Capítulo Quatro – Um aniversário diferente
Harry ficou espantado, o que será que os dois estavam fazendo ali? Rony e o Sr. Weasley estavam, agora, se dirigindo à porta. Mas Harry não pôde nem mais pensar direito, foi interrompido pelo seu tio Válter, que gritou, exasperado:
- O que você pensa que está fazendo, moleque? Chamando esses loucos para virem aqui na minha casa? Eu não vou permitir que eles entrem nessa casa nunca mais, entendeu?
- Não importa, eu saio, se esse é o caso. – disse o garoto, que já chegara ao limite da paciência e, no momento que disse isso, a campainha tocou. Ele foi atendê-la, mas tio Válter o segurou pelo braço.
- Você não vai atender essa porta, não quero esses loucos na minha casa! – gritou o tio, com a cara mais vermelha e enfurecida que poderia fazer. – Eles não vão entrar e você não vai falar com eles! Não depois de tudo que aprontaram ano passado!
- Sinto muito, mas não vou fazer isso. – dizendo isso Harry se desvencilhou da mão gorda do tio e se encaminhou à porta.
- Se sair por essa porta não entrará mais! – gritou novamente o tio; tia Petúnia tinha uma expressão angustiada e Duda se escondera atrás da mãe, mas espiava de vez em quando.
Harry respirou fundo e disse, cinicamente:
- E não é isso que vocês sempre quiseram? Se livrar desse estorvo? Pois bem, o estorvo está indo embora! Eu também sempre quis isso! – abriu a porta e a bateu em seguida, com força. Ainda pôde escutar a voz do tio, gritando:
- Ingrato! – em seguida, passos furiosos e pesados se afastando.
O garoto fechou os olhos e deu um longo suspiro. Quando os reabriu, pôde ver tanto Rony quanto o Sr. Weasley estupefatos com a cena que não puderam deixar de ouvir.
- Me desculpem. – disse Harry, envergonhado. – Eu não queria que assistissem a isso, mas não consegui evitar...
- Não se preocupe, Harry, nós sabemos que a culpa não é sua. Eu, pelo menos, já vi o bastante ano passado para saber que seus tios não são lá essas coisas... – suspirou o Sr. Weasley.
- O meu pai tem razão, Harry. – Rony disse, se aproximando do amigo e dando palmadinhas nas costas dele. – E você nem precisa se preocupar, porque já tem lugar onde ficar o resto das férias, não é uma coincidência que eu e meu pai viemos te buscar para ir lá pra casa, meu pai até pegou um carro especialmente do Ministério só pra te buscar! – continuou, em tom divertido e debochado.
- Quê? – exclamou Harry, que não conseguiu se conter.
- Puxa, pensei que você fosse ficar feliz... – lamentou Rony.
- E eu tô muito feliz! É a melhor notícia que eu poderia ter recebido! – disse Harry, com um sorriso que ia de orelha a orelha.
Subitamente, a porta se abriu e dela rolaram milhares de coisas: livros, pergaminhos, a varinha, presentes, cartas, roupas, o malão, a mochila, a Firebolt de Harry e até a gaiola de Edwiges, que já estava fora desta, voando e piando, indignada. Tio Válter ainda lançou um olhar irritado para eles antes de fechar a porta com estrondo.
- Só espero que ele não tenha esquecido de trazer nada. – debochou Rony. – Não tô nem um pouco a fim de voltar aqui e acho que você também não está, não é Harry?
- Tem razão... – disse Harry e começou a juntar suas coisas.
- Vamos pegar tudo e colocar no carro, então poderemos conversar, não quero ficar aqui nem mais um minuto. – disse o Sr. Weasley, olhando para os lados e vendo que a rua estava deserta, fez um movimento com a varinha e juntou tudo, levando depois para o carro.
Rony e Harry o acompanharam e quando deram a partida e já estavam distantes, Harry perguntou:
- Mas por que vocês estão aqui? O que aconteceu para que viessem me buscar?
- Ora, eu já te disse, Harry. – disse Rony, que estava no banco da frente, à esquerda do pai, que dirigia. – É porque queremos que passe o resto das férias conosco, oras!
Harry olhou para Rony com uma expressão de "Eu-já-sei-disso-bobão" e o Sr. Weasley percebeu e respondeu pelo filho, um pouco sério.
- A verdade Harry, é que foi Dumbledore que nos pediu para que te buscássemos e o levássemos para casa; ele está muito preocupado e disse que a casa dos seus tios já não é mais segura para você.
Harry se espantou e o Sr. Weasley continuou:
- Você já deve saber, Harry, que Você-sabe-quem já tem aprontado bastante durante esse período. E é por isso que Dumbledore disse que era melhor você ficar com nós, que somos bruxos e sabemos lidar com isso, do que com seus tios trouxas que na primeira oportunidade te entregariam para ele, apavorados.
- Mas o próprio Voldemort disse que era impossível para ele chegar a mim quando estou na casa dos Dursleys... – Harry disse, sem entender, enquanto que Rony e o Sr. Weasley tinham calafrios aos ouvir o nome do bruxo. Rony permaneceu calado, mas o Sr. Weasley prosseguiu falando:
- Mas agora talvez a casa deles não seja mais tão segura assim Harry... Eu prefiro confiar em Dumbledore, ele sabe o que faz...
- O senhor tem razão... – Harry suspirou. – Eu também confio nele...
Rony, que parecia ter notado que o clima se tornara pesado, disse, tentando animá-los:
- Puxa, mas como nós somos mal-educados, pai! Harry faz quinze anos hoje e nós nem demos os parabéns a ele! – e virando para trás e encarando o amigo com um sorriso no rosto, disse. – Feliz Aniversário, amigão! Olha, os presentes não estão aqui comigo, estão lá em casa, eu te entrego quando chegarmos lá.
- Obrigado, Rony. – respondeu Harry, contagiando-se com o amigo e sorrindo também.
O Sr. Weasley pisou fundo no acelerador e, depois de apertar um botão, desaparatou o carro.
Passaram-se apenas alguns minutos até que os três chegassem à Toca. Durante a viagem, Rony desculpou-se por não ter mandado nenhuma carta para Harry. O garoto, assim como Harry, tinha crescido um pouco durante as férias, porém continuava mais alto que o amigo. Ele ainda tinha as milhares de sardas no rosto que agora estavam misturadas também às espinhas que o próprio Rony denominou como "marcas da adolescência que não podem ser mudadas nem pelos bruxos". Harry, então, comentou com um pouco de ironia:
- É, Rony, mas eu fiquei sabendo que você não deixou de mandar cartas para a Mione. – disse, em tom divertido. – Ela me mandou uma carta e disse que você só pergunta para ela se o Krum tem se correspondido...
Rony corou intensamente e seu rosto e as orelhas ficaram da mesma cor do cabelo, que em todos os Weasleys era um ruivo intenso. O garoto começou a gaguejar, em uma tentativa de se explicar.
- Já chegamos. – comentou o Sr. Weasley, que se controlava imensamente para não rir. – A Toca!
Os três desceram do carro e descarregaram as coisas de Harry; a coruja do menino, Edwiges, saiu voando, parecia irritada depois do que aconteceu na casa dos Dursleys. Rony, que ainda estava vermelho, comentou para Harry:
- Estão todos em casa hoje; menos é claro o Gui e o Carlinhos que não puderam tirar férias para virem para cá esse ano. – Gui e Carlinhos eram os irmãos mais velhos de Rony; Gui trabalhava em uma filial do Banco Gringotes no Egito, enquanto que Carlinhos trabalhava com dragões na Romênia.
Quando a porta se abriu, Harry teve uma surpresa que o alegrou muito; todos os Weasleys estavam na sala, cantando parabéns para o garoto e a Sra. Weasley tinha um enorme bolo de frutas nas mãos. Agora era a vez de Harry corar e ficar envergonhado.
- Parabéns Harry, meu querido! – exclamou a Sra. Weasley e em seguida deu um abraço apertado no garoto, que sentiu pela segunda vez na vida que aquele era um abraço de uma verdadeira mãe.
- O... obrigado... – gaguejou o garoto, que sentia o rosto arder.
- Ora, não precisa agradecer! – disse a Sra. Weasley. – Nós fizemos isso de coração, a família toda gosta muito de você! – ao ouvir isso Harry corou mais ainda e o que veio a seguir foi uma avalanche de cumprimentos; o Sr. Weasley conseguiu bagunçar mais ainda o cabelo do garoto (que já era bagunçado), os gêmeos, Fred e Jorge, tocavam cornetas improvisadas e até a mais nova dos Weasleys, Gina, que sempre teve uma quedinha por Harry veio lhe dar os parabéns, muito envergonhada.
Percy, que era o mais "certinho" dos Weasleys, cumprimentou Harry muito polidamente e os gêmeos, que eram os mais bagunceiros da família aproveitaram para tirar muito sarro dele:
- Mas que falta de respeito, Sr. Percy Weasley. – debochou Fred. – Tsk, tsk, tsk – disse e balançou a cabeça de um lado para outro. - Você apenas apertou a mão do aniversariante, não sabe que o educado seria reverenciá-lo?
- Todas as felicidades ao digníssimo Harry Potter! – disse Jorge, fazendo uma reverência exagerada, enquanto Harry não sabia onde colocar a cara. – É assim que se faz, Percy! – continuou.
Rony, que observava tudo perplexo e incrédulo, disse: – Vamos, Harry. Deixa esses doidos aí e vamos ver os seus presentes!
Os dois amigos se encaminharam até o sofá e sentaram-se. Rony passou ao amigo dois pacotes, enquanto que o Sr. e a Sra. Weasley cortavam fatias de bolo para todos e os gêmeos continuavam debochando de Percy, que tinha uma cara cada vez mais feia, sendo observados por Gina que não conseguia parar de rir.
Harry abriu o primeiro pacote, que se revelou como sendo mais um suéter feito pela Sra. Weasley; este era preto com detalhes em verde.
- Minha mãe disse que combinava com seu cabelo e seus olhos. – disse Rony, dando de ombros. – Sabe como ela é... Agora, vai, abre logo o meu!
O outro pacote era um pouco maior e Harry o abriu sendo observado pelo olhar ansioso de Rony. De dentro saiu uma roupa totalmente alaranjada, era o uniforme do Chudley Cannons, o time de quadribol favorito de Rony.
- Uau, Rony! – exclamou Harry, estupefato. – Isso deve ter sido muito caro!
- Que nada, você sabe, os Cannons estão um pouco mal no campeonato, então ninguém quer os uniformes... – disse Rony, um pouco desanimado. – Eu também ganhei um, só que o meu é o uniforme do goleiro enquanto que o seu é do apanhador. Além disso, eu esqueci de te contar, meu pai ganhou um aumento! – completou, com um grande sorriso.
- Sério? – perguntou Harry. – Isso é ótimo! Vocês merecem mesmo!
Rony sorriu e perguntou em seguida – Mas você gostou mesmo do presente?
- É claro que sim! – respondeu Harry, que não cabia em si de tanta felicidade depois de tudo que acontecera até ali. No final das contas, esse aniversário revelara-se como o melhor de todos.
Todos ficaram comendo bolo e conversando durante o resto da tarde e depois Rony acompanhou Harry para o seu quarto, que continuava totalmente laranja, com as cores e estampas do time de quadribol. Edwiges já estava lá, descansando, ou tentando, pois Píchi, ou Pichitinho, que era a pequena coruja de Rony, estava voando e piando alegremente por todo o quarto. Rony agarrou a coruja e a fez sossegar (um pouco, pois ela continuava piando, feliz).
Os dois amigos sentaram-se um de frente para o outro e Rony começou a falar, um pouco sério:
- Harry, se eu te falasse uma coisa, você não ia debochar de mim?
- É claro que não, Rony. Por que eu o faria?
- É que... sabe... – Rony não sabia por onde começar e perguntou: – Você ia ficar bravo comigo se eu te perguntasse um negócio?
Harry já estava ficando impaciente e disse: – Fala logo, Rony, não enrola!
- Ah... tá bom! Você já gostou de uma garota? Sabe, gostar... – Rony fez uma expressão que se não fosse trágica seria cômica.
- Bem... – Harry lembrou-se de Cho Chang, uma garota da Corvinal, por quem o garoto sentia algo diferente, mas no fundo ele sabia que a garota não gostava dele, só o tinha como mais um garoto atrás dela, pois era muito bonita e popular. – Gostar... Acho que sim...
- Sério? – Rony espantou-se por um momento. – Quer dizer, quem é?
- Ah, Rony, que pergunta estranha!
- Pode falar, Harry, eu não vou rir de você! Pode confiar em mim, é que eu também queria te contar um negócio e... – as orelhas do garoto começaram a enrubescer.
Harry ficou um pouco indeciso, nunca tinha falado isso para ninguém, mas resolveu contar para o amigo, talvez ele pudesse ajudar.
- É a Cho.
- Cho Chang, da Corvinal? Aquela que você convidou no Baile de Inverno, ano passado? – perguntou Rony, um pouco surpreso.
- É, ela mesma.
- Ah... E, você já falou pra ela, quer dizer, sobre, você sabe...
- Não. – respondeu Harry, que percebeu onde Rony queria chegar. – Nunca falei nada, mas talvez ela já tenha percebido.
- E se você fosse falar pra ela... Como você falaria, Harry?
Agora Harry realmente percebeu o que estava acontecendo e perguntou: – Por que você tá perguntando isso, Rony? Você tá gostando de alguém? – mas até já sabia a resposta.
Rony hesitou um pouco; fez uma expressão estranha e mesmo um pouco indeciso, disse muito rápido: – Eutogostandodamione! – e ficou muito, muito vermelho, parecia que o rosto e as orelhas tinham conseguido ficar mais vermelhos que o cabelo.
- Quê? – perguntou Harry, com um sorriso no rosto.
O amigo respirou fundo e repetiu, agora devagar: – Eu... tô... gostando... da... Mione... Pronto, falei!
- Mas isso é ótimo, Rony! – exclamou Harry que não se cabia em si, afinal já tinha notado há muito tempo que os dois amigos se gostavam. – E você vai falar pra ela, né?
- É... bem... esse é o problema, Harry. Eu não sei como dizer isso pra ela... E se ela não gostar de mim? E se ela me dispensar?
- Ah, ela não vai fazer isso...
- Você acha?
- Eu acho que ela também gosta de você, só não falou nada porque tanto você como ela são dois teimosos!
- Também não é assim! – disse Rony, emburrado. – Mas você acha mesmo que ela vai me aceitar, quer dizer, ela é tão inteligente, gostar de mim, que não tenho nada de especial...
- Não fala assim Rony, é claro que você tem suas qualidades e defeitos, todo mundo é assim. E eu acho que ia dar muito certo, vocês juntos.
- E você, que nunca falava nada, hein Harry? Se fazendo de "mula pesada"...
- E eu ia falar isso pra você pra quê? Pra você negar e ainda ficar chateado comigo? Eu não, é melhor dar tempo ao tempo. – o garoto então teve uma idéia súbita: – Mas agora que você se resolveu, acho que eu vou te ajudar!
- Como?
- A Mione vai vir pra sua casa esses dias, não vai?
- Vai, pelo menos eu convidei, acho que ela vai vir...
- Então deixa comigo! – disse Harry, decidido.
Rony ficou com uma expressão um pouco preocupada, nunca tinha visto o amigo com uma cara dessas, parecia que muitas idéias passavam pela cabeça de Harry, então perguntou: – O que você tá pensando em fazer, Harry?
- Você vai saber na hora certa. Não se preocupe, vai dar certo!
