Capítulo Trinta e Três - Exames
Os meses de abril e maio passaram num piscar de olhos. Durante esse tempo, houve alguns acontecimentos. O feriado de Páscoa foi aproveitado ao máximo pelos alunos. A Sra. Weasley mandou vários ovos de chocolate caseiro para Harry, Rony, Hermione, Gina e os gêmeos. Já Harry e Rony fizeram uma surpresa para Gina e Hermione; os garotos pediram que Dobby conseguisse doces e chocolates, o que o elfo fez e, como sempre, exagerou, preparando mais do que o necessário. Harry e Rony arrumaram uma sala vazia, que enfeitaram e colocaram os doces. Depois, levaram as meninas e mostraram a sala, dizendo que aquele era o presente de Páscoa dos dois para elas. Obviamente, Hermione e Gina ficaram encantadas com o presente, o qual rendeu muitos beijos e carinhos tanto para Rony quanto para Harry.
Depois do feriado, os estudos voltaram com força total. Os professores entupiam os alunos com revisões para os N.O.M.s e para os N.I.E.M.s. Harry estava tão envolvido com os estudos e deveres, que até esqueceu da sua preocupação com a Profecia Sagrada. Os estudos e aulas tomavam todo o seu tempo e o garoto estava tão exausto, que nas horas vagas não conseguia pensar em outra coisa a não ser dormir e descansar.
O mês de junho chegou e, junto com ele, os exames finais. Como eram maiores, os exames para as turmas de quinto e sétimo ano começaram antes dos demais e duraram três semanas. Cada dia da semana, com exceção dos sábados e domingos, faziam-se dois testes, um prático e um escrito, de cada matéria. Os professores avaliavam os alunos e concediam-lhes pontos pelo desempenho. Esses pontos iam de zero a vinte, sendo dez pela prova escrita e dez pela prática. Todos os pontos, de todas as matérias, eram somados para, depois, obter-se um número, o qual era dividido pelo número de matérias. O resultado final seria um número de zero a vinte. Dez era a média para passar. Se um aluno tirasse uma nota abaixo disso, mas que estivesse entre sete e nove, esse aluno ia para um conselho entre os professores e poderia repetir os testes em que teve maior dificuldade, para aumentar seus pontos. Se o aluno obtivesse uma nota abaixo de sete, seria reprovado, mas isso era muito difícil de acontecer, já que os alunos se afogavam nos livros para passarem direto.
Os alunos estavam ansiosos e aflitos e, quando os exames começaram, o clima de tensão só aumentou. Ninguém tinha tempo para mais nada a não ser estudar e fazer os exames. Até Hermione estava terrivelmente preocupada e ela sempre achou os exames divertidos, mas percebeu que esses não eram tão fáceis assim.
Harry até que não estava indo tão mal nas provas, assim como Rony. Já Hermione, obviamente, estava indo muito bem. No exame de Transfiguração, a garota foi perfeita, como disse muito orgulhosa a própria Profª. McGonagall. Esse exame consistia em uma prova escrita com oitenta questões e uma prova prática, em que os alunos tinham que fazer várias transformações de objetos para animais e de animais para objetos.
O exame de Poções foi o maior e mais cansativo. Snape aproveitou para exigir o máximo dos alunos com cento e vinte questões escritas, além da prova prática, que consistia em preparar uma "Poção da Invisibilidade", que funcionava como uma Capa de Invisibilidade, a diferença era que o efeito era limitado. Harry e Rony ficaram preocupados com esse exame, mas não tanto quanto Neville, que foi muito mal e recebeu uma bronca homérica de Snape pela poção errada.
Herbologia tinha sessenta questões escritas e a prova prática consistia em plantar uma árvore e fazê-la crescer o máximo possível e no menor período de tempo com auxílio da magia. O aluno que foi melhor no teste foi Neville, o que compensou a nota de Poções. Neville conseguiu ir até melhor do que Hermione. A árvore de Neville cresceu o mesmo que a da garota, mas a dele foi mais rápida do que a dela. Harry achou que sua árvore ficou muito pequena, apesar de já parecer adulta. Já Rony conseguiu fazer uma árvore grande, mas demorou muito.
A prova de Feitiços tinha cinqüenta questões escritas e a prova prática foi uma das mais divertidas para os alunos. Foram formadas duplas, que tinham que se enfrentar utilizando os mais variados tipos de feitiços. Harry enfrentou Rony e, se aquilo fosse considerado um duelo, Harry teria ganho. Hermione enfrentou Neville, Dino enfrentou Simas e Lilá duelou contra a amiga Parvati.
O teste mais maçante foi, com toda certeza, o de História da Magia. O teste escrito tinha cem questões e perguntas incrivelmente grandes e chatas. O teste prático não ficava muito atrás, ou melhor dizendo, era pior. Os alunos tinham que narrar, na frente de toda a classe, partes da história dos bruxos.
No exame de Vôo, Harry foi perfeito e recebeu aplausos dos alunos e de Madame Hooch. Os alunos tinham que voar através de vários obstáculos no campo de quadribol e não esbarrar em nenhum. Para atrapalhar, foram soltos os balaços no campo também. Harry conseguiu fazer um vôo perfeito, mesmo não estando com a sua Firebolt, já que era obrigatório os alunos usarem vassouras da escola. O teste escrito continha apenas vinte questões.
Defesa Contra as Artes das Trevas foi de longe o exame mais difícil para os alunos do quinto ano, mais complicado até que Poções. Além do teste escrito com setenta questões, havia a prova prática que era, nada mais nada menos, que conjurar um patrono. A Sra. Figg trouxe cinco bichos papões, que enfeitiçou para que se parecessem e agissem como dementadores. Para se conseguir a nota máxima, os alunos tinham que conjurar um patrono que fosse preciso, ou seja, não fosse desfocado; além disso, o patrono deveria ser conjurado rapidamente e ser forte o bastante para afugentar para o mais longe possível os cinco "dementadores". Pode-se dizer que nenhum dos alunos foi bem nesse teste, até mesmo Hermione. A única exceção foi Harry, que fez um patrono quase perfeito, como nunca tinha feito antes. O patrono de Harry foi o mais rápido, o mais visível, já que todos reconheceram o patrono como um cervo (e não entenderam o porquê de Harry ser protegido por um cervo) e ainda por cima, foi o que afugentou os dementadores para mais longe, tanto que foi preciso buscá-los no campo de quadribol depois para continuar com os testes, que foram feitos no jardim da escola. Apesar de ainda ouvir os gritos quando se aproximou dos bichos papões transformados em dementadores, Harry conseguiu achar um pensamento feliz forte o bastante para conjurar um patrono tão bom; o garoto pensou no seu primeiro beijo com Gina e na sensação maravilhosa que teve, mas é claro que Harry não contou para ninguém o que pensou, apesar de muitos alunos terem perguntado.
O último teste foi o de Adivinhação. Hermione teria teste de Aritmancia no mesmo dia. O exame escrito de Adivinhação tinha somente dez questões e a prova prática consistia em ler cartas mágicas. Cada aluno subia sozinho até a sala para ser examinado. Quando saíam, a maioria não dizia nada do que tinha acontecido, pois eram ameaçados com previsões horríveis pela professora. Harry foi o último a entrar e o garoto achou que Sibila Trelawney tinha feito isso de propósito, só para anunciar a morte dele mais uma vez.
Harry ficou esperando para ser examinado e viu todos os alunos saírem felizes por finalmente terem terminado os exames. Quando Rony saiu, disse para o amigo:
- Fique tranqüilo, Harry. Não é nada demais o teste, só invente previsões terríveis de acordo com as cartas, como eu fiz, e você se sairá bem.
- E você não tá com medo das previsões que a Trelawney te fez, se você contasse alguma coisa sobre o teste para alguém? – Harry brincou.
- Bem, de acordo com a previsão dela, se eu contasse para alguém eu ia ficar mudo... Porém... – ele começou a imitar a professora. - ...se as minhas previsões estiverem corretas, esse será o último dia de minha vida... – ele suspirou teatralmente e depois deu uma piscadela para Harry. – Então, vou aproveitar meu último dia, fazendo uma boa ação e ajudando um amigo que vai fazer seu teste! Boa sorte, Harry!
- Obrigado, Rony... – Harry disse rindo e subiu as escadas que davam acesso à sala.
Assim que entrou, sentiu aquele familiar cheiro forte de incensos e tossiu um pouco devido à fumaça. Uma voz etérea, que Harry reconheceu como sendo de Sibila Trelawney, disse:
- Ah, querido... Então você é o último a fazer o teste?
A fumaça começou a se dissipar um pouco. Harry se aproximou e viu a professora sentada em um enorme puf. Em frente a ela, havia um outro puf, onde estava disposto um baralho. Havia, ainda, um terceiro puf, onde provavelmente os alunos sentavam.
- Sente-se, querido. – ela disse calmamente e indicando o puf.
Harry sentou e olhou para ela, que começou a embaralhar as cartas enquanto explicava:
- O teste, meu querido, tem a finalidade de descobrir se você realmente aprendeu a ler as cartas mágicas. – ela entregou o baralho para Harry. – Retire três cartas e diga-me o que vê.
Harry fez o que ela mandou. Tirou três cartas de dentro do baralho e voltou a depositá-lo sobre o puf. A professora tinha uma expressão de ansiedade no rosto. Harry não ligou e olhou para as cartas que tinha na mão: uma tinha o desenho de água escorrendo por entre as rochas de uma caverna, a outra era um pássaro negro e a última era a figura de um espelho. Harry lembrava dessas cartas, tinha tirado as mesmas na primeira aula de Adivinhação do ano. Achou aquilo muito estranho, será que as cartas realmente queriam lhe dizer alguma coisa?
- E então, querido? O que vê? – a Profª. Trelawney perguntou, mais por curiosidade do que por qualquer outra coisa.
O garoto lembrou do que Rony tinha dito naquela mesma aula, brincando, e resolveu dizer isso mesmo. Não estava com muitas idéias.
- Eu... eu vejo... vejo que vou morrer em uma caverna... depois que quebrar um espelho...
Ele mostrou as cartas à professora, que arregalou os olhos ao ver quais eram as cartas. Com a mão trêmula, ela pegou as cartas e fitou-as, aflita.
- Você sabe o que isso significa, querido? Isso é muito grave... Oh... E você ainda é tão jovem... morrer assim... – ela suspirou e fechou os olhos. Estremeceu e começou a tossir. Levou a mão ao peito, com uma expressão de dor no rosto.
Harry se assustou, será que ela estava tendo um ataque ou coisa parecida? Um pouco preocupado, ele perguntou:
- A senhora está bem, professora?
Ela levantou a cabeça, bem mais calma e controlada. Olhou o garoto de um jeito diferente e disse, não com a voz etérea, mas com uma voz firme:
- Você vai encontrar o que procura nesse lugar... Mas vai encontrar mais do que isso... Você vai sofrer... Alguém irá partir... E isso vai doer... Olhe para dentro de si mesmo... Para si mesmo... Na mudança das flores para o sol... Disco prateado... Sangue... Dor... O passado... O presente... O futuro... Lágrimas... Olhe para dentro de si mesmo...
Harry ficou boquiaberto. A professora fizera uma previsão e não parecia ser mentira dessa vez, pois ela estava em completo transe.
Ela fechou os olhos. Estremeceu novamente. Levantou os olhos e fitou o garoto. Voltou a ter a mesma expressão de sempre. Com a voz etérea e demonstrando pena, disse:
- Oh, querido, sinto muito, mas você está certo... O pássaro negro anuncia a morte e provavelmente é a sua... Oh, que lástima... Pode ir, querido... – ela começou a anotar algumas coisas num papel e a pena tremia em sua mão.
Harry ainda demorou alguns segundos para cair em si, mas logo que fez isso, começou a se retirar. Não adiantava dizer nada sobre a previsão para a professora, ela não acreditaria. Um transe como esse já acontecera e quando Harry contou, a professora não tinha acreditado. Mas da última vez ela estava certa. Ela tinha feito uma previsão sobre a volta de Voldemort, sendo ajudado por um servo que tinha retornado a ele. E isso realmente aconteceu. Voldemort tinha ressurgido, sendo ajudado pelo seu servo, Rabicho.
O garoto andava pelos corredores a esmo, pensando no que tinha acontecido. A professora tinha falado coisas aparentemente sem sentido e Harry não conseguia se lembrar muito bem das palavras. "Olhe para dentro de si mesmo", ela fez questão de repetir isso... O que significaria?
Harry reparou que estava no saguão de entrada. A porta de carvalho estava aberta e os alunos estavam nos jardins. Apesar da proibição de ficar nos jardins, os professores resolveram, em comemoração ao fim dos exames, que os alunos ficassem lá durante a tarde, sendo vigiados por alguns professores. Harry saiu pela porta e olhou à sua volta. O céu estava azul, havia flores nos jardins e os alunos estavam felizes, conversando alto e rindo. O garoto olhou para o lago e viu três pessoas acenando para ele à sombra de uma árvore. Essas pessoas eram Gina, Rony e Hermione.
- Puxa, Harry, você demorou... – Gina comentou assim que o garoto se aproximou.
Gina estava encostada naquela mesma árvore onde ela e Harry se beijaram da primeira vez. Rony estava sentado de frente para a irmã e abraçado com Hermione. Harry se sentou ao lado de Gina e beijou-a rapidamente.
- E aí, como foi com a Trelawney? – Rony perguntou.
- Ah, não foi muito difícil... Inventei algumas coisas, como você sugeriu... – Harry decidiu não contar o que tinha acontecido.
Hermione revirou os olhos.
- Francamente, não acredito que vocês dois não levaram a sério nem os exames!
- Ah, Mione, você sabe que não dá para levar a sério Adivinhação... – Rony disse. Hermione ainda ia falar alguma coisa, mas Rony a calou com um beijo.
- Você tá quieto, Harry... – Gina comentou. – Aconteceu alguma coisa?
Harry olhou para ela e sorriu. – Não, tá tudo bem... Só estou cansado... – ele deitou no colo da garota. Ela começou a acariciar os cabelos rebeldes dele.
Os quatro, então, começaram a conversar sobre banalidades, para tentar esquecer as semanas cansativas que tiveram. A única vez que falaram de exames foi quando Hermione perguntou à Gina como ela tinha ido nos testes e a garota respondeu que "não tinha ido tão mal assim". Rony a desmentiu, dizendo que Gina era tão aplicada nos estudos quanto Hermione e que provavelmente devia ter ido muito bem nas provas. Gina ficou púrpura, mas não se sabia se era de vergonha ou de raiva.
Quem falava menos era Harry. Estava incrivelmente cansado e seus olhos teimavam em fechar, mas ele, por sua vez, teimava em mantê-los abertos. Talvez tivesse sido toda aquela fumaça e os incensos da sala de Trelawney... Gina acariciava seus cabelos e isso só aumentava a vontade de dormir ali mesmo. Sem que percebesse, o sono o dominou por completo.
Estava em um cemitério. Já estivera ali antes. Andou por entre as lápides cobertas de terra e sujas. Algumas folhas secas e velhas estavam no chão.
Andou sobre a terra lodosa até avistar uma casa. Era muito velha, as paredes estavam desgastadas pelo tempo e as janelas quebradas. Aproximou-se do lugar. Abriu o portão, que rangeu muito. Do jardim, que antes parecia ter sido bem cuidado, agora só restavam galhos velhos e encurvados, além de algumas folhas secas. Não havia flores. A luz do sol parecia nunca vir a aquele lugar. O céu era cinza.
Olhou para a casa. Era grande, talvez tivesse sido uma mansão algum dia. Aproximou-se da porta. Empurrou-a. Não estava trancada. Ela abriu produzindo um ruído estridente. Entrou.
Estava em uma sala que parecia ter sido, um dia, a sala de visitas. O lugar cheirava a mofo e viu alguns animais nojentos andando num canto. No final da sala, havia uma escada que levava até o andar superior. Começou a subir por ela. Os degraus rangiam e davam a impressão que iriam se desfazer a seus pés.
Quando finalmente chegou ao andar superior, viu que tinha dois lados a seguir: o da direita e o da esquerda. Sem saber o porquê, seguiu para o da esquerda. No final do corredor, havia um aposento e a porta deste estava entreaberta. Vozes vinham de lá de dentro. Com cautela, começou a espiar pela fresta da porta.
Não havia muitos objetos lá dentro. Uma lareira queimava ao fundo e suas chamas eram azuladas e frias. No centro havia uma cadeira e uma pessoa estava sentada nela. Essa pessoa se debatia furiosamente e suas mãos estavam atadas nos braços da cadeira. Uma outra pessoa estava à sua frente, sentada em uma poltrona, como se estivesse em um trono. Reconheceu-o. Reconheceria aquela cara viperina em qualquer lugar.
- Não precisa ficar tão nervosa, Bel... Você ainda vai ficar aqui comigo por algum tempo... Até a hora certa...
- Não me chame assim! – era a voz de uma mulher que respondia. Ela se debatia muito na cadeira. – Por que você está fazendo isso?
- Por que preciso da profecia...
- Eu já desconfiava... Mas por que precisa de mim?
- Você vai me ajudar a encontrá-la... – ele indicou uma gaiola que continha muitas criaturinhas de cores diferentes, que choramingavam. – Eles não querem acatar minhas ordens, preciso de alguém que saiba falar com eles... Parece que eles só obedecem quando são bem tratados, mas eu não estou acostumado a ser cortês... Por isso quero que me ajude...
- Não foi só por isso que você me trouxe aqui.
- Tem razão, você é esperta, Bel. Digamos que eu queria relembrar os velhos tempos... Senti sua falta...
- Você não sente falta de nada nem ninguém, só sente saudade do seu maldito poder!
- Tsk, tsk, tsk... Só porque eu gosto do poder, não quer dizer que eu não tenha sentimentos...
- E você não tem mesmo! Você é frio! Eu aprendi a duras penas que você não tem coração, só visa a seus próprios interesses!
- Ah... Isso quer dizer que você não sente mais nada... do que sentia...
- Não! E você foi o causador de tudo isso! Poderia ter sido tudo diferente, se você não tivesse feito o que fez!
- Você não entende... Não entende que eu tinha que fazer aquilo... Eu precisava! Eu só não imaginei que aconteceria tudo aquilo depois... As coisas fugiram do meu controle... E parte da profecia se cumpriu... Mas eu não permitirei que ela se cumpra por inteiro!
Ele levantou a seguir, batendo os pés. Andou em círculos por algum tempo. Depois parou e começou a fitar a pessoa na cadeira. Segurou quase carinhosamente o queixo dela. Ela, porém, virou-o com violência e quase foi possível reconhecer seu rosto. Ele estreitou os olhos e deu um tapa forte no rosto dela. Levantou a varinha com a mão pálida e branca e a apontou, dizendo com fúria:
- Se você não me ajudar por bem, será por mal. Nem que eu tenha que te obrigar!
- Nunca! – ela cuspiu nele.
- Desgraçada! Vai ter o que merece! Crucio!
Ela gritou o mais alto que conseguiu e revirou-se mais e mais na cadeira. Atrás da porta por onde estava espionando, ele também gritou, sentindo a dor, como se facas cortassem sua pele e seu corpo ardesse em brasas. Não agüentava mais, não conseguiria suportar...
- Harry!
Alguém o chamou, gritando desesperadamente. Seja quem fosse o sacudia com força e gritava tentando acordá-lo.
- Harry! Acorda!
Ele abriu os olhos assustado. Viu Gina à sua frente, com uma expressão de desespero e aflição.
Harry se sentou rapidamente e de imediato colocou a mão na cicatriz. Ela doía muito e não só ela, como toda sua cabeça e seu corpo. Respirava rapidamente. Estava exausto. O suor escorria pela sua pele, que estava quente, ardendo. Seus cabelos estavam molhados de suor.
Gina se aproximou dele e colocou a mão no seu rosto, obrigando-o a olhá-la. Ela estava aflita e tremia.
- Harry, o que aconteceu?
- Eu... eu tive um pesadelo... – ele respondeu ainda segurando a cicatriz. Olhou para os lados e lembrou onde estava. Tinha ido para os jardins depois da última prova. Estava conversando com Gina, Rony e Hermione... Mas não viu os amigos. – Onde estão Rony e Mione?
- Eles foram dar uma volta... E eu fiquei aqui com você... Você estava dormindo e nós não quisemos te acordar... Mas então você começou a se revirar e respirar mais rápido... Eu tive que te acordar! – Gina arregalou os olhos, como se tivesse acabado de reparar alguma coisa no namorado. – Harry! A sua testa... tá sangrando!
Harry tirou a mão da cicatriz e viu que ela estava manchada de sangue. Era a cicatriz que estava sangrando. Mas como? Ela ainda doía muito e Harry colocou a outra mão sobre ela. Quando a tirou, viu que tinha mais sangue ainda na mão.
- Harry! O que é isso? – Gina perguntou preocupada.
O garoto olhou para a namorada. Começou a entender o que estava acontecendo. O sonho... Era Voldemort... Estava mesmo atrás da profecia... Será que... será que já tinha chegado o dia em que o feitiço seria desfeito?
- Gina! Que dia é hoje? – Harry perguntou desesperado.
Ela ficou estática e completamente sem ação. Provavelmente não estava entendo nada. Boquiaberta, ela o censurou:
- Eu estou preocupada com você, Harry! Eu te pergunto o que está acontecendo e você não me diz nada e ainda quer saber que dia é hoje?
- Me desculpe, Gina... Mas é muito importante... Por favor...
Ela suspirou resignada. – Vinte de junho.
Harry sentiu como se uma luz acendesse dentro de sua cabeça e iluminasse suas idéias. – Mudança das flores para o sol... – ele sussurrou para si mesmo. Perguntou à Gina: - Hoje à noite acaba a primavera e o verão começa, não é?
Gina apenas acenou afirmativamente com a cabeça sem entender. Harry murmurou novamente para si mesmo:
- Disco prateado... – e se voltou para Gina. – Em que lua nós estamos?
- Lua cheia...
Agora tudo fazia sentido... Tudo se encaixava... Harry se levantou e já sabia o que fazer. Ia sair correndo, mas olhou para Gina, que estava ajoelhada e tinha os olhos marejados pelas lágrimas. Harry se ajoelhou ao lado dela e disse, tremendamente culpado:
- Gina... Me desculpe... Eu sei que você não deve estar entendendo nada... E eu sei que eu fui um pouco grosso com você... Quer dizer, muito grosso... Mas eu não posso te explicar... Não quero que você se meta nisso... Não quero que você se machuque, você é muito importante para mim... Mas eu preciso fazer isso...
As lágrimas escorriam pela face dela. Harry tentou, com as costas das mãos, secá-las.
- Não chora, Gina, por favor... Eu prometi ao Rony e a mim mesmo que nunca iria te magoar...
- Você não me magoou, Harry... Mas... eu só não quero que você vá... não quero te perder... não quero que você se machuque... Você também é muito importante para mim...
Ela encostou a cabeça dela no peito dele, procurando conforto. Sussurrou com a voz embargada:
- Não vá, Harry... Seja lá o que você tem que fazer, não o faça... Eu tenho medo que você não volte...
- Não posso fazer isso, Gina... Não posso prometer algo que não sei se posso cumprir... – ele a afastou para olhá-la. – Sinto muito, Gina...
Beijou-a com carinho e depois levantou. Ainda lançou um último olhar para ela antes de ir embora, correndo.
Correu o mais rápido que pôde. Sua sorte era que os alunos estavam muito absortos para o notarem e não encontrou nenhum professor no meio do caminho. Colocou a mão na cicatriz. Ainda doía... e sangrava. Por que estava sangrando? Isso nunca tinha acontecido; o que significava afinal?
O sonho passava na sua mente como um filme. Voldemort falava com alguém, que estava com ele não pela sua vontade, mas à força. Ele disse sobre a hora certa... a hora certa estava chegando... Falou sobre a profecia, a Profecia Sagrada... Ele estava realmente atrás dela! Dumbledore estava certo! Se bem que isso não era muito difícil, Dumbledore sempre estava certo...
Depois de muito correr e passar por muitos lugares, chegou finalmente ao dormitório masculino do quinto ano. Olhou à sua volta. A cicatriz doía muito ainda. Foi até o banheiro e se apoiou na pia, olhando no espelho. Seu rosto estava manchado de sangue. Sangue... A Profª. Trelawney tinha falado alguma coisa sobre sangue...
Abriu a torneira e lavou as mãos. Foi difícil limpar o sangue delas. Encheu a mão de água e lavou o rosto várias vezes, tentando tirar o sangue. Parecia que tinha impregnado nele. Depois de muito tempo conseguiu, e o rosto ficou limpo. A cicatriz tinha parado de sangrar, mas ainda doía.
Foi para o quarto e dirigiu-se à sua cama. Ao lado dela estava o malão. Abriu-o e tirou de lá de dentro o que queria: a folha que tinha copiado do livro da seção reservada da biblioteca. Começou a lê-la febrilmente. Algumas frases lhe saltaram aos olhos: "Rowena Ravenclaw teria criado um feitiço muito poderoso com a única finalidade de proteger a profecia", "Há suspeitas de que a profecia tenha sido escondida em Hogwarts", "Reza a lenda que o feitiço que protege a profecia somente poderia ser desfeito de quinze em quinze anos e seria revelado a apenas uma pessoa nessa vez que fosse desfeito, e apenas uma pessoa de cada vez", "Há suposições que dizem que a data seria na 'mudança das flores para o sol, quando o céu estivesse iluminado inteiramente pelo disco prateado'".
- Uma pessoa de cada vez... Mudança das flores para o sol... Disco prateado... – Harry murmurou para si mesmo. – É hoje, a primavera é a estação das flores e o verão é a estação em que o sol brilha mais forte... A passagem das estações é hoje, à meia-noite... E nessa hora, o céu irá estar iluminado pela lua cheia... E Voldemort sabe disso! E se a profecia só é revelada a uma pessoa de cada vez... eu terei que encontrá-la antes dele! Ou impedi-lo! Mas como? Como vou fazer isso?
Uma voz, magicamente amplificada, que chegava a todos os lugares da escola, soou, interrompendo seus pensamentos. Era a voz da Profª. McGonagall, que dizia:
- Atenção! Todos os alunos devem se dirigir, imediatamente, aos seus respectivos salões comunais e não sair em nenhuma circunstância! O jantar será servido nos próprios salões e o diretor de cada Casa logo irá lhes explicar o que está acontecendo. Repito, dirijam-se imediatamente aos seus salões comunais!
A voz parou. A única coisa que Harry ouvia agora, aumentando cada vez mais, era o som dos alunos falando e se aproximando. O que teria acontecido? O que ele faria agora? Ouviu as vozes dos alunos bem mais alto agora, provavelmente a maioria já tinha chegado ao salão. Depois de alguns minutos, resolveu descer. Quando já estava bem próximo ao salão, ouviu a voz da Profª. McGonagall se sobrepor às vozes dos alunos:
- Silêncio! Silêncio, por favor! – aos poucos, o barulho foi diminuindo e a professora pôde falar. Ela perguntou, aflita: - Todos os alunos da Grifinória estão aqui?
Silêncio. Harry ouviu a voz de Gina, angustiada, dizer:
- O Harry não está aqui...
Harry decidiu aparecer. Desceu totalmente as escadas e encostou na porta que dava acesso a elas.
- Estou aqui. – disse.
Viu Gina, do outro lado da sala, suspirar aliviada. Ela estava com Rony e Hermione. Os amigos olharam Harry de uma maneira um pouco estranha, pareciam desconfiados. Os outros alunos começaram a fazer perguntas, todas ao mesmo tempo. Mais uma vez a Profª. McGonagall pediu silêncio e, quando conseguiu, começou a falar:
- O que eu tenho a lhes falar é muito importante. Hoje, houve um desaparecimento na escola e desconfiamos que... desconfiamos que esse desaparecimento não foi comum, essa pessoa foi seqüestrada.
O desespero tomou conta dos alunos. Todos começaram a falar juntos e só pararam quando, pela terceira vez, a professora pediu silêncio. Harry se lembrou do sonho e que Voldemort estava com alguém com ele e esse alguém estava lá contra a vontade. A Profª. McGonagall respirou fundo e disse:
- Essa pessoa que desapareceu foi um dos professores... mais precisamente, essa pessoa foi a Professora Arabella Figg.
