Capítulo Quinze - Tristeza

Os dias estavam transcorrendo normalmente em Hogwarts. A matéria das aulas estava cada vez mais complicada e Hermione sempre era rigorosa com Rony e Harry, alegando que precisavam se preparar para os N.O.M.'s. Além disso, Harry estava dando duro nos treinos de quadribol; todos no time concordaram que era preciso treinar Rony o máximo possível, já que o garoto não estava entrosado com os outros. O primeiro jogo estava se aproximando e seria contra a Sonserina. Por isso mesmo, o esforço era ainda maior, já que era quase uma obrigação vencer os sonserinos.

Depois daquela carta de Sirius, Harry não teve mais nenhuma notícia do padrinho, apesar de ter mandado uma resposta. O garoto tentava não se preocupar, mas estava bem ansioso, já que o mês de outubro estava se aproximando.

No momento, Harry, Rony e Hermione estavam se encaminhando para a aula de Poções, nas masmorras. Era uma tarde de Sexta-feira e só teriam mais essa aula no dia, depois, seria tarde livre e no dia seguinte, Sábado, seria a primeira visita do ano à Hogsmeade.

- Ah... Que pena que temos aula de Poções agora... Bem que podíamos bolar essa aula hoje... – Rony comentou.

- Nem pensar, Rony! Francamente! – Hermione disse, indignada. – Eu também não gosto dessa aula, mas ela é muito importante! Você sabe muito bem que esse ano nós...

- Nós prestaremos os N.O.M.'s no final do ano e blá, blá, blá... – Rony imitou o tom que Hermione sempre usava. – Francamente, Mione! Já sabemos disso. – A garota fez uma expressão emburrada.

- Vejam pelo lado bom... – Harry disse. – É só mais essa aula e depois tarde livre e amanhã Hogsmeade... Nós aturamos o Snape por menos... Vamos fazer um esforço e aturar hoje também, já que temos todas essas recompensas depois.

Os garotos chegaram até a sala de aula e na porta tiveram uma visão bastante desagradável. Malfoy e seus capangas pareciam estar montando guarda na porta. Harry, Rony e Hermione tentaram passar sem falar com eles, mas foi impossível.

- Olhem só quem vem chegando... – Malfoy debochou. – O trio maravilha de Hogwarts... A sangue-ruim, o pobretão e o cicatriz...

- Escuta aqui, Malfoy... – Rony já cerrara os punhos e ia partir para cima do Malfoy, mas Hermione o interrompeu:

- Deixa pra lá, Rony... Não adianta... Vamos entrar logo na sala...

- É, Granger... Eu soube que você e Weasley estão namorando... Só ele mesmo pra te agüentar... Se bem que... vocês dois se merecem... dois panacões...

- Não queremos saber o que você acha ou deixa de achar, Malfoy. – Harry disse, contendo Rony que parecia que estava prestes a jogar Malfoy pela janela. – Agora se não se importa, nós não estamos com nenhuma disposição para ficar ouvindo suas "gracinhas".

- Você é o novo capitão do time da Grifinória, não é, Potter?

- Então você já soube?

- Já. As notícias correm rápido em Hogwarts. Eu fiquei sabendo também que você já aproveitou para favorecer seu amiguinho Weasley para ele entrar no time também...

- Não, eu não favoreci ninguém, Malfoy. Rony está no time porque mereceu. Diferente de você, que só está no time da Sonserina porque pagou para isso.- Malfoy já ia se manifestar contra, mas Harry não deixou: - E eu não quero mais perder meu tempo com você, Malfoy, com licença.

Harry entrou na sala, seguido de Rony e Hermione. Os três se sentaram em carteiras no fundo da classe, como sempre faziam. Ainda puderam ver Malfoy, Crabbe e Goyle sentarem-se mais à frente. Harry e Hermione repararam que Rony parecia um pouco desanimado.

- Ah, Rony... – Hermione disse. – Você não vai ligar para o que o idiota do Malfoy disse, vai?

- É que...

- Rony, quantas vezes eu já te disse que você entrou no time porque mereceu? Já fizemos diversos treinos e você provou que é o melhor para a vaga! Você prefere acreditar no nojento do Malfoy, a acreditar em mim? E eu não estou falando como seu amigo, Rony, eu estou falando como o capitão do time agora...

- Você se diminui muito, Rony... Você tem muitas qualidades... – Hermione sorriu.

- Vocês acham mesmo?

- Claro que sim! – Hermione exclamou. Rony apenas sorriu e abaixou a cabeça, parecia querer esconder que corara depois disso.

Os três não puderam falar mais nada, já que Snape entrou na sala, com estrondo, e começou a aula.

A aula de Poções passou lenta como sempre, mas não houve nenhum acontecimento mais grave depois da discussão com Malfoy. Snape não deixou de implicar com os alunos da Grifinória, principalmente com Harry, mas o professor parecia um pouco abatido. "Talvez esteja fazendo algo para ajudar o Dumbledore..." – Harry pensou.

Depois da aula, os alunos do quinto ano da Grifinória tiveram tarde livre. Rony e Hermione desapareceram e Harry logo notou que os dois queriam aproveitar a tarde, namorando. Portanto, o garoto resolveu ir visitar o amigo Hagrid.

- Puxa, pensei que tinha esquecido de mim! – o meio gigante exclamou quando abriu a porta para Harry entrar.

- Como eu poderia esquecer de você, Hagrid? Eu só não vim antes porque as aulas estão um pouco puxadas e eu realmente estou atolado de deveres...

- Eu só estava brincando... – Hagrid disse rindo, enquanto pegava algumas xícaras numa prateleira. – Aceita um chá, Harry?

- Tudo bem...

Hagrid preparou um chá e alguns bolinhos, que estavam grudentos. Harry comeu uns dois para não decepcionar o amigo, mas demorou bastante para descolar os dentes.

- Por que Rony e Mione não estão com você hoje, Harry?

- Acho que eles tão por aí... ahn...

- Namorando?

- Então você já sabe, Hagrid?

- Há! Hogwarts pode ser grande, Harry, mas as fofocas correm bem rápido aqui...

- Eu sei bem disso...

- E você, Harry? Ainda não encontrou nenhuma garota, quero dizer, bem, você entende... – Hagrid piscou um olho.

Harry corou e tentou responder, mas as palavras teimavam em não sair: - Bem... sabe... eu...

- Ora, Harry, eu só estou brincando... Se você não quiser falar quem é, não precisa... Eu digo "quem", porque duvido que você não esteja gostando de alguém... Afinal, você já está mais velho e... – ele fez uma pausa momentânea, parecia estar recordando de algo. – Eu me lembro como se fosse hoje... Foi nessa época que seus pais começaram a namorar... Formavam um casal muito bonito, aqueles dois... Ah, mas eu não devia estar falando dessas coisas com você, Harry...

- Não, Hagrid... Não se preocupe... Continua. Fala mais deles...

Um pouco relutante, Hagrid começou a falar mais sobre os pais do garoto, que escutou atentamente. Depois que o amigo terminou, Harry se lembrou de algo e pegou a corrente de sua mãe, que agora sempre estava com ele e a mostrou para Hagrid:

- Você se lembra da minha mãe usando essa corrente, Hagrid?

O guarda-caça estava estupefato e boquiaberto, quando disse: - É claro que eu me lembro, Harry. Ela sempre usava essa corrente. Eu nem me lembro de tê-la visto sem ela, nenhuma vez... Mas onde você a conseguiu?

- Eu ganhei no meu aniversário. Recebi um bilhete junto também, mas não dizia o nome de quem a mandara... Só dizia que era da minha mãe e que quem a mandou era alguém que gostava muito de mim... Você tem idéia de quem possa ser, Hagrid?

- Nenhuma... Eu sinto muito, Harry, mas não consigo imaginar quem possa ter guardado essa corrente durante todos esses anos e resolvido te devolver agora...

- Ah... entendo... Mas, pelo menos eu tenho certeza de que era da minha mãe e é uma lembrança dela...

Hagrid acenou com a cabeça, concordando, mas não disse mais nada. Depois dessa conversa, Harry se despediu do amigo e foi embora. Estava anoitecendo e alguns alunos ainda estavam no jardim. A essa altura as aulas do dia já haviam terminado e, logo, todos estariam reunidos no Salão Principal para o jantar, mas Harry não estava com fome. Resolveu ir direto para o Salão Comunal, mas quando já estava num dos corredores do sexto andar, ouviu um barulho em uma das salas, aparentemente vazias a essa hora. Sabia que estava errado, mas mesmo assim quis checar; devagar e com cautela, ele abriu a porta, que estava entreaberta. Tinha alguém perto da janela, mas antes que o garoto reconhecesse a pessoa, tropeçou em algo pesado que estava no chão e quase caiu. A pessoa percebeu que tinha alguém ali e perguntou:

- Quem está aí? – era a voz de uma garota e Harry reconheceu como sendo a voz de Cho Chang. Instantaneamente, sentiu um frio na barriga.

- Sou eu... Harry...

- Harry? Mas o que você está fazendo aqui?

- E-eu... estava passando e... e ouvi um barulho e vim ver... me desculpe, eu... não queria incomodá-la... eu já vou embora... desculpe...

Harry já estava indo embora, mas Cho o interrompeu:

- Espere! – o garoto se virou. – Espere, Harry... Fique mais um pouco...

O garoto estava um pouco nervoso com aquela situação e o frio na barriga continuava, talvez um pouco mais forte agora. Mesmo assim, permaneceu na sala, que estava escura, sendo iluminada apenas com a fraca luz da lua que penetrava pela janela. Parecia que já tinha anoitecido. Harry se aproximou devagar e notou que Cho estava de cabeça baixa e com a respiração arfante; os olhos pareciam um pouco inchados e molhados.

- Ahn... Cho, eu... quer dizer... me desculpe, eu não devia ter entrado aqui... desse jeito e...

- Você não teve culpa. – ela disse, olhando pela janela, com o olhar distante. – Não precisa se desculpar...

- Você parece... chateada...

- Então você notou... – ela passou a mão nos olhos, tentando enxugá-los. – Sabe, você foi o primeiro a notar...

- É mesmo? Quer dizer... bem, você tem um monte de amigos e... por que está aqui, sozinha?

- Às vezes é ruim ter um monte de amigos... Talvez fosse melhor ter só um, mas que eu pudesse confiar... Alguém que eu pudesse contar as coisas que sinto...

- Mas... Você não consegue fazer isso com nenhum amigo seu?

- Os meus amigos são legais, é divertido conversar com eles, mas... eu sinto falta de alguém para dividir as minhas aflições também... Sinto falta do Cedrico...

Agora Harry tinha entendido. Era por isso que ela estava desse jeito. Ela sentia falta de Cedrico... Agora o garoto não sentia mais o frio na barriga. Na verdade nem mais sentia sua barriga, era como se ela tivesse afundado uns três metros...

- Eu sinto muita falta dele... – ela continuou. – Sabe, ele era pra mim mais que um namorado, ele era um grande amigo...

- Entendo... É, ele era uma pessoa de grande caráter...

- Tem razão... Foi um choque pra mim quando ele se foi... Foi como se eu tivesse perdido uma parte de mim...

Harry não disse nada. Ela continuou:

- Fico me perguntando como aconteceu... Se ele estava feliz quando se foi... – lágrimas escorreram do rosto dela, que tentou limpá-las rapidamente.

- Eu acho que ele estava feliz quando... você sabe... – Harry disse, se lembrando da morte de Cedrico. Harry estava com o rapaz quando tudo aconteceu, no fim da terceira tarefa do Torneio Tribruxo. Cho olhou profundamente nos olhos do garoto quando disse:

- Você acha mesmo? Quero dizer... bem, você estava com ele quando... – ela fez uma pausa e respirou fundo. – Você viu... Ele estava mesmo feliz quando aconteceu?

- Acho que sim... Na verdade, não fui eu quem venceu o torneio, foi ele... Nós pegamos a taça juntos e... se não tivesse acontecido tudo aquilo, teríamos vencido juntos... Acho que ele estava feliz sim, afinal tinha vencido a competição...

- Era o que ele mais queria... – ela sorriu, um sorriso triste. – Muito obrigada por ter me contado isso, Harry... Você tirou um peso de mim... Acho que vou voltar para o meu Salão Comunal...

- Eu te acompanho até lá. – Harry ofereceu.

- Não precisa, Harry. Você já fez muito por mim hoje... Eu não quero te incomodar...

- Imagina, eu...

- Não se preocupe. Obrigada por tudo, Harry. – ela se encaminhou para a porta e a abriu. – Você é muito gentil...

Harry ficou observando ela sair e sentiu um vazio dentro de si.