Capítulo Vinte e Sete – Amor e Amizade

Depois daquele dia, Harry vivia como em um sonho. Finalmente sentia o gosto da felicidade, como nunca antes sentira em sua vida. Todas as suas preocupações, todos os seus medos, desapareciam magicamente quando estava com Gina. Nunca sequer imaginara o quanto era bom amar e ser amado. Gina era uma pessoa maravilhosa; além de namorada, revelou-se como uma grande amiga para Harry. Nos momentos em que passavam juntos, os dois conversavam sobre várias coisas; Gina contava experiências que vivera, falava dos familiares, dos amigos, das inúmeras particularidades do mundo mágico... A garota era muito alegre e brincalhona, sempre fazia Harry rir e divertir-se. Quando estava com ela, o garoto esquecia tudo à sua volta e só conseguia concentrar-se nesses momentos felizes e inesquecíveis.

Apesar disso, os dois namorados sempre se encontravam escondidos. Gina ainda estava receosa de contar a verdade para Rony, e Harry respeitava isso. Decidiram que, assim que Hermione voltasse das férias, contariam tudo para ela e Rony. Dessa forma, tiveram que passar mais uma semana vendo-se secretamente.

Porém, encontrar-se às escondidas, por vezes, era difícil, afinal, Rony sempre estava com Harry. Algumas vezes, Harry e Gina quase foram descobertos pelo amigo, que parecia muito desconfiado, apesar de não falar nada e não mudar de comportamento. No entanto, Harry notava isso e só esperava que, quando soubesse a verdade, o amigo compreendesse e a amizade dos dois garotos não fosse abalada com isso.

Foi dessa forma que os dias passaram em Hogwarts. Transcorrida uma semana depois do início do namoro de Harry e Gina, mais precisamente no meio de janeiro, os alunos ausentes retornaram à escola. Hermione foi recepcionada calorosamente por Rony, que alegou estar morrendo de saudades da namorada:

- Mione! Ah, você demorou tanto, eu não agüentava mais esperar! – Rony disse, radiante de felicidade, assim que viu a garota chegar. – Como você tá? Você recebeu minhas cartas?

- Claro que recebi, Rony! E, nossa, foram muitas! – respondeu Hermione, que estava, para Harry, exatamente como antes, mas provavelmente mais bonita na concepção de Rony.

O casal e Harry estavam subindo as escadas de carvalho em direção ao salão comunal da Grifinória, conversando sobre os acontecimentos das férias. Hermione não deixou de repreender os garotos "pessoalmente", como ela mesma disse, pela visita que fizeram a Hogsmeade no dia em que aconteceu o ataque.

- Mas como a gente poderia saber o que ia acontecer naquele dia? – Rony perguntou.

- É claro que não tinham como saber, mas você, Rony, deveria saber melhor do que ninguém que não deveria ter ido e, principalmente, deixado o Harry ir! – ela lançou um olhar significativo para o namorado, que pareceu entender, embora Harry não tenha compreendido absolutamente nada. Hermione, então, voltou-se para o amigo: - E você, Harry, francamente! Não devia ter ido de jeito nenhum! Sabia que era proibido!

- Ih, Mione, chega de broncas para mim... – Harry respondeu. – Dumbledore e Snuffles já se encarregaram disso pessoalmente...

- Quer dizer que Snuffles esteve aqui? – ela perguntou curiosa.

- Exatamente. Veio aqui para conversar comigo sobre isso... – Harry disse, lembrando-se de que o tema central de sua conversa com Sirius, na realidade, não fora isso e sim sobre uma outra pessoa...

- Bem, então estou mais aliviada... Vocês já tiveram o que mereciam e agora já devem saber que o que fizeram foi muito, muito errado!

Harry e Rony apenas se entreolharam. Rony revirou os olhos e deu um beijo rápido na namorada.

Os três, então, chegaram no salão comunal. Assim que entrou, Harry viu Gina sentada a um canto, escrevendo em seu diário, que Harry devolvera, junto com a flor, alguns dias antes. A garota levantou os olhos e Harry não resistiu e lançou-lhe uma piscadela. Ela, por sua vez, fez uma expressão repreendedora e, a seguir, levantou-se, dirigindo-se aonde estavam Harry, Rony e Hermione.

- Vejo que voltou, Mione! – ela disse, ao chegar.

- Gina! – Hermione exclamou, abraçando a outra.

- Acho que se demorasse mais um pouco, o Rony iria enlouquecer! – Gina riu. – Eu só o via, durante todo o tempo, indo ao corujal te mandar cartas!

- É, eu recebi um monte! Tenho todas elas guardadas comigo! – Hermione lançou um sorriso ao Rony, que ficou mais vermelho que os cabelos.

As duas garotas, então, começaram a conversar. Rony cruzou os braços, impaciente, e lançou um olhar bastante significativo de Gina para Harry; este último limitou-se a perguntar:

- O que foi, Rony?

- Nada... Não aconteceu nada...

Hermione e Gina terminaram a conversa e Gina disse que ia subir para o dormitório. Harry a olhou, com uma expressão de "não-vamos-nos-encontrar-hoje"? Ela apenas moveu a cabeça negativamente e saiu. Hermione olhou os dois e sorriu, como se entendesse. Rony fez uma expressão emburrada, que se desfez assim que Hermione lhe beijou.

As aulas recomeçaram com força total. Os professores estavam, se isso era possível, mais exigentes. A matéria era enorme e os deveres ocupavam os alunos por dias e noites; era comum ver alguns alunos, em altas horas da noite, fazendo deveres e estudando em seus salões comunais.

Enquanto isso, recomeçavam os treinos de quadribol, tanto para o time da Grifinória, quanto para os outros times. A Profª. McGonagall pressionou Harry para que recomeçasse os treinos logo na primeira semana de aulas, o que o garoto fez, apesar dos protestos dos outros jogadores. A professora alegava que, como o próximo jogo seria contra a Corvinal, os jogadores deveriam estar o mais bem preparados possível, já que os corvinais constituíam um time muito forte.

O primeiro treino do time da Grifinória começou depois de um dia cheio de aulas e, por isso, terminou bem tarde. A noite já tinha caído e a lua já estava alta no céu quando todos começaram a recolher suas coisas no vestiário. Os gêmeos e as meninas foram os primeiros a se recolherem ao castelo, conversando animadamente durante o caminho. Harry e Rony ficaram pra trás. Rony esperava Harry, enquanto este último não sabia o que fazer para dispensar o amigo, já que tinha combinado com Gina de encontrarem-se no campo de quadribol depois que o treino terminasse, pois queriam conversar sobre como contariam aos amigos que estavam namorando.

- E aí, Harry? Você vai ficar aqui até quando? Eu já tô começando a ficar com sono... – Rony disse, soltando um bocejo.

Harry, que estava mexendo no armário só para enrolar, começou a tentar formular uma desculpa para permanecer ali:

- Sabe o que é, Rony, é que eu vou ficar aqui mais um pouquinho, tenho mais umas coisas para terminar... – disse, torcendo para que o outro acreditasse.

Rony fez uma expressão de descrença. Limitou-se a dizer:

- Tá. – e virou as costas, saindo.

- Só espero que ele não fique chateado comigo... – Harry murmurou e sentou-se num banco para esperar por Gina. Passados alguns minutos, ela entrou e sorriu ao ver Harry. Sentou ao lado do namorado e suspirou, dizendo:

- Eu vi o Rony saindo... Será que...?

- Ele está desconfiado, Gina...

- Você acha?

- Eu tenho certeza... Acho que já tá na hora de contar sobre... nós... – ele segurou a mão dela e a olhou, esperando uma resposta. Ela retribuiu o olhar e colocou a outra mão sobre a dele.

- Você está certo... Vamos falar com ele e com a Mione assim que os vermos. Já está na hora de pararmos de nos esconder... Eles vão entender, afinal, demoraram um tempo também para assumirem o namoro...

- Então está combinado! Vamos contar para eles assim que tivermos a primeira oportunidade! Mas agora, que tal esquecermos um pouco dos outros e pensarmos em nós? – ele disse, beijando-a.

Mal sabiam que a oportunidade que queriam viria tão cedo...

Naquela noite, Harry e Gina, depois de passarem algum tempo namorando sob a luz do luar, resolveram voltar para o castelo. Já era quase onze e meia da noite, portanto os dois tiveram que ser bastante sorrateiros para não atraírem a atenção de ninguém. Quando chegaram ao quadro da Mulher Gorda, tiveram de acordá-la para dizerem a senha. Ela olhou para eles e levantou as sobrancelhas quando disse:

- Já deviam estar lá dentro e não aqui...

- Sentimos muito... – Gina desculpou-se.

- Tudo bem, querida... Ninguém se preocupa comigo mesmo, só querem que eu abra a passagem... Podem entrar, só me prometam que não sairão novamente hoje! – eles assentiram e ela abriu a passagem.

Harry e Gina entraram e quase caíram para trás ao verem as pessoas que estavam ali.

Rony estava andando de um lado para outro da sala e estacou quando viu o casal entrar; tinha um ar reprovatório no rosto. Hermione acompanhava o vai e vem de Rony com o olhar e, ao ver Harry e Gina entrarem, lançou-lhes um olhar que dizia: "Isso não vai dar certo..."

Tanto Harry como Gina ficaram sem saber o que falar, já que não esperavam, de forma alguma, aquilo. Rony cruzou os braços e disse, quebrando o silêncio:

- Até que enfim chegaram... Onde estavam?

Harry e Gina entreolharam-se, cúmplices. Harry tentou explicar, mas não conseguia, pois gaguejava. Rony o interrompeu, rindo.

- Você fica engraçado gaguejando, Harry... Nunca tinha te visto gaguejar...

- Rony... – Harry tentou começar, mas Rony o interrompeu novamente.

- Não precisa falar nada, Harry, eu já sei. Vocês dois estão namorando, né?

- Você sabia? – Gina disse com a voz rouca.

- Mas é óbvio que sabia, por acaso você está lendo a palavra "panaca" na minha testa, Gina? Qualquer um percebe isso, até a Mione, mesmo tendo chegado há pouco tempo, já percebeu!

Hermione sorriu, mas não disse nada. Harry tentou explicar:

- Nós íamos contar para vocês, só estávamos...

- Esperando a hora certa. – Gina emendou.

Rony suspirou.

- Há quanto tempo estão juntos? – ele perguntou.

- Quase duas semanas... – Gina disse, receosa. A seguir, a garota empertigou-se, dizendo: - Mas você não vai implicar com a gente, né, Rony? Eu já não sou mais uma criança e você sempre...

- Calma, Gina! – Rony a fez parar e depois se voltou para Hermione. – O que eu faço com esses dois, Mione? – ela lançou-lhe um olhar brincalhão. Ele prosseguiu, agora se voltando para os outros dois: - O que vocês acham que eu vou fazer? Por acaso vocês pensam que eu vou sair batendo no Harry e dizendo que ele não tem o direito de namorar minha irmã? – Rony riu e tanto Harry como Gina permaneceram em silêncio. Rony continuou, agora sério. – Gina, eu sempre me preocupei muito com você, mas eu sei que seria inevitável que você arranjasse um namorado algum dia... Mas eu fico preocupado, mesmo sabendo que esse namorado é o Harry, que é uma pessoa que eu confio inteiramente. – Harry não conseguiu segurar um sorriso de lisonjeio. - Sabem qual é o problema? O problema é que eu fiquei pensando que vocês não iam me contar... Que vocês não iam confiar em mim... Eu sei que sou meio briguento e...

- Ciumento! – Hermione completou. Rony lançou-lhe um olhar irritado; ela riu.

- E ciumento, como a Mione fez questão de lembrar... – Rony continuou, visivelmente incomodado com a observação da namorada. – Mas o que importa é que eu não ia implicar com você, Gina, e eu também não ia, em nenhuma circunstância, deixar de ser seu amigo, Harry!

Harry ia dizer alguma coisa, mas se calou. Rony disse:

- E eu sei que você chegou a pensar isso, Harry. Não foi?

O garoto abaixou os olhos e murmurou, envergonhado: - Foi.

- Pois agora você sabe que não é assim, Harry. Eu não sou tão imaturo quanto as pessoas pensam... – ele voltou-se para Hermione. – E nada de comentários sobre isso, Mione! – ela limitou-se a sacudir os ombros e sorrir. Rony voltou-se novamente para a irmã e o amigo. – Eu entendo vocês dois e só o que me importa é que sejam felizes... Se estiverem felizes juntos, é isso que importa... – Rony sorriu. Harry retribuiu o gesto.

Gina, que até então estava quieta, adiantou-se e fez algo que surpreendeu a todos. Abraçou o irmão e disse:

- Obrigada, Rony. Obrigada por entender.

Rony limitou-se a sorrir e apertar a irmã carinhosamente contra si. Hermione se levantou e andou até Harry, colocando-se ao seu lado. Sorrindo, ela disse, olhando para Rony e Gina abraçados:

- Acho que você não é o único garoto na vida da Gina e eu não sou a única garota para o Rony...

- Tem razão... – Harry respondeu rindo.

Rony e Gina, ainda abraçados, olharam para Harry e Hermione e disseram em uníssono:

- Bobos...

Harry, Rony, Hermione e Gina ainda ficaram conversando no salão comunal por algum tempo. Hermione praticamente obrigou Harry e Gina a contarem como tinham começado a namorar, alegando que os dois tinham visto, tempos antes, como ela e Rony tinham feito isso. Durante algumas partes da narrativa, Rony cruzava os braços e ficava emburrado. Hermione troçou dele, dizendo que "além de namorado ciumento, Rony também era um irmão deveras ciumento... e resmungão", ela completou. Isso só fez com que Rony reclamasse ainda mais.

Alguns minutos depois da meia-noite, todos se recolheram aos seus dormitórios. Hermione e Gina para o feminino, enquanto Rony e Harry iam para o masculino. Rony permaneceu em silêncio durante todo o tempo e tinha uma expressão preocupada no rosto. Harry notou isso e perguntou, assim que entraram no dormitório do quinto ano:

- O que houve, Rony? Você ficou chateado?

Rony se limitou a balançar a cabeça negativamente e se sentou na beirada de sua cama. Harry fez o mesmo e se sentou na sua.

- Então, se não é isso, o que foi?

O amigo olhou para os lados e perguntou, sussurrando:

- Você acha que todos já dormiram?

Nesse instante, ouviram um sonoro ronco de Neville, do outro lado do quarto.

- Isso responde à sua pergunta? – Harry brincou.

- Responde. – Rony olhou profundamente para o amigo. – Escuta, Harry. Você gosta mesmo da Gina?

- Gosto. – Harry respondeu sem titubear.

Rony sorriu. – Que bom. Fico aliviado. Sabe, Harry, a Gina gosta muito de você e... e eu quero te pedir para que você não a magoe.

- Pode ficar tranqüilo, Rony. Eu juro nunca a magoar. Nunca. – Harry disse sinceramente.

- Obrigado. Eu sei que você não a magoaria, Harry. Mas eu fico preocupado... A Gina é muito especial para mim... – Rony riu. – Em todo o caso, você sabe muito bem que eu não sou o único irmão dela...

Harry riu também. – Eu sei, Rony... Eu sei que, além de você, ela tem mais cinco irmãos...

- Que bom que você sabe! – Rony brincou e soltou um enorme bocejo. – Toda essa história me deixou cansado... Acho que vou dormir... – Rony se trocou rapidamente e depois caiu com estrondo na cama. Murmurou algumas palavras sem sentido que Harry entendeu como um "boa noite".

Harry ainda ficou um tempo acordado, pensando. Tinha sido sincero com Rony; agora, finalmente, percebera que sentia algo muito especial por Gina. Jamais a magoaria, prometeu a si mesmo. Queria continuar a sentir aquela sensação maravilhosa que sentia quando estava com ela. Olhou para o globo de vidro que estava ao lado da cabeceira da cama e viu um sol pálido brilhar sobre as torrinhas do castelo. Sorriu e fechou os olhos, adormecendo quase instantaneamente.