Capítulo Trinta e Quatro – A verdade
- Como?
- A professora?
- Quem fez isso?
Os alunos perguntavam tudo ao mesmo tempo. Estavam aflitos e desesperados. Alguns diziam que se até os professores tinham sido levados, ninguém mais estava seguro. Outros gritavam, dizendo que Hogwarts tinha sido invadida. A Profª. McGonagall silenciou a todos com um pouco de dificuldade e disse:
- Por esse motivo, todos devem permanecer em seus salões comunais. Todos, sem exceção, estão proibidos de saírem. Nós estamos providenciando a volta dos alunos para suas casas mais cedo, logo todos pegarão o Expresso de Hogwarts. Por hora, todos devem permanecer em suas Casas. O Ministério da Magia já foi avisado sobre o que aconteceu e está se mobilizando para encontrarem a Profª. Figg. Logo; o jantar será trazido até aqui pelos elfos domésticos da escola. Esse era o recado, com licença.
E ela saiu pela passagem do retrato, deixando um bando de alunos desesperados para trás.
Harry estava surpreso com aquela revelação. Agora tinha certeza de que aquela pessoa que estava com Voldemort no sonho era a Sra. Figg. Pensou em subir para o dormitório, mas Rony, Hermione e Gina se aproximavam dele. Os amigos tinham expressões desconfiadas e Gina parecia aflita. Será que Gina tinha contado alguma coisa aos dois sobre o que tinha acontecido nos jardins? Resolveu permanecer onde estava.
- Onde você estava, Harry? – Hermione perguntou, assim que se aproximou. – Estávamos preocupados com você...
- Eu subi para o dormitório... – Harry respondeu e olhou para Gina. – Eu... estava com dor de cabeça... – não estava mentindo, afinal a sua dor na cicatriz era uma espécie de dor de cabeça, só que bem mais grave e perigosa.
Rony e Hermione se entreolharam, como se tivessem entendido algo, mas não disseram nada. Nesse instante, a passagem do retrato abriu e alguns elfos domésticos entraram, trazendo o jantar.
Naquela noite, ninguém falava muito. Todos os alunos estavam no salão comunal. Parecia que tinham feito um acordo de não se separarem. O silêncio só era quebrado por alguns comentários sussurrantes sobre o que tinha acontecido, mas eles logo se extinguiam. Todos pareciam muito assustados para falarem alguma coisa.
Ninguém comeu muito também quando o jantar fora trazido. E, desde aquele momento, a passagem do retrato não abriu mais e não se sabia de mais nada do que estava acontecendo.
Rony e Hermione pareciam muito misteriosos e, às vezes, cochichavam alguma coisa. Gina permaneceu todo o tempo abraçada a Harry, mas não disse absolutamente nada. Harry sabia que ela estava muito preocupada e amedrontada com o que ele poderia fazer; ela não sabia o que, mas provavelmente desconfiava depois do que viu nos jardins. O garoto se sentia culpado por fazê-la ficar assim, mas não tinha escolha.
As horas passaram devagar naquela noite. Tanto, que os alunos foram dormir mais cedo. Era quase nove horas da noite, quando todos, sem exceção, recolheram-se aos dormitórios. Harry subiu junto com Rony, Neville, Simmas e Dino, mas ninguém disse nada. Harry reparou que Rony estava muito pensativo.
Todos se deitaram e tentaram dormir, o que foi difícil. Harry já estava começando a ficar agoniado com isso. Ele tinha decidido sair essa noite, apesar de todas as proibições. Sabia que Voldemort estava em Hogwarts, a cicatriz não parara de doer por um instante sequer, e a cada minuto a palpitação nela aumentava. E tinha que sair logo, antes da meia-noite, se queria impedi-lo de roubar a profecia.
Passou-se algum tempo que Harry não soube precisar. Ouviu os roncos de Neville, este, pelo menos, já estava dormindo. Mas e os outros? Harry espiou e viu que Simmas e Dino, do outro lado do quarto estavam com os olhos fechados e respirando tranqüilos, também já deveriam ter pego no sono. Olhou, então, para o lado e viu que Rony estava totalmente coberto pelo lençol, deveria estar dormindo também.
Harry levantou na ponta dos pés para não produzir nenhum ruído. Trocou rapidamente o pijama por um suéter. Abriu o malão e retirou de lá de dentro o que precisava: o Mapa do Maroto, que guardou no bolso da calça, junto com a varinha. Pegou a Capa de Invisibilidade e já ia fechar o malão, quando lembrou de mais uma coisa; pegou, de dentro do malão, um colete, o mesmo que ganhara de Sirius no Natal. Aquilo poderia protegê-lo de vários feitiços e seria útil, com certeza. Vestiu o colete sobre o suéter e lembrou que Rony lhe disse uma vez que ele parecia um motoqueiro com aquilo. Desejou que aquele colete não fosse tão chamativo e no mesmo instante, o colete desapareceu, ou melhor, ficou invisível, porque Harry ainda o sentia sobre seu corpo. O garoto sorriu. Será que Sirius sabia dessa propriedade do colete? Não importava, precisava se apressar.
Olhou o relógio e viu que ele marcava dez horas. Tinha apenas duas horas para encontrar a profecia, só não sabia como o faria... Vestiu a capa e, na ponta dos pés, saiu do quarto e começou a descer as escadas. Estava bem em frente à porta que dava para os dormitórios femininos quando uma luz se acendeu em sua mente. Os Splooties! Spi, o Splooty salmão de Hermione, poderia ajudá-lo. Olhou para a porta à sua frente. Deveria entrar nos dormitórios femininos para pegar o bichinho? Se alguma garota acordasse e o visse seria adeus ao seu plano... Reparou que a porta estava entreaberta, como se alguém tivesse a esquecido assim. Abriu-a mais um pouco e ficou boquiaberto com o que viu aos seus pés; uma pequena bola de pêlos, que parecia não ter pés nem braços, de olhos amarelados e pelugem salmão. Era Spi!
O bichinho tentava sair pela fresta da porta, mas não conseguia. Harry estava impedindo sua passagem, só que, como estava envolto pela capa, a criatura não o viu. Spi parecia procurar alguma coisa e não desistia. Harry sentiu quando ele segurou a barra de sua capa e começou a puxá-la. A capa escorreu um pouco e o capuz caiu, fazendo com que a cabeça de Harry ficasse à vista. O bichinho o olhou e parecia que não era Harry o que ele procurava. Passou a puxar ainda mais a capa, tentando sair. Harry saiu da frente da porta e Spi começou a saltitar, descendo as escadas. O garoto o seguiu.
Quando chegou no salão comunal, Harry viu Spi saltitar mais ainda e se dirigir a uma poltrona, que estava virada de costas para Harry. Havia ainda outra poltrona ao lado desta, também virada de costas. Harry andou até elas, tentaria de todas as formas tentar convencer o bichinho a acompanhá-lo, era a sua única chance. Porém, quando ficou de frente para as poltronas, levou um susto com o que viu e deu um passo para trás, quase caindo. Não acreditou no que viu.
Rony e Hermione estavam sentados nas poltronas e o olhavam com expressões reprovadoras.
- O que vocês estão fazendo aqui? – Harry perguntou.
- Nós é que devíamos estar lhe fazendo essa pergunta, Harry! O que você está fazendo aqui? – Hermione questionou. Ela segurava Spi em seus braços e o bichinho parecia ter finalmente encontrado o que procurava. Ela completou, apontando para a capa do garoto, que estava escorrendo, fazendo com que uma parte dele estivesse visível e a outra não. – Desse jeito?
Harry tirou toda capa e jogou numa poltrona atrás de si. Cruzou os braços e disse:
- Vocês devem saber... Duvido que não tenham desconfiado...
- Você tem andado muito estranho ultimamente, Harry... O que aconteceu? – Rony perguntou, levantando-se.
- Não posso contar a vocês... – Harry se lembrou da promessa que fez a Dumbledore. – Eu realmente... não posso contar... não posso envolver vocês nisso...
- Você ia sair para ir atrás da Profª. Figg, não é? – Rony perguntou.
- Mais ou menos...
- Como assim, tem algo a mais nisso? O que você está procurando, Harry? Eu vi aquele dia em que você voltou no meio da noite... Provavelmente você pensou que eu estava dormindo, mas eu não estava! Eu vi quando você entrou no quarto, tirou a capa e guardou alguma coisa no malão... Parecia um papel, não sei direito...
Harry ficou boquiaberto. Então Rony estava acordado naquele dia em que ele saiu para ir à seção reservada da biblioteca... E tinha visto tudo!
- O que era aquilo, Harry?
- Eu acho que sei... Eu acho que sei o que Harry procura... – Hermione, que até agora estava quieta, disse. – Eu me lembro de quando você estava interessado naquela lenda da Profecia Sagrada, Harry... Eu até te mostrei "Hogwarts, uma história" por causa de uma aposta que eu e o Rony tínhamos feito sobre eu conseguir achar algo sobre a profecia... Por acaso, Harry, essa profecia não é uma lenda?
Harry abaixou os olhos. Hermione era mesmo uma garota muito esperta.
- Não posso falar nada a respeito... Não posso meter vocês nisso, é perigoso!
- É perigoso para você também, Harry! – Hermione disse aflita.
- Como vocês descobriram que eu estaria aqui, hoje? Eu fui tão descuidado assim?
- Gina nos contou. – Rony disse. – Hoje à tarde, nos jardins, ela nos disse mais ou menos o que tinha acontecido. Ela primeiro queria contar, estava preocupada com você e queria pedir nossa ajuda... Mas depois ela desistiu, ficou com medo que você ficasse chateado de ela ter nos contado...
- Mas nós a obrigamos a contar tudo. – Hermione completou. – E ligamos os fatos. Você teve mais um daqueles sonhos, não foi, Harry?
O garoto assentiu com a cabeça. Não poderia esconder mais nada deles, então disse a verdade:
- Voldemort está atrás da profecia. E eu tenho certeza de que ele está com a Sra. Figg, para ajudá-lo. – ele lembrou das criaturinhas coloridas que viu engaioladas no sonho. – Talvez... talvez ele a tenha seqüestrado para ajudá-lo a lidar com os Splooties... – olhou para Rony e Hermione que estavam surpresos com todas aquelas revelações. – Voldemort roubou os Splooties no dia do jogo de quadribol para que eles encontrassem a profecia! Mas os Splooties precisavam ser bem tratados para encontrarem alguma coisa e a última coisa que Voldemort sabe fazer no mundo é tratar bem algo ou alguém.
- E você quer impedir... Você-sabe-quem... – Hermione deduziu. – Hoje?
- Somente uma pessoa pode encontrar a profecia de cada vez. Ela só é revelada de quinze em quinze anos e a apenas uma pessoa. Se Voldemort a encontrar primeiro, todo o futuro pode ser mudado e aconteceriam coisas terríveis! E eu descobri que a profecia está protegida por um feitiço que só pode ser desfeito na meia-noite do dia em que a estação muda da primavera para o verão!
- E esse dia é hoje! – Rony disse.
- Exatamente! – Harry indicou o céu pela janela e a lua cheia brilhava no céu. – Além disso, deveria ser noite de lua cheia!
Rony e Hermione olharam para a lua e em seguida se entreolharam. Hermione começou a dizer:
- Mas nós não podemos te deixar sair, Harry... É perigoso... Você... – ela engoliu em seco. – Você pode não voltar...
- É um risco que tenho que correr... E vocês não vão me impedir!
Rony suspirou. Dirigiu-se até onde ficava a passagem do retrato e sacou a varinha, apontando-a para Harry. Disse, um pouco hesitante:
- Eu sinto muito mesmo, Harry, mas nós não podemos te deixar ir! É para o seu próprio bem!
- Eu não acredito que vocês estão fazendo isso! – Harry disse surpreso e incrédulo ao mesmo tempo. – Eu preciso ir! Não posso ficar de braços cruzados, vendo Voldemort abrir caminho para sua escalada ao poder! Não posso ficar sem fazer nada, sabendo que ele vai fazer mais coisas horríveis, sabendo que ele pode matar mais pessoas inocentes, como já fez muitas vezes! Eu tenho que impedi-lo! Tenho que pelo menos tentar!
- E o que você vai fazer, Harry? – Hermione perguntou, se levantando. Ela tinha lágrimas nos olhos e segurava Spi com força. – Você pode morrer! Nós vimos o que aconteceu com você ano passado e não queremos nunca mais ver você daquele jeito... Nós somos seus amigos, Harry... E não queremos que você... vá embora... – lágrimas começaram a escorrer pelo rosto da garota.
- Eu prometi a Gina que não ia deixar nada te acontecer, Harry. – Rony disse, ainda com a varinha apontada, mas Harry reparou que ele tremia. – E é por isso que eu vou fazer qualquer coisa, mas não vou te deixar ir!
Harry abaixou os olhos. Pegou a varinha entre as vestes e, com dor no coração, apontou-a para Rony.
- Então eu vou ter que lutar com vocês, porque eu não vou desistir... Eu sinto muito por vocês... E eu realmente sinto muito pela Gina... Eu vi o quanto ela está preocupada e acreditem, eu me sinto terrivelmente culpado... Mas eu não tenho escolha!
Harry sentiu uma lágrima escorrer pelo seu rosto e viu que uma também acabara de escorrer pela face de Rony. Os dois mantinham as varinhas apontadas um para o outro e iam começar a disparar feitiços, quando Hermione se colocou entre eles. Os dois garotos abaixaram as varinhas imediatamente. Hermione tinha largado Spi no chão e mantinha os braços abertos. Chorando, ela disse:
- Não façam isso, por favor! – ela respirou fundo e olhou Harry profundamente. – Harry, você precisa entender... Não podemos deixar... Você é... nossa responsabilidade...
Rony se assustou quando ela disse isso. Harry ficou confuso e perguntou:
- O que vocês querem dizer com isso? O que estão escondendo de mim?
Hermione e Rony se entreolharam e foi ela que começou a falar primeiro:
- Harry... Você se lembra daquele dia em que chegamos a Hogwarts e a Profª. McGonagall quis falar comigo e com o Rony a sós?
O garoto forçou um pouco a memória e logo lembrou. Naquele dia, assim que chegou ao castelo, foi direto falar com Dumbledore e foi nesse momento que descobriu que a Sra. Figg era uma bruxa e a nova professora de Defesa Contra as Artes das Trevas. Rony e Hermione tinham ficado para trás, para conversarem com a Profª. McGonagall e ela parecia bastante determinada a conversar com os dois em particular.
- É claro que me lembro... Mas ela não queria falar com vocês sobre terem sido nomeados monitores?
- É mais ou menos isso... – Hermione disse. – Mas havia algo mais...
- Como assim? – Harry começou a lembrar que Rony e Hermione durante todo o ano pareciam estar escondendo alguma coisa dele.
- É que... – Hermione respirou fundo. – A Profª. McGonagall disse que eu e o Rony fomos nomeados monitores... por nossas qualidades... mas também por um outro motivo... Ela disse que o diretor e os professores estavam tentando proteger ao máximo todos os alunos da escola devido à volta de Você-sabe-quem... Mas ela disse também que o diretor estava especialmente preocupado com você, Harry. Por causa de tudo que aconteceu no ano passado... E ele e os professores estavam fazendo de tudo para te proteger... E ela nos encarregou... por sermos seus melhores amigos e sempre estarmos próximos a você... de não deixar que você se metesse em encrencas e disse que, como monitores, nós teríamos mais autoridade para isso! Por tudo isso, Harry, é nossa responsabilidade não deixar você quebrar as regras... para o seu próprio bem!
Harry não sabia o que dizer. Então era por isso que às vezes eles agiam de maneira estranha... Lembrou de todas aquelas vezes em que eles quase se traíam... Hagrid uma vez disse que eles sabiam muito bem o que fazer, disse que eles deviam manter Harry longe de problemas... E Rony e Hermione ficaram sem saber o que fazer naquele momento, quase que Hagrid contara tudo... Agora entendia por que eles estavam fazendo aquilo, por que queriam impedi-lo.
- Harry... – Hermione disse angustiada e quase chorando de novo. – Por favor... Entenda que nós só fizemos isso porque nos preocupamos com você! Você não sabe como nos sentimos quando, ano passado, no fim do Torneio Tribruxo, te vimos daquele jeito... Você poderia ter... poderia ter morrido... Eu não quero nunca mais te ver daquela maneira e tenho certeza de que o Rony também não quer...
Harry olhou para o amigo e viu que ele tinha uma expressão triste no rosto, assim como Hermione. Balbuciando, Harry disse:
- Que bom que vocês gostam de mim dessa maneira... Vocês não sabem o quanto me faz bem saber disso... Vocês são meus melhores amigos... E se querem saber, vocês foram os meus primeiros amigos... – eles olharam para Harry surpresos. – Quando eu era criança, eu nunca tive nenhum amigo e... os primeiros foram vocês... E vocês são os melhores... mas... eu não posso desistir agora... eu tenho que ir... eu preciso...
Hermione abaixou a cabeça, derrotada. Rony colocou a mão no ombro da namorada e os dois se olharam. Fizeram um sinal com a cabeça, como que confirmando alguma coisa. Olharam para Harry decididos e o garoto chegou a ficar preocupado com o que eles poderiam fazer. Rony disse:
- Você consegue ser mais teimoso que a gente, né, Harry? Parece que não vamos mesmo conseguir te convencer... Então não temos escolha... Nós vamos com você!
- O quê? – Harry perguntou assustado. – Não... vocês não podem! É perigoso, não quero que vocês se machuquem, não quero que se envolvam!
- Nós vamos com você, Harry, e não tem jeito de desistirmos! – Hermione disse. – Nós sempre fizemos tudo juntos e não é agora que vamos deixar de fazer! Além disso, o que você faria sem a gente? Você precisa de nós! – ela sorriu e estendeu a mão.
Rony sorriu também e colocou a mão sobre a dela. Olhou para Harry e disse:
- Se você vai, Harry, nós é que não vamos perder essa aventura!
Harry olhou para os dois e suspirou. Não conseguiria fazê-los desistir... Aproximou-se deles e colocou a própria mão sobre a de Rony.
- Tudo bem... Então vamos os três! – Harry disse sorrindo também.
- Isso mesmo! – Hermione disse. – Somos os "Três Mosqueteiros"! Um por todos e todos por um!
- O que é isso? – Rony perguntou confuso.
- É uma história trouxa... – Harry explicou.
E os três jogaram as mãos para cima.
