Capítulo Cinco – O balaço "cupido"
Uma semana se passara desde a chegada de Harry na Toca. Para o garoto, as férias estavam sendo muito divertidas, como sempre eram quando estava na companhia dos amigos. Mas era bem claro que na Toca os dias sempre eram cheios de acontecimentos "estranhos".
As explosões no quarto de Fred e Jorge continuavam as mesmas e a Sra. Weasley finalmente se acostumara com isso. Certa vez, os gêmeos comentaram com Harry que o dinheiro que o garoto recebera pela vitória no Torneio Tribruxo e dera a eles no fim do semestre estava sendo de grande utilidade e que Harry não se preocupasse, pois tinham separado uma parte do dinheiro para comprar as vestes a rigor novas de Rony, já que este fora o único pedido de Harry.
Gina continuava a mesma. A Sra. Weasley pedira uma vez à garota que levasse um copo de suco para Harry e Rony no quarto e quando ela, que estava muito vermelha, entrou e ia entregar o suco para Harry, o copo escorregou de sua mão e caiu, sujando o chão. A garota ficou mais vermelha ainda e saiu correndo do quarto, seguida por olhares confusos dos garotos.
Depois de um dia inteiro que Harry e Rony passaram voando em suas vassouras divertindo-se, os dois garotos voltaram para casa no fim de tarde. Ao chegarem, Rony ficou mais vermelho do que os cabelos e Harry logo percebeu o porquê: estavam na sala, conversando com o Sr. e a Sra. Weasley, Hermione e seus pais. A garota logo percebeu que os amigos tinham chegado e foi ao encontro deles:
- Puxa, pensei que não chegariam mais hoje! – ela disse sorrindo e voltou-se para Rony. – Eu recebi suas cartas, Rony, e resolvi vir pra cá, já que você me convidou!
- É... certo. – ele disse nervoso.
- Acho que o Rony quer dizer que está feliz de você estar aqui, Mione. – disse Harry, quase rindo. Hermione observou-os com o olhar confuso e Harry continuou: – Recebi sua carta e o presente, Mione, obrigado. – Harry mostrou então o pulso que estava com o relógio.
- Que bom que acertei na escolha, Harry. – ela respondeu, mas ainda confusa com a reação de Rony, que continuava vermelho e tentava se esconder atrás de Harry.
O Sr. e a Sra. Weasley convidaram os Granger para o jantar e estes aceitaram. Todos fizeram a refeição no jardim, pois o número de pessoas era bem grande. O Sr. Weasley passou todo o tempo conversando com o Sr. Granger, muito interessado nas coisas dos trouxas (os pais de Hermione eram trouxas).
Rony parecia ter voltado ao normal, mas às vezes lançava ainda alguns olhares para Hermione. A garota tinha mudado um pouco durante as férias, estava um pouco mais morena, o que ela disse ter sido devido aos dias que passou na praia durante a viagem; ela também parecia que estava tentando cuidar do cabelo, que parecia um pouco mais assentado.
Os três amigos conversaram sobre amenidades durante todo o tempo e, depois do jantar, os pais de Hermione se despediram e foram embora. A garota foi dormir acompanhada de Gina, já que as duas estavam no mesmo quarto. Harry e Rony foram para o quarto deste e ao chegarem lá, Rony disse:
- Você acha que eu dei muita bandeira, Harry?
- No começo sim, mas depois você se controlou.
- E agora, o que será que ela tá achando de mim?
- Eu não sei, Rony. Provavelmente o que ela sempre achou... Mas o que eu sei é que você não pode continuar assim, tem que contar tudo para ela!
- Eu não consigo, Harry. Além disso, você sabe como a Mione é, a gente vai acabar é brigando, isso sim!
- Se esse é o caso, acho que eu vou ter que agir... – disse Harry com uma expressão marota no rosto.
- O que você vai fazer, hein, Harry? Nunca te vi assim antes. – disse Rony, desconfiado.
- Você vai saber amanhã, Rony. Fique tranqüilo. Agora é melhor você dormir, porque amanhã vai ser um grande dia para você! Boa noite.
- Boa noite. – disse Rony, um pouco preocupado e depois apagou a luz.
No dia seguinte, os garotos acordaram um pouco mais tarde. Harry e Rony desceram para o café e encontraram todos à mesa, menos o Sr. Weasley e Percy, que já tinham saído para o trabalho. Os garotos disseram "bom dia" a todos e Harry, discretamente, fez com que Rony sentasse ao lado de Hermione à mesa. Rony olhou emburrado para o amigo que lhe retornou uma piscadela de olho e disse mexendo os lábios, apenas para o amigo ver: "Isso é só o começo, prepare-se".
Depois do café Fred e Jorge sugeriram uma partida de quadribol no jardim, o que todos aceitaram prontamente. Harry teve então uma idéia e enquanto todos pegavam suas vassouras e se encaminhavam para o jardim, ele chamou os gêmeos e disse:
- Vocês dois vão levar seus bastões para jogar, não vão?
- É claro que sim, Harry! – respondeu Fred. – Você já viu algum batedor jogar sem seu bastão? – e os dois gêmeos começaram a rir.
- Então vocês vão me fazer um favor. – continuou Harry, que pareceu não ligar para a brincadeira. – Quando Rony estiver próximo a Mione, vocês rebatem um balaço nela, certo?
- Quê? – perguntaram os irmãos, confusos. – Por que isso agora, Harry? A garota chegou ontem e você já quer quebrar o nariz dela? Pensei que vocês fossem amigos... – disse Jorge, em tom de brincadeira.
- E é exatamente pela minha amizade com ela e com Rony que estou pedindo isso. – respondeu Harry, um pouco sério e o outro pouco descontraído. – Eu só peço isso e não se preocupem, eu tenho certeza que vai dar certo e depois vocês vão saber do que isso se trata. Vocês vão fazer isso?
Os gêmeos se entreolharam e depois Fred disse: – Tudo bem, Harry, mas você se responsabiliza se alguém sair com o nariz quebrado! Se bem que vai ser meio engraçado se isso acontecer... – ele completou, dando um sorriso maroto.
Harry sorriu também e disse para si mesmo que se aquilo não funcionasse, nada funcionaria.
Foram formados dois times para o jogo: Harry, Gina e Jorge contra Rony, Hermione e Fred. Todos teriam que se revezar nas posições, já que em um jogo de verdade são sete jogadores de cada lado e não três. Eles usaram bolas velhas e que não eram especiais para quadribol, mas que estavam enfeitiçadas para serem.
Jogaram a manhã inteira e a tarde também. Harry já estava ficando impaciente, pois não surgira ainda nenhuma oportunidade para os gêmeos fazerem o que ele pediu. O garoto já estava até pensando que eles já tinham esquecido, quando, no fim da tarde, aconteceu. Jorge rebateu um balaço bem na direção de Hermione, que não percebera que este se aproximava, estava muito preocupada tentando fazer um gol. Mas Rony notou e saiu em disparada atrás dela, quando o balaço estava quase atingindo-a, o garoto se pôs na frente dela, que freou a vassoura bruscamente. Rony segurou o balaço com força, mas o impacto foi muito forte e ele, junto com a vassoura, foi arremessado para trás, na direção de Hermione, que o segurou. Os dois estavam parados no ar, quando Hermione perguntou à Rony, um pouco vermelha:
- Vo... você está bem?
- Sim. – ele respondeu, as orelhas vermelhas, ainda segurando o balaço.
A garota olhou do Rony para o balaço e disse: – Obrigada, se não fosse você, acho que eu teria me machucado.
- Tu.. tudo bem. – ele disse.
Enquanto isso, todos pousaram e desceram de suas vassouras. Jorge perguntou em um sussurro para Harry:
- Então era isso?
- É, isso mesmo. – respondeu o garoto, sorrindo.
Fred e Gina pareceram entender também o que estava acontecendo enquanto que Rony e Hermione pousavam com suas vassouras. Hermione parecia um pouco desconcertada e Rony vinha em direção ao Jorge, com uma expressão furiosa no rosto.
- Que idéia foi essa, Jorge? A gente combinou que os balaços eram só para atrapalhar um pouco as coisas, mas não era para mirar em ninguém! – disse.
- Ah, desculpe Rony... – Jorge tentou se explicar.
- É Rony, acontece. – emendou Fred. – Jorge só rebateu errado...
- Errado demais para o meu gosto! – disse Rony. – Você poderia ter machucado a Mione, Jorge!
- Desculpe, Mione. – disse Jorge. – Eu não tive intenção... – Gina se controlou para não rir.
- Tudo bem, Jorge. – disse Hermione. – Tá tudo bem comigo, Rony, você não precisa ficar nervoso. – ela continuou, constrangida.
- É, já que tá todo mundo bem, é melhor a gente ir entrando, pois já tá escurecendo e não vai dar pra jogar mais mesmo... – disse Harry, querendo encerrar a conversa.
- Mas alguém tem que recolher as bolas do jogo – comentou Fred – Acho que vocês dois poderiam recolhê-las... – disse, dirigindo a Rony e Hermione.
Rony já ia se manifestar contra, mas foi interrompido por Gina, que já tinha entendido tudo o que estava acontecendo e resolveu ajudar também. – Isso! Vocês dois recolhem as bolas e nós quatro levamos as vassouras para dentro!
Assim, Harry, Gina, Fred e Jorge pegaram as vassouras e deixaram Rony e Hermione sozinhos. Os quatro entraram na casa e depois que fecharam a porta, começaram a rir.
- Essa idéia sua foi ótima, Harry! – exclamou Jorge, em meio a risos – Eu nunca imaginaria que era isso que você pretendia quando nos pediu aquilo!
- Mas saiu melhor do que eu imaginava. – respondeu o garoto e depois dirigiu-se ao Fred. – A idéia que você teve agora no final foi ótima. Essa desculpa dos dois recolherem as bolas do jogo foi muito boa.
- É, eu sei, obrigado. – disse Fred, orgulhoso. – Mas o Rony já ia reclamar de novo.
- É, se não fosse a Gina... – disse Harry, dirigindo-se à garota – Você teve muita presença de espírito, Gina.
A garota ficou muito vermelha e abaixou os olhos. Jorge disse:
- Mas agora a gente não pode ficar aqui parado, sem saber de nada! Vamos lá fora, ver como eles estão se entendendo!
- Não! – Gina exclamou. – A gente já se meteu demais nisso!
- Ah, deixa de ser chata, Gina! – disse Fred – Vamos lá sim!
- A Gina tá certa. – disse Harry. – É melhor deixarmos os dois sozinhos...
Fred e Jorge se entreolharam e sorriram marotamente. Os dois correram então para a porta dos fundos, deixando Harry e Gina na sala, confusos. Gina disse, preocupada:
- Não podemos deixar eles fazerem isso!
- Você está certa. Vamos detê-los. – Harry disse e saiu atrás dos gêmeos, seguido de Gina. Os garotos chegaram no jardim, mas não viram mais nem Fred nem Jorge. Ouviram então alguém dizer:
- Ah, que saco, eu não acredito que eles deixaram a gente aqui, recolhendo as bolas! Fred e Jorge me pagam, eles sabem que essa é a parte mais chata de tudo! – era Rony, que estava junto com Hermione, abaixado, guardando as bolas em uma caixa.
Harry puxou Gina para atrás de um arbusto e os dois ficaram quietos, observando. Viram Hermione recolhendo mais uma bola e, depois de passar esta para Rony, ela disse:
- Rony, não precisa dar uma de resmungão! Olha, a gente já terminou!
- Eu não sou resmungão! – ele exclamou, levantando-se e encarando Hermione.
A garota olhou para ele, com as sobrancelhas franzidas, com a expressão de reprovação que só Hermione sabia fazer. Atrás do arbusto, Harry e Gina estavam observando tudo, apreensivos; parecia que Rony e Hermione iriam brigar como sempre.
- Você não precisa falar assim também, Rony! – disse Hermione, encarando o garoto. – Eu só fiz um comentário e você não precisa ser grosso!
Rony parecia um pouco encabulado; virou o rosto e disse, sem olhar para a garota e quase em um sussurro. – Me desculpe.
- Olha pra mim, Rony Weasley! Por que você faz isso? – perguntou Hermione. – Primeiro você foi... – ela hesitou. – Foi... tão gentil... – sussurrou. – Depois você faz isso? – ela abaixou os olhos.
Rony olhou para ela, parecia arrependido – Mione... – disse. – Eu... – ele segurou o rosto da garota entre as mãos. Ela olhou para ele, espantada. Uma lágrima se formara no canto do seu olho e começava a escorrer. Rony a limpou com o dedo delicadamente e continuou. – Mione, eu quero te dizer uma coisa há algum tempo, mas não tinha coragem... Agora, eu... Eu... A verdade é que eu te amo, Hermione Granger!
A garota olhou surpresa para Rony, que parecia confuso, mas depois, decidido, aproximou o rosto do dela. Estavam muito próximos e, depois de alguns segundos, seus lábios se tocaram em um beijo apaixonado.
Harry puxou Gina e os dois, sorrateiramente, entraram novamente na casa, pelos fundos. O garoto achou que o que viram já era suficiente. Quando entraram viram que não tinha ninguém onde estavam e Harry percebeu que tinha puxado Gina pela mão. Espantou-se e soltou rapidamente, envergonhado. A garota também parecia constrangida e, muito vermelha, abaixou os olhos. Harry, tentando consertar, disse:
- Me desculpe. Eu... acho que vou subir, parece que nós já vimos o suficiente lá fora... – O garoto se virou e foi em direção às escadas, mas não percebeu que a garota erguera os olhos, observando-o se distanciar e depois ficara um bom tempo fitando com carinho a mão que o garoto tocara.
