Capítulo Vinte e Um – Discussões e Separações
Os dias transcorreram tranqüilamente depois de todos esses acontecimentos. Nos corredores, quando encontrava Cho, Harry apenas a cumprimentava cordialmente, como se nada tivesse acontecido, o que intrigou muito a moça. Todavia, o garoto estava sendo sincero, já que o sentimento que nutria por ela parecia minguar cada vez mais.
Depois da conversa confortadora que teve com Gina naquela noite, foram poucos os momentos em que se encontraram novamente. Porém, nestas poucas oportunidades, a garota se mostrou ligeiramente mais descontraída na presença de Harry, diferente das outras vezes.
As aulas estavam cada vez mais penosas, pois o conteúdo de todas as matérias era extremamente grande, e os professores estavam cada vez mais rígidos com os alunos. No caso de Harry, dois eram os professores que implicavam com ele: Snape era o primeiro, sempre encontrando motivos para reclamar. O mestre de Poções se deliciou na noite em que Harry teve que cumprir sua detenção, limpando a sala dele sem usar nenhum tipo de magia. O pior não era isso; Harry foi vigiado o tempo todo por Filch e sua gata, Madame Nor-r-ra. E quando finalmente terminou, Snape apareceu alegando estar fazendo uma "verificação do trabalho de Harry Potter". Obviamente, ele encontrou defeitos na limpeza e obrigou o garoto a permanecer por mais uma hora trabalhando sob sua vigilância. Harry só conseguiu voltar para a Grifinória, exausto, quando já passava da meia noite.
O segundo professor a implicar com o garoto era a Sra. Figg. Ela o forçava a ficar mais tempo depois da aula, pretextando que Harry precisava aperfeiçoar seus métodos de defesa, já que não estava suficientemente preparado. Além das rigorosas aulas, a professora mandava sempre montanhas de exercícios extras, que consumiam muito tempo do garoto.
Quanto ao quadribol, o time da Grifinória treinava continuamente. Apesar do próximo jogo - que por sinal era contra o time da Corvinal - ser somente no meio de janeiro, todos concordaram que o melhor era treinar o máximo que pudessem. E assim o fizeram. Rony estava melhorando mais a cada dia, assim como Harry, que adquiria mais confiança em si mesmo para o comando do time.
Não houve mais nenhum acontecimento de maior importância depois da fuga de Azkaban. Sirius mandava cartas para Harry esporadicamente e em nenhuma delas dizia o que fazia ou onde se encontrava. Porém, as visitas a Hogsmeade continuavam proibidas para o garoto por tempo indeterminado.
O mês de outubro passou e o de novembro estava quase no fim. Com a proximidade do Natal, a lista de alunos que permaneceriam na escola já estava sendo preparada. Harry, como sempre, foi um dos primeiros a se inscrever para ficar. Rony o acompanhou, mas Hermione parecia estar em meio a um grande conflito interno:
- Que cara é essa, Mione? Vamos, só falta você escrever seu nome. – Rony disse, fazendo menção de entregar a pena para a garota que parecia extremamente culpada de algo.
- Eu não vou me inscrever... – ela murmurou, recusando a pena.
- Você tá brincando, né? – Rony perguntou incrédulo.
- Não estou, Rony... Eu tô falando sério... Meus pais me mandaram uma coruja recentemente e pediram para que eu passasse o Natal com eles... Já faz alguns anos que eu não vou para casa no Natal...
- E você vai me deixar?
- É claro que não, Rony! Você vai ficar com o Harry, né Harry? – ela perguntou para o garoto que até o momento só observava a cena. Ele concordou, acenando com a cabeça, mas Rony não parecia ter aceitado.
- Eu não acredito que você vai embora logo agora, Mione! Quando nós finalmente estamos juntos, você vai me deixar!
- Rony, será que você não entende? Os meus pais pediram isso e eu não vou recusar! Já faz muito tempo que eu não passo o Natal em casa e eles sentem falta! Além disso, eu sinto saudade deles. E eu vou mesmo você não querendo!
- Pois vá, que eu nem ligo! – Rony disse quase gritando e saiu batendo os pés.
Harry olhou para o amigo e em seguida para a amiga. Hermione estava mordendo o lábio superior, tentando conter sua irritação. O garoto não sabia o que fazer. Ia atrás de Rony ou ficava ajudando Hermione? Decidiu-se pela segunda opção, já que, nesse caso, estava em favor da amiga.
- Mione?
- Você pode ir atrás dele se quiser, Harry. – ela disse muito rápido. – Eu sei que vocês são muito amigos e provavelmente você está a favor dele...
- Pára com isso, Mione! Você sabe muito bem que eu também sou seu amigo, tanto quanto sou amigo do Rony! E nesse caso, eu estou a seu favor...
- Sério? Então você me entende?
- É claro que sim, Mione... Eu sei muito bem que Rony às vezes é meio imaturo... Você se lembra da briga que eu e ele tivemos ano passado?
- É claro que me lembro... Ele estava com ciúmes porque você tinha se tornado campeão de Hogwarts no Torneio Tribruxo e ele não tinha...
- E no final, ele acabou entendo e nós voltamos a nos falar...
- Mas naquela época até eu mesma fiquei brava pelo que ele fez com você! E depois ele veio com aquele jeito dele e acabou tudo voltando ao normal, como se nada tivesse acontecido...
- Foi assim, porque eu não liguei... Naquele momento, o que eu mais queria era que tudo voltasse ao normal, porque eu não agüentava mais aquela situação! E com vocês dois vai ser igualzinho... Eu sei que vocês ficam se fazendo de fortes, mas sofrem quando brigam...
- Mas não vai ser eu quem vai dar o braço a torcer, Harry! Nem morta! O Rony é quem começou tudo e é ele que vai terminar!
Harry suspirou. Foi atrás da amiga, segurou-a pelos ombros e começou a empurrá-la.
- O que você tá fazendo, Harry?
- Eu vou dar um jeito nesse impasse. Não vou suportar ficar me dividindo entre você e o Rony.
- Você tá maluco, Harry? Eu não vou falar com o Rony!
- E quem disse isso? Vocês dois vão conversar como adultos e resolverem seus problemas!
- Mas...
- Nada de "mas", Mione!
- Isso não vai dar certo...
Os dois foram andando até chegarem ao quadro da Mulher Gorda. Disseram a senha e entraram. Logo, viram que Rony estava sentado em uma das poltronas, emburrado. Dirigiram-se até lá, ou melhor, Harry arrastou Hermione até lá.
- Oi, Rony! – Harry disse normalmente. Hermione não dizia nada, só olhava para um outro lado, com a cara fechada.
- Oi. – Rony respondeu secamente.
- Bem, aqui estamos. – Harry começou. – Rony, diga o que tem para dizer para a Mione e escute as razões dela. Mione, faça o mesmo com Rony. E eu quero uma conversa civilizada, lembrem-se de que são monitores e têm que dar o exemplo para os outros alunos.
- Você tá doido? – Rony e Hermione perguntaram em uníssono.
- Nem um pouco, estou completamente bem. Vocês dois é que estão agindo como crianças. Vocês dois se gostam e não posso deixar que uma briga idiota acabe com o namoro de vocês!
- Não é uma briga idiota! – mais uma vez os dois exclamaram em uma única voz.
- É uma briga idiota sim! E parem de me interromper! – Harry disse, nervoso. – Eu já estou cansado de vocês dois brigando por qualquer coisa! Por que não entendem que às vezes é preciso entender as razões do outro, se colocar no lugar dele... Rony, deixe de ser egoísta e entenda que a Mione sente falta dos pais, assim como eles sentem falta dela! Mione, compreenda que o Rony está bravo porque ele gosta de você e vai ficar triste de passar o Natal longe de alguém que ele ama tanto! É tão simples, por que vocês não vêem isso?
Os dois não responderam absolutamente nada, apenas viraram os rostos, um não olhando para o outro e ambos tentando, de todas as formas, não olhar para Harry, pois pareciam saber que estavam errados. Harry ainda ia tentar dizer algo, quando uma batida em uma janela próxima chamou sua atenção. Era Edwiges.
O garoto se aproximou da janela e a abriu, deixando a coruja entrar. Ela pousou em seu ombro, esticando a pata que tinha uma carta um pouco amassada presa nela. Harry pegou a carta e se sentou na poltrona ao lado de Rony. O amigo continuava emburrado, mas olhava atentamente para o que Harry estava fazendo, assim como Hermione, que tentava ao mesmo tempo não olhar para Rony e ver a carta de Harry. Neste ponto, alguns alunos curiosos do primeiro ano que estavam na sala fazendo deveres e pararam tudo para observar a discussão de Harry Potter e os monitores da Grifinória, percebendo que a briga não iria mais continuar, voltaram-se para seus afazeres.
- Não tenho nada para você Edwiges, é melhor você procurar alguma coisa no corujal... – Harry disse para a coruja, enquanto abria o envelope. Edwiges, que estava esperando ansiosamente por algo do dono, saiu voando pela janela aberta com uma cara de poucos amigos.
Harry, irritado como estava, apenas deu de ombros e voltou-se para sua carta. Algumas poucas linhas, em garranchos conhecidos para ele, estavam escritas:
Harry,
Gostaria que você viesse hoje à minha cabana, preciso falar urgentemente com você. Se Rony e Mione estiverem aí, pode trazê-los, é melhor que eles também estejam presentes.
Espero por você ou vocês.
Hagrid
- É do Hagrid. – Harry disse, intrigado. – Quer falar comigo, ou melhor, conosco. Vocês vêm comigo ou não? – perguntou, olhando inquisidoramente para os amigos, que apenas acenaram afirmativamente.
Os três, então, saíram do Salão Comunal em direção aos jardins. Estavam em uma tarde de Sábado, portanto podiam andar livremente pela escola. Durante todo o caminho, Harry andou no meio dos amigos, que ainda não tinham dirigido nenhuma palavra um ao outro. Harry não se importou, afinal já tinha feito o que podia fazer e agora eles deviam se entender sozinhos. Além disso, o garoto estava bastante intrigado com o bilhete de Hagrid para se aborrecer com outra coisa.
Chegando até a cabana do guarda-caça, bateram à porta. Hagrid atendeu, um pouco afoito:
- Ah, que bom que vocês vieram logo... Eu queria mesmo falar com vocês três.
Harry, Rony e Hermione entraram. A cabana, não puderam deixar de reparar, estava um pouco bagunçada. Os Splooties que Hagrid tinha utilizado algum tempo atrás em suas aulas de Trato de Criaturas Mágicas estavam todos espalhados pelo lugar, pulando de um lado para outro. Hermione, que gostara muito das criaturinhas, logo pôs-se a brincar com eles. Harry e Rony sentaram-se em um sofá muito espaçoso, devido ao tamanho de Hagrid.
- Vocês aceitam um chá? – Hagrid perguntou, pegando um bule e por pouco não o deixando cair.
- Ah... Pode ser... – Harry respondeu um pouco intrigado com a atitude do amigo. Enquanto este preparava o chá, o garoto notou uma enorme mala aberta em um canto, com algumas roupas jogadas sobre esta. – Hagrid? Você vai viajar, por acaso? – perguntou, ainda olhando para a mala.
Hagrid, que já tinha terminado com o chá, aproximou-se de Harry e Rony, oferecendo uma xícara para cada um. – Bem... É sobre isso mesmo que quero falar com vocês... – ele disse, sentando-se. Hermione, ouvindo isso, aproximou-se e sentou ao lado de Hagrid, ainda distante de Rony. Ela trazia o Splooty salmão em seus braços, o mesmo que o trio utilizara em uma aula de Trato de Criaturas Mágicas, algum tempo atrás. Hagrid ofereceu uma xícara de chá para a garota também, que prontamente aceitou, mas ficou olhando ansiosamente para o guarda-caça, assim como Rony e Harry.
- Bem... Eu... – Hagrid continuou. – Eu chamei vocês aqui porque queria avisá-los de que vou viajar e...
- Viajar para onde, Hagrid? – Rony perguntou.
- Vou novamente falar com os gigantes. Da última vez que eu fui, no verão, eles não pareceram muito convencidos e, por isso, vou de novo. Dumbledore me pediu.
- E quanto tempo você vai passar longe? – Hermione questionou.
- Dois ou três meses... Depende do que acontecer durante esse tempo... Dumbledore vai comigo também.
- O quê? E Dumbledore vai ficar longe todo esse tempo também? – foi a vez de Harry. O garoto não gostava muito quando o diretor se ausentava, já que este era uma espécie de segurança para ele.
- Talvez um pouco menos, Harry. Dumbledore disse que precisa resolver alguns problemas... Vocês sabem... Tudo o que aconteceu recentemente... A fuga de Azkaban... Acho que Dumbledore vai tentar novamente fazer Fudge entender que Você-sabe-quem voltou...
- Ah... Como sempre, Voldemort... – Rony, Hermione e Hagrid estremeceram ao ouvir Harry pronunciar esse nome.
- Isso mesmo... – Hagrid balbuciou. – As coisas parecem estar realmente ficando pretas e todos os esforços se fazem necessários... Não se sabe o quê ele está planejando nesse momento...
- Talvez... – Harry murmurou, lembrando-se dos sonhos freqüentes que tinha.
- E eu tenho a obrigação de lhe lembrar, Harry, para ficar longe de encrencas...
- Como se eu as procurasse, Hagrid...
- Pois agora, Harry, além de não procurá-las, você deverá evitá-las ao máximo... Dumbledore está preocupado com você e não é para menos... Eu soube dos seus sonhos...
- Soube? Dumbledore te contou?
- Sim. E por esse e muitos motivos é melhor você tomar cuidado, Harry. – o garoto não disse nada, entretanto fechou a cara, já que odiava quando o tratavam como se não soubesse cuidar de si mesmo. Hagrid se voltou para Rony e Hermione. – E vocês dois, sabem muito bem o que fazer! Lembrem-se do que a Profª. McGonnagal disse há algum tempo.
- Do quê vocês estão falando? – Harry perguntou.
- Hagrid! – Hermione repreendeu. Rony parecia preocupado.
O meio gigante colocou a grande mão sobre a boca e murmurou: - Não devia ter dito isso...
- O que está acontecendo? Vocês estão me escondendo alguma coisa? – Harry tornou a perguntar.
- Não está acontecendo nada, Harry. Ninguém está escondendo nada de você. – Rony disse muito rápido.
- Mas... – Harry ainda ia tentar argumentar, porém Hagrid se levantou e o interrompeu:
- Bem, vamos parar de falar dessas coisas, que é melhor. Eu chamei vocês aqui também porque preciso de alguém que cuide dos Splooties para mim. – o guarda caça disse, juntando uma meia dúzia dos bichinhos e entregando para Harry, que quase não conseguia segurá-los. – Eles vão ficar sozinhos e preciso de alguém que venha alimentá-los durante minha ausência.
- Mas, Hagrid... – Rony começou, tentando de todas as formas segurar os Splooties que Hagrid lhe oferecera. Harry estava se ocupando, no momento, de correr atrás de um Splooty fujão, ao mesmo tempo em que fazia um grande esforço para que os outros não caíssem. – O professor substituto de Trato de Criaturas Mágicas não vai cuidar dos Splooties? É tarefa dele, não é?
- Eu sei disso, Rony, mas eu queria que vocês cuidassem deles, porque confio mais em vocês.
- Puxa... Obrigado, Hagrid... – Rony respondeu, nem um pouco feliz, pois um Splooty amarelo acabara de descobrir que seu cabelo era um ótimo trampolim. Hermione, que estava bastante tranqüila com seu Splooty salmão, bem quietinho no seu colo, riu da situação de Rony, que virara trampolim para Splooties brincalhões. Contudo, um olhar emburrado do garoto a fez lembrar imediatamente da briga que tiveram e virar a cara.
- E se não fosse pedir demais, vocês poderiam alimentar o Canino também? – Hagrid perguntou ansioso.
Rony já ia lançar uma frase bastante sarcástica, porém Harry, que finalmente conseguira pegar o Splooty fujão, o impediu e respondeu: - Tudo bem, Hagrid, nós cuidamos deles enquanto você estiver fora...
- Ah... Eu só precisava disso para viajar tranqüilo! Muito obrigado mesmo, meninos! – Hagrid disse, feliz, para em seguida dar um "tapinha" nas costas de Harry, fazendo o garoto quase voar para longe, assim como os Splooties, que caíram de seus braços, correndo pela cabana alucinadamente.
O garoto apenas suspirou, resignado. Rony olhou para o amigo, com uma expressão de quem entendia o que ele estava sentindo e Hermione fazia um grande esforço para segurar o riso.
