Capítulo Dois – Notícias Sombrias

No dia seguinte Harry acordou um pouco cedo, pois tinha estranhado a cama. Olhou para a janela e pôde ver que o dia estava apenas amanhecendo, pois a luz que entrava era fraca e avermelhada. Virou-se então para o outro lado da cama, de costas para a luz, numa tentativa de voltar a dormir; mas viu um vulto escuro e disforme na porta do quarto. Quando colocou os óculos e sentou-se na cama para tentar enxergar melhor, só viu um rabo preto se afastando rapidamente. Achou aquilo estranho, mas depois lembrou que poderia ser um dos inúmeros gatos da Sra. Figg. Tirou novamente os óculos e tentou dormir mais um pouco, mas não conseguiu pois vozes sussurrando o interromperam. Mesmo não querendo, Harry não pode deixar de ouvir algumas frases soltas:

- O que deu em você para ir lá, está louco? – era a voz da Sra. Figg, sussurrando, mas irritada. – Está se arriscando por algo que não é necessário! Quase pôs tudo a perder! Mas por que eu estou te falando isso e perdendo meu tempo? Eu já devia saber que você é mesmo irresponsável, sempre foi...

Não houve resposta. Harry, agora totalmente desperto, tinha a estranha sensação de que aquilo tinha algo a ver com o vulto que viu na porta ao acordar. Ouviu, então, passos se aproximando e fechou os olhos. Pôde ouvir a voz da Sra. Figg, aliviada:

- Ele dormiu de novo. Melhor assim.

Ela se afastou e Harry abriu os olhos novamente. Ficou pensando nisso por mais um tempo e, em seguida, adormeceu.

Mais tarde, quando Harry acordou, não houve mais nada de estranho. A Sra. Figg parecia um pouco mais amável e lhe preparou um pequeno café da manhã. Até que estava gostoso, com exceção do bolo, que como sempre estava encruado. Harry começou a pensar que a velha senhora devia desistir das tentativas de fazer bolos, pois não parecia levar jeito para isso.

Depois do café, Harry agradeceu por tudo à Sra. Figg e resolveu voltar para a casa dos tios. Quando chegou, logo percebeu no jardim os vestígios da festa do dia anterior; a grama estava muito pisoteada e havia alguns pedaços de terra fora do lugar, deixando pequenos buracos na grama "bem cuidada" de tia Petúnia. Provavelmente aquilo era obra dos "amiguinhos" de Duda, ou até dele próprio. Harry já até sabia o que ia sair dali, mais trabalho aparando e arrumando a grama.

Resignado, o garoto tocou a campainha e foi tia Petúnia que atendeu. Ela estava arrumando a sala que era uma bagunça só. A tia parecia bem contrariada e nem respondeu (como sempre) o "bom dia" do sobrinho. Harry nem ligou e tratou logo de subir as escadas e se dirigir ao seu quarto, antes que lhe fosse designada mais uma tarefa. Chegando lá, foi ver Edwiges e reparou que ela não estava lá. "E eu que falei para ela não sair..." – ele pensou. – "Não adianta mesmo falar nada com a Edwiges, como é teimosa".

Harry começou então a fazer alguns deveres de férias que tinha de Hogwarts. Não eram muitos devido a tudo o que aconteceu no fim do semestre, então Harry enrolava bastante para fazê-los, para ter sempre alguma coisa com que se ocupar. Passou praticamente toda a manhã em um dever particularmente complicado de Transfiguração que a Profª. McGonagall tinha passado. De repente, ouviu um som de pesadas passadas (provavelmente do seu "delicado" primo Duda). O pior foi que seguido a isso a porta de seu quarto abriu com um estrondo e Duda entrou correndo; ele tinha uma caixa grande nas mãos.

- Olha só isso! Ganhei ontem no meu aniversário, um videogame! Que pena que você nunca ganhe presentes como esse! – riu Duda, exibindo seu presente como um troféu.

- Eu ganho presentes melhores. – respondeu Harry, voltando-se para o seu dever.

- Você nem deve ganhar presentes! – debochou o primo. – Duvido que aqueles seus amigos malucos te dêem algo melhor que isso! E por falar neles, eu notei que você não recebeu nada deles desde que voltou para cá. Que foi, eles esqueceram de você ou nem eles te agüentam mais, hein?

Aquilo foi o máximo que Harry poderia suportar; mesmo sabendo que aquilo lhe renderia uma bronca e pior, um dia de trabalho na casa, o garoto dirigiu-se até a mesa de cabeceira e abriu a gaveta, pegando a varinha de dentro e, segurando-a entre os dedos, disse cinicamente:

- Sabe, isso foi um presente... – mentiu e, em seguida apontou a varinha para o primo que estava branco de pavor. – Eu aposto que posso fazer muito mais coisas com isso, do que você com seu brinquedinho! Quer ver?

Duda, pálido, saiu correndo porta afora, sem sequer olhar para trás. Harry, tranqüilamente guardou a varinha no lugar e voltou para o seu dever, se segurando para não rir.

O que se seguiu foi tia Petúnia entrando intempestivamente no quarto, pedindo explicações e, sem ao menos ouvi-las, mandando Harry cuidar da grama (como ele previra).

Harry passou o dia inteiro arrumando o jardim, que estava horrível, mas nem se importou; a cara de Duda naquela hora valia isso. O primo deveria agora demorar pelo menos umas duas semanas para importunar Harry novamente e só isso já valia à pena.

Depois de terminado o trabalho e ter tido um jantar miserável, Harry voltou para o seu quarto, intrigado. Apesar de Duda ser um completo trouxa (nos dois sentidos já que Duda e os tios já eram trouxas, apenas por não serem bruxos e esta era a denominação que os bruxos davam àqueles que não tinham poderes mágicos), ele tinha razão em certo ponto: já fazia algum tempo que Harry tinha voltado de Hogwarts e até agora não tinha recebido nenhuma carta nem dos amigos Rony e Hermione e muito menos do padrinho, Sirius.

Ainda pensando nisso, Harry entrou no quarto e viu sua coruja das neves, Edwiges, sobre sua cama com uma carta amarrada na pata. Em um salto, Harry sentou-se na cama e desamarrou a carta e depois de acariciar a coruja, que lhe retribuiu com uma bicadinha na palma da mão, para depois ir até sua gaiola descansar, Harry abriu a carta que era de Sirius e nela estava escrito:

Harry,

Como você está? Eu vou indo bem, Dumbledore tem me designado algumas tarefas e por isso não pude me corresponder antes com você. Estou, na maioria das vezes, com Remo, que tem me abrigado já que não tenho um lugar muito definido para ficar. No momento, estou fazendo um trabalho para Dumbledore e sua coruja (acho que ela percebeu que até agora eu não tinha lhe mandado nada) veio me procurar e como sempre achou o que queria e, pela expressão dela, parecia estar cobrando uma carta minha para você. Não tive como não ceder.

Bem, Harry, sei que você deve estar ansioso por saber notícias do mundo mágico e já que essa carta vai ser entregue diretamente por Edwiges, acho que não haverá problema algum em lhe contar abertamente o que está acontecendo.

As notícias não são muito animadoras, Harry. Como todos pensaram no começo, Voldemort já começou a fazer das suas; alguns trouxas já foram atacados misteriosamente, mas o Ministério da Magia abafou tudo. Parece que Fudge está mesmo disposto a "tapar o sol com a peneira", mas é claro que não está funcionando; muitos já perceberam que isso não é comum e alguns já se conscientizaram que Voldemort está de volta mesmo.

Dumbledore tem feito até agora o que pode, e já mobilizou muita gente e ainda está, inclusive o pessoal de dentro do Ministério, mas as coisas estão caminhando devagar mesmo assim. Enquanto isso, vamos fazendo o que podemos, tentando ajudar.

E quanto a você? Quero saber como está, gostaria de poder encontrá-lo, mas isso vai ser muito difícil agora, temos que ser pacientes. Espero que seus tios e seu primo trouxas não estejam te maltratando, se bem que tenho certeza absoluta que você sabe se cuidar muito bem sozinho.

Se acontecer qualquer coisa de anormal, por favor, me escreva imediatamente. Mande pela Edwiges, ela saberá me encontrar. Mas só não prometo uma resposta muito rápida, pois posso ser chamado para fazer algo a qualquer momento.

Até,

Sirius

Harry terminou de ler a carta; esta que ao mesmo tempo lhe aliviou por saber sobre o padrinho, também o preocupou. Mas tinha que suportar, pois já era esperado que Voldemort fosse fazer algo, até mesmo para extravasar um pouco a raiva que devia estar sentindo depois que Harry escapara de suas mãos. Pelo menos agora tinha uma noção do que estava acontecendo, já que quando estava na casa dos tios não tinha acesso a nenhuma informação do mundo mágico.

Encaminhou-se, então, até a escrivaninha, pegou um papel e uma pena e começou a se preparar para escrever uma resposta. Pensou por um tempo; Sirius disse na carta para que escrevesse se acontecesse qualquer coisa de anormal e subitamente Harry se lembrou de algo bem anormal que andava acontecendo. Molhou a pena e começou a escrever:

Sirius,

Comigo está tudo bem, tirando ter que agüentar meus tios, mas já estou acostumado. Ontem foi aniversário do meu primo e eu tive que ajudar nos preparativos da festa, mas é claro que eu não fiquei para vê-la, dormi na casa da Sra. Figg (uma vizinha), foi tudo bem, mas acho que ela está um pouco estranha. Eu a ouvi falando sozinha, mas talvez só estivesse falando com os gatos mesmo.

Hoje o Duda veio me mostrar, quer dizer, se gabar do videogame (acho que eu já te disse o que é isso, é um aparelho em que se joga) que ganhou na festa. Ele disse que eu nunca devia ganhar um presente tão bom como esse e eu até pensei em mostrar a Firebolt que você me deu, mas achei que ele não iria entender o valor dela, então mostrei apenas minha varinha e ele saiu correndo, como se eu fosse fazer alguma coisa... É claro que isso me rendeu um dia inteiro de trabalho, mas eu nem liguei, agora ele não vai mais me importunar por umas boas duas semanas ou mais.

Obrigado por me contar sobre o que está acontecendo, eu já estava ficando maluco por não poder saber de nada. Espero que você esteja tomando cuidado para não ser reconhecido em suas "tarefas".

Você pediu para eu lhe contar tudo o que estivesse acontecendo de anormal então vou contar. Ultimamente tenho tido o mesmo sonho (você já deve até saber do que se trata); nele vejo sempre a mesma cena do fim do Torneio Tribruxo, quando Voldemort ressurge. Quando acordo, minha cicatriz sempre dói um pouco, mas depois passa. Mas pelo que você me contou em sua carta, talvez isso não seja tão anormal assim.

Espero que você esteja bem. Mande lembranças ao Prof. Lupin e ao Bicuço (se eles estiverem aí com você).

Até mais,

Harry

O garoto então releu a carta e achou que estava tudo bem. Chamou Edwiges e lhe perguntou se estava cansada. A coruja logo se prontificou a entregar a carta, querendo mostrar-se eficiente, como sempre. Harry amarrou a carta na pata dela e assim que o fez, a coruja levantou vôo. Ele ainda ficou um tempo apoiado no parapeito da janela, pensando. De repente, veio-lhe à cabeça que Edwiges voltara muito rápido da última entrega, ou seja, de quando trouxe a carta de Sirius. "Será que ele está por perto?" – perguntou a si mesmo. – "Não, duvido..." – essa foi a resposta.

Resolveu então terminar mais alguns deveres que faltavam e não pensou mais nisso.