Capítulo Vinte e Dois - Reconciliações

As férias de Natal se aproximavam cada vez mais e poucos foram os alunos que se inscreveram para ficar. Além de Harry e Rony, os gêmeos Fred e Jorge também ficariam na escola, assim como Gina. Alguns alunos do primeiro e segundo anos também permaneceriam, mais por curiosidade do que outra coisa. Para o alívio de Harry e Rony, Draco Malfoy e seus capangas iriam para casa nas férias.

Não obstante, a briga entre Rony e Hermione prosseguia. Os dois tentavam resistir de todas as formas e nenhum deles aceitava ceder. Harry sabia muito bem que os dois sofriam com essa separação, porém decidira não mais se intrometer na vida deles; já tentara ajudar de todas as formas, mas não obtivera resultados com nenhuma das tentativas. Por experiência própria, Harry tinha certeza de que logo os dois estariam juntos novamente, afinal, por mais teimosos que fossem, eles se gostavam muito.

Entretanto, dessa vez, Rony e Hermione pareciam mais determinados do que nunca. O dia da partida da garota se aproximava e nenhum deles parecia querer ceder. Harry já estava ficando preocupado e, no dia anterior à partida dos alunos de Hogwarts, quando Harry e Rony estavam conversando no dormitório masculino do quinto ano e tanto Neville, como Simmas e Dino dormiam, Harry tentou convencer o amigo mais uma vez:

- Amanhã a Mione vai embora, Rony...

- Sério? Desejo boas férias para ela. – respondeu secamente, olhando para o teto.

- Você tá mentindo pra si mesmo, Rony. É óbvio que você está chateado...

- Como você pode ter tanta certeza, Harry?

- Porque tá escrito na sua cara! Além disso, eu já te conheço há mais de quatro anos, não posso estar tão errado assim... Por que você não admite para si mesmo que não está feliz desse jeito e que o quê mais queria agora era estar bem com a Mione?

Rony silenciou e Harry não quebrou o silêncio. Passados alguns minutos, o próprio Rony retomou a conversa, em um tom de voz muito baixo: - Bem que eu queria admitir, mas não consigo...

- Por quê? É tão difícil assim?

- É, é muito difícil... Eu tenho vergonha...

- Vergonha? Vergonha de ser feliz? Vergonha de admitir o erro?

- Admitir o erro? – Rony perguntou, um pouco exaltado e finalmente tirando os olhos do teto, para encarar o amigo. – Por que sempre eu que erro, Harry? Por quê? Sempre foi assim! Sempre "o Rony fez isso, o Rony é teimoso...", nunca os outros, nunca!

- Isso é mentira, Rony... – Harry também se virou na cama e olhou firmemente nos olhos do amigo. – Todos erram e isso é normal... Não é vergonha pra ninguém errar... Eu erro, a Hermione erra... Os professores erram... Todos! Durante a vida as pessoas cometem erros, mas é preciso ser humilde o suficiente para reconhecê-los e repará-los...

Mais uma vez, silêncio. Rony voltou a olhar o teto, porém Harry não parou de encará-lo. Depois de algum tempo, o ruivo disse, com a voz embargada: - Mas a Mione não entende que eu vou sentir muita falta dela... Depois de todos esses anos, finalmente estamos juntos e esse iria ser o primeiro Natal em que estaríamos namorando... E ela... Ela vem e diz que vai embora...

- E você por acaso acha que ela não vai sentir sua falta? Que ela não está triste de se separar de você durante esse tempo?

- Eu não sei... Será que ela vai mesmo sentir saudade de mim?

- Você está sendo egoísta, Rony. Quer saber? Você está com ciúmes dos pais dela! Está com ciúmes porque ela quer passar o Natal com os pais e não com você!

- Você tá doido, Harry? É claro que eu não...

- Quer parar com isso, Rony? Olhe para os meus olhos e diga que não é isso que você está sentindo!

Harry se sentou na cama e encarou firmemente o amigo, que fez o mesmo, numa expressão de desafio. Rony, sem piscar, começou: - Eu... Eu não... Ah, que droga, por que eu não consigo?

- Simplesmente porque não é isso que você está sentindo... – Harry disse sorrindo. – Pare e pense, Rony. É tão simples...

- Simples para você... Sei lá... Às vezes acho que gosto mais da Mione do que ela de mim...

- Isso não é verdade. Dá pra perceber o quanto ela gosta de você, Rony, todos esses anos... Olhe nos olhos dela e verá. Deixe o orgulho de lado e fale com ela.

- E se ela não me quiser mais? E se ela disser que não gosta mais de mim e que vai me deixar e...

- E o quê mais, Rony? Você vai ficar se escondendo até quando? Fale com a Mione, ela vai te entender... – ele não disse nada. Harry voltou a deitar na cama, virou-se para o lado oposto ao Rony e finalizou, já com os olhos cerrados: - Pronto! Eu já disse o que tinha pra dizer. E não pense que estou implicando só com você, porque eu já tive uma conversa com a Mione também. Vocês que se resolvam agora, eu já tinha prometido a mim mesmo que não me meteria mais nisso, mas acabei quebrando a promessa. Vou prometer de novo e você vai ser minha testemunha, se eu voltar nesse assunto você me dá um soco, tá legal? Eu não vou mais me intrometer nisso, eu não vou mais me intrometer nisso! Prometo! – Harry disse tudo isso apertando os olhos e depois respirou bem fundo. – Boa noite, Rony.

- Boa noite, Harry. – a voz de Rony, sussurrante, pôde ser ouvida.

Se não tivesse caído num sono tão pesado, Harry saberia que Rony não pregara o olho a noite inteira.

- Você já vai mesmo? – Harry perguntou à Hermione. Ambos estavam no Salão Comunal da Grifinória. A garota já tinha descido suas malas, arrumadas e empilhadas cuidadosamente, bem ao estilo Hermione. Bichento estava em um cesto, ronronando. Os alunos já estavam nos jardins, despedindo-se dos amigos e colocando as bagagens nas carruagens. Os mais atrasados corriam pela sala ou pelos corredores do castelo. Hermione já estava pronta há horas, mas ficara no Salão Comunal, a pedido de Harry. Este ainda tinha uma pontinha de esperança de que Rony viesse falar com a garota, porém o garoto estava dormindo, ou fingindo estar.

- Já vou sim, Harry. – ela respondeu, abaixando-se para pegar as malas, o que Harry impediu. O garoto carregou as duas malas enquanto ela levava o cesto de Bichento.

Eles saíram pela passagem da Mulher Gorda e andaram pelos corredores, conversando. Harry ainda não se conformava com aquela situação:

- Isso não tá certo! Você vai embora assim? Brigada com ele?

- Lembre-se de que foi ele que quis assim, Harry.

- Mas... Ah, esquece, lá ia eu me meter de novo... Já prometi que não ia mais fazer isso, mas eu não sou muito bom com promessas... Principalmente se elas forem para mim...

Hermione sorriu ligeiramente. – Às vezes você é uma piada, Harry...

- Sério? – ela acenou afirmativamente.

Finalmente eles chegaram. Harry colocou as malas da amiga em uma carruagem ocupada por Neville, Parvati e Lilá. O garoto acenou para eles em despedida e depois voltou-se para Hermione.

- Bem... Então, tchau, Mione.

- Até mais, Harry. E obrigada por tudo, você tem sido um amigo maravilhoso. – ela beijou-o na bochecha. – Te desejo um bom Natal.

- Pra você também.

Ela entrou na carruagem e fechou a porta. Quando Harry deu às costas e começou a se dirigir para os portões, viu alguém vindo correndo. Era Rony.

- A Mione já foi, Harry? – ele parou. Estava esbaforido e com o rosto tão vermelho quanto os cabelos, por causa da corrida. Os olhos, inchados e roxos, dando a impressão que ele não tinha dormido nada.

Harry sorriu. – Não, Rony. Ela tá naquela carruagem ali. – e apontou para a mesma. – Você ainda consegue alcançá-la se for rápido.

Rony olhou para o lugar, esperançoso. Em seguida colocou as mãos nos ombros de Harry: - Obrigado. – e seguiu para lá.

Harry ainda ficou olhando o amigo. Ele correu desesperadamente até a carruagem e bateu à porta. Hermione abriu e fez uma expressão que ao mesmo tempo exprimia surpresa e felicidade. Harry não precisou ver mais nada, sabia que agora eles se acertariam; por isso, entrou no castelo e estava subindo as escadas quando ouviu uma voz feminina o chamar:

- Harry? – era Cho.

Ela estava ao pé da escada e olhava ansiosamente para ele. Uma pequena mala ao seu lado mostrava que ela também ia embora. Harry desceu alguns poucos degraus para chegar até ela.

- Vejo que você também está indo embora. – ele disse.

- É. – ela respirou fundo, como se buscasse coragem para algo. – Posso te fazer uma pergunta?

- Fique à vontade.

- Você não me odeia por causa de tudo que aconteceu, não é?

- É claro que não, Cho... Por que deveria? Afinal você foi sincera comigo e essa foi a melhor atitude que você poderia ter. Seria infinitamente pior se você tivesse aceito meu pedido sem vontade... Eu não queria isso.

Ela sorriu. – Então ainda podemos ser amigos?

- Com certeza, eu ficaria muito feliz. – ele sorriu também.

- Seremos dois. – ela se abaixou para pegar a mala e depois de feito isso, olhou para o garoto. – Você vai encontrar alguém que te ame e você irá amar muito essa pessoa. Eu tenho certeza disso. Uma pessoa como você merece. Nos vemos na volta, então. Feliz Natal, Harry.

- Feliz Natal para você também, Cho.

Ela saiu em direção ao portão. Harry ficou olhando até ela sumir. Sentia algo muito bom dentro de si; era ótimo estar perto dela e não mais sentir todos aqueles incômodos sintomas. Convencera-se, afinal, de que tudo acontecera da melhor forma possível.

- Ei, Harry? – Rony, que acabara de entrar pela passagem no Salão Comunal da Grifinória, chamou.

Harry estava lendo, talvez pela qüinquagésima vez, "Quadribol Através dos Séculos", que pegara na biblioteca. Assim que ouviu a voz do amigo, pousou o livro sobre uma mesa ao lado de sua poltrona e olhou para Rony. Este tinha um enorme sorriso estampado no rosto, um sinal de que, como Harry previra, Rony e Hermione fizeram as pazes.

- Você tá com uma cara ótima, Rony!

- E é pra menos? – ele sentou-se em uma poltrona próxima ao do amigo. – Eu falei com a Mione!

- Eu já imaginava... Sabia que você não ia agüentar...

- Ah, então é assim? Quer dizer que você não acreditava que eu conseguiria suportar? – Rony perguntou, tentando fazer uma expressão brava, mas o sorriso bobo em seu rosto o atrapalhava.

- Exatamente. – Harry respondeu em tom desafiador.

- Pois você acertou. Eu não estava mais agüentando mesmo...

- Tá vendo, eu não te falei, Rony? Doeu tanto falar com ela?

- Pelo contrário, foi ótimo! Nunca me senti tão bem, parecia que eu tinha tirado um peso das minhas costas. Eu fui, bati na porta da carruagem e ela abriu, sorrindo... – Rony abria ainda mais o sorriso enquanto falava. – E eu despejei tudo! Pedi desculpas pela minha atitude...

- Ah, essa deve ter sido a parte mais difícil do processo... – Harry zombou.

- Como você sabe? Ah, tá... Tudo bem, você acertou, foi mesmo a parte mais difícil. Ainda bem que ela aceitou, mas ela também acabou pedindo desculpas, disse que éramos dois cabeças duras...

- E são mesmo, eu que o diga...

- Ah! Olha só quem fala, você também é outro, Harry, quando quer uma coisa... Eu e a Mione sabemos muito bem que você é outro teimoso!

- Eu não!

- Você sim!

- Esquece isso e continua a história!

- Bem, ela disse que ia me escrever todos os dias e... Ah, não tem nada de mais depois, você não ia querer saber... – Rony passou os dedos pelo lábio e Harry subitamente entendeu o que ele quis dizer.

- Tá. Não precisa descrever os pormenores... O importante é que vocês estão bem de novo. – Harry se espreguiçou na poltrona. – E agora, nós temos um mês de férias pela frente!

- Sem lições, sem chateações e sem aulas de Poções! Ei, até rimou! Cara, eu sou um poeta!

- Ih... Sai dessa vida, Rony...

Nesse instante, a passagem se abriu novamente. Fred e Jorge, seguidos de Gina, entraram, trazendo alguns quitutes da cozinha, os quais provavelmente os elfos domésticos não hesitaram em cedê-los.

- Pra comemorar as férias que se iniciam! – Fred enfiou duas garrafas de suco de abóbora nas mãos dos garotos.

- Isso mesmo, vamos nos embriagar de suco de abóbora! – Jorge abriu uma garrafa e bebeu em vastos goles.

- Ninguém se embriaga com suco de abóbora... – Gina caçoou.

- Então seremos os primeiros! – Fred deu um grande gole no seu suco e passou o braço por cima do ombro de Jorge e os dois começaram a cantar uma música irritante.

Gina fez uma expressão de extremo desgosto, enquanto Harry e Rony se entreolhavam. Num impulso, destamparam suas garrafas e começaram a beber e cantar junto com os gêmeos. Naquele momento, tudo era diversão, mas as coisas não seriam assim para sempre...