Capítulo Nove – Cartas Místicas e Animais Mágicos

No dia seguinte, todos estavam no salão principal, tomando o café da manhã, que estava muito farto. Hermione lembrou que preparar tudo aquilo devia ter sido muito duro para os elfos domésticos de Hogwarts. Elfos domésticos eram seres um tanto inusitados, que tinham como maior orgulho servir os bruxos sem ganhar nada em troca e, às vezes, eram maltratados pelos humanos. Harry conhecia dois elfos domésticos: um deles se chamava Dobby e era servo da família Malfoy, mas foi libertado no fim do 2º ano de Harry em Hogwarts pelo próprio garoto; a outra era Winky, que fora despedida pelo seu dono e nunca se conformara. No ano anterior, Hermione promoveu uma tentativa um tanto frustrada de fundar uma associação para ajudar a causa dos elfos domésticos. O problema era que a associação tinha somente três membros: a própria Hermione, Rony e Harry (os garotos entraram na associação um pouco contrariados).

Rony estava, no momento, entregando os horários para os alunos da Grifinória. Quando o garoto entregou os horários do sétimo ano para os irmãos Fred e Jorge e o amigo deles, Lino Jordan, que narrava os jogos de quadribol, estes não deixaram por menos:

- E aí, Roniquinho, como está se sentindo como o mais novo monitor da Grifinória? – perguntou Fred. Jorge e Lino começaram a rir.

Rony se limitou a fazer uma careta e se afastou. Jorge ainda disse: - Mamãe vai ficar orgulhosa, Roniquinho!

- Tomem! – disse Rony emburrado, entregando os horários para Harry e Hermione.

Os garotos pegaram os horários e Harry começou a olhá-lo.

- Ah, Rony, não faz essa cara! Eu sei que você está feliz de ser um monitor! – Hermione disse. Rony não disse nada, mas Harry, lançando um olhar de esguelha para o amigo pôde notar um sorriso disfarçado. A verdade é que Rony sempre quis ser alguém mais importante e ser monitor era um jeito de atingir essa meta.

- Que bom, só temos Poções na Sexta-feira. – Harry comentou aliviado.

- Isso é ótimo, mas parece que continuamos com a turma da Sonserina nessa aula... – lamentou Rony.

- Então podem ir se preparando, meninos. – Hermione disse. – A primeira aula de vocês hoje é Adivinhação. – ela apontou o horário dos garotos. - E em seguida teremos Trato de Criaturas Mágicas com a turma da Sonserina também.

- Ah, não! – exclamou Harry. – Já vou começar o dia com previsões de morte...

- E depois ter que ver os nojentos dos sonserinos... – lamentou Rony.

- Que pena que vocês não escolheram Aritmância, como eu. Essa será minha primeira aula hoje. – disse Hermione, observando seu próprio horário.

Harry e Rony se entreolharam. – Prefiro encarar a Trelawney a isso, você não? – Rony perguntou ao Harry que fez um aceno com a cabeça concordando.

- Francamente, não sei como vocês agüentam aquela charlatã! – repreendeu Hermione, referindo-se à professora de Adivinhação. – Bem, boa sorte para vocês! – ela disse e se retirou da mesa.

Rony fez uma expressão desgostosa e disse: - Acho melhor irmos para a aula também, Harry.

Os dois garotos se levantaram e seguiram juntos para a classe. Chegando lá, encontraram quase todos os alunos: Parvati Patil e Lilá Brown já estavam acomodadas em frente à mesa da professora, ansiosas. A própria Trelawney, ao que parecia, ainda não tinha chegado. Rony e Harry acomodaram-se em dois pufes e abriram a janela; o aroma adocicado já os estava incomodando.

Depois de alguns minutos, Sibila Trelawney surgiu de trás da névoa que envolvia a sua mesa. Ela estava com um xale rosa choque nas costas; os óculos aumentavam os olhos dela, fazendo a professora se assemelhar a uma grande abelha. Trelawney observou a sala e disse, como se anunciasse algo importante:

- O Sr. Longbotton vai chegar atrasado.

Assim que ela disse isso, Neville entrou, esbaforido. Parvati e Lilá exclamaram "Oh" e "Ah", mas Rony comentou baixinho para Harry: - Se isso foi uma previsão, eu sou o próprio Merlin! – Harry riu, mas logo parou ao ver o olhar da professora em sua direção.

Neville se sentou no fundo, envergonhado. Trelawney começou a falar, usando aquele seu tom místico:

- Este ano, estudaremos as diferentes formas de lermos o futuro nas cartas. O baralho que estava na lista de material deste ano é um baralho muito especial... – todos tiraram os baralhos das mochilas e ela continuou: - Ele pode nos mostrar muitas coisas, desde como será nossa sorte no amor, até a maneira como morreremos! – ela concluiu dramaticamente e lançou um olhar para Harry. Todos olharam para ele, que apenas revirou os olhos, deixando a professora um pouco irritada.

- E podemos saber quem será o grande amor de nossas vidas? – perguntou Parvati ansiosa. Lilá reprimiu risinhos.

- Pode ser, minha querida... – disse a professora, sorrindo. – Mas antes disso, é preciso aprender a ler as cartas... Quero que abram seus exemplares de "A sorte nas cartas" que pedi para este ano! – ela mandou e todos pegaram seus livros. – Agora abram na página 26 e escolham três cartas distintas em seus baralhos e comparem com as informações do livro.

Todos começaram a fazer suas tarefas, sendo vistoriados pela professora que passava de mesa em mesa observando os trabalhos. Rony tirou três cartas, assim como Harry. – Você tá vendo alguma coisa nisso? – Rony perguntou ao amigo.

- Nada até agora... – lamentou Harry. O garoto achou suas cartas muito esquisitas: uma tinha o desenho de água escorrendo por entre as rochas de uma caverna, a outra era um pássaro negro e a última era a figura de um espelho.

Rony observou as cartas de Harry e começou a falar, imitando a voz da professora: - Oh, Harry, meu querido! Isso é horrível! O pássaro negro! Vejo que você vai morrer dentro de uma caverna, depois que quebrar um espelho!

Harry riu. O amigo tinha feito a imitação perfeita de Trelawney quando anunciava a morte de Harry. Mas os dois garotos não puderam continuar com isso, pois ouviram uma voz atrás deles:

- Conseguiram ler as cartas, queridos? – a professora perguntou, mas antes que qualquer um dos dois respondesse alguma coisa, ela soltou um gritinho de susto. – Oh, meu querido! – ela disse, voltando-se para Harry. Todos na sala olharam e começaram a observá-la. – Isso é... terrível! O pássaro negro! Ele anuncia... a morte! – ela concluiu com um sussurro, teatralmente. Harry olhou para Rony com uma expressão de "eu-já-sabia-que-isso-ia-acontecer". Rony se segurou para não rir. Trelawney continuou, com uma expressão de pena para Harry:

- Sinto muito, querido, mas parece que sua morte se aproxima... Olhe! – ela apontou para a carta do pássaro. – O pássaro está avisando isso, ele mostra quando a morte está próxima.

Harry fez uma cara descrente e a professora percebeu que não conseguiria mais nada. Ela apenas lançou um olhar deprimido para o garoto e se afastou, para depois continuar com as explicações.

- Finalmente essa aula terminou! – Harry exclamou. – Não agüentava mais a Trelawney olhando para mim com pena!

A aula tinha terminado e os garotos estavam próximos à entrada do castelo. Ouviram uma voz conhecida atrás deles: – Você já devia estar acostumado com isso, Harry! – era Hermione, que tinha alcançado os garotos. Rony tentou dar um beijo nela, que resistiu, vermelha: - Aqui não, Rony! Que coisa! – Harry não pôde deixar de rir.

Os três se dirigiram para fora do castelo onde seria a aula de Trato de Criaturas Mágicas. Hagrid já estava esperando próximo à sua cabana, com Canino em seus calcanhares. Harry, Rony e Hermione foram os primeiros a chegar para a aula. Algumas caixas estavam espalhadas pelo chão, mas os garotos não tiveram coragem de ver o que tinha dentro delas; Hagrid sempre trazia animais um pouco "estranhos" para a aula.

- Olá, garotos! Como vocês estão? – Hagrid perguntou, assim que os três chegaram.

- Estamos ótimos, Hagrid! – respondeu Rony, olhando para Hermione, que ficou muito vermelha.

Hagrid ficou um pouco confuso, mas ainda assim perguntou: - E você, Harry? Recebeu meu presente?

- Sim, Hagrid. – o garoto respondeu. – Obrigado! Mas não pude explodir a cara gorda do Duda com ele...

- Ah, que pena... – Hagrid lamentou. – Bem que eu queria ver aquele porquinho assado... – completou e Harry sorriu.

- O que você trouxe para a aula, Hagrid? – Hermione se atreveu a perguntar.

Hagrid ficou bastante animado e respondeu: - Splooties! – os garotos arregalaram os olhos e o amigo continuou: - Depois vocês verão! Parece que os outros alunos estão chegando!

Era verdade, um grupo de alunos da Grifinória vinha andando em direção à cabana de Hagrid. Um pouco atrás, vinham os alunos da Sonserina. Todos se acomodaram e Hagrid começou a explicação, empolgado:

- Bom dia, pessoal! – ele exclamou. – Bem, hoje eu trouxe para vocês um bando de bichinhos que acho que vocês vão gostar! – ele disse e todos os alunos fizeram caretas; sabiam muito bem o tipo de "bichinhos" que Hagrid trazia. Hagrid pegou as caixas e colocou uma para cada três alunos. Harry, Rony e Hermione olharam cautelosamente o conteúdo da caixa; dentro havia uma pequena bola de pêlos, parecia não ter nem pés ou braços, ou se tinha eram quase imperceptíveis. O bichinho tinha os olhos amarelados e o pêlo de uma tonalidade salmão. Mas todos tinham cores diferentes, alguns eram esverdeados, outros azulados...

- Ah, que gracinha! – Hermione exclamou. Podia-se ouvir exclamações como essa de outras meninas da classe.

Hagrid terminou de distribuir as caixas pelos alunos e começou a falar novamente, com um sorriso no rosto: - Que bom que vocês gostaram! Eles se chamam Splooties. Cada Splooty tem uma cor de pêlo e olhos diferente; ele será muito amável com vocês se for bem tratado.

- E o que eles fazem, Hagrid? – perguntou Dino Thomas.

- Ah, eles têm um dom muito especial... – Hagrid respondeu. – Eles podem achar qualquer coisa que pedirem, onde quer que esteja.

- Qualquer coisa? – perguntou Draco Malfoy, pensativo.

- Sim, qualquer coisa. – repetiu Hagrid.- Contanto que a pessoa tenha uma boa intenção e seja educada com o Splooty. Eles se irritam facilmente...

Todos os alunos ficaram admirados. Pelo menos uma vez na vida, Hagrid não tinha trazido uma aberração para a aula.

- Bem! – Hagrid disse. – Tenho uma tarefa para vocês! Escondi algumas tortinhas de abóbora pelas redondezas e vocês terão que achá-las. Os que as acharem poderão ficar com elas de presente. Ah, mas eu escondi também uma cesta cheia de doces da Dedosdemel e ela está muito bem escondida! Até agora, ninguém a encontrou e o grupo que a encontrar, além de ganhar a cesta, vai ganhar também alguns pontos para sua casa! Muito bem, comecem a procurar! – ele finalizou.

Os alunos ficaram bastante animados com a tarefa, menos, é claro, Draco Malfoy e seus comparsas, Crabbe e Goyle. Os três não estavam encontrando nada, porque o Splooty deles parecia não ter gostado muito dos três. Malfoy chegou a ser mordido pelo seu Splooty e reclamou bastante, mas Hagrid logo o interrompeu dizendo que a mordida de um Splooty era tão fraca que correspondia a menos que uma bicadinha de uma coruja.

Harry, Rony e Hermione conseguiram encontrar quatro tortinhas de abóbora com o Splooty salmão, que parecia ter gostado muito dos garotos. Hermione ficara encantada com o bichinho e dera uma das tortinhas para ele; as outras três ficaram para os garotos.

Foi Neville que achou a cesta de doces. Ele estava no grupo junto com Simas Finnigan e Dino Thomas, mas como o Splooty gostou mais do Neville, foi ele que acabou encontrando a cesta, que estava escondida dentro da casa de Hagrid. O professor deu 15 pontos para a Grifinória, o que aborreceu muito os sonserinos.

Quando a aula terminou, os três garotos se despediram de Hagrid, que disse que estava esperando uma visita dos três para tomar chá com bolinhos. Os garotos concordaram, mas dispensavam os bolinhos. Sabiam que Hagrid não cozinhava muito bem.

Harry, Rony e Hermione seguiram para o salão principal, para almoçarem. Quando chegaram lá, Fred disse:

- Tivemos aula com a nova professora de Defesa Contra as Artes das Trevas!

- E aí, como foi? – Hermione perguntou, ansiosa.

- Ah, foi muito legal! – disse Jorge. – Ela parece aquelas vovózinhas, sabe? É muito simpática.

- Eu não estou falando disso! – exclamou Hermione. – Eu quero é saber se a aula dela é boa, o conteúdo, se ela explica bem...

- Ah... – os gêmeos disseram em coro e se entreolharam. – É, a Profª. Figg entende das coisas... – disse Jorge. – Mas nós não prestamos muita atenção nisso... – emendou Fred.

Hermione procurou pelo seu horário na mochila, apressada. Rony fez uma expressão de intrigado e perguntou ao Harry: - Profª. Figg? Eu tô ficando maluco, ou você já disse uma vez que essa era uma vizinha trouxa sua, Harry?

- Não, não está ficando maluco não, Rony. É ela mesma. Mas ela não é trouxa. – Harry respondeu. Hermione até parou de procurar o horário para ouvir. Harry não teve outra alternativa senão contar o que tinha conversado com Dumbledore no dia anterior. Quando terminou, os amigos ficaram boquiabertos e Hermione começou a procurar o horário na mochila novamente, agora mais afobada. Assim que conseguiu achá-lo, ela disse, desapontada:

- Ah, que pena... Só vamos ter aula de Defesa Contra as Artes das Trevas na Quarta-feira...