Capítulo Dez – A nova professora
Na tarde de Quarta-feira, os alunos do quinto ano da Grifinória estavam muito ansiosos. Todos terminaram o almoço rapidamente e se encaminharam para a sala de Defesa Contra as Artes das Trevas. Harry, Rony e Hermione também fizeram isso, mas acabaram só conseguindo lugares na segunda fileira de carteiras da classe.
A sala tinha mudado bastante desde o ano anterior. Harry a observou e lembrou dos antigos professores que já utilizaram aquela sala; todo ano aparecia um diferente. Comentava-se que o cargo estava enfeitiçado e por isso ninguém parava nele. Para Harry, o melhor professor tinha sido Remo Lupin, que além de ter sido amigo de seus pais e de Sirius no passado, era um excelente professor.
Os alunos esperaram um pouco até que a professora chegasse. A Sra. Figg entrou e dirigiu um olhar sorridente para a classe quando disse: "boa tarde". Harry notou que ela estava um pouco diferente das outras vezes que se encontraram; parecia um pouco mais simpática.
- Para aqueles que não me conhecem, meu nome é Arabella Figg. Eu passei os últimos anos entre os trouxas... – ela fez uma pausa e lançou um olhar para Harry, que não conseguiu traduzir o que ela estava tentando passar, e depois continuou: - ...mas agora voltei para a convivência entre os bruxos. Talvez vocês possam me julgar erroneamente pela minha aparência; apesar de parecer uma pacata velhinha, eu sei muito sobre as artes das trevas e como se defender delas. – ela sorriu. – Bem, então acho que vou fazer a chamada, para conhecê-los melhor.
Ela então começou a chamar os alunos e em cada nome olhava para a pessoa e sorria. Mas quando disse "Harry Potter", ela olhou profundamente para o garoto, um olhar que ele não conseguiu definir muito bem; parecia um olhar rígido, mas talvez tivesse algo de triste também.
Quando a professora terminou de fazer a chamada, todos pegaram seus exemplares de "Defendendo-se contra as trevas", mas a Sra. Figg balançou a cabeça de um lado para outro e disse:
- Talvez esse livro não seja muito útil... Não costumo trabalhar utilizando livros, prefiro a prática.
Como se tivessem ouvido uma ordem, os alunos guardaram seus livros e esperaram, ansiosos. A Sra. Figg se levantou da cadeira onde estava sentada e se encostou na mesa, de frente para os alunos, e disse:
- Este ano, vocês irão estudar sobre os dementadores. Acho que todos aqui devem saber que criaturas são essas, já que no terceiro ano de vocês aqui em Hogwarts, havia dementadores pela escola... – todos acenaram afirmativamente com a cabeça. – Mas eu darei uma explicação mais detalhada sobre o assunto. Dementadores são seres malignos e vocês devem estar se perguntando: mas se eles são malignos, por que eles cuidam da prisão de Azkaban? Bem, essas criaturas se alimentam de pensamentos e lembranças felizes, por isso a sensação de tristeza que temos ao chegar perto de um dementador. Eles sugam a nossa alegria, deixando na nossa mente apenas as lembranças mais dolorosas de nossas vidas. Mas dementadores não existiriam se não houvesse tantos pensamentos ruins no mundo. Apesar de alimentarem-se de pensamentos felizes, eles precisam que o mal esteja ativo para terem força.
- Mas, professora... – começou Parvati. – Existem dementadores no mundo... Isso quer dizer que o mal ainda tem força?
- Pode-se dizer que sim, Srta... – a Sra. Figg consultou a lista de chamada. – Ah! Srta. Patil. Ainda existe muito mal no mundo. Bem... Acho que vocês não são mais crianças, então posso falar disto abertamente com vocês. Depois de tudo que aconteceu quatorze anos atrás... – ela olhou para Harry e todos na sala a imitaram. O garoto abaixou a cabeça, envergonhado. – Depois daquilo, muitas pessoas pensaram que aquele que era a maior fonte do mal desaparecera, mas os dementadores continuavam existindo. Isso queria dizer que o mal ainda existia, só tinha se enfraquecido...
Todos ficaram apreensivos à simples lembrança, ainda que tenha sido sutil, de Voldemort. O silêncio se instalou na sala por alguns instantes e foi Hermione que o quebrou:
- Mas... Profª. Figg?
- Sim, Srta. Granger?
- Se esse... mal... desaparecesse... – Hermione começou. – Se ele desaparecesse, ainda assim existiriam pessoas que teriam pensamentos ruins, quer dizer, sempre existirão pessoas assim... Então será que sempre existirão dementadores?
A professora balançou a cabeça de um lado para outro. – Concordo com a senhorita... – Hermione sorriu, satisfeita. A Sra. Figg continuou: - Sempre existirão pessoas com esses pensamentos, mas se as outras pessoas tentarem ser boas e terem só pensamentos bons, os dementadores diminuirão bastante em número e será bem mais fácil que eles se extingam...
- Se extinguir? – perguntou Simas. – Mas eu sempre achei que o máximo que os bruxos podiam fazer com os dementadores seria apenas espantá-los... Existe um feitiço para isso, não é? Se chama feitiço do pa... pa...
- Feitiço do patrono! – Hermione completou, com seu jeito sabe-tudo.
- Muito bem, Srta. Granger! – exclamou a professora. – Isso deve valer uns três pontos para a Grifinória... – Hermione abriu um enorme sorriso orgulhoso e a Sra. Figg disse: - E mais dois pontos pelo Sr. Finnigan, que sabia o feitiço, só não sabia o nome dele. – Simas corou de satisfação, enquanto a Sra. Figg continuava a explicação: - Muitos bruxos acham que só é possível espantar os dementadores com o feitiço do patrono, mas estão enganados. O patrono, que não é mais que uma concentração de pensamentos felizes de uma pessoa que acaba tomando forma, é uma das maneiras de se combater um dementador. Mas se várias pessoas concentrarem-se em bons pensamentos de uma só vez, essa concentração pode vir a acabar definitivamente com o dementador... – ela finalizou.
- E vamos aprender a fazer isso, professora? – Hermione perguntou.
- Digamos que não é preciso aprender a fazer isso, Srta. Granger. – a professora respondeu. – O que eu vou ensinar vocês a fazer é o patrono, que nada mais é do que um exercício de concentração. O problema é que poucas pessoas conseguem se concentrar o suficiente para produzir um patrono forte e esse é o motivo de não se conseguir acabar com os dementadores; as pessoas se deixam levar pelas tristezas e não conseguem se focalizar no que há de bom em suas vidas...
Todos ficaram surpresos com a resposta e observaram atentos a professora, que tinha pego a sua varinha e disse: - Duvido que algum de vocês aqui já tenham visto um patrono de perto, portanto vou mostrar o meu para vocês. – ela olhou para Harry quando disse: - Bem, talvez alguns já tenham visto... Mas eu vou fazer assim mesmo.
A Sra. Figg apontou a varinha e fechou os olhos; quando os abriu, gritou com força: Expecto Patronum, e uma névoa começou a sair da varinha, para depois tomar forma. Harry tentou identificar com o que ou quem se parecia o patrono e percebeu que era a figura de um homem, mas não era possível identificar seu rosto. Depois de alguns instantes, o patrono desapareceu e a professora disse: - Bem, isso era um patrono. É claro que como eu não estava próxima de um dementador foi mais fácil se concentrar em algo feliz para produzi-lo e, no início, vocês irão fazer dessa forma também, mas depois eu darei um jeito de dificultar as coisas... Porém, eu gostaria que vissem um outro patrono, se fosse possível. Por que o senhor não mostra o seu patrono para a classe, Sr. Potter? – ela perguntou dirigindo-se ao Harry.
O garoto arregalou os olhos, espantado. Todos os olhos estavam voltados para ele. Harry não esperava algo como isso e tentou explicar-se: - Mas... eu...
- Eu sei que você sabe produzir um patrono, Sr. Potter. – a Sra. Figg disse. – Durante esse verão eu conversei com o ex-professor de vocês, Remo Lupin. E ele me disse que, devido a algumas circunstâncias, ele ensinou isso para o senhor, Sr. Potter.
Agora Harry definitivamente sentiu seu rosto enrubescer, já que todos na classe olhavam atentos para ele. A Sra. Figg chamou, com uma voz autoritária:
- Estou esperando, Sr. Potter.
- Vai logo, Harry! – Rony sussurrou.
Harry não teve outra escolha senão se encaminhar para a frente da classe, sendo observado por todos. Quando chegou lá, a Sra. Figg disse:
- O que está esperando, Sr. Potter? Vamos, faça logo!
O garoto levantou a varinha devagar. Sentia que não conseguiria produzir o patrono na frente de todas aquelas pessoas, mesmo sem um dementador por perto. Ele fechou os olhos e quando ia dizer as palavras o sinal tocou. A aula tinha acabado. Harry abriu os olhos e abaixou a varinha. Não disse nada, mas achava que a Sra. Figg não desistiria apenas porque a aula acabara. Ela suspirou, um pouco desanimada:
- Tudo bem... Classe dispensada. – os alunos começaram a deixar a sala, contrariados. Harry ia deixar a sala também, mas a Sra. Figg o chamou: - Sr. Potter! O senhor fica. Rony e Hermione olharam um pouco confusos para Harry, que apenas fez um sinal que os encontraria depois. A sala se esvaziou e Harry ficou em silêncio esperando a Sra. Figg falar. Ela dirigiu um olhar seco para o garoto, quando disse:
- Certo, você escapou de mostrar seu patrono para a classe, Harry. Mas não de mostrá-lo para mim. Eu quero vê-lo, se faz o favor... – ela fez um gesto com a mão, como se mandasse ele se apressar.
Harry não teve escolha. Novamente ergueu a varinha, fechou os olhos e se concentrou. Não sabia em que pensar. Estava nervoso, mas lembrou das férias e dos dias agradáveis que passou na casa dos Weasleys. Abriu os olhos e bradou: Expecto Patronum! A névoa começou a sair de sua varinha e tomar a forma de um cervo prateado. O cervo bateu as patas no chão e lançou um olhar para Harry, antes de desaparecer.
- Impressionante! – disse a Sra. Figg, sem emoção. – Mas poderia ser melhor... Você deveria treinar mais, Harry. Pode ser útil...
- Mas... Sra. Figg... – Harry começou. – Eu não estou entendendo... Por quê...
- Não é para entender. – ela o interrompeu e depois se sentou na cadeira, atrás da mesa e começou a anotar umas coisas. Ela continuou, sem olhar para o garoto: - Quero que faça os exercícios das páginas 30 a 40 do seu livro e me traga na próxima aula e quero que faça sozinho, sem ajuda de ninguém!
Harry ficou indignado, ela não tinha pedido isso para os outros alunos. – Mas, Sra. Figg! A senhora não pediu isso para os outros!
- Nada de "mas"! – ela respondeu, ainda sem olhar para o garoto. – Eu quero que traga os exercícios, a menos que queira perder pontos da sua casa! E seria bom se você treinasse mais o seu patrono, ele precisa melhorar. Está dispensado.
O garoto ficou boquiaberto, mas não disse mais nada. Sabia que a conversa estava encerrada. Saiu pela porta sem ao menos olhar para trás; se fizesse isso veria que a velha senhora tinha finalmente levantado os olhos e mantinha um olhar melancólico no rosto.
Harry encostou a porta e começou a se encaminhar para a sala comunal da Grifinória. Vários pensamentos passavam pela sua cabeça. O garoto não entendia o porquê daquele tratamento que a Sra. Figg estava lhe dirigindo. Ela sempre fora simpática com ele e por que estava implicando tanto agora? Harry estava tão distraído que nem estava olhando por onde andava e acabou esbarrando em alguém. Ele se desequilibrou e foi por pouco que a mochila não caiu de suas costas. Rapidamente se desculpou, mas quando levantou os olhos para ver de quem se tratava, gelou.
- Devia prestar mais atenção por onde anda, Potter. – disse Severo Snape. Ele tinha uma expressão cansada, mas seus olhos ainda tinham o mesmo brilho de desaprovação que sempre fazia quando via Harry.
- Desculpe, professor... – Harry disse. – Eu estava distraído, sinto muito.
- Dessa vez vou deixar passar... – ele disse. – Mas se você não sair daqui agora mesmo e se encaminhar direto para a Grifinória, eu terei que lhe tirar pontos...
- Sim, professor. – o garoto disse e logo se apressou em ir para a Grifinória. Parecia que não era mesmo o seu dia.
