Capítulo Trinta e Dois – Perigosas descobertas

Os meses passaram. Logo, o tempo começou a ficar mais ameno e a primavera chegou. As flores começaram a desabrochar, as folhas das árvores ficaram mais verdes e o céu mais azul. Às vezes, o sol até dava ares de sua graça. Mas tudo isso só podia ser observado através das janelas do castelo, já que os alunos não podiam freqüentar os terrenos.

Enquanto isso, os professores exigiam mais e mais de seus alunos. As tarefas acumulavam de tantas que eram e ninguém tinha tempo para mais nada a não ser deveres e estudar. Até Fred e Jorge Weasley, que sempre foram os mais brincalhões da escola, agora podiam ser vistos empenhados de corpo e alma nos estudos, afinal prestariam os N.I.E.M.s (Níveis Incrivelmente Exaustivos em Magia) no final do ano e se formariam. Alguns professores até promoviam simulados para os N.O.M.s e N.I.E.M.s, que eram como provas normais, porém mais difíceis. Cada matéria teria uma prova escrita e outra prática, e o desempenho de cada aluno no final dessas provas renderia pontos que, mais tarde, seriam somados, obtendo-se o resultado final.

Hermione, obviamente, sempre ia muito bem nos simulados, com exceção dos de Defesa Contra as Artes das Trevas. E ela não era a única com dificuldades nessa matéria. A esmagadora maioria dos alunos tinha dificuldade em conjurar os patronos. No entanto, Defesa Contra as Artes das Trevas era a matéria que Harry tinha mais facilidade. O garoto conseguia conjurar seu patrono com cada vez mais precisão. Mas o que ele não sabia era se a Sra. Figg ficava orgulhosa ou aborrecida com seu desempenho.

Durante todo esse tempo, não se obtiveram mais notícias sobre as atividades de Voldemort. Harry não teve mais nenhum sonho e estava começando a achar isso muito estranho. Quanto a Dumbledore, Harry teve poucas informações a respeito. O único que, esporadicamente, lhe informava alguma coisa, era Sirius. O padrinho dizia nas cartas que os aliados de Dumbledore estavam tentando com todas as forças ajudá-lo a retomar o cargo de diretor de Hogwarts e, ao mesmo tempo, descobrir os movimentos de Voldemort. Não se sabia qual era a mais difícil dessas duas tarefas, pois Cornélio Fudge e o conselho escolar estavam irredutíveis quanto à volta de Dumbledore, e o trabalho de espionagem, agora que Severo Snape estava fora disso, enfrentava dificuldades para se realizar e Voldemort e seus seguidores estavam tão quietos, que alguns chegavam a pensar que tinham desistido. Mas estavam errados.

Devido a todos esses motivos, Harry estava muito preocupado. Não saber o que realmente acontecia o deixava inquieto. Às vezes, chegava até a desejar ter mais um daqueles sonhos, só para tentar saber de alguma coisa, mas não conseguia. A história da Profecia Sagrada e idéia de que ela realmente pudesse existir e, pior, a suposição de que Voldemort estava atrás dela ainda martelavam na cabeça do garoto. Se a profecia realmente existia e Voldemort a queria, o bruxo não mediria esforços para consegui-la. E, de acordo com a lenda, a profecia estava escondida em Hogwarts e, para pegá-la, Voldemort teria que entrar na escola. E isso era o que mais preocupava a Harry, pois exporia a vários perigos uma infinidade de pessoas inocentes.

Era pensando em tudo isso que Harry estava no momento. Ele, Rony, Hermione e Gina estavam fazendo deveres no salão comunal. Gina fazia o dever de Feitiços, sendo auxiliada por Hermione. Já Rony fazia o dever de Adivinhação junto com Harry e este último não estava muito concentrado na tarefa. Foi Rony que o interrompeu de seus devaneios com um cutucão:

- Ei, Harry, me ajuda aqui! Eu preciso fazer uma previsão para a semana, mas não tenho mais idéias de coisas ruins... E só falta Domingo para acabar... O que eu coloco, você tem alguma idéia?

- Não sei, Rony... – Harry disse distraído. – Sei lá, coloca aí que você quebrou a perna...

- Não, isso não. Eu já coloquei isso na Terça-feira...

- Por que você não coloca aí que encontrou um dragão e foi queimado por ele? – Gina sugeriu, aproveitando para parar um pouco com o dever.

- Eu não acredito que vocês estão novamente inventando coisas para colocar no dever! Francamente, será que não podem, pelo menos uma vez, fazê-lo direito? – Hermione censurou.

- Sabe que é uma boa idéia? – Rony disse animado.

- O quê? Vocês fazerem o dever direito dessa vez? – Hermione perguntou esperançosa.

- Não... – Rony disse. – A idéia dos dragões! Eu vou colocar isso mesmo! Obrigado, Gina!

Hermione suspirou, derrotada. Gina ria. Rony reparou e deu um beijo na namorada, tentando em seguida explicar por que não dava para fazer o dever de Adivinhação seriamente.

A essas alturas, Harry estava folheando o livro de Feitiços de Gina, procurando uma página em que pudesse escrever um recado para a namorada. Tinha se acostumado a fazer isso e os livros de Gina estavam todos marcados com recados dele. Quando finalmente achou uma página a seu gosto e ia começar a escrever, Harry leu o que estava escrito. Era uma explicação sobre "Feitiços Protetores". Ali falava sobre muitos feitiços do tipo, desde os que simplesmente impediam a aproximação das pessoas até feitiços mais elaborados, como o "Feitiço do Fiel de Segredo", ou seja, o feitiço "Fidelis", que Harry sabia muito bem que escondia quem ou o que quer que fosse através de um Fiel de Segredo, que seria a única pessoa a conhecer o segredo. Harry se interessou por uma pequena anotação no fim da página, que dizia:

"Os Feitiços Protetores têm dia e hora para se realizarem ou se desfazerem. Alguns desses feitiços só podem ser realizados em datas específicas ou em datas com acontecimentos especiais, como as fases da Lua, estações, ou ainda, eras premeditadas. Alguns feitiços são tão complexos, que podem ser desfeitos, por exemplo, somente de centenas, em centenas de anos ou ainda só terem uma data para serem desfeitos e se não o forem, podem nunca mais serem. No entanto, feitiços complexos como esses só podem ser conjurados por bruxos muito experientes ou extremamente poderosos. Sabe-se que..."

- Será que a profecia está protegida por um feitiço assim? – Harry sussurrou para si mesmo.

- Tá falando sozinho, Harry?

O garoto levantou os olhos e viu que fora Gina quem fizera a pergunta. A garota olhava confusa para Harry, assim como Rony e Hermione. Harry rapidamente repôs o livro de Gina ao seu lugar e disse, se levantando:

- Não, é só uma besteira minha... Eu preciso fazer uma coisa; eu já volto, tá?

- Mas aonde você vai? – Gina perguntou.

- Eu vou... à biblioteca... pegar alguns livros para estudar... – ele inventou essa última frase e reparou que nem Gina, nem Rony e muito menos Hermione acreditaram. Harry não era tão aplicado assim aos estudos. Mesmo assim, ele não ligou e disse, saindo: - Vejo vocês mais tarde!

E saiu, deixando Rony, Hermione e Gina bastante intrigados. Foi por todo o caminho pensando no que tinha lido no livro de Gina. A profecia com certeza deveria estar bem protegida, mas como? Se fosse um feitiço com dia e hora para ser desfeito, Voldemort tinha que saber disso para poder pegá-la... Será que ele sabia? Talvez... O bruxo não era idiota, calculava todos os seus passos e provavelmente estava pensando em tudo, se realmente estivesse planejando algo...

Quando chegou à biblioteca, reparou que ela estava cheia de alunos, que estudavam. Harry ainda pensou se deveria ou não pedir ajuda à Madame Pince para achar os livros. Lembrou que da última vez que fez isso, a bibliotecária ficou desconfiada e ainda por cima não conseguiu achar nada sobre a profecia. Talvez Harry conseguisse achar alguma coisa por conta própria.

O garoto, então, se pôs a procurar. Olhou estante por estante para tentar achar algo que o interessasse. Reuniu cerca de vinte livros, colocou-os numa mesa e começou a folheá-los. Às vezes, parava em alguma página e lia, mas depois descobria que não servia e passava para outro livro. A tarde passou e os alunos começaram a se retirar. Harry já estava cansado, seus olhos doíam e lacrimejavam. Muitas vezes ele parou, retirou os óculos e coçou os olhos para ver se conseguia ver melhor, mas não adiantava. Outras vezes, limpava os óculos, mas esse também não era o problema, pois as lentes estavam transparentes e sem sujeira. Quando o sol já começava a se pôr, Harry sentiu alguém o cutucar:

- É melhor o senhor ir embora, Sr. Potter. Já está tarde e os alunos não podem andar pelo castelo à noite. – era Madame Pince falando.

Harry olhou para os lados e reparou que só restava ele na biblioteca. Madame Pince perguntou:

- O senhor quer levar algum livro?

O garoto pensou por uns instantes. Olhou para a pilha de livros e viu que já tinha olhado quase todos, faltavam apenas um ou dois. Não adiantava ficar olhando aqueles livros, era pura perda de tempo. Harry suspirou e disse:

- Não, Madame Pince, eu não vou levar nenhum livro...

- Então é melhor o senhor se retirar... Se o senhor se apressar, poderá pegar o começo do jantar ainda...

- Obrigado. Eu vou indo, então.

Ele disse isso e saiu. Mas não rumou para o salão principal, foi direto para o salão comunal. Não estava com nem um pouco de fome. Disse a senha à Mulher Gorda e entrou. A sala estava vazia. Sentou-se em uma das poltronas fofas, perto da janela e ficou olhando a paisagem lá fora. O sol se punha no horizonte distante, iluminando fracamente os jardins do castelo. Harry estava exausto. Não sabia por quanto tempo ficou assim, contemplando a paisagem, pensando. Sua busca se mostrara infrutífera. Não conseguira achar absolutamente nada de interessante. Lembrou que, uma vez, Madame Pince lhe dissera que talvez conseguisse achar algo na seção reservada da biblioteca. Sua mente, subitamente se iluminou. E se ele fosse lá procurar, de noite? Mas não podia... era proibido... Mas também não podia ficar de braços cruzados! Tinha que fazer alguma coisa!

Nesse instante a passagem do retrato abriu e Harry olhou. Gina entrava por ela. Assim que a garota viu Harry ali, ela correu até ele e o abraçou.

- Então era aqui que você estava? – ela perguntou aflita. – Fiquei te procurando pelo castelo todo! Por que você não foi jantar?

Harry sorriu e começou a acariciar o alto da cabeça dela, mexendo nos seus cabelos. Sentiu o perfume que emanava deles.

- Desculpe, Gina. Não era a minha intenção te deixar preocupada...

Ela se afastou um pouco para fitá-lo.

- Tudo bem, Harry... É que eu fui à biblioteca e a Madame Pince estava fechando tudo e me disse que você tinha acabado de sair e provavelmente tinha ido jantar... Daí eu fui para o salão principal e você não chegava... Então eu vim te procurar e te achei aqui...

- Eu saí da biblioteca e vim direto pra cá, não estava com fome... Mas não precisava ter ficado tão preocupada...

- Eu sei... Mas é que às vezes eu... fico com medo de te perder, Harry...

- Não precisa ficar assim... Eu tô aqui, com você... E nada nem ninguém vai nos separar, entendeu? – ele olhou bem fundo nos olhos dela. Ela fez o mesmo e sorriu.

Harry, então, se aproximou mais dela e a beijou. No meio do beijo, porém, ela o soltou bruscamente e perguntou brava:

- Quer dizer que você vai ficar sem comer nada?

O garoto ficou espantado e estático, parado no lugar onde estava quando a beijou. Um pouco confuso, ele respondeu:

- Eu não estou com fome, Gina...

- Ah, não me importa, você vai ter que comer alguma coisa! – ela disse e retirou de dentro das vestes uma maçã e alguns biscoitos, os quais entregou para o garoto.

- O que é isso? – Harry perguntou sem entender.

- Chega de perguntas! Come!

- Mas, Gina...

- Pára de enrolar e come! Senão eu faço você engolir a força, tá pensando que vou deixar você ficar sem comer? Nem pensar!

Harry ficou boquiaberto com a atitude da garota. Gina era muito meiga, mas era melhor não a contrariar. Ele suspirou e sorriu, quando disse:

- Obrigado, Gina...

E começou a comer antes que ela o obrigasse. Isto é, o obrigasse mais do que já estava fazendo...

Harry estava olhando para o teto. Não tinha conseguido dormir. Não por que tivesse sonhado, ou coisa parecida, mas ficou pensando a noite inteira sobre tudo o que sabia sobre a Profecia Sagrada. Será que ela realmente existia? Pelo jeito que Dumbledore disse, sim. E não tinha jeito de Dumbledore estar enganado, ele sempre sabia de tudo...

- Gostaria de saber como ele sempre sabe das coisas... – Harry disse a si mesmo, num sussurro.

Pegou o relógio de pulso, que estava do lado da cama. Eram quase três horas da madrugada. Olhou para a janela. Estava tudo escuro e poucas estrelas cintilavam no céu. Decidiu. Tinha que saber, não podia ficar sem fazer nada! Não conseguiria se concentrar em mais nada enquanto não achasse algo mais sobre a profecia.

Colocou os óculos, levantou e abriu o malão. Deixava guardados ali dentro seus pertences mais importantes. No fundo dele achou uma capa de seda, a Capa de Invisibilidade, que pertencera a seu pai, Tiago Potter. Achou ainda um pergaminho velho e o reconheceu como o Mapa do Maroto. Guardou este último, junto com a varinha entre as vestes, ou melhor, entre o pijama. Pegou a capa e já ia embora, quando parou e olhou para a cama onde estava Rony. O amigo dormia profundamente. Harry ainda pensou se deveria ou não acordá-lo, para que o acompanhasse. Lembrou das aventuras que já tinha passado junto com o amigo. Desistiu. A situação mudara dessa vez; Rony era um monitor agora e não podia se meter em encrencas. Além disso, esse era um assunto que somente Harry estava envolvido, ou queria se envolver, e ele precisava fazer tudo sozinho.

Vestiu a capa. Abriu a porta devagar e saiu sem fazer barulho. Desceu as escadas, tentando não produzir nenhum ruído. Chegou ao salão comunal e saiu pela passagem do retrato. Estava nos corredores agora, e o cuidado deveria ser redobrado. Olhou para os lados, mas não viu ninguém. Pegou o Mapa do Maroto no bolso do pijama e o abriu. Estava em branco. Sussurrou a senha:

- "Juro solenemente não fazer nada de bom." – e tocou levemente o papel com a varinha. O mapa de Hogwarts apareceu magicamente nele. Harry, primeiramente, olhou os pontinhos que mostravam onde estava cada ser no castelo. O ponto intitulado "Severo Snape" se movia de um lado para outro nas masmorras, mas parecia rodar, rodar e não sair do mesmo lugar. O pontinho "Minerva McGonagall" estava parado na sua própria sala. Harry olhou mais atentamente e viu que os pontos "Argo Filch" e "Madame Nor-r-ra" se moviam, porém estavam distantes, na Torre de Astronomia. Harry já ia guardar o mapa, mas viu um outro ponto se movendo. O ponto estava intitulado "A. F. E.". Harry se lembrava disso; da última que tinha usado o mapa notara esse mesmo ponto e ficara intrigado. O mapa costumava mostrar sempre o nome inteiro de cada um, com nome e sobrenome, mas esse ponto só continha as iniciais... Será que o mapa estava enfeitiçado ou coisa parecida? Mas já fazia muito tempo que ele estava com o garoto... Harry, então, se lembrou que Sirius tinha ficado em posse do mapa por algum tempo, durante as férias de verão. Será que o padrinho tinha modificado o mapa? Afinal ele era um dos criadores do objeto... Mas com que intuito teria feito isso? Olhou novamente o mapa e viu o ponto se movendo, mas não tinha problema, pelo menos por enquanto, já que ele estava bem longe da biblioteca, o destino de Harry.

O garoto guardou o mapa no bolso e começou a andar com cuidado, no escuro. Não ousava conjurar nenhuma luz, pelo menos enquanto estava nos corredores. Às vezes parava e tentava ouvir algum barulho, ou então olhava o mapa. Nada. Aquela quietude o estava deixando intrigado, até o momento não tinha visto ninguém, nem fantasmas... Continuou a andar e depois de algum tempo chegou à biblioteca. Mexeu na porta. Estava fechada. Pegou a varinha entre as vestes, apontou para a fechadura e sussurrou:

- Alorromora!

A porta abriu, rangendo um pouco. Harry entrou e fechou a porta atrás de si. Olhou a biblioteca. Estava vazia e silenciosa, apenas a luz da Lua iluminava um pouco o lugar. Olhou o mapa e viu que não havia ninguém na biblioteca e nem nos arredores. Estava seguro. Levantou a varinha na altura dos olhos e sussurrou:

- Lumus! – da ponta da varinha uma luz começou a emanar, iluminando mais um pouco o ambiente.

Harry começou a andar pelo lugar. Estava tudo quieto e o único som era o de seus próprios passos. Chegou até a seção reservada. Mais uma vez usou o feitiço de destrancar portas e a abriu.

Estava, agora, na seção reservada da biblioteca. As estantes estavam cheias de livros antigos e grossos. Harry começou a olhar os títulos de cada um, procurando algo que o interessasse. Passou muito tempo fazendo isso e chegou a pensar que acabaria não achando nada mesmo, até o momento em que viu um livro que o interessou: "Hogwarts: passado, presente e futuro". Pegou o livro com cuidado. Era muito grosso e pesado. Segurou-o nos dois braços e mesmo assim teve que fazer um certo esforço. Passou os dedos pela capa, que era de veludo negro e as letras que formavam o título do livro emanavam uma luz prateada.

Harry viu que havia uma mesa perto de onde estava. Dirigiu-se a ela, puxou uma cadeira e sentou, depositando o livro sobre a mesa com cuidado para não fazer barulho. Ia abrir o livro, mas lembrou que, às vezes, alguns livros dessa seção estavam enfeitiçados e podiam fazer coisas inesperadas, como gritar. Era um risco que tinha que correr. Pedindo para que não acontecesse nada, Harry abriu o livro. Estava empoeirado e Harry teve que se segurar para não espirrar.

O garoto começou a folhear o livro. Ele continha histórias sobre a fundação de Hogwarts, sobre os quatro grandes... Mas Harry não procurava por isso, será que não havia nada ali que falasse sobre a Profecia Sagrada? Virou páginas e mais páginas. Estava começando a ficar com sono, os olhos teimavam em fechar, mas ele os forçava a continuarem abertos. Depois de olhar umas trezentas páginas, Harry se surpreendeu; no alto de uma página, leu em letras grandes e enfeitadas:

"A Profecia Sagrada"

Harry ficou boquiaberto. Olhou a página e viu que ela inteira falava sobre a profecia. Começou a ler, com certa ansiedade e euforia:

A Profecia Sagrada

Essa é a lenda mais antiga e mais intrigante da Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts. Quinze anos depois da fundação da escola, Helga Huflepuff escreveu uma profecia, que ficou conhecida como "A Profecia Sagrada". Helga Huflepuff era uma adivinha, conseguia prever com precisão o futuro, tanto que, em sua infância, previu a fundação de Hogwarts.

Não se sabe muito sobre o conteúdo da profecia. Sabe-se apenas o que a própria Helga Huflepuff contou aos outros três grandes, ou seja, Godric Gryffindor, Salazar Slytherin e Rowena Ravenclaw. Segundo manuscritos encontrados, que possuem a autoria desses três grandes, a profecia contava sobre a vinda de um descendente tanto de Gryffindor, quanto de Slytherin. Esse descendente seria muito poderoso devido à fusão dos dois sangues. Ele expulsaria o mal do mundo com a "centelha de esperança".

Quando Gryffindor e Slytherin descobriram isso, ficaram imensamente aborrecidos. Havia uma certa desavença entre os dois bruxos e eles não concebiam a idéia de que, um dia, o sangue dos dois se unisse. Helga Huflepuff percebeu isso e decidiu esconder a profecia para que não caísse em mãos erradas e o futuro não fosse mudado. Pediu ajuda à Rowena Ravenclaw, que era uma especialista na arte dos Feitiços. Rowena Ravenclaw teria criado um feitiço muito poderoso com a única finalidade de proteger a profecia. Porém, não se sabe ao certo como, Helga Huflepuff faleceu antes do feitiço ter sido completado e foi Rowena Ravenclaw quem o finalizou.

Há suspeitas de que a profecia tenha sido escondida em Hogwarts, mas isso nunca foi provado, afinal, a profecia nunca fora encontrada. Em manuscritos antigos feitos por Rowena Ravenclaw, ela dizia que, em certas datas, a profecia seria encontrada por alguns bruxos premeditados por Helga Huflepuff, até que fosse definitivamente encontrada. Esses bruxos saberiam a verdade, mas não influiriam na história e poderiam apenas ajudar quando necessário. Reza a lenda que o feitiço que protege a profecia somente poderia ser desfeito de quinze em quinze anos e seria revelado a apenas uma pessoa nessa vez que fosse desfeito, e apenas uma pessoa de cada vez. Rowena Ravenclaw deixou pistas de quando seriam essas datas e vários especialistas tentaram desvendá-las, obtendo pouco sucesso. Há suposições que dizem que a data seria na "mudança das flores para o sol, quando o céu estivesse iluminado inteiramente pelo disco prateado".

Não se sabe muito mais sobre essa lenda. A maioria do que se sabe são especulações que podem, ou não, serem verdadeiras. Se houve bruxos que descobriram a profecia, esses não se revelaram, portanto não há como saber se a profecia foi ou não encontrada algum dia, ou se será. Como muitos mistérios que Hogwarts esconde, esse é apenas mais um e sem solução.

Harry terminou de ler e ficou mais surpreso do que estava anteriormente. Aquela passagem não dizia muita coisa, mas esclarecia alguns pontos. Pelo menos agora, o garoto sabia um pouco mais sobre o assunto. Será que Voldemort sabia daquelas informações? Talvez soubesse até mais...

O garoto tocou a varinha levemente na página do livro e sussurrou:

- Duplicate!

Imediatamente a página do livro se duplicou e uma outra página, igual a essa, apareceu. Harry a guardou nas vestes e levantou da cadeira onde estava, fechando o livro em seguida, o que produziu algum estrondo. O garoto ficou estático, não podia ter feito tanto barulho. Ficou quieto, aguçando os ouvidos para tentar ouvir algo. Depois de alguns segundos, ouviu passos e gelou. Alguém estava vindo. Olhou para a mesa e viu o Mapa do Maroto, tinha deixado-o ali. Pegou-o rapidamente e o olhou. Estava em branco. Lembrou-se, então, de ter apagado o mapa algum tempo antes. Droga, por que tinha feito isso, se o mapa estivesse à mostra, poderia ver quem se aproximava! Mas agora não adiantava, não podia fazer o mapa aparecer no papel, não podia produzir nenhum ruído. Guardou o mapa no bolso e pegou o livro que ainda estava sobre a mesa. Andou devagar até a estante onde o tinha pego e o guardou no lugar. Lembrou de apagar a varinha e disse num sussurro quase inaudível para si mesmo:

- Nox! – a luz na varinha apagou de imediato.

Certificou-se de que estava inteiramente coberto pela capa e esperou alguns minutos, quieto, tentando ouvir os passos novamente. Por um segundo, chegou a pensar que tinha ouvido coisas, mas estava errado. Logo, os passos fizeram-se ouvir novamente e mais altos. Pareciam que estavam se aproximando. Harry ficou parado onde estava, respirando o mínimo possível. Os passos estavam mais fortes. De repente, olhou para o lado e viu alguém parado ao lado da estante, a apenas alguns metros dele. A pessoa estava encapuzada. Com uma voz de mulher, chamou:

- Tem alguém aí?

Não obteve resposta. Harry quase não respirava mais e não se movia. Estava encostado na estante. A pessoa olhou para os lados e apontou a varinha. Perguntou novamente:

- Quem está aí? Responda!

Nada. Harry permanecia quieto e decididamente tinha prendido a respiração e só a soltava de tempos em tempos. A pessoa na porta abaixou o capuz e Harry a reconheceu. Era a Sra. Figg.

Ela andou alguns passos, ficando mais próxima ainda de Harry. Olhou para a estante e pegou um livro. Abriu-o e começou a folheá-lo. Sorriu tristemente quando disse, para si mesma, mas parecendo que falava com uma outra pessoa.

- Transfiguração... Você adorava essa matéria, não é, querida? Ah... Como sinto sua falta... Principalmente agora, que, todos os dias, ele... – uma lágrima rolou pela face dela. Fechou os olhos e depositou o livro de volta ao lugar. – Não importa...

Ela se virou e começou a sair. Harry não acreditou na sorte que teve. Depois que ela já estava bem longe e não se ouviam mais seus passos, ele saiu de onde estava e começou a se dirigir à saída da biblioteca. Antes, porém, olhou o mapa e nenhum dos pontinhos estava próximo a ele. O perigo tinha passado. Saiu e andou pelos corredores escuros e silenciosos da escola, tentando não produzir nenhum ruído. Assim que chegou ao quadro da Mulher Gorda, disse a senha. Ela, sem ao menos abrir os olhos, resmungou alguma coisa, sonolenta, e abriu a passagem. Harry entrou e subiu as escadas para o dormitório. Entrou sem fazer barulho. Olhou ao redor e viu que todos estavam dormindo. Rony se mexeu em sua cama. Os roncos de Neville, às vezes, quebravam o silêncio da noite. Dirigiu-se até sua cama. Despiu a capa e ficou novamente visível. Guardou o mapa, a capa e, sobretudo, a página do livro bem escondidos no malão.

Sentou na beirada da cama. Olhou o relógio. Quatro e meia da madrugada. Depositou o relógio ao lado da cama, junto com os óculos. Deitou e ficou contemplando o teto, pensando. Sem perceber, caiu em um sono sem sonhos.