Capítulo Dezesseis – Problemas em Azkaban
Ele estava em um enorme jardim, porém esse jardim não era nem um pouco agradável. As árvores estavam secas e havia alguns animais estranhos o observando; eles pareciam saber que ele estava ali, mas não se aproximavam nem emitiam nenhum ruído.
Andou pelo jardim mais algum tempo até encontrar uma casa enorme; era tão grande que parecia um castelo e ele chegou a pensar em Hogwarts, mas logo tirou a idéia da cabeça, pois aquela casa não se assemelhava com Hogwarts em nada, com exceção do tamanho. A casa tinha inúmeras janelas, mas nenhuma estava acesa. A porta de entrada era de uma madeira fina, que ele não sabia definir; era escura e muito grande, como qualquer coisa ali. Tentou forçar a porta e ela abriu devagar e rangendo. Ele entrou.
A sala onde estava era muito grande e tinha muitos objetos decorativos: vasos, espelhos e quadros, que o observavam atentamente e tinham uma expressão um pouco sombria nos rostos.
Resolveu andar pela casa; não sabia o porquê, mas era como se soubesse que precisava fazer isso. Finalmente chegou até um aposento, que como todas as partes da casa era enorme, mas esse parecia ser o maior. Ouviu algumas vozes e resolveu espiar pela fresta da porta, pois achou imprudente entrar. Havia muitas pessoas lá dentro, mas não conseguiu reconhecer ninguém; todos estavam usando vestes pretas e, devido à escuridão do ambiente, não pôde divisar o rosto de nenhum deles. Além de escura, a sala estava fria, quase gélida. Havia alguns vultos no centro da sala e toda vez que ele olhava para eles, o frio aumentava e tinha a nítida sensação de que nunca mais seria feliz em sua vida. Um outro vulto, magro, aproximou-se deles e ele já sabia quem era, instintivamente. O vulto começou a falar, com a voz fria e cheia de uma satisfação sombria:
- Finalmente vocês voltaram! Meus servos dedicados, finalmente livres e prontos para dar continuidade aos meus planos, tão bruscamente interrompidos quatorze anos atrás! – mesmo longe e atrás da porta, ele pôde sentir o ódio que emanava daquele ser, ao relembrar os acontecimentos que o retiraram do poder, quatorze anos antes. A voz fria continuou, agora se dirigindo aos vultos do centro da sala, que transmitiam a sensação de frio e tristeza: – E vocês, preciosos aliados! Voltaram para o meu lado, onde sabem que sempre terão suas vontades atendidas, por me apoiarem em meus propósitos! Ah, eu já estou me deliciando ao imaginar as expressões de todos aqueles tolos ao verem que vocês não estão mais onde eles achavam que deveriam! Ficarão aflitos e preocupados... Tentarão me impedir... Mas tudo será em vão... Tolos inconseqüentes! Eles receberão o que merecem por se colocarem em meu caminho! Da última vez, eu fui detido não por eles, mas por aquele maldito garoto! – seus olhos ferveram de ódio enquanto atrás da porta ele deu um salto ao ser mencionado. – Mas dessa vez será diferente... Não permitirei que aconteça novamente! Não permitirei que se cumpra! Vocês todos aqui me auxiliarão nessa valorosa empreitada! Hoje, o que foi feito, foi um grande passo sim, mas pequeno diante do que faremos depois...
Aplausos de aprovação ecoaram pela sala.
- Harry! Harry! Acorda! – alguém disse, impaciente, sacudindo o garoto na cama. Ele abriu os olhos lentamente, e depois de colocar os óculos, reconheceu Rony ao lado de sua cama. – Ah, até que enfim! Pensei que fosse dormir o dia todo... Longe de parecer com a Hermione, mas você não pode ficar aqui o dia inteiro! Hoje é Segunda-feira e temos aula daqui a pouco!
- O quê? Mas eu dormi tanto assim?
Rony fez que sim com a cabeça, para depois dizer: - Eu e a Mione estávamos te esperando há tempos e você não descia! Todo mundo já deve estar tomando café a essa hora, por isso eu vim te chamar!
- Foi bom você ter feito isso, senão aquilo ia continuar... – Harry disse, lembrando-se do sonho e apalpando a cicatriz que ardia levemente.
- Por quê? Você tá estranho, Harry... Aconteceu alguma coisa?
O garoto olhou para o amigo, analisando a situação. Talvez fosse melhor não contar nada para Rony nem Hermione sobre o sonho. Não queria afligir os amigos com isso. – Não aconteceu nada, Rony. Vai descendo com a Mione para o Salão Principal, eu não quero atrasar mais vocês... Eu vou me trocar e já vou pra lá também.
- Você tem certeza de que tá tudo bem mesmo?
- Tenho, Rony. Obrigado por ter vindo me acordar. Vai indo na frente com a Mione que depois eu encontro vocês.
- Tá bom... Mas não demora, senão vai acabar se atrasando... – Rony disse e saiu, um pouco contrariado.
Harry decidiu se trocar e descer. Enquanto fazia isso, pensava no sonho: aquele que falava era Voldemort, com certeza, mas e os outros? Ele falara em servos que estavam livres e também... aquela sensação de tristeza e aquele frio... Seriam aquelas criaturas encapuzadas no centro da sala dementadores, afinal? Não tinha certeza. Ficou imerso nesses pensamentos enquanto caminhava em direção do Salão Principal; quando chegou lá, reparou que os professores não estavam em seus lugares, mas por mais que Harry tivesse acordado tarde, ainda não era hora das aulas do dia começarem. A maioria dos alunos parecia aflita e o burburinho era geral. O garoto se aproximou dos amigos, Rony e Hermione, e se sentou perto deles.
- O que tá acontecendo aqui? – perguntou ao se sentar.
- Então você ainda não sabe? – Fred, que estava perto, perguntou.
- Puxa, Harry, você tá desinformado... – Jorge lamentou.
- Isso não é hora para gracejos! – Hermione repreendeu.
- Alguém pode me dizer o que está acontecendo, afinal?
- Lê isso. – Rony disse, oferecendo um exemplar do Profeta Diário para Harry ler. O garoto pegou o jornal e deparou com uma notícia deveras chocante.
Fuga de Azkaban choca o mundo mágico
Na madrugada passada, o inesperado ocorreu. Houve uma fuga em massa da prisão de Azkaban. A ilha foi invadida por diversos bruxos das trevas que, aparentemente, convenceram os dementadores a deixarem a prisão e libertarem os diversos prisioneiros. O lugar foi arrasado completamente e a prisão ficou em ruínas. Nenhum prisioneiro ficou na ilha, assim como os dementadores.
A comunidade mágica está chocada e amedrontada com o ocorrido, e muitos bruxos estão deixando o país em busca de segurança. A maioria alega que essa fuga foi a prova concreta de que Aquele-que-não-deve-ser-nomeado está realmente de volta e com todo o seu antigo poder.
Indagado sobre o ocorrido e o possível retorno de Você-sabe-quem, o ministro Cornélio Fudge demonstrou impaciência e nervosismo quando negou falar sobre o assunto.
Harry terminou de ler e ficou chocado com tudo aquilo. A reportagem continuava em mais três páginas, mas ele não precisou ler mais nada para entender o que tinha acontecido. O sonho que teve mostrou tudo aquilo claramente para ele. Voldemort estava, no sonho, dirigindo-se aos seus servos e aos dementadores, que agora estavam ao lado dele, apoiando-o. A era das trevas retornara de vez. O garoto levantou os olhos e viu que Rony e Hermione compartilhavam da mesma sensação que ele, mas antes que pudesse dizer alguma coisa, os professores retornaram e tomaram lugares atrás da mesa principal, de frente para os alunos. O burburinho silenciou para Dumbledore falar:
- Sei que todos vocês devem estar chocados com o que acabaram de saber. Essa fuga de Azkaban representa uma grande reviravolta no mundo mágico. Como eu já disse há algum tempo, Voldemort voltou com toda a sua força e agora ele está aumentando essa força, reunindo seus servos e todas as criaturas malignas. A maioria de vocês não deve se lembrar do caos que se instalara tempos atrás quando Voldemort estava no poder, por serem muito pequenos ou nem terem nascido. Foi uma época turbulenta e de trevas, mas muitos lutaram e resistiram, por isso se instalou a paz durante esses quatorze anos. Agora, a época de trevas voltou e eu peço à todos vocês que lutem, sempre do lado do bem... Esta escola sempre foi uma instituição dedicada a ensinar o bem para os jovens bruxos, para que ele fosse aplicado da melhor maneira possível. Resistam. Resistam o máximo que puderem e tenham muito cuidado ao trilharem seus caminhos, para não se dirigirem ao caminho errado. Na grande maioria das vezes o que é fácil, não é o certo. – Dumbledore fez uma pausa. Parecia cansado e mais velho. Ele olhou para todos no salão, um a um, antes de dizer: - Isso é uma lição para todos vocês. Todos, sem exceção. Eu sei que muitos não seguirão as minhas palavras. Porém, é mister mostrar o caminho do bem para todos, mesmo que alguns não o sigam. Sou apenas um velho e mesmo tendo vivido tantos anos, eu ainda tenho muito o que aprender... Mas o pouco que sei, eu tento passar para vocês. Sigam a luz que existe em seus corações. Não se entreguem a paixões desmedidas... Na maioria das vezes, esse é o caminho errado. Pensem muito antes de seguir esse caminho para depois não serem arrebatados pela dor do remorso... Era isso que eu tinha a dizer a todos vocês. As aulas de hoje estão suspensas. Os alunos devem retornar às suas respectivas Casas e não saírem, de maneira alguma, de lá. As outras refeições do dia serão servidas nas salas comunais, nos mesmos horários. Monitores, eu peço que encaminhem todos os alunos às suas casas. Muito obrigado. – finalizou.
Dumbledore saiu do Salão, acompanhado dos outros professores. Os monitores e monitores-chefes de todas as casas começaram a encaminhar os alunos. Rony e Hermione estavam entre eles, conduzindo os alunos da Grifinória. Harry se deixou levar por eles, imerso em seus pensamentos. Estava confuso e perturbado; o sonho que teve agora se tornara sério. O garoto ficou indeciso entre contar e não contar o ocorrido para Dumbledore, e se decidiu pela última opção. Reparou que havia muitos alunos juntos e os monitores estavam tendo muito trabalho em conduzi-los, talvez nem percebessem se um deles saísse e foi o que ele fez. Porém, enquanto tentava se dirigir à sala do diretor, esbarrou em Rony, que estava conduzindo os últimos alunos da fila, junto com Hermione.
- Harry! – o garoto exclamou enquanto se punha na frente do amigo. – Aonde você vai agora?
- Eu... eu preciso ir ver o Dumbledore. Deixa eu passar, Rony.
- Não deixa, Rony! – era Hermione que falava. – Harry, você ouviu o que o próprio Dumbledore disse. Nenhum aluno deve sair de sua casa. Nenhum! E é responsabilidade dos monitores impedir que os alunos saiam. Mesmo você sendo nosso amigo, nós não vamos deixar você sair, não é mesmo Rony? – ela finalizou, decidida. Mas Rony não parecia tão convicto assim.
- Vocês não entendem... Eu preciso falar com o Dumbledore! É importante!
- Mas, Harry, o que você vai fazer lá? – Hermione perguntou. – Todos os professores estão lá e provavelmente você vai é acabar recebendo uma detenção por isso!
- Por favor, vocês têm que entender que...
- Pode ir, Harry. – Rony disse, abrindo espaço para o amigo passar.
- O que você tá fazendo, Rony? – Hermione perguntou.
- Eu estou deixando ele ir. Se o Harry diz que o que tem para falar com Dumbledore é importante, é porque é muito importante mesmo. Você e eu, Mione, devíamos saber melhor do que ninguém isso. E além de tudo mais, não adiantaria impedi-lo... O Harry não ia desistir e conseguiria passar por nós ou qualquer um; ele tem maneiras de fazer isso. Então é melhor não complicarmos as coisas. Pode ir, Harry. Nós não vamos te impedir, nem vamos tirar pontos de você e muito menos contar para alguém isso. Vai fazer o que você tem que fazer.
- Obrigado por me entender, Rony. – Harry disse e depois se voltou para Hermione, que estava de cabeça baixa e bastante emburrada. – Você entende, né, Mione?
- Vai logo antes que eu mude de idéia. E toma cuidado! – ela o encarou nos olhos. – Os corredores estão todos vazios e eu não me surpreenderia se tivesse alguém por aí a espreita. O que você tá esperando, Harry? Vai logo!
- Obrigado. – o garoto respondeu e saiu, dirigindo-se à sala de Dumbledore, enquanto os amigos o acompanhavam com o olhar.
Harry não demorou muito para chegar à sala do diretor. Como Hermione disse, não tinha ninguém nos corredores e o garoto pôde transitar livremente. Chegando lá, Harry se viu tomado por uma indecisão. Todos os professores estariam ali e como ele encararia a todos? Será que a informação que tinha era mesmo tão importante assim? O garoto olhou para o gárgula que guardava a porta e se decidiu: chegara até ali e não ia desistir, tinha que falar com o diretor e pronto.
- Caramelo explosivo! – disse e o gárgula se moveu, abrindo a passagem.
O garoto entrou e subiu a escada circular. Quando chegou até a porta da sala, ouviu várias vozes discutindo. Mesmo assim, bateu, decidido. As vozes silenciaram na mesma hora. Passos se aproximaram da porta e alguém a abriu.
- Harry! – a pessoa se espantou.
- Sirius? – o garoto se espantou mais ainda. Depois reparou que mais pessoas estavam na sala. Além de Sirius na porta, com a expressão mais estupefata de todas, Dumbledore estava atrás de sua mesa, a aparência cansada, porém serena; os professores estavam lá também e até o Prof. Remo Lupin estava presente, além de outros bruxos desconhecidos para Harry. Todos, sem exceção olhavam para o garoto.
- Você não vai permitir que ele fique, vai, Alvo? – a Sra. Figg perguntou.
Ao contrário do que todos pensavam, Dumbledore respondeu, sem nenhuma surpresa: - Entre, Harry.
Encabulado, o garoto entrou e Sirius fechou a porta atrás dele. Foi a Profª. McGonagall que quebrou o silêncio:
- O que você está fazendo aqui, Potter? Como conseguiu sair da sala comunal da Grifinória?
- Nem precisa perguntar isso... – Snape debochou. – Potter sabe todos os macetes para driblar uma regra... É igualzinho ao pai...
- Ninguém aqui quer saber sua opinião, Snape. – Sirius cortou.
- Se não tem o que falar, Snape, é melhor que fique calado... – foi a vez do Prof. Lupin.
- Mas o qu... – Snape ia retrucar, mas foi interrompido por Dumbledore:
- Silêncio! – todos se calaram. Depois de lançar um olhar irritado para os três que estavam discutindo, o diretor prosseguiu: - Se Harry está aqui, é porque tem algo importante a dizer. O que você quer, Harry?
O garoto estava extremamente nervoso com aquela situação; todos, sem exceção, olhavam para ele. Mesmo assim, disse, dirigindo-se a Dumbledore, decidido: - Eu gostaria de lhe falar, professor. É muito importante.
Todos os presentes aguardavam ansiosos a resposta do diretor. – Tenho certeza de que você não estaria aqui se não fosse importante, Harry. Por favor, me acompanhe até a sala ao lado. – ele disse surpreendendo a todos, principalmente Harry, que não teve outra escolha senão seguir o diretor.
Dumbledore abriu uma porta que ficava do lado direito da sala, enquanto todos olhavam para ele, alguns surpresos e outros, como Snape e a Sra. Figg, indignados. Harry seguiu o diretor e entrou logo atrás dele pela porta. A sala que ficava depois da porta era magnífica; bem maior do que a anterior, Harry notou, e ricamente decorada. Vasos, estátuas, livros em uma enorme estante que chegava até o teto... O lustre era de cristal e com detalhes em ouro; brilhava de forma que se Harry olhasse de um lado tinha uma cor e se olhasse por um outro ângulo, tinha uma cor diferente. Nas paredes, quatro quadros, cada um deles ocupando quase metade das paredes onde se encontravam e é claro, se moviam; dois deles eram homens e os outros dois, mulheres; vestiam roupas antigas e elegantes. Um dos homens, que era de aspecto robusto, piscou para Harry e sorriu enigmaticamente.
- Surpreso, Harry? - o garoto se virou rapidamente e viu Dumbledore próximo à porta, perguntar.
- Essa sala é bem grande... Vendo a sala do senhor lá fora nem dá pra imaginar algo tão grande aqui...
- Como tudo em Hogwarts, isso é magia. Essa sala é muito especial... – o diretor disse olhando em volta e se aproximando de Harry. – Aqui, os quatro grandes se reuniram muitas vezes para discutirem desde pequenos problemas da escola, até os maiores assuntos do mundo mágico...
- Os quatro grandes? O senhor quer dizer os fundadores de Hogwarts? Gryffindor, Slytherin...
- Isso mesmo. Você está vendo esses quadros, Harry? Aquele ali, por exemplo. – apontou para o homem que piscou para Harry. – Esse no quadro era Godric Gryffindor, o fundador da casa Grifinória. Os outros quadros são dos fundadores das outras casas...
Harry não disse nada, apenas ficou observando os quadros. Gryffindor continuava sorrindo enigmaticamente para o garoto; o outro homem, que provavelmente era Slytherin, encarava-o; uma das mulheres, que usava um vestido amarelo e talvez fosse Helga Huflepuff, dirigia um olhar amedrontado para Harry, enquanto a outra mulher, que o garoto supunha ser Rowena Ravenclaw, apenas o observava, como se tivesse estudando o garoto.
- Sei que deve estar impressionado com a sala, Harry, porém você não veio aqui para isso, suponho?
- Desculpe, professor. Na verdade eu vim aqui para lhe contar do sonho que eu tive hoje. Eu sonhei com Voldemort novamente e com os... dementadores...
- Eu já imaginava... Acho que teremos uma longa conversa, Harry. – o diretor indicou um sofá, onde os dois sentaram.
Harry contou o sonho, com detalhes, enquanto Dumbledore apenas ouvia, atento. Quando terminou, o diretor disse:
- Foi muito importante você ter vindo me contar isso, Harry. Esse sonho nos mostra um ângulo diferente dos acontecimentos... Mostra o ponto de vista do próprio Voldemort...
- Mas, professor... – subitamente, o garoto se lembrou de um outro sonho que tivera, algum tempo atrás. – Eu tive um sonho, já faz algum tempo, mas acabei não vindo contar para o senhor porque não achei importante na época e...
- Então esse o momento certo para você contar, Harry. Talvez seja importante.
- Na verdade eu não entendi muita coisa sobre esse sonho... Voldemort estava falando com alguém e repetia diversas vezes que não podia permitir que algo se cumprisse, mesmo sabendo que o herdeiro, ou coisa parecida, estivesse vivo... Depois ele disse que faria de tudo para encontrar... Eu não faço a mínima idéia do que seja isso, professor...
Dumbledore, ao contrário de Harry, parecia saber muito bem do que se tratava: - Entendo... Então é isso que ele quer dessa vez...
- Então o senhor sabe o que é a coisa que Voldemort quer encontrar?
- O que você acabou de me contar, Harry, explica muitas coisas, porém é melhor que você não saiba quais são essas coisas. Eu sei que você odeia quando eu digo isso, mas ainda não é a hora certa.
O garoto suspirou, resignado. Sabia que Dumbledore não contaria mais nada para ele. O diretor continuou: - Escute, Harry. Toda vez que você sonhar alguma coisa relacionada ao Voldemort, eu quero que me conte. Não importa que você não tenha entendido o sonho, ou não tenha achado importante. Você fará isso? - Harry concordou e Dumbledore continuou: - Acho que é melhor você voltar para a Grifinória, agora. Vamos.
Dumbledore se levantou e caminhou até a porta. Harry o seguiu, mas antes olhou em volta na sala mais uma vez; os quadros, que tinham observado toda a conversa, ainda olhavam para ele. Rowena Ravenclaw, ele notou, dirigia-lhe um olhar vitorioso e sorria. Harry não entendeu o que aquilo queria dizer, por isso seguiu o diretor até a sala ao lado, onde todos os outros ainda os esperavam. Ao chegarem, Dumbledore tomou a palavra:
- Desculpem-me por ter feito vocês esperarem... Mas agora temos muito mais a conversar. Antes, porém, Harry tem que voltar para sua casa. Sirius, será que pode acompanhá-lo?
- Eu? Não que não queira, mas Dumbledore... Se estiver alguém nos corredores, eu...
- Tenho certeza de que não encontrará ninguém, não se preocupe com isso. – o diretor respondeu calmamente.
- Bem, se diz isso... Vamos, Harry, eu te acompanho então.
Resignado, o garoto acompanhou o padrinho porta afora. Depois que deixaram o gárgula de pedra para trás, Harry comentou:
- Não precisava essa preocupação toda... Eu poderia muito bem ter vindo sozinho, não sou nenhuma criança.
Sirius dirigiu um olhar debochado para o garoto quando respondeu: - De que você não é criança eu sei, Harry. Acho que quem não sabe quem é quem aqui é você...
- Eu? O que você quer dizer, Sirius?
- Quero dizer que você já devia saber há muito tempo que você não é um adolescente qualquer. Você é Harry Potter. – o garoto apenas suspirou. – Não é muito prudente deixar você andar sozinho por aí, principalmente depois dos atuais acontecimentos...
- Ah, claro. Então Voldemort vai aparecer do nada e dizer: "Harry Potter, eu vim aqui para acabar com você!"
- Eu não duvido mais de nada se você quer saber... Mas eu acho, aliás tenho quase certeza, de que Dumbledore não pediu para que eu o acompanhasse a troco de nada...
- É, eu já estava começando a ficar preocupado. Desde aquela última carta que você me mandou, não houve mais nenhuma notícia sua. E você tinha dito que viria no começo de outubro e já estamos quase na metade do mês, Sirius.
- Eu sei disso, mas não consegui te avisar. A verdade é que eu encontrei uma pista de Rabicho e a segui.
- E aí, Sirius? Você conseguiu encontrá-lo? – o garoto perguntou extremamente ansioso. Sabia que Rabicho, que na verdade se chamava Pedro Pettigrew, traíra seus pais e fora Sirius que levara a culpa na época, o que resultou em doze anos em Azkaban para ele, por um crime que não cometera. Porém, Sirius fugira da terrível prisão e, até o momento, era um fugitivo para os bruxos e até os trouxas; a única forma de provar sua inocência seria encontrar Rabicho e prendê-lo.
- Ele escapou. Mas deixou rastros e agora será mais fácil encontrá-lo.
- Entendo... Mas toma cuidado, afinal Rabicho é um servo de Voldemort e, dependendo do grau de interesse dele, ele pode muito bem ajudar Rabicho a escapar e você pode se encrencar mais ainda...
- Olha quem fala... – Sirius debochou. – Você é o rei das encrencas, Harry.
- E você não pode falar nada também, Sirius. Eu sei muito bem que você e meu pai eram dois encrenqueiros quando estudavam em Hogwarts...
- É... isso é verdade... Ah, mas é diferente!
- Sei...
- Mas isso não importa agora, Harry. Bem, é que diante dos acontecimentos... – Sirius começou a falar e Harry teve impressão de que o que viria a seguir não o agradaria nem um pouco. – Eu estive conversando com Dumbledore e... Essa fuga dos dementadores e dos Comensais da Morte de Azkaban mudou um pouco as coisas. Se antes já tínhamos que tomar o máximo de precaução com... – ele fez uma pausa e olhou para o afilhado. – Bem, Harry, decidimos que seria melhor para você não sair mais dos terrenos de Hogwarts, quer dizer, é melhor que interrompa suas visitas para Hogsmeade por enquanto...
- O quê? Você tá querendo dizer que eu não vou poder mais sair do castelo?
- Não é bem isso, Harry... Só achamos que seria melhor se você não visitasse mais Hogsmeade, por enquanto... Mas vai poder sair do castelo, contanto que não fique saindo tarde da noite, como você faz às vezes, que eu sei.
- Eu não tô acreditando nisso! Vocês acham que eu sou um bebê, por acaso? Que não posso me cuidar sozinho?
- Eu sei que você sabe se virar sozinho, Harry! E entendo que deve ser horrível não poder sair de Hogwarts, eu mesmo ficaria muito irritado, mas você tem que fazer um esforço e entender! Depois de tudo que você passou na última tarefa do Torneio Tribruxo... Foi horrível para mim te ver naquele estado, Harry! É minha responsabilidade cuidar de você na medida do possível, afinal Tiago e Lílian me deixaram como seu tutor e eu não quero mais que você tenha que passar pelo que passou!
Ele fez uma pausa e formou-se um silêncio que Harry não ousou quebrar. Passados alguns minutos, Sirius disse:
- Posso confiar em você, Harry? Você me dá sua palavra de que não vai ir à Hogsmeade até que as coisas esfriem um pouco? – o garoto não disse nada, apenas fez que sim com a cabeça. Sirius sorriu ligeiramente e continuou. – Mas isso não quer dizer que você não vá poder transitar pelos terrenos... Treinar o time de quadribol da Grifinória...
- Então você já sabe?
- Já. Na verdade, eu já imaginava algo como isso... Tiago também se tornou o capitão do time quando estava no quinto ano... Ele ficaria orgulhoso... E, se isso te importa, eu também estou orgulhoso. – Sirius sorriu e colocou a mão no ombro do garoto.
- É claro que me importo, Sirius. Obrigado. – o garoto sorriu também.
Já estavam bem perto da Grifinória agora. Se virassem o corredor, poderiam ver o quadro da Mulher Gorda, que escondia a passagem. Sirius olhou de esguelha para o quadro e depois disse:
- Bem, é aqui que eu te deixo, Harry. Acho melhor eu não chegar muito perto da Mulher Gorda... Ela pode ter um ataque se me ver...
Harry se lembrou da ocasião em que Sirius teve que rasgar o quadro da Mulher Gorda para tentar entrar na Grifinória e ela teve que ser restaurada. O garoto teve que concordar; ela ficaria mesmo histérica se visse Sirius Black de novo.
- Tudo bem, Sirius. Nos vemos outra hora, então.
- Certo. E não se esquece do que eu te disse, Harry.
O garoto apenas acenou com a cabeça afirmativamente e se virou, para se encaminhar até o quadro. Quando olhou de novo para o padrinho, ele já tinha se transformado no grande cão preto, mas ainda continuava o observando. Harry, então, disse a senha para a Mulher Gorda: "Canção da Fênix", e entrou.
