Capítulo Vinte e Oito - Suspeitas

- Já chega, Longbottom! Dez pontos a menos para a Grifinória! Essa já é a terceira vez no mês que o senhor derrete um caldeirão!

Neville se encolheu na cadeira, acabrunhado, depois da bronca que o mestre de Poções, Severo Snape, lhe aplicou. Enquanto isso, os alunos da Sonserina soltavam risadinhas.

Harry, Rony e Hermione estavam, no momento, assistindo a mais uma "adorável" aula de Poções. Snape tinha mandado todos os alunos prepararem uma Poção do Envelhecimento e, apesar das orientações que Hermione passava disfarçadamente para Neville, este acabou por derreter mais uma vez seu caldeirão.

Snape andava pela sala, fiscalizando os trabalhos dos alunos. A poção tinha que ficar de uma tonalidade verde musgo, porém a poção preparada por Harry insistia em adquirir a cor verde limão, por mais que o garoto tentasse ajeitá-la. Rony ainda estava tendo maiores problemas, já que a sua poção estava azul. Hermione, obviamente, já tinha terminado a sua poção e ocupava-se em ajudar Neville a limpar a sujeira que o garoto tinha feito.

No final da aula, Snape examinou cada poção e fez um comentário. Os sonserinos, é claro, sempre eram favorecidos, enquanto que para os grifinórios, Snape sempre encontrava defeitos na poção. Quando o temível mestre de poções examinou a poção de Hermione, limitou-se a soltar um grunhido rouco, já que não tinha como criticá-la. Já na vez de Harry, Snape resolveu soltar todo o seu mau humor:

- A sua poção está errada, Potter. – Harry apenas o encarou por cima da lente dos óculos. – Ela deveria ser verde musgo e não verde limão.

Harry, mais uma vez, não disse nada e apenas encarou o professor com uma profunda expressão de desprezo. Snape percebeu e aproveitou para provocar ainda mais o garoto, dizendo em sua voz mais letal:

- O que está havendo com você, Potter? Notei que durante toda a aula você esteve absorto... Quinze pontos a menos para a Grifinória pela sua falta de atenção. Espero que da próxima vez esteja mais atento no que faz e não fique pensando na namoradinha... – Snape enfatizou a palavra "namoradinha" com uma nota de sarcasmo na voz.

Cochichos e risadinhas abafadas ecoaram pela masmorra. Todos olhavam para Harry com curiosidade. O garoto sentiu o sangue subir, como Snape sabia aquilo? Não importa como sabia, de qualquer maneira ele não tinha o direito de revelar assuntos particulares da vida de Harry na frente de todo mundo.

- Se a sua aula fosse um pouco melhor e mais interessante, eu prestaria atenção nela... – Harry disse com raiva.

Agora eram as risadinhas dos Grifinórios que ecoavam pela masmorra.

- Silêncio! – Snape esbravejou e a sala silenciou. Uma agulha caindo no chão poderia ser ouvida, tal era o silêncio. Snape abaixou-se para encarar Harry e este pôde ver as faíscas saírem dos olhos do mestre. – Para sua informação, Potter, eu não admito críticas à minha aula ou ao meu método de ensino.

- Pois deveria. – Harry soltou a frase sem pensar. – Talvez melhorasse se o fizesse.

Uma veia ficou à mostra na testa do professor ao ouvir aquilo. Snape bateu forte na mesa, quando esbravejou:

- Trinta pontos a menos para a Grifinória! – Snape rodou nos calcanhares e começou a caminhar até sua mesa, batendo os pés e esvoaçando a capa negra. – Pela sua imensa petulância! – completou Snape, sentando em sua cadeira e emanando ódio intenso. Nem os sonserinos atreveram-se a qualquer risada ou comentário.

O sinal do final da aula tocou e todos os alunos começaram a se dispersar. Harry tentou arrumar seu material o mais rápido possível, não queria ficar nem mais um minuto naquela masmorra. Quando ele, juntamente com Rony e Hermione, dirigia-se para a porta, Snape o deteve, dizendo:

- Você fica, Potter. Precisamos combinar sua detenção.

Rony e Hermione olharam apreensivos para o amigo, enquanto Harry revirava os olhos e dizia para eles:

- Encontro vocês depois.

Os dois acenaram afirmativamente e saíram. Harry permaneceu na sala, esperando o que Snape tinha a lhe falar. Quando o último aluno saiu, Snape levantou, fechou a porta e voltou a sentar-se.

Ele mexia em alguns papéis. Parecia querer divertir-se fazendo Harry esperar. O garoto quase perguntou quanto tempo o professor ainda ia demorar, mas achou melhor não falar nada. Depois de algum tempo, Snape disse, sem levantar os olhos dos papéis:

- Sua detenção será Sexta-feira que vem; venha até a minha sala às nove horas da noite e eu lhe direi o que fazer.

- Mais alguma coisa, professor? – Harry disse com um quê de irritação na voz, pelo professor tê-lo feito esperar todo aquele tempo só para dizer essa frase.

- Se quiser, posso lhe passar mais detenções, Potter... Eu... – mas Snape parou de falar e, num ímpeto, segurou o braço esquerdo, com uma expressão de dor e susto.

- O senhor está bem?

Snape levantou os olhos e foi como se reparasse que Harry estava ali. Soltou rapidamente o braço e disse assustado:

- Não foi nada. Pode ir, Potter.

- Mas...

- SAIA!

Harry assentiu e saiu da sala rapidamente, fechando a porta às suas costas e pensando no que tinha acabado de ver. O braço que Snape tinha apertado era o braço onde estava estampada a marca negra, a marca que todo comensal da morte possuía. Harry sabia que Snape já tinha sido, um dia, aliado de Voldemort, mas tinha voltado para o lado do bem por motivos que Dumbledore não quis revelar na época que tinha lhe contado isso. A marca negra ardia toda vez que Voldemort convocava seus comensais, será que era isso? O que Voldemort estaria planejando agora? E Snape, será que atenderia ao chamado?

- Harry!

O garoto saiu de seus pensamentos e olhou para ver quem o chamara. Fora Hermione. Ela e Rony estavam parados um pouco mais à frente, provavelmente esperando por Harry. O garoto estava tão absorto que nem notara os amigos. Aproximou-se deles.

- E aí, como foi com o seboso? – Rony perguntou, referindo-se ao professor de Poções.

- Vou ter que vir aí semana que vem, para cumprir minha detenção... – Harry respondeu e resolveu não dizer nada sobre o que tinha visto há pouco.

- Você não devia ter dito aquelas coisas, Harry! – Hermione disse em tom reprovador, enquanto os três andavam pelos corredores. – Viu? Deu nisso, você perdeu um monte de pontos e ainda vai cumprir uma detenção...

- Snape sempre arranja algum motivo para me tirar pontos e aplicar detenções... – Harry disse em tom monótono.

- Ah, Mione, nem vem... – Rony argumentou. – Dessa vez o Snape passou dos limites! Falar aquilo, na frente de todo mundo! O Harry não podia ficar calado! E como será que ele sabia que Harry está namorando? Porque até pouco tempo nem nós sabíamos...

- Seja lá como ele descobriu, agora não faz muita diferença... O que importa é que um monte de gente já sabe... – Hermione disse, indicando um grupinho de sonserinos mais à frente.

Harry e Rony olharam também e repararam que o grupinho, que tinha Draco Malfoy, Vincent Crabbe, Gregório Goyle, Pansy Parkinson, Emília Bulstrode e mais outros alunos da casa como membros, conversavam sobre o assunto. Malfoy olhou com desdém para Harry quando viu que os três se aproximavam.

- Olha só quem vem aí... – ele disse com sua voz arrastada. – Parece que o cicatriz arranjou uma namorada, é verdade, Potter?

- Isso não te interessa, Malfoy. – Harry disse com indiferença.

- E ela não se importa com essa sua cicatriz horrorosa? – Pansy Parkinson perguntou. Harry lançou-lhe um olhar tão frio que a garota se encolheu, assustada.

- E quem é a idiota que foi se interessar por você, Potter? – Malfoy perguntou.

- Por que o interesse, Malfoy? Tá com inveja só porque você não consegue arrumar uma namorada? – Harry perguntou com sarcasmo.

Rony e Hermione riram com gosto, enquanto Malfoy fungava, mas não sabia o que dizer. Harry aproveitou a chance e completou:

- Tsk, tsk, tsk... Malfoy, é melhor você tomar cuidado ou as pessoas vão acabar pensando que você não é de nada...

- O quê? – Malfoy gritou. – Repita o que disse, Potter!

- Eu não vou mais perder meu tempo com você, Malfoy... – Harry disse, virando as costas e indo embora. Rony e Hermione o seguiam, rindo sem parar.

- Potter! – Malfoy chamou. Harry ainda se virou. – Se você quer saber, eu tenho uma namorada sim!

Malfoy disse isso e puxou para si a primeira garota que viu, Pansy Parkinson, e a beijou com ímpeto. Depois de alguns segundos a soltou e olhou para Harry, Rony e Hermione, que estavam parados olhando para aquilo, atônitos. Pansy Parkinson parecia compartilhar do mesmo sentimento, pois estava parada, boquiaberta, como se não acreditasse no que tinha acontecido. Malfoy tinha uma expressão de triunfo no rosto. Harry, Rony e Hermione entreolharam-se e caíram na risada. Rony disse, passando os braços sobre os ombros de Hermione, provocando Malfoy:

- Inveja é mesmo algo ridículo...

E os três foram embora, deixando um Malfoy bastante irritado e bufando para trás.

Naquela mesma tarde, Harry, Rony e Hermione dirigiram-se, primeiro, à cozinha de Hogwarts, onde Hermione foi agradecer à elfa doméstica, Winky, pelo presente que tinha ganho. Winky tinha tricotado um chapeuzinho para a garota como presente de Natal. E enquanto Hermione agradecia à Winky, que parecia bastante encabulada, mas feliz, Harry e Rony aproveitaram para encherem seus bolsos com guloseimas oferecidas por Dobby.

Quando saíram dali, dirigiram-se até a cabana de Hagrid, a fim de alimentarem os Splooties e Canino. Harry tinha dito à Gina pela manhã que iriam para lá, já que tinham tarde livre. A garota prometeu aparecer por lá depois que suas aulas terminassem.

Dessa forma, os três ficaram cuidando dos Splooties durante todo o resto da tarde. Rony não se divertiu muito, já que os Splooties resolveram usar mais uma vez seu cabelo como trampolim. Já Hermione estava muito feliz, pois aquele Splooty salmão que tinham usado na aula do Hagrid lembrou dela e brincava alegremente com a garota.

Passada cerca de uma hora, alguém bateu a porta. Harry foi atender e viu Gina parada na porta. Sorridente, ela perguntou, brincando:

- Não vai me convidar para entrar, senhor Potter?

- Esteja à vontade, senhorita Weasley... – Harry fez uma reverência um tanto desajeitada, para depois dar um beijo rápido na namorada.

Gina entrou e não pôde deixar de rir ao ver Rony, com a cara mais emburrada do mundo e um bando de Splooties pulando de seu cabelo para o chão.

- E então, Gina, você sabia que o seu irmão é um ótimo trampolim? – Hermione, que segurava o Splooty salmão em seus braços, perguntou em tom brincalhão, mas recebeu um olhar irritado de Rony.

- É o que parece... – Gina riu e começou a observar as pequenas criaturinhas. – Eu nunca tinha visto esses bichinhos...

- O Hagrid nunca deu aula para a sua turma com eles? – Hermione perguntou.

- Não, nunca...

As duas, então, começaram a conversar. Harry reparou que Canino estava em um canto, acabrunhado e encolhido. O cão não tinha nem tocado na comida posta para ele. Harry aproximou-se do cachorro e passou a mão na cabeça dele, perguntando:

- O que houve, Canino?

O cachorro limitou-se a um choramingo baixo. Rony, que tinha finalmente se livrado dos Splooties e se aproximava, perguntou:

- O que aconteceu?

- Canino está estranho...

- Vai ver tá com saudade do Hagrid... – Rony sugeriu.

- É, pode ser... – Harry disse descrente. Não sabia o porquê, mas sentia que algo estava errado por ali e que alguma coisa estava para acontecer...

- Já tá começando a escurecer. – Rony comentou, olhando pela janela. – É melhor a gente ir, senão perderemos o jantar... Minha barriga tá roncando...

- Tem razão. – Harry disse, ainda olhando para Canino e depois disse, dirigindo-se às garotas: - Vamos embora, meninas!

- Mas já? – Gina reclamou. – Acabei de chegar...

- Já está anoitecendo... – Rony disse e lançou um olhar significativo para Hermione. A garota pareceu entender, pois falou:

- Então é melhor irmos embora. – ela, então, colocou o Splooty salmão no chão, mas ele insistia em voltar para seu colo.

- Acho que ele gostou de você, Mione... – Harry comentou.

- Mas eu não posso levá-lo comigo, ele é do Hagrid... – ela disse, tentando fazer com que a criaturinha ficasse no chão, mas o bichinho insistia em não obedecer.

- Eu acho que o Hagrid não veria problemas se você ficasse com ele... – Gina comentou.

- Ah, não... – Rony fez cara de desânimo. – Mais um, além de Bichento para competir comigo!

- Seu bobo... – Hermione disse, finalmente aceitando o bichinho em seus braços.

Assim, os quatro saíram da cabana de Hagrid, Hermione levando o Splooty salmão nos seus braços e discutindo com Gina que nome daria a ele. Rony seguia atrás delas junto com Harry e não acreditando no que ouvia. Harry, porém, estava absorto. Não conseguia tirar da cabeça o que vira na masmorra de Snape algumas horas antes e agora, que vira Canino comportar-se de uma forma tão estranha. Alguma coisa lhe dizia que aqueles fatos estavam ligados, por mais que isso parecesse ridículo. Por um segundo, sentiu uma pontada em sua cicatriz e viu, de relance, algo embrenhar-se rapidamente pelas árvores. Parou e ficou olhando para o local.

- O que foi, Harry? – Rony perguntou. Hermione e Gina pararam para ver o que tinha acontecido.

- Vocês não viram algo passar por aqui? – Harry perguntou, ainda fitando o lugar, como se procurasse por algo.

- Deve ter sido só um animal da floresta... – Hermione sugeriu.

- É, só deve ter sido isso... Vamos embora... – Gina disse, puxando Harry, que ainda olhava para o lugar e só parou de olhar quando estavam bem distantes.

Porém, eles não viram que um pequeno animal transformou-se em um bruxo de estatura baixa, gordo e calvo, nas sombras, e disse:

- Está tudo indo bem. O Mestre irá ficar satisfeito.