Capítulo Três – Uma boa surpresa
Passaram-se exatamente duas semanas depois da carta que Sirius mandara a Harry e não houve mais nenhuma depois disso. Naquele dia, Edwiges voltou na mesma noite da entrega da carta e Harry achou muito estranho, mas deixou passar.
Seus tios continuavam cada vez mais arrogantes (principalmente agora que tio Válter foi promovido no emprego). Duda, porém, continuava sem ao menos olhar para Harry e quando o fazia, ficava branco de medo, lembrando-se do acontecimento da varinha.
Harry, nesse momento, estava sentado no jardim, sozinho. Não tinha nada o que fazer, uma vez que já tinha terminado os poucos deveres de férias que tinha. Era uma manhã de domingo do dia 31 de julho. Parecia que esse seria mais um aniversário chato e sem graça, como todos o que teve em sua vida.
De repente, alguma coisa caiu sobre seu colo: era uma carta. Antes mesmo que pudesse pegá-la para ler, mais três cartas caíram, acompanhadas de pacotes. Depois daquela verdadeira avalanche, Harry olhou para cima e viu duas corujas-das-torres se afastando no céu e Edwiges estava ao seu lado, observando o dono praticamente soterrado em pacotes.
- Vocês podiam ser um pouco mais delicadas, ou não? – Harry perguntou à coruja que começou a bicá-lo, indignada. – Tá bom, não precisa se irritar! – ele disse, quase rindo.
Voltou-se então para as cartas. A primeira que abriu era de Hermione (ele pôde reconhecer pela letra caprichada). Ela dizia:
Amigo Harry,
Como você está? Eu estou ótima, desculpe por não ter mandado nada antes, mas é que eu estou viajando e não consegui encontrar nenhuma coruja disponível. Esse ano, meus pais resolveram viajar para a América do Sul e quiseram ver lugares trouxas, portanto não conseguia achar nenhuma coruja, por mais que tentasse. Já estava ficando desesperada, porque pensei que não conseguiria mandar o seu presente de aniversário, mas Edwiges apareceu e me salvou. (Ela parecia um pouco brava comigo, acho que é porque eu ainda não tinha mandado nada.)
Bem, vamos ao que importa, feliz aniversário! Quinze anos já, parece que foi ontem que nos conhecemos e éramos apenas crianças. Mandei o seu presente junto com a carta, espero que goste.
O Rony tem sido o único com quem consigo me corresponder, ele já me mandou algumas cartas, mas em todas pergunta se o Victor tem escrito para mim. Eu disse que não (e é verdade), mas deu até vontade de dizer que sim! O Rony às vezes é irritante! Na última carta (além de perguntar isso) ele também me convidou para ir para a casa dele, ele já te mandou alguma coisa? Com certeza ele vai te chamar também. Eu acho que vou daqui a uma semana mais ou menos, porque ainda não voltei da viagem. Você devia ver, aqui, mesmo estando inverno é um calor danado! Eu queria visitar os lugares históricos, mas meus pais queriam ir para lugares de praia e eu tive que aceitar, fazer o quê? Mas está sendo bastante divertido!
A gente se encontra na casa do Rony, então.
Um abraço,
Mione
Harry terminou de ler a carta e riu em alguns pontos, principalmente nas perguntas de Rony à Hermione sobre as cartas de Victor Krum. Este era um famoso jogador de quadribol que esteve em Hogwarts no ano anterior e se apaixonou por Hermione, deixando Rony muito irritado. E parecia que ele ainda estava.
Deixou a carta de lado e pegou um pequeno embrulho azul com uma fita da mesma cor, só que um pouco mais clara. Estava anexado um bilhete de Hermione, que dizia: "É um artefato trouxa, mas não sabia o que te dar, então lembrei que ano passado você estragou o seu no Torneio Tribruxo e achei que seria o melhor presente". Harry abriu o embrulho e dentro viu um relógio, trouxa, mas bem melhor do que aquele que ele tinha e acabou estragando quando o garoto entrou no lago de Hogwarts, na segunda tarefa do Torneio Tribruxo.
- Nossa, que legal, Mione! – exclamou, observando o relógio que tinha os números em romano e as pulseiras de couro.
Guardou o relógio e pegou a carta seguinte. A letra era tremida e em garranchos, e Harry logo soube de quem era: seu amigo Rúbeo Hagrid. A carta era curta e dizia essas palavras:
Olá Harry, como vai? Primeiro, parabéns pelo aniversário, espero que goste do presente! Terei que ser breve, pois tenho uns serviços a fazer para Dumbledore. (Harry até imaginou a expressão orgulhosa do meio-gigante, que sempre se satisfazia em saber que era de confiança para o diretor) As coisas estão ficando um pouco pretas por aqui, Harry; Dumbledore está preocupado, assim como os professores. Já sabemos qual será o novo professor, quer dizer, professora de Defesa Contra as Artes das Trevas, mas não vou te contar, apesar de achar que você a conhece. É só isso, espero que você esteja bem. Não se preocupe com fardos pesados demais para suas costas, você ainda é muito jovem e não precisa ficar sofrendo antes do tempo. Te vejo dia 1º de setembro, em Hogwarts. Até lá!
Hagrid
Harry leu a carta e ficou intrigado; primeiro por causa da nova professora. Achou estranho Hagrid dizer que Harry já a conhecia, pois o garoto não conhecia tantos bruxos assim no mundo mágico, apesar de ser conhecido por todos os bruxos do mundo.
Pegou um embrulho um pouco desajeitado e percebeu que este era o de Hagrid. Antes de abri-lo, ficou pensando nas palavras do amigo: "Não se preocupe com fardos pesados demais para suas costas, você ainda é muito jovem e não precisa ficar sofrendo antes do tempo." Provavelmente devia estar falando dos ataques de Voldemort, mas como não se preocupar se ele mesmo era o mais envolvido no caso? Queria muito não ter nada a ver com isso e não precisar se preocupar, mas era impossível. Resolveu, pelo menos nesse momento, seguir o conselho do guarda-caça e desviou seus pensamentos para o pacote.
Apesar de desajeitado, parecia que Hagrid tinha caprichado, ou pelo menos tentado, pois tinha até um laço, vermelho e dourado (as cores da Grifinória), ou era uma tentativa de laço. Harry abriu e viu que dentro havia um baralho de Snap Explosivo. Assim como o presente de Mione, o de Hagrid também tinha um pequeno recado: "Isto é para você se distrair durante as férias, tente explodir a cara gorda daquele seu primo trouxa com as cartas". Harry riu, só Hagrid mesmo para ter uma idéia como essa.
Passou então para a próxima carta e reconheceu a letra de Sirius; assim como a carta de Hagrid, esta também era breve:
Olá, Harry. Recebi sua carta, foi importante ter contado tudo aquilo, você não imagina como foi útil. Continue escrevendo se houver algo nesse sentido novamente. Atualmente estou fazendo um pequeno trabalho junto com Remo que lhe manda lembranças. Achei um presente para você de aniversário que talvez seja útil e que você possa estar sentindo falta, Dumbledore me devolveu e disse que seria melhor este ficar com você, espero que goste. Fique alerta e em contato.
Sirius
Harry achou aquilo muito estranho, como será que o contou na carta pode ter sido assim tão útil? Resolveu pegar o próximo embrulho, o de Sirius; era uma pequena caixa e quando Harry a abriu, viu que dentro tinha um pergaminho antigo; depois de desenrolá-lo, soltou uma exclamação de surpresa: era o Mapa do Maroto, que devido a algumas complicações no fim do semestre tinha ficado para trás quando Harry deixou Hogwarts. Realmente não havia presente melhor, seria muito útil.
A última carta, que de início Harry pensara ser de Rony, revelou-se como sendo a carta de todos os anos que era mandada por Hogwarts; como sempre dizia que as aulas teriam início no dia 1º de setembro e os alunos deveriam estar na estação King Cross às onze horas da manhã desse mesmo dia para pegar o Expresso de Hogwarts. Além do material costumeiro e dos livros para cada matéria, um dos materiais intrigou Harry: "O místico baralho dos místicos, Adivinhação".
- Ah, ótimo, aposto que a Trelawney vai ver minha morte nessas cartas! – observou Harry com ironia, pois a diversão da Profª. Sibila Trelawney era prever a morte trágica do garoto.
Harry olhou para as cartas e os presentes por um lado feliz, mas por outro frustrado; Rony não tinha mandado nada, será que esquecera do amigo? Estava pensando nisso quando reparou outro pequeno embrulho, um pequeno saquinho, daqueles que se guardam jóias. Harry, intrigado, pegou o presente e saía de dentro dele um pedaço de papel, que estava enrolado. Nele estava escrito:
Isto pertencia à sua mãe. Apesar de ser um menino, acho que você gostaria de guardar isso como lembrança dela. Um abraço de uma pessoa que gosta muito de você.
Depois de ler o bilhete, Harry ficou muito intrigado. Tirou de dentro do pequeno embrulho uma corrente de ouro, que reluzia à luz do sol. A fina corrente tinha ainda um pequeno pingente, com uma pedra esverdeada, uma esmeralda.
- Será que isso pertenceu mesmo à minha mãe? – perguntou a si mesmo, observando a corrente. Várias imagens passaram por sua mente, as fotos que tinha de seus pais; o momento, durante o fim do Torneio Tribruxo, quando os ecos de seus pais saíram da varinha de Voldemort e o ajudaram a escapar do bruxo. Podia ouvir as vozes de seus pais e principalmente de sua mãe, encorajando o filho a continuar resistindo, ela que chegara no momento em que Harry mais precisava. Lágrimas teimosas vieram aos seus olhos e o garoto as repeliu, segurou a corrente bem firme na mão, recolheu os presentes e cartas e se levantou, encaminhando-se em direção à casa. Edwiges, que ainda estava no banco, levantou vôo e tomou a direção da janela do quarto de Harry, enquanto o garoto entrava pela porta.
Harry entrou e ficou feliz por seus tios estarem na cozinha, conversando, e Duda tão absorto com a TV, que nem viu o primo entrar e subir as escadas rapidamente. Já no seu quarto, Harry colocou os presentes em um canto e sentou na beirada da cama. Abriu lentamente os dedos da mão, que ainda segurava a corrente e passou a observá-la novamente. Tinha a sensação de que era legítima, que pertencera mesmo à Lílian Potter. Porém, não tinha certeza e nem como provar. Por um segundo, veio uma idéia na mente do garoto: Tia Petúnia poderia saber se aquilo pertencia ou não à sua mãe. "Não, ela não iria nem querer me escutar, do jeito que é..." – pensou – "Mas é minha única chance... Vou tentar".
Decidido, saiu pelo quarto e deu de cara com a tia que vinha subindo as escadas. Ela nem olhou para ele e já ia passando direto, até que Harry a interpelou:
- Tia! Eu queria lhe falar uma coisa, será que pode me escutar?
Tia Petúnia virou-se e lançou um olhar de extremo desprezo para o sobrinho, mas ainda assim, disse:
- O que você quer moleque? Só espero que não me atrapalhe mais do que já o faz normalmente!
Harry fingiu que não ouviu a última frase e disse para si mesmo que aquilo era importante e que seria necessário engolir o orgulho.
- Eu gostaria que me dissesse se isto pertenceu à minha mãe. – disse, mostrando a corrente para a tia, que arregalou os olhos numa expressão de espanto e tentou tirar a corrente das mãos do garoto que rapidamente a pôs longe do alcance da tia e continuou, um pouco irritado: – Eu pedi para que me dissesse se isto pertencia à minha mãe, por favor, responda.
Tia Petúnia parecia estar fazendo uma grande força para se conter. – Onde conseguiu isso? – perguntou.
- Era ou não era dela? – perguntou Harry, já exaltado.
Ainda tentando se conter e muito a contragosto, ela finalmente respondeu:
- Sim, pertencia à Lílian. Ela sempre andava com essa corrente, não tirava para nada. Mas onde você a conseguiu? Com quem?
- Era só isso que eu queria saber, obrigado. – Harry disse secamente e virou-se para entrar no quarto novamente.
- Espere! – gritou tia Petúnia. – Eu... – mas foi interrompida por uma buzina, que tocava sem parar em frente à casa.
Harry se voltou e ainda olhou para a tia que estava indecisa e lançou-lhe um olhar assustado, mas por fim, desceu as escadas em direção à janela. Duda e tio Válter também estavam na janela agora, observando lá fora e Harry ia entrar no quarto quando ouviu tio Válter gritar, exaltado:
- O quê? Mas que diabos esses loucos estão fazendo aqui?
O garoto foi tomado por um súbito pressentimento de que deveria ver o que estava acontecendo; desceu rapidamente as escadas e olhou pela janela, onde os outros estavam. O que viu lá fora o surpreendeu e alegrou ao mesmo tempo. Um carro muito estranho estava parado em frente à casa e de dentro dele saíam seu amigo Rony e seu pai, o Sr. Weasley.
