Capítulo Doze – A Profecia Sagrada
Ele estava naquela mesma sala escura novamente. Subitamente, ouviu algo se arrastando pelo chão. Seja lá quem ou o que estivesse se arrastando, este chegou perto de uma poltrona onde alguém estava sentado. Uma voz fria disse:
- Não posso permitir que se cumpra! Não posso!
- Mas o herdeiro está vivo... – sibilou aquilo que se arrastava no chão.
- Eu sei... – a voz fria respondeu e podia se sentir ódio nela. – Não consegui... Mas preciso conseguir... Não pode se cumprir!
- E o que você vai fazer?
- Talvez... Sim. Talvez eu consiga encontrar. Se eu tivesse... Poderia impedir que acontecesse... Vou fazer de tudo para encontrar!
Era mais um daqueles sonhos. Harry estava deitado em sua cama, e podia ouvir os roncos de Neville do outro lado do quarto. O sonho estava muito claro em sua mente, mas tudo era muito confuso. Sabia que era Voldemort no sonho e que ele estava falando com alguém, mas o garoto achou toda aquela conversa muito sem sentido.
A cicatriz em forma de raio ardia em sua testa, mas Harry não se preocupava. Já estava se acostumando com essa dor, por mais que fosse difícil. Fechou os olhos, mas não conseguiu dormir novamente. Levantou e olhou pela janela. A luz do sol começava a aparecer pálida no horizonte. Resolveu se trocar e descer, não adiantava ficar na cama; sabia que não conseguiria dormir.
O garoto se sentou em uma poltrona perto da lareira, que estava apagada, quando chegou na sala comunal. O sonho veio em sua mente mais uma vez. Lembrou-se das palavras de Voldemort: herdeiro, cumprir, encontrar... Mas encontrar quem? Ou o quê? Não fazia nenhum sentido...
Harry não soube quanto tempo ficou dessa forma, imerso em pensamentos. Mas depois de um tempo, começou a ouvir o barulho dos alunos descendo dos dormitórios e alguém o cutucou. Era Rony:
- Que aconteceu, Harry? Madrugou hoje?
- Acordei um pouco mais cedo e não consegui mais dormir. – o garoto respondeu, enquanto Rony se sentou ao seu lado. Mas preferiu não contar ao amigo o motivo.
Rony se espreguiçou e disse, bocejando: - Bem que eu queria ficar mais um tempo na cama, já tá começando a esfriar... Será que a Mione vai demorar?
- Não sei... – Harry respondeu. – Por quê?
- Tô com fome...
- Pra variar...
- Você tá me chamando de esfomeado, Harry?
- Imagina...
Rony torceu o nariz e perguntou novamente: - Será que a Mione vai demorar?
- Ah, já sei! – Harry disse rindo. – Isso não é fome, é saudade da Mione, né Rony? – o amigo ficou com as orelhas vermelhas enquanto Harry ria.
Mas não precisaram esperar muito, Hermione logo desceu. Assim que ela chegou, Rony a beijou, o que fez a menina ficar muito envergonhada.
Os três amigos desceram para o café. Enquanto comia, Harry observou Dumbledore na mesa. Pensou por um tempo se devia ou não contar para o diretor sobre o sonho que teve, mas optou por não contar. Afinal, o diretor mesmo disse que o garoto teria que se acostumar com esses sonhos e Harry não achava mesmo que o que viu no sonho fosse tão importante assim, já que não entendera nada.
A primeira aula que teriam no dia seria História da Magia e Rony comentou que aproveitaria para dormir mais um pouco, o que Hermione reprovou. Mas a garota, no fundo, também sabia que as aulas dessa matéria eram bastante maçantes. O Prof. Binns, que era o fantasma que ensinava essa matéria, lia o livro monotonamente durante a aula toda e não gostava quando um aluno perguntava algo. Por isso, era comum ver alguém dormindo na aula.
Harry, Rony e Hermione acomodaram-se em carteiras mais ao fundo da sala. Rony deitou a cabeça na carteira tentando dormir, mas Hermione não deixou e cutucava o garoto o tempo todo. Logo, o Prof. Binns chegou na sala e mandou os alunos abrirem na página 43 do livro: "Lendas e Profecias". Quando Harry abriu, espantou-se. Já tinha lido aquilo, se tratava da "Lenda da Profecia Sagrada". O garoto prestou o máximo de atenção ao que o Prof. Binns lia. Não sabia porque, mas aquela lenda o atraía. Assim que o professor terminou e ia mudar para outra coisa, Harry surpreendeu a si mesmo quando perguntou:
- Professor? O senhor poderia explicar mais coisas sobre essa profecia?
Todos olharam para ele, já que era bem raro um aluno fazer uma pergunta nessa aula. Rony até levantou a cabeça para ouvir.
- Bem, não se sabe muita coisa sobre essa profecia, Sr. Potter. – o professor respondeu, um pouco contrariado. – O que se sabe, é que alguns anos depois da fundação de Hogwarts pelos quatro grandes, Helga Huflepuff, que era uma adivinha, escreveu uma profecia. A profecia dizia que depois de muitos anos, talvez centenas ou milhares, nasceria um descendente tanto de Godric Gryffindor, como de Salazar Slytherin. Esse herdeiro teria o sangue dos dois bruxos e seria, devido a essa descendência, muito poderoso. Nessa mesma época, apareceria também um outro bruxo, que espalharia as trevas pelo mundo, e ninguém conseguiria detê-lo. Até mesmo esse suposto herdeiro não conseguiria. A única maneira seria se ele encontrasse a "centelha da esperança", que segundo a lenda, aprisionaria o mal por completo. É sabido que havia uma certa desavença entre Gryffindor e Slytherin. Ambos não se conformaram com a profecia, pois não admitiam que o sangue de um se unisse ao do outro. A lenda diz que o último pedido de Helga Huflepuff antes de morrer foi dirigido à sua fiel amiga, Rowena Ravenclaw, para que ela escondesse a profecia, de maneira que ninguém conseguisse encontrá-la e assim, o futuro não pudesse ser modificado.
- E ninguém tem idéia de quem possa ser esse herdeiro, professor? – foi a pergunta de Lilá.
- Provavelmente não, Srta. Brown. – o professor disse. – Os sobrenomes Gryffindor e Slytherin, perderam-se ao longo dos anos e até hoje ninguém consegue saber se o sangue dos dois realmente se uniu em uma única pessoa.
- Mas, Prof. Binns... – Hermione começou, parecia interessada. – A profecia nunca foi encontrada?
- Até agora não, Srta. Granger. A lenda diz que a profecia só seria encontrada quando fosse o momento certo, mas parece que esse momento ainda não chegou e talvez nunca chegue, na minha opinião. – o fantasma disse, com uma expressão que mostrava sua irritação e incredulidade em relação à lenda. – Chega! Já perdemos muito tempo com "histórinhas". Vamos nos ocupar com os fatos! – ele finalizou e começou a ler o livro novamente.
- Afinal de contas, Harry, por que você se interessa tanto por essa lenda da profecia sagrada? – Rony perguntou.
Os três amigos já tinham terminado as aulas da manhã e estavam se dirigindo ao salão principal, para almoçarem.
- Não sei, Rony... – Harry respondeu à pergunta do amigo. – Também não entendo isso, só sei que essa história me atraiu desde a primeira vez que a vi.
- É, não deixa de ser uma história interessante... – Hermione comentou.
- Mas pra você qualquer história é interessante, Mione... – Rony debochou e Hermione ficou um pouco emburrada. Harry teve uma idéia:
- Eu acho que vou até a biblioteca, encontro vocês mais tarde. – o garoto disse e saiu em disparada em direção da biblioteca.
- Acho que você está sendo uma má influência para ele, Mione... – Rony disse.
Harry chegou à biblioteca e dirigiu-se até o balcão onde estava Madame Pince, a bibliotecária. Disse:
- Com licença, Madame Pince...
- Sim, Sr. Potter, o que deseja? – ela perguntou.
- A senhora tem algum livro sobre a lenda da profecia sagrada?
- É algum trabalho escolar?
Harry hesitou. – Não exatamente, é mais uma curiosidade minha... – Madame Pince fez uma expressão incrédula, mas ainda disse:
- Certo, Sr. Potter. Eu vou dar uma olhada, mas não garanto nada. - Ela saiu e foi olhar umas estantes. Harry ficou esperando e depois de alguns poucos minutos, ela voltou e disse: - Nada, infelizmente. Essa lenda é muito incerta, portanto existem poucos livros que falam dela... Talvez tenha algum livro na seção reservada, mas para isso é preciso uma autorização de um professor, o que eu acho que o senhor não tem...
- Não tenho nenhuma... – o garoto respondeu. – Obrigado, mesmo assim... – disse e se retirou.
Harry se encaminhou, então, para o salão principal. Quando chegou, Hermione perguntou:
- E então, Harry? Achou o que queria?
- Não... Madame Pince disse que é difícil achar um livro que tenha alguma coisa sobre isso...
- Tá vendo, Mione? Nem sempre os livros ajudam... – Rony debochou.
Hermione fez uma expressão bastante carrancuda e disse: - Não é possível! Tem que ter alguma coisa em algum livro!
- Mas parece que não tem, Mione... – Harry lamentou. – Não se preocupe, é uma besteira minha mesmo... Não tem importância... – o garoto finalizou, servindo-se de um pouco de suflê de frango.
- É isso aí! Desiste, Mione... Você não vai conseguir achar nenhum livro que fale sobre isso... – Rony disse.
- Nem pensar! – a garota exclamou. – Agora é questão de honra, eu vou encontrar!
- Du-vi-do! – Rony provocou. Harry já estava começando a se sentir culpado de começar mais uma briga entre os amigos.
- Pois eu vou conseguir, Ronald Weasley! Você duvidando, ou não! – Hermione desafiou. – Quer apostar?
- Quero! Quem perder paga uma rodada de cerveja amanteigada para nós três na próxima visita à Hogsmeade! Te dou cinco dias para conseguir trazer esse livro, Hermione Granger!
- Cinco dias? Eu quero dez!
- Uma semana! É pegar ou largar! – Rony estendeu a mão.
Hermione olhou para a mão de Rony estendida e a apertou: - Eu pego.
- Você vai acabar quebrando a cara, Mione! – Rony provocou.
- É o que veremos, Rony! – ela respondeu, com um sorriso no rosto.
Harry suspirou. Parecia que aqueles dois sempre viveriam às turras...
