha cuidado."
Harry escapara por pouco de um ataque. Dois assassinos perseguiam oficiais do Ministério escada à cima. Quase tropeçaram nele. Harry conseguira se esconder atrás de uma estátua do sétimo andar, bem em tempo de surpreender um Comensal, paralisá-lo e amarrá-lo.
A caminho do sexto andar, deparou-se com três garotas saindo correndo de uma sala, quando um raio trator as puxou de volta. Ouviu risadas grosseiras.
- Tem certeza que não são sangues-ruins? Não quero me infectar!
- E se forem? Essa aqui é bem gostosinha!
- Nós merecemos uma diversão, rapazes!
As meninas, que deviam ser do quinto ano, gritavam por socorro. Harry esgueirou-se até a porta. A cena que viu deixou-o nauseado. Três encapuzados apalpavam os corpos delas. Ele usou os anéis para jogá-los contra a parede, mas ao erguer a mão deixou-a sair da capa. Sentiu uma pancada e um quarto Comensal sobre ele, chutando e socando. A Capa da Invisibilidade caiu do rosto, um alvo fácil para o inimigo.
Lentamente, Harry ergueu a varinha e atingiu-o no abdômen. Levantou-se a tempo de defender-se dos outros, o feitiço tão forte que eles voaram pela janela. As garotas tinham desmaiado e, fraco, ele também teria sucumbido. Porém, pegou a capa e partiu, apoiando-se nas paredes de pedra.
O instrumento dava maior liberdade de movimentos e, claro, ele conseguia se aproximar dos atacantes com segurança. Arrancou a varinha de vários, imobilizando-os.
A capa, entretanto, não barrava a sensação de Voldemort. Eles estavam ligados pelo feitiço que não funcionara. A dor na cicatriz começara novamente quando ele tocou o corrimão para descer ao quinto andar. Encolheu- se e viu o que temia mais que tudo.
Alvo Dumbledore altivo e impassível. Diante dele cinco Comensais da Morte, petrificados. Mesmo assim, o diretor estava em guarda, apontando para alguém atrás das estátuas, fora da visão de Harry. Ele sabia quem era.
- Você não pode passar!
- Um velho acabado como você não pode me deter, Dumbledore. Saia do caminho! Ou vou matá-lo lentamente!
Uma risada fria e aguda congelou o sangue de Harry. O que ele poderia fazer?
- Voldemort, essa foi sua última jogada. A mais cruel e a mais desesperada. Seu exército está vencido. Não ouse me ameaçar em Hogwarts!
Ele não poderia se revelar sem distrair Dumbledore. Poderia atacar Voldemort mentalmente. Tentou relaxar, esquecer a incômoda dor. Não conseguia, pois a imagem de Voldemort invadia seus pensamentos se ele baixava a guarda; e a dor aumentava se ele lutasse contra ela. Ficou tonto e quase caiu da escada. Assim não ia funcionar.
Decidiu não afastar a dor, mas aceitá-la como parte dele, como seu cabelo ou sua cicatriz. Foi tão forte que lágrimas saíram de seus olhos, mas ele estava preparado. O Inimigo não conseguiria derrotá-lo. Começou a acostumar- se com a sensação. Era mais fácil agora que não precisava fazer duas coisas ao mesmo tempo. Só quando sentiu a mente firme, concentrou-se e procurou a mente de Voldemort. No entanto, outra presença interrompeu a conexão. Aline estava ali.
Por todos os andares, Aline e seus companheiros encontraram a mão de Voldemort. Seus fiéis seguidores destruíam tudo e todos no caminho. Ela ia à frente, usando o seu poder sensitivo para não caírem numa armadilha. Sirius ia ao seu lado, transformado em cachorro; Arabella, Minerva, Jasmin e Ângela vigiavam a retaguarda.
Entretanto, ela não conseguia estar alerta sempre. Num momento em que ela procurava por Harry (sabia que ele estava andando pelo castelo), seis bruxos pularam sobre eles, vindos de uma sala por onde passaram segundos antes. Rapidamente enfeitiçaram Arabella, paralisando-a; Minerva transformou-se na gata malhada, tentando escapar das mãos de dois encapuzados, mas acabou petrificada. Ângela não foi morta por dois graças a Sirius, que se atirou sobre eles, mordendo suas mãos, braços e pescoços. Jasmin acabou estuporada antes que pudesse se defender. Sirius correu para junto dela, aflito.
Mas eles se recuperaram rápido e teriam destruído o grupo se Aline não empunhasse o arco com precisão, acertando uma flecha na testa do bruxo que corria com uma adaga para apunhalá-la. Em seguida, com o auxiílio dos anéis, os fez levitar pelo vão das escadas, deixando que caíssem.
"Não podemos ficar aqui, Sirius. Voldemort está perto. Harry corre perigo. Eles estão com Dumbledore."
Sirius ficou confuso alguns instantes. Nunca tinham usado telepatia com ele. Voltou à sua forma humana e fez sinal para prosseguirem.
Seguiram por vários corredores vazios. Por isso, o som da discussão entre Dumbledore e Voldemort chegou-lhes bem antes de encontrá-los. Aproximaram- se devagar do canto da parede e viram os dois bruxos próximos à escadaria de mármore. Aline via o poder e a tensão palpável entre os dois. Poderosos e imponentes. Um duelo de nervos entre os maiores bruxos da atualidade. Voldemort estava de costas para eles.
"Se formos rápidos, podemos atacá-lo."
Todos os sentidos dela estavam concentrados nas duas figuras. Não podia tirar a atenção de Dumbledore antes de atingir o inimigo.
"Vou tentar avisar Dumbledore que estamos aqui. Espere um pouco."
Para ela era mais fácil. Conseguiu atingir Dumbledore e tranqüilizá-lo, antes que ele esboçasse qualquer sinal de perturbação. Foi quando recuou que sentiu outra presença.
"Harry está aqui, Sirius. No alto da escada. Está tentando atacar Voldemort."
Aline entrou em contato com Harry e lhe explicou o que fariam. Depois puxou o arco e escolheu uma flecha fina.
"Quando você atacar, eu atiro e Sirius o ataca. Temos que desarmá-lo em primeiro lugar."
A garota respirou fundo, preparou a flecha no arco e girou para atirar. Mas não percebera que duas bruxas se aproximavam, golpeando Sirius e ela.
Aline soltou um grito que tirou toda a concentração de Harry. Ele se levantou, deixando a capa escorregar pelos ombros. Voldemort se virara, porém voltou com fúria renovada. Dumbledore segurou o olhar assassino e teria vencido se a visão de Harry no alto da escada não tivesse precipitado seus movimentos. Voldemort apontou a varinha para Harry e Dumbledore só teve tempo de pular na frente do feitiço mortal. Caiu aos pés de Lord Voldemort.
Desesperado, Harry lançou-se sobre o bruxo e os dois lutaram ferozmente: mordendo, chutando, rasgando, aproximando-se perigosamente do peitoril.
Sirius recobrou o equilíbrio e jogou-se em cima das bruxas, a boca canina babando de raiva. Atingiu uma no pescoço; a outra recebeu uma patada no rosto. Aline já estava correndo em direção ao bolo de braços e pernas que era Harry e Voldemort quando eles caíram. Sirius passou voando por ela para descer a escada até o saguão. Foi interrompido por um casal que não usava capuz. Eram os Lestrange, que estiveram anos em Azkaban, aguardando o retorno de seu mestre. Servos fidelíssimos do Lord das Trevas.
- Crucio! - Gritaram os dois.
Conhecidos pela excepcional crueldade, eles lançaram a Maldição no cão preto. Sirius gania e uivava de dor. Fizeram o mesmo com Aline. Ela sentiu cada fibra de seu corpo esticar até a tensão máxima, depois se partir. Caiu no chão, gritando, sem conseguir respirar. Eles tiravam o feitiço e o lançavam novamente, para que a dor fosse maior. Mas o casal Lestrange nunca havia lutado com alguém de sangue élfico.
A Maldição não passava de controle mental. Levou alguns minutos para Aline se acostumar com a energia do feitiço, o que a deixou bastante machucada, debatendo-se no chão e nas paredes. Ao sintonizar sua energia com a da Maldição, ela conseguiu anular seu efeito. Os atacantes não acreditavam em seus olhos quando a garota levantou e os desarmou. Depois avançou sobre eles, com fogo nos olhos, e eles recuaram.
Sirius desmaiara com a dor, mas ainda respirava. Aline passou pelo enorme cão e atirou os inimigos contra a parede diversas vezes. Amarrou-os e dirigiu-se à escada.
Antes de descer, porém, ela ouviu um canto de ave poderoso. Olhou para cima e viu Fawkes voando devagar, até pousar sobre o corpo inerte do dono. A garota viu os olhos de contas da fênix piscarem, cheios de lágrimas. O tom de seu canto faria até o mais duro coração quebrar e chorar. Em meio ao desespero da cena, Fawkes começou a brilhar. O calor que emanava foi tão intenso que ela explodiu em chamas, envolvendo o corpo do bruxo. Não demorou muito e o belo pássaro reduzia-se a cinzas, das quais jamais renasceria.
Aline assistiu impassível. Uma sensação terrível apunhalou seu peito. Ela virou-se para a escada. Tentava correr e o corpo não correspondia. Seus músculos, ossos e articulações pareciam danificados para sempre.
Voldemort e Harry caíram sobre um amontoado de corpos no saguão. Essa foi a sorte de Harry, que estava por baixo. Tinha o rosto todo inchado e sangrava em várias partes do corpo. Os óculos haviam partido, de modo que ele usava sua percepção como guia. Voldemort não estava muito melhor, apesar da queda não o ter afetado tanto.
Eles se separaram e permaneceram imóveis, analisando a situação. Voldemort sorria do estado do garoto que o desafiava. As lágrimas teimavam em sair dos olhos de Harry, mas ele não procurava escondê-las.
Das masmorras vinham sons das batalhas que o grupo de Timoth travava com os Comensais da Morte. Dos andares superiores não se ouvia mais nada, exceto a respiração ofegante de Aline, descendo à escada e encontrando os dois inimigos entre as pilhas de cadáveres. Ao pisar no saguão, ela ouviu uma outra voz às suas costas.
- Agora está muito melhor! - Draco Malfoy fugira das masmorras.
Malfoy também sorria. Tinha a varinha tão próxima à garota que ela não pôde defender- se quando ele jogou-a do outro lado do aposento. Ela bateu na parede e sentiu a perna rachar ao cair no chão. Harry lançou-se contra ele e encontrou Voldemort no caminho.
- Crucio! - Harry começou a berrar. Malfoy parecia louco com sua risada histérica. Finalmente tinham vencido!
"Harry, resista. É um feitiço mental. Voldemort não sabe que podemos resistir a isso!"
Os dois estavam fracos demais. Harry tentou por algum tempo, obtendo pouco sucesso. O sacrifício de Dumbledore não deixava sua mente fluir. Aline percebeu que ele não conseguiria lutar contra os dois, pois Malfoy também lançava a Cruciatus. Agarrando-se a uma mulher que jazia sentada ao seu lado, ela conseguiu se equilibrar, apoiando-se nos corpos até chegar à soleira da porta do Salão Principal. Ficou de pé e levantou a mão dos anéis, lançando o feitiço no mesmo instante que Malfoy lançava o seu em direção a ela. Aline voou até bater na parede no fundo do salão e caiu mole no chão.
Harry conseguiu livrar-se da Maldição. Malfoy saíra voando e caíra pela escada das masmorras. Levantou e fugiu de outro feitiço de Voldemort escondendo-se atrás de uma pilha de cadáveres. Sabia que só tinha uma chance. Teria que reunir forças suficientes para segurar a varinha e mantê- la ligada à de Voldemort. Elas eram irmãs, feitas com pena da mesma fênix. O bruxo também estava perdendo as forças. Ele tinha que conseguir.
Agarrou seu precioso tesouro, decidido. Sua percepção aguçada procurou a presença maligna pela sala. Quando conseguiu localizá-lo, Harry levantou-se e lançou um feitiço. Imediatamente formou-se o elo entre as varinhas. A pele de Harry brilhava como a de Aline. Mas ele não devia pensar nela, nem em nada que não fosse a varinha, até encontrar um meio de vencê-lo. Não ia soltar.
Lentamente Aline recobrou os sentidos. O salão estava parcialmente iluminado. Na luz inconstante ela pôde ver os corpos de vários bruxos, jovens e adultos. De alguns ainda subia uma fumaça espessa, negra e mal- cheirosa. Outros mantinham os olhos abertos, com as sombras dançando em seus rostos infelizes. Ela conseguiu ficar de pé, apesar da perna quebrada. Tentou se firmar na parede e ver de onde vinha a claridade.
Respirando com dificuldade, chegou à porta do Salão Principal, escancarada com as dobradiças soltas. Apoiou-se no portal e ergueu os olhos cinzentos. Ali estavam dois bruxos lutando com todas as suas forças, de suas varinhas unidas lampejos verdes e dourados coloriam as paredes de pedra. Extremamente firmes e concentrados para perceber a presença dela.
Então houve um desequilíbrio nas energias. As varinhas se desligaram e os dois caíram de joelhos. Aline reuniu coragem para uma corrida até o mais jovem.
Harry parecia estar em transe. Não a viu chegar. Tremia dos pés à cabeça. As vestes encharcadas de sangue.
Voldemort não parecia melhor, embora estivesse menos ferido fisicamente. Levantou-se primeiro. Aline percebeu um segundo antes de acontecer. Era como um sonho, tudo em câmera lenta. O bruxo a viu, ergueu a varinha e lançou a Maldição Avada Kedavra. Ela se virou com as mãos como escudo, ainda com os anéis de mallorn e mithril. O feitiço parou ali, sem atingi- la.
"Harry, rápido! Agora é a hora! Levante-se!"
Harry ouviu o chamado no fundo da mente e esforçou-se para erguer os olhos. Aline, de pé ao lado dele, segurava o feitiço de Voldemort. Ele começava a penetrar as mãos e os braços dela, matando a carne. Aline brilhava cada vez menos. Num último esforço, Harry levantou-se e apontou a varinha e a mão aberta com os anéis para o Inimigo.
"Consegue jogar o feitiço de volta? Vamos juntos... Agora!"
- AH!!!!
- Avada Kedavra!
Aline devolveu o feitiço no momento em que Harry lançava o dele. Ouviu-se um grito estridente e a escuridão tomou conta de tudo.
