Capítulo Dezenove – Primeiro Amor
Era uma tarde de Sexta-feira. Harry estava correndo pelos corredores alucinadamente, cheio de materiais escolares debaixo do braço, que escorregavam a cada passo que dava. Não estava nem ligando se alguém estava vendo essa cena ridícula, se bem que isso era um pouco difícil, já que todas as aulas da tarde já tinham começado e provavelmente ele era o único aluno atrasado ali. Rony e Hermione tinham ido na frente, pois a Profª. McGonagall os chamara para alguma coisa que Harry não lembrava o que era. O garoto ficara para trás, comendo mais um pouco, já que o almoço do dia era um prato de que ele gostava muito. Mas agora estava atrasado e o pior de tudo, era que estava atrasado para a aula de Poções!
"Por que eu tinha que repetir o prato, não bastava um? Agora vou chegar atrasado na aula e o Snape vai acabar comigo! Tomara que ele não esteja em seus piores dias e não tire muitos pontos... Mas o que é que eu tô pensando? É mais fácil o céu cair do que o Snape ser tolerante comigo!" – o garoto pensava enquanto corria.
Ele continuava a correr em direção às masmorras, mas elas pareciam não chegar nunca. Quando estava quase lá, ouviu alguém o chamar:
- Harry?! – ele parou imediatamente quando ouviu a voz e se virou. Cho Chang estava parada a alguns metros dele, com a mão na cintura e uma expressão divertida no rosto. Os materiais de Harry caíram no chão imediatamente, tal foi seu espanto. Logo ele se pôs a recolhê-los e quando terminou e levantou os olhos, Cho já estava na frente dele, com os braços cruzados e um sorriso no rosto.
- Posso perguntar o que você está fazendo aqui, correndo feito um louco? – ela olhou para ele, com os materiais pendendo dos braços e fez um esforço muito grande para não rir.
- Por favor, não ria, eu sei que tô parecendo um idiota... – Harry implorou. O garoto estava terrivelmente envergonhado; primeiro, pela situação ridícula em que se encontrava e segundo, por estar na presença de Cho, o que o fazia sentir aquele velho friozinho na barriga e a ardência no rosto.
- Tudo bem, desculpa... – ela disse com dois dedos na frente dos lábios, escondendo um sorriso maroto. – Você quer que eu te ajude, Harry?
- Mas você não tem aula agora? Quer dizer, eu não quero te atrapalhar...
- Não... A minha classe foi dispensada. Íamos ter aula de Defesa Contra as Artes das Trevas, mas parece que a Profª. Figg não está se sentindo muito bem hoje e não tinha nenhum professor para substituí-la. Nesse caso, estou com o tempo dessa aula livre. Deixa que eu te ajudo com esses livros... – ela estendeu as mãos.
- Se é assim, tudo bem então... Obrigado. – Harry passou dois livros para ela, o que já o aliviou bastante.
- Você vai ter aula agora?
- Vou... – Harry subitamente se lembrou do que o esperava nas masmorras.
- Deve estar atrasado...
- Não, tudo bem... Não faz mal perder um pouquinho da aula...
- Tudo bem, então, Harry. Eu te acompanho até a sala.
Os dois começaram a caminhar em direção às masmorras, lado a lado. Harry sentia uma sensação incrível, que era muito difícil de ser descrita; alegria junto com vergonha, nervosismo misturado com satisfação. Não importava se quando chegasse na sala, Snape o recebesse com uma bronca homérica. Na verdade, ele podia retirar até uns duzentos pontos ou mais que Harry não ia se aborrecer. O momento pelo qual estava passando valia a pena.
- Eu devia retirar uns pontos de você, por estar correndo daquela forma por aí, sabia? – Cho perguntou, em um tom divertido, com um sorriso no rosto. – Mas só porque era você, eu vou deixar passar...
- Puxa... Obrigado...
- Eu vi sua partida de quadribol contra a Sonserina. E gostei muito do jogo...
- Verdade? O que você achou?
- Você está de parabéns, Harry. Comandou muito bem o time, que jogou maravilhosamente. E você jogou ainda melhor...
- O... obrigado... – o garoto murmurou, muito corado.
- Foi mesmo um grande jogo... Eu nunca tinha visto uma Finta de Wronski como aquela, foi muito ousada... Vou tomar cuidado quando jogar contra você novamente...
- Eu não faria aquilo com você... Não gostaria que se machucasse por minha culpa... – Cho se limitou a um sorriso tímido.
Tinham chegado até a sala de aula e podiam ouvir os gritos de Snape ecoando pelos corredores, mesmo com a porta da sala fechada. Pararam e Cho lançou um olhar assustado para a porta, antes de dizer:
- Acho que você tem um desafio maior que quadribol agora... O Prof. Snape parece um pouco... irritado...
- Ah... É, você tem razão, mas eu já tô acostumado... Para o Snape não importa se eu chego um ou dez minutos atrasado, ele implica do mesmo jeito...
- Nesse caso, boa sorte para você, Harry.
- Obrigado.
A moça, então, passou os livros que carregava para Harry e as mãos deles se tocaram levemente. Harry corou furiosamente, mas Cho se limitou a um pequeno sorriso, como se nem tivesse percebido. O garoto já ia entrar na sala, porém foi chamado por ela novamente:
- Harry? – ele se virou. – Bem, eu... eu queria te agradecer de novo por aquele dia... Sabe, aquele dia em que conversamos... Você não tem idéia do quanto me ajudou...
- Mesmo? Mas eu só...
- Você tirou um peso enorme das minhas costas... Desde aquela conversa, eu melhorei muito; me sinto mais forte, pronta para continuar... Obrigada, Harry. – então, inesperadamente, ela se aproximou do garoto e beijou suavemente seu rosto. Depois sorriu, acenou delicadamente e foi embora.
Harry ficou ali, parado, observando-a, boquiaberto. Passou a mão na face que ela tinha beijado e teve a vontade de nunca mais lavar aquele lado do rosto.
- Ah! Então você finalmente chegou, Potter! – essa foi a recepção "calorosa" de Snape quando Harry entrou na classe.
- Com licença, professor. Desculpe pelo atraso.
Harry respondeu automaticamente e entrou. Não ligou para a cara feia do mestre de Poções, nem para todos os olhos dos alunos voltados para ele e muito menos para as gracinhas e risadinhas por parte dos sonserinos. A única coisa que conseguia pensar, era no momento mágico que acabara de ter.
- Meia hora de atraso, você quer dizer! – continuou Snape, furioso.
- Eu tive alguns... problemas, no caminho. – uma mentira deslavada, Harry pensou, pois para ele o que aconteceu nunca poderia ser chamado de "problemas". Mas ele não conseguira pensar em nada melhor para dizer, já que pensar era o mais difícil no momento.
- Claro, o famoso Harry Potter tem muitos contratempos e não pode comparecer pontualmente à humilde aula de Poções... Saiba, Potter, que não penso como você e acho que trinta minutos de atraso rendem uns trinta pontos a menos para a Grifinória...
Os grifinórios soltaram urros de indignação, mas logo silenciaram frente ao olhar gélido do professor. Harry não respondeu e apenas se encaminhou para a carteira onde estavam seus amigos, Rony e Hermione, bem no fundo da classe. Os amigos o olharam como se o garoto tivesse umas três cabeças, mas Harry nem reparou. Quando despejou o material na mesa, Snape disse, com a voz cheia de sarcasmo:
- Acho que não se sentará nesse lugar hoje, Potter.
- Não vou? – o garoto perguntou, parecendo um zumbi.
- Não. Há um lugar vago ao lado do Sr. Malfoy. Por que não senta nele, Potter?
Harry olhou para o lugar e viu Draco Malfoy estreitando os olhos, com um meio sorriso nos lábios. Encaminhou-se lentamente para o lugar, sem reclamar, e sentou, colocando o material na mesa, para depois escolher os ingredientes que usaria na poção dessa aula, a "Poção da Inteligência", que fazia qualquer um ficar esperto por alguns minutos.
- Hoje você parece mais idiota do que nos outros dias, Potter... O que aconteceu? – Malfoy perguntou.
- Não te interessa, Malfoy. – Harry respondeu seco. Parecia que finalmente o sangue voltara a correr em suas veias e estava saindo do estado de torpor em que se encontrava anteriormente.
- Mas alguma coisa aconteceu, ou você não estaria com essa cara de bobo... – ele sorriu, como se tivesse tido uma idéia. – Você está com uma cara de... apaixonado! Só mesmo nesse estado para ficar com essa cara de bobo e esse sorriso idiota no rosto.
- Eu, hein, Malfoy! Você tá prestando muita atenção em mim, tá me estranhando?
Malfoy ficou vermelho de raiva devido à insinuação e retrucou, em voz clara e alta para que todos ouvissem: - Nem precisa ficar assim, Potter, porque nenhuma garota um dia vai notar você, tão panaca que você é...
Todos os olhos e ouvidos se voltaram para os dois. Harry ia retrucar, mas Snape o interrompeu:
- Então esse foi o motivo do atraso, Potter? Um encontro amoroso? Vamos, Potter, a classe quer saber toda a história do seu encontro...
Harry sentiu que corara e seu olhar furioso passou de Malfoy para Snape. Apesar da vergonha que estava sentindo, conseguiu encontrar uma resposta à altura:
- Acho, professor, que a minha vida não faz parte da matéria de Poções e o senhor faria um bem muito maior se continuasse com a sua aula...
Snape imediatamente substituiu o sorriso sarcástico do rosto, por uma cara de poucos amigos. Risos dos grifinórios ecoaram pela sala. – Silêncio! – o professor rosnou e rodou a capa preta, esvoaçando como um morcego em direção à sua mesa. Sentou e começou a fazer anotações, dizendo:
- Potter, quero que permaneça na sala depois da aula para combinarmos sua detenção.
O garoto sorriu, resignado. Já esperava por isso desde o começo, mas não ia permitir que isso estragasse seu bom humor e esquecesse dos bons momentos que passara anteriormente.
Harry fechou a porta atrás de si. Passara pelo menos um quarto de hora a mais naquela masmorra escura e fria, junto com Snape, combinando a detenção. Dali a duas semanas, teria que limpar toda a sala de Snape sem usar magia, diante da supervisão do zelador da escola, Argo Filch.
Quando levantou os olhos, viu Rony e Hermione, lado a lado, esperando-o. Hermione estava com os braços cruzados, com uma incrível semelhança com a Profª. McGonagall, enquanto Rony parecia cansado.
- Francamente, Harry! – a amiga exclamou, indignada. – Atrasar-se para a aula do Snape! Você perdeu a cabeça?
- Pode-se dizer que foi algo parecido... – Harry disse, sorrindo, enquanto caminhava a passos largos e os amigos o acompanhavam. Hermione ia continuar o sermão, mas Rony a interrompeu:
- Harry, o que aconteceu? Você estava normal no almoço e agora tá muito estranho...
- Vocês acham?
- Nós não achamos, Harry, temos certeza! – Hermione emendou. – O que aconteceu depois que deixamos você na hora do almoço?
- Eu me atrasei para a aula e... acabei encontrando uma pessoa... – Harry sentiu novamente a ardência ao se lembrar do fato e quando olhou para os amigos, eles estavam se entreolhando, cúmplices, e com expressões de que estavam entendendo tudo que se passava.
- Bem, então acho que vou para o salão comunal, terminar algumas lições... Encontro vocês mais tarde, meninos. – Hermione disse isso muito rápido, fazendo um grande esforço para não rir e distanciou-se, em direção à torre da Grifinória.
- Você disse para ela ir embora, Rony?
- Não. Foi ela que achou melhor ir. E está certa, porque a conversa que vamos ter tem que ser feita apenas entre garotos.
- Aonde você quer chegar, Rony?
- Você encontrou uma garota antes da aula, não foi, Harry? E essa garota é aquela que você disse para mim que gostava, quando conversamos durante as férias. Estou errado?
Harry arregalou os olhos. – Você tem levado Adivinhação muito a sério.
- Pelo contrário, você sabe que, como você, eu detesto Adivinhação, Harry. E eu não adivinhei nada, eu só conclui tudo isso depois que te vi com aquela cara de bobo.
- Agora você tá parecendo a Mione...
- Pára com isso, Harry! Eu sou o Rony, Rony Weasley! E não estou parecido com ninguém! Vamos falar sério agora. Quando eu estava precisando e não conseguia entender meus sentimentos pela Mione, eu pedi a sua ajuda e você me ajudou. Agora eu quero te ajudar! Sabe que pode confiar em mim, Harry, afinal somos amigos... – Rony colocou a mão no ombro de Harry, num gesto de apoio.
- Tudo bem, Rony... Vou te contar o que aconteceu... – Harry disse, sorrindo, e contou o encontro que tivera com Cho antes da aula.
Rony apenas escutava, atentamente, enquanto os dois caminhavam lentamente pelo corredor deserto. Estimulado pela atenção do amigo, Harry falava abertamente com Rony, assim como este o fez durante o verão, quando contou para Harry sobre seus sentimentos por Hermione.
- E eu não sei o que eu faço, Rony... Toda vez que eu a vejo me sinto desconfortável, fico envergonhado, encabulado e coro e... Sei lá...
- Diz para ela o que você sente.
- Nem pensar! A Cho é popular, tem um monte de garotos à sua volta e de maneira alguma vai gostar de mim, que sou só um... um panaca!
- Você não é um panaca e não tem que ouvir o que aquele nojento do Malfoy disse de você! Você não é um panaca, entendeu?
- Mas e se ela achar isso de mim?
- Se ela achar, a panaca é ela! Mas pelo jeito que ela te tratou, ela não te acha um panaca... O que você tem que fazer, Harry, é dizer para ela o que sente... Pega o meu exemplo, eu disse tudo para a Mione e agora nós estamos juntos e felizes!
- Ah, Rony, você e a Mione é uma história totalmente diferente!
- Por quê? Eu não tô vendo nada diferente...
- Você e a Mione se gostavam há muito tempo, isso estava na cara... E eu percebi isso fácil e te encorajei a falar com ela, porque sabia que ela não ia dizer "não".
- Nesse ponto, tenho que concordar com você, eu não posso te assegurar que a Cho vai mesmo dizer "sim". Mas tem uma outra coisa que você não entendeu. Você tinha certeza de que a Mione gostava de mim, porque você a via com outros olhos. Eu não tinha essa certeza porque eu a via com os mesmos olhos que você vê a Cho! Você acha que eu não me senti inseguro quando me declarei para a Mione? É claro que eu me senti, mas não desisti e deu certo! E eu te digo, Harry, com toda a certeza do mundo, que o que você tem que fazer é falar dos seus sentimentos para a Cho. E se ela disser "não", você vai ter que aceitar, mas pelo menos não vai mais ficar com essa dúvida, que é a pior coisa que alguém pode sentir, na minha opinião... A espera é infinitamente pior do que o momento de agir... Se ela te aceitar, você terá encontrado alguém que corresponde os seus sentimentos, mas se ela não aceitar, é porque você vai ter que procurar mais um pouquinho para encontrar essa pessoa e vai acabar achando, na certa...
Rony parou para recuperar o fôlego e Harry ficou sem palavras; não tinha idéia de que o amigo tivesse amadurecido tanto, mas era exatamente isso que acontecera. As palavras que Rony lhe disse mudavam completamente a sua forma de pensar e o encorajavam. A única coisa que conseguiu fazer no momento, foi abaixar a cabeça e murmurar: - Obrigado, Rony. Era disso que eu precisava.
Harry levantou os olhos e viu que o amigo sorria. Em seguida, abraçaram-se como irmãos que eram. Para Harry, Rony era o irmão que não teve e para Rony, Harry era o irmão que escolhera. Mas não precisaram dizer isso em palavras, pois já sabiam dentro de seus corações.
