Capítulo Sete – Um encontro no Beco Diagonal
- Vamos, garotos, acordem! – disse uma voz autoritária.
Harry abriu os olhos e tudo estava fora de foco. Enquanto procurava os óculos, ouviu Rony dizer, sonolento:
- Ah, mãe! Deixa a gente dormir mais um pouco!
- Nada disso, Rony! – a Sra. Weasley exclamou. – Vamos levantando agora! Hoje vamos comprar o material de vocês no Beco Diagonal e é melhor que estejam bem acordados quando for a hora de sair!
Harry ainda procurava os óculos quando a Sra. Weasley falou do seu lado, amavelmente. – Vamos querido, acorde! Já está na hora... – ela disse e lhe entregou os óculos. O garoto finalmente pôde ver tudo direito.
- Ah, claro! Com o Harry é "meu querido"! – Rony imitou a voz da mãe. – Comigo é "acorda logo, Rony"! – ele continuou, agora autoritário.
- Oh, Rony... – ela disse e deu um beijo no filho. – Você está exagerando! Desçam logo para o café! – ela continuou e saiu, encostando a porta.
Rony ficou com as orelhas vermelhas e Harry não agüentou e começou a rir. – Ah, cala a boca, Harry! – ele disse e jogou o travesseiro no amigo, que mesmo assim demorou a parar de rir.
Mais nada acontecera depois da morte de Karkaroff. Harry não teve mais nenhum sonho estranho e Sirius não mandara nenhuma resposta. Edwiges ainda não retornara e o garoto já estava começando a se preocupar, mas os amigos sempre diziam que talvez Sirius estivesse longe e por isso a demora.
Harry e Rony desceram para o café. A Sra. Weasley estava preparando algumas coisas e fazia vários movimentos com a varinha e muitas coisas voavam pela cozinha. Os gêmeos pareciam muito sonolentos para falarem alguma coisa. Hermione e Gina estavam conversando baixinho; quando os garotos disseram "bom dia" para elas, Hermione ficou ligeiramente vermelha e Gina deixou cair a faca da manteiga no chão.
Todos tomaram café e depois se arrumaram. Para o desespero de Harry, eles usariam pó de flu para fazerem a viagem. Fred e Jorge foram os primeiros a ir, seguidos de Hermione e Gina. Rony e a Sra. Weasley ficaram por último. Quando foi a hora de Harry ir, o garoto respirou fundo e disse bem alto e claro depois de assoprar o pó de flu nas chamas: "Beco Diagonal". Fechou os olhos. Tudo rodopiava e de repente ele caiu no chão de uma loja, tossindo. Jorge o ajudou a levantar:
- É, parece que você nunca vai se acostumar com pó de flu, né Harry? – ele disse.
- Talvez. – o garoto respondeu, ainda tossindo.
Rony e a Sra. Weasley chegaram logo depois sem maiores problemas. A Sra. Weasley combinou um horário para se encontrarem mais tarde no Caldeirão Furado e todos se separaram. O primeiro lugar que Harry, Rony e Hermione foram foi Gringotes, o banco dos bruxos. Lá Hermione trocou seu dinheiro trouxa por dinheiro bruxo. Harry retirou um pouco de dinheiro, mas não deixou os amigos o acompanharem até o cofre. Ele sempre se envergonhava quando outras pessoas viam a quantidade de dinheiro que ele possuía no cofre.
Depois, os garotos foram até a Floreios & Borrões comprar os livros. A quantidade deles tinha aumentado bastante e Hermione disse que era porque esse ano eles iriam prestar os N.O.M.'s (Níveis Ordinários em Magia) e precisavam estar bem preparados. Quando Harry foi pegar o livro de História da Magia, ficou interessado. O título do livro era "Lendas e Profecias", de Richard Bolgers.
- O que você tá olhando, Harry? – perguntou Rony por cima do ombro do amigo. Hermione estava ao lado deles também, espiando por cima do outro ombro de Harry.
- Ah, é o livro de História da Magia desse ano... – ela disse.
- História da Magia? – Rony perguntou com uma expressão de desgosto. – Aposto que esse livro deve falar de mais uma daquelas revoltas chatas de duendes...
Harry começou a folhear o livro e abriu em uma página qualquer para ler. Estava escrito no topo da página:
A lenda da Profecia Sagrada
Essa é uma lenda muito antiga dos bruxos. Segundo ela, uma profecia teria sido feita por Helga Huflepuff, na época da fundação da Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts. A profecia envolvia Godric Gryffindor e Salazar Slytherin, e nela, dizia que depois de anos e anos, nasceria um descendente dos dois, que expulsaria as sombras do mundo com a centelha de esperança. A profecia teria sido escondida por Rowena Ravenclaw na época, para que ninguém tentasse mudar o futuro. Nada foi provado sobre a veracidade da lenda e a profecia nunca fora encontrada.
Os três garotos leram o texto com atenção. Harry não sabia o porquê, mas aquela história parecia muito interessante para ele e o intrigara.
- Bem parece que finalmente vamos ter algo interessante em História da Magia... Mas aposto que o Binns vai fazer o assunto ficar chato, como sempre... – Rony lamentou. Hermione já ia protestar, mas ele não deixou. – E nem diga que História da Magia é interessante, Mione, porque eu sei que você não acha isso! – a garota ficou emburrada, mas não disse nada.
Eles compraram tudo o que precisavam na loja e quando saíram e conferiram a lista para verem se não faltava nada, Rony reparou em algo diferente em sua lista. - O místico baralho dos místicos? – ele perguntou. – O que é isso?
- É, eu também tenho isso na minha lista. – Harry comentou.
- Francamente, eu não acredito que vocês não saibam o que é isso! – disse Hermione, com seu jeito de "sabe-tudo". – Até eu, que não estudo Adivinhação, sei que esse baralho é para essa aula!
- Disso eu sei, Mione, tá escrito na lista que é para as aulas de Adivinhação! – disse Rony, já um pouco irritado.
- Então por que perguntou? – ela disse com seu jeito mandão.
Harry reparou que uma briga ia começar e arrastou os amigos para a loja para comprar o bendito baralho. "Será que eles nunca vão parar de brigar?" – ele pensou.
Os três terminaram as compras e foram tomar um sorvete. Harry observava os amigos discutirem. "É, acho que eles nunca vão parar de brigar" – pensou. Olhou as compras e de repente viu que tinha esquecido de algo.
- Ah, não! – ele exclamou. – Que saco, esqueci de comprar tinta!
Rony e Hermione pararam de discutir e Hermione disse: – Mas a gente acabou de passar na loja, Harry. Como você pôde esquecer?
- É, mas acabei esquecendo... – o garoto lamentou. – Eu vou lá comprar e vocês me esperam aqui, tá bem? – e sem ao menos ouvir a resposta, levantou e se dirigiu à loja. Chegando lá, abriu a porta e quase esbarrou em quem estava saindo. – Desculpe. – Harry disse, mas logo viu quem era: Draco Malfoy.
- Ora, ora, se não é o grande Harry Potter. – o outro debochou. Ele estava sozinho e parecia mais arrogante do que nunca. – Como vai?
- Estava bem até te encontrar, Malfoy. – disse Harry irritado. – Agora, se me dá licença... – disse e ia passar pelo rival quando este se pôs na sua frente, impedindo a passagem. – O que você quer, Malfoy? – Harry perguntou, respirando fundo para se controlar.
- Você devia aprender a ser mais educado, Potter, ou vai acabar se dando mal...
- Não pedi sua opinião. – Harry disse e passou por Malfoy, esbarrando nele. O garoto chegou ao balcão da loja e viu que ninguém estava lá no momento. Malfoy apareceu do seu lado e colocou as compras no balcão, com estrondo.
- Parece que você continua arrogante como sempre, Potter!
- "O roto falando do esfarrapado"! – debochou Harry. – Eu gostaria de fazer minhas compras em paz, Malfoy, se não se importa.
Malfoy bateu no balcão com força, fazendo barulho. – Mais cuidado quando falar comigo, Potter. Você não sabe do que eu sou capaz!
Harry riu em deboche. - Você só pode estar querendo me fazer rir, não é Malfoy?
O outro garoto bufou de raiva e ainda disse, antes de sair batendo a porta: – Você não perde por esperar, Potter!
Harry revirou os olhos e suspirou. – Só me faltava essa!
Depois de finalmente comprar as tintas, Harry começou a se encaminhar até a sorveteria, onde Rony e Hermione o esperavam. Estava distraído e quase tropeçou em um cão preto que se pôs na sua frente.
- Ah! Não acredito! – o garoto exclamou irritado. – Que... – Harry reparou no cão que estava vendo. – Sirius! – disse num sussurro.
O cachorro começou a puxá-lo pela barra da calça e o garoto não teve escolha senão segui-lo. Chegou até um beco escuro e lá o cachorro se transformou no seu padrinho.
- Sirius! – Harry sussurrou novamente. – O que você está fazendo aqui, é perigoso!
- Eu sei, Harry, mas precisava te ver... – Sirius disse. O padrinho estava com o semblante preocupado e sua aparência estava bem parecida com aquela que tinha quando saiu de Azkaban. – Eu recebi sua carta, mas não achei prudente te mandar uma resposta. Falei para sua coruja voltar, mas demorei a convencê-la, por isso ela ainda não deve ter voltado.
- É, eu pedi a ela que só voltasse quando tivesse uma resposta. – disse o garoto.
- Harry, eu precisava falar com você pessoalmente. O que você disse na carta foi muito sério e não podia ser tratado a distância. Por favor, me conte em detalhes o que aconteceu.
O garoto então contou tudo para o padrinho, que escutou atento. Depois ele disse: – É, Harry talvez sua amiga Hermione tenha razão sobre o que ela disse... Você e Voldemort têm uma ligação muito forte devido ao feitiço que não deu certo... E pelo que parece você pode mesmo ver o que acontece com ele...
- Quer dizer que eu vou ter esses sonhos sempre? – o garoto perguntou.
- Talvez sim, talvez não... Eu perguntei ao Dumbledore e ele disse que depende do estado de espírito do próprio Voldemort.
Harry suspirou. Sirius passou a mão no cabelo do afilhado e disse: – Queria que você não tivesse que passar por isso, Harry, mas não posso fazer nada... Eu preciso ir, e você também deve ir, seus amigos devem estar preocupados... – ele disse isso e se transformou no cão preto. Depois de acompanhar o afilhado até a saída do beco, foi embora, correndo. O garoto ainda ficou por um tempo olhando o padrinho se distanciar e depois resolveu se encontrar com os amigos. Ao chegar lá encontrou Rony e Hermione se beijando e, atrás deles, limpou a garganta, assustando os dois.
Rony e Hermione se viraram e viram o amigo, que sorriu. Os dois não sabiam o que dizer para se explicarem. Harry então disse, quase rindo: – Não precisam ficar envergonhados, eu já sabia de tudo...
Os dois amigos ficaram espantados e Harry começou a contar tudo, parecia que hoje era o dia de dar explicações. Contou tudo, desde a armação que fizera no dia do quadribol até a parte em que viu o que tinha acontecido entre os dois, não queria esconder nada dos amigos.
- E foi isso. – completou. – Me desculpem, mas eu só queria que vocês dois ficassem juntos...
Hermione ficou sem palavras e Rony um pouco bravo. – Você não vai ficar chateado comigo, né Rony? Afinal, eu te disse que estava planejando uma coisa para vocês! – disse Harry.
- É, Rony! Deixa de ser resmungão! – disse Hermione entre risos. – Se não fosse o Harry, talvez a gente não estivesse junto!
- Eu não sou resmungão! – Rony resmungou. – Mas que mania de dizer isso, Mione! – e voltou-se para Harry. – Tudo bem, Harry. Eu não vou ficar bravo com você!
Harry apenas sorriu. Contar aquilo lhe aliviara bastante. Não achava certo esconder isso dos amigos. Hermione, depois de um tempo, disse:
- Mas você demorou, Harry. Você só foi comprar a tinta ou foi fazer outra coisa além disso?
- Vocês nem vão acreditar se eu contar. – o garoto respondeu e contou os encontros que teve no curto período de tempo em que esteve fora. Quando terminou, Hermione exclamou:
- Eu não disse para vocês que já tinha lido aquilo em algum lugar! Eu estava certa!
Rony revirou os olhos, mas apenas disse que deviam ir, pois já estava chegando a hora de se encontrarem com a Sra. Weasley. Encontraram todos no Caldeirão Furado e de lá voltaram para a Toca. Harry não gostou nada da viagem de volta, pois usaram novamente o pó de flu, mas agora voltaram carregados de compras.
Ao chegarem, os gêmeos subiram correndo as escadas. Hermione e Gina ficaram na sala, olhando as compras e a Sra. Weasley foi preparar o jantar. Harry e Rony subiram em direção ao quarto dele e quando estavam lá em cima, Fred e Jorge puxaram Harry para um lado, sem Rony notar.
- Bem, Harry, compramos o que você tinha pedido. – disse Fred com um sorriso. – Logo ele vai ver. – emendou Jorge.
E Rony reparou bem rápido, pois os três ouviram o garoto gritar: – O que é isso? Fred e Jorge entraram rápido no quarto, seguidos de Harry, que já estava pensando que os gêmeos tinham comprado a veste mais estranha para Rony, como era bem o jeito deles. Mas quando entrou percebeu que se enganara: Rony exibia uma veste azul com detalhes em preto. Era uma veste muito bonita e Harry reparou, bem masculina, do jeito que o amigo queria.
- É aí, gostou, maninho? – perguntou Fred.
- Quer dizer que foram vocês que compraram essa veste? – Rony perguntou incrédulo. – Com que dinheiro? Assaltaram o Gringotes, por acaso?
- Pôxa, isso é jeito de falar com seus irmãos, que deram duro para comprar esse presente para nosso irmãozinho querido? – debochou Jorge, tentando se fazer de magoado.
- É, Roniquinho, tem gente que confia em nós, sabe... – disse Fred, olhando discretamente para Harry, mas Rony não reparou, para o alívio do garoto.
- Mas você não pode contar pra ninguém sobre isso, Rony! – disse Jorge, um pouco sério, o que era difícil. – Principalmente para a mamãe, entendeu?
- Tudo bem. – respondeu Rony, um pouco envergonhado. Os gêmeos já iam saindo, quando ele disse: – Obrigado, Fred e Jorge.
Os gêmeos não disseram nada e foram embora. Rony ainda estava incrédulo e fitava a veste a rigor, impressionado. Perguntou a Harry: – Você acredita no que acabou de ver? – Harry apenas deu de ombros e sorriu. Não gostava de mentir para o amigo, mas não ia dizer de jeito nenhum que fora ele mesmo que pedira para os gêmeos comprarem a veste com o dinheiro do Torneio Tribruxo.
