Capítulo Trinta e Cinco – À procura da profecia
- Ai! Você deu uma cotovelada em mim, Harry! – Hermione reclamou.
- Desculpe...
- Rony! Cuidado para não pisar no Spi!
- Tô tentando, Mione, mas bem que ele poderia parar de ficar pulando desse jeito!
Harry, Rony e Hermione estavam andando pelos corredores do castelo, escondidos pela Capa de Invisibilidade, o que era um pouco difícil, já que a capa não conseguia encobrir os três direito. Às vezes paravam e tentavam escutar alguma coisa, mas ninguém cruzou o caminho deles.
Spi, o Splooty, ia na frente, indicando o caminho. Harry disse que o único jeito de encontrarem a profecia seria por meio do bichinho e foi fácil para Hermione convencê-lo a procurar pelo lugar onde a profecia estaria.
- Será que esse bichinho está indo mesmo pelo caminho certo? – Rony perguntou num sussurro.
- É claro que está! – Hermione disse. – Ele encontra qualquer coisa! Outro dia eu tinha perdido...
- Tudo bem, Mione, você conta essa história depois. – Rony a cortou. Ela emburrou a cara.
Eles continuaram a andar, sendo guiados por Spi. O bichinho ia saltitando pelo caminho e parou em frente a um gárgula de pedra, pulando feito louco.
- Tá vendo, Mione? Ele não encontrou nada! – Rony reclamou.
- Não é possível, Spi encontra qualquer coisa...
- E encontrou! – Harry sussurrou, reconhecendo aquilo. Era a passagem para a sala de Dumbledore, havia uma possibilidade muito grande da profecia estar ali. Sussurrou: - Caramelo explosivo!
O gárgula começou a se mover, deixando a passagem à mostra. Eles entraram e a passagem fechou novamente. Olharam para os lados e não viram ninguém. Tiraram a capa.
- Será que não é perigoso ficarmos à mostra? – Hermione perguntou. – Digo, será que não tem mesmo ninguém aqui?
Rony estava encantado demais com a escada circular para responder. Harry pegou o Mapa do Maroto entre as vestes e disse, tocando o mapa com a varinha:
- "Juro solenemente não fazer nada de bom". – o mapa apareceu no pergaminho. Rony e Hermione se aproximaram e olharam o mapa por cima do ombro de Harry. Não havia absolutamente nenhum pontinho naquele lugar, exceto os deles mesmos. Os pontinhos que marcavam os professores se moviam, mas estavam todos na sala da Profª. McGonagall.
- "Malfeito feito". – Harry disse e tocou o mapa com a varinha. Ele sumiu e Harry o guardou. – Parece que estamos seguros por enquanto... Não há ninguém aqui...
- Spi! – Hermione chamou, correndo atrás do Splooty que estava subindo a escada circular. – Volta aqui!
- Ele deve estar procurando pelo lugar onde está a profecia, vamos segui-lo! – Harry disse.
E fizeram isso. Spi saltitava os degraus da escada, sendo seguido pelos garotos. Logo, eles entraram na sala de Dumbledore, que estava vazia, a não ser por Fawkes. A fênix estava em seu poleiro, imponente.
- Uau! – Rony disse admirado, olhando à sua volta. – Que lugar é esse?
- É a sala de Dumbledore. – Harry explicou, se dirigindo depois à Fawkes e acariciando o animal. – Olá, Fawkes.
- Isso... – Hermione disse boquiaberta e apontando para Fawkes. – É uma fênix?
Harry confirmou. – É a fênix que pertence a Dumbledore.
- Ah, pelo menos ela eu já tinha visto! – Rony disse e explicou para Hermione. – Foi ela que nos ajudou a sair da Câmara Secreta, quando estávamos no segundo ano.
Hermione continuava impressionada com a fênix. Harry olhou o relógio, que marcava alguns minutos depois das onze horas.
- Estamos atrasados... Onde está o Spi?
Os garotos olharam e viram o bichinho saltitar em frente a uma porta, que ficava do lado direito daquela sala. Harry a reconheceu. Tinha entrado ali uma vez com Dumbledore, para conversar com ele. O garoto se aproximou dela e a empurrou. Estava aberta, como se alguém já tivesse entrado ali...
Eles entraram. Aquela era a sala onde os quatro grandes se reuniam, segundo Dumbledore. Era esta a sala que possuía os quadros dos fundadores de Hogwarts. Rony esbugalhou os olhos ao ver a riqueza daquela sala. Hermione quase gritou ao ver tantos livros. Harry estava mais interessado em observar Spi. O bichinho saltitava em frente ao quadro de Rowena Ravenclaw.
- Então tu viestes... – uma voz de mulher disse.
Harry levantou os olhos e viu que fora Rowena Ravenclaw que dissera isso. Ela tinha um sorriso enigmático no rosto. Harry reparou que ela falava de um modo estranho, talvez fosse porque ela, assim como os outros fundadores de Hogwarts, viveram em uma época muito antiga. Rony, ao ouvi-la, parou de observar a sala. Hermione parou de olhar os livros.
- Demorastes para chegar... – agora era Helga Huflepuff, de seu quadro, que falava.
- Quem são eles? – Rony perguntou impressionado e apontando os quadros.
- Você não os reconhece, Rony? – Hermione perguntou como se o censurasse. – São os quatro fundadores de Hogwarts... Godric Gryffindor, Salazar Slytherin, Rowena Ravenclaw e Helga Huflepuff...
- Hum... Gosto de ti... – Rowena Ravenclaw disse, dirigindo-se à Hermione. – És uma menina esperta... Poderias entrar facilmente na Corvinal...
- Eu sou da Grifinória... – Hermione disse muito corada. – Nós três somos...
- Ah... É uma lástima... – a fundadora da Corvinal disse. – Isso quer dizer que vós deveis ter outras qualidades mais fortes que a inteligência...
- Devem ser corajosos e valorosos! – Godric Gryffindor se manifestou. – Afinal, são da minha Casa...
- Devem ser perdedores... – Salazar Slytherin disse com desprezo. – Somente perdedores entram na Grifinória...
- Repita o que disseste, Slytherin! – Godric Gryffindor se enfureceu.
- Repito quantas vezes quiseres, Gryffindor! Tu és um perdedor!
- Será que vós não podeis parar de brigar por um instante sequer? – Helga Huflepuff os censurou. – Não enxergueis que estamos tratando de assuntos sérios aqui? – ela se voltou para os garotos, que estavam surpresos com tudo aquilo. – Vós viestes aqui pela Profecia Sagrada, estou correta?
Harry confirmou. – Sim, senhora.
- A Profecia Sagrada... – Godric Gryffindor disse chateado. – Esta fora a profecia que escondestes de nós, não é, Helga?
- Sabes muito bem o porquê disso, Godric... – ela respondeu. – Eu precisava me certificar de que o futuro não seria mudado... Todavia... Nesse momento... Talvez...
- Talvez todo o nosso sacrifício tenha sido em vão... – Rowena Ravenclaw completou.
- Ao menos disseram algo correto... – Salazar Slytherin disse friamente. – O meu herdeiro conseguirá a profecia antes de qualquer outro e mudará sim o futuro!
Os outros três grandes olharam Slytherin com raiva. Harry se lembrou de que Voldemort era o último herdeiro de Slytherin e disse desesperado:
- Quer dizer que Voldemort já achou a profecia?
Rowena Ravenclaw parecia querer explicar, porém Salazar Slytherin a interrompeu, olhando friamente e profundamente para Harry:
- Ele já está lá há muito tempo... E ele merece mais do que ninguém encontrar a profecia, muito mais do que ti, por exemplo, que tens o sangue sujo!
- Ei, espera aí! – Hermione decidiu se manifestar. – Harry é filho de bruxos e não de trouxas, ele não é...
- Bem se vê o porquê de não estares na Corvinal, menina tola... – Salazar Slytherin a interrompeu. – Não és esperta o suficiente!
Hermione ficou vermelha de raiva e Rony tomou as dores dela, perdendo totalmente o controle. Ele se posicionou na frente do quadro de Slytherin e, mais vermelho do que os cabelos, disse com raiva:
- Vê lá como é que fala com a minha namorada, cara! Tenha mais respeito!
- Tu és quem deve ter mais respeito, rapaz! – Salazar Slytherin disse furioso. – Eu sou um bruxo muito poderoso e...
- Você é apenas um quadro pendurado na parede! – Rony retrucou.
Slytherin ficou vermelho de raiva e Gryffindor começou a rir com gosto, dizendo entre gargalhadas:
- Só mesmo um grifinório para te dizer uma verdade dessas, hein, Slytherin? – e se dirigiu depois a Rony, que corou: - Gosto de ti, rapaz! És um verdadeiro membro da Grifinória!
- Chega dessas besteiras! – Rowena Ravenclaw os censurou e depois se voltou para Harry. – Realmente, a pessoa a quem tu se referistes já entrou, à procura da profecia.
- E a senhora vai abrir a passagem para nós entrarmos? – Harry perguntou ansioso.
Rowena Ravenclaw lançou um olhar interrogativo para Helga Huflepuff, que sorriu e disse:
- Deixe-os entrar, Rowena. O feitiço encarregar-se-á de revelar a profecia à pessoa certa.
- Se assim dizes, Helga... – Rowena Ravenclaw sorriu. – Os três podem entrar. E que a águia da Corvinal lhes acompanhe e conceda-lhes a inteligência necessária para alcançarem vossos objetivos!
- E que o texugo da Lufa-lufa esteja por perto para lhes ceder a paciência que precisareis! – Helga Huflepuff disse.
- E que a bravura que existe em vossos corações se expanda, com a ajuda do leão da Grifinória, para que enfrenteis os desafios! – Godric Gryffindor encorajou.
- Tereis sorte se conseguires retornar vivos! – Salazar Slytherin disse austeramente.
Novamente os outros três grandes o olharam com raiva. Godric Gryffindor disse:
- Não precisareis de uma cobra para ajudá-los. Possuis toda a astúcia necessária! – ele olhou profundamente para Harry e piscou.
O quadro de Rowena Ravenclaw começou a se mover e uma passagem surgiu. Os três garotos se aproximaram dela e viram um túnel que ia sempre para baixo. Eles se entreolharam e ouviram a voz de Helga Huflepuff dizer:
- Não preciseis ter medo... É seguro.
Harry se virou para os amigos e disse:
- Eu vou primeiro.
O garoto respirou fundo e pulou. Começou a escorregar por um cano que parecia não acabar mais. Era escuro e liso. Ouviu o barulho distante de Rony e Hermione deslizando lá atrás pelo túnel. O cano dava voltas e mais voltas, e ficava cada vez mais íngreme. Depois de muito tempo caindo, o cano começou a ficar um pouco mais reto, e ele conseguiu divisar, mais à frente, o fim dele. Quando o cano terminou, saiu voando dele e caiu com estrondo num chão duro de pedra.
Levantou e olhou à sua volta. Parecia estar em uma caverna, mas a escuridão tomava conta de tudo. Pegou a varinha e levantou-a na altura dos olhos, dizendo:
- Lumus!
A varinha acendeu, iluminando um pouco o lugar, que era mesmo uma caverna enorme. Harry a estava observando, quando ouviu um barulho e olhou para o cano. De dentro dele, saíram voando primeiro Hermione e depois Rony, e os dois caíram no chão de pedra como Harry tinha feito.
- Essa doeu! – Rony disse, levantando e massageando a parte que tinha esbarrado no chão. Hermione já tinha levantado e acendido sua própria varinha, sendo imitada por Rony. A garota segurava Spi em seus braços.
- Onde estamos? – ela perguntou.
- Parece uma caverna... – Harry disse.
- É enorme! – Rony comentou, levantando a cabeça para ver o teto.
Harry olhou o relógio. Onze e vinte. Precisavam se apressar.
- Precisamos ir rápido, já está chegando a hora!
Os dois amigos assentiram e eles começaram a andar. A caverna era mesmo muito grande e parecia não ter fim. Seguiam Spi, que não saltitava mais, parecia amedrontado.
Andaram muito até encontrarem uma parede sólida, onde tudo parecia acabar, mas era quase certo que não, pois Spi continuava a indicar aquele caminho como o certo.
- Como ultrapassaremos essa barreira de pedra? – Hermione perguntou.
Harry tocou a parede e tentou forçá-la. Inútil. Afastou-se e disse: - Não faço a mínima idéia, mas parece que é por aí mesmo que devemos ir... Pelo menos é o que Spi acha...
O bichinho continuava a indicar aquele lugar, desesperado. Ele pulou para o colo de Hermione quando a pedra da parede começou a se movimentar, o que não assustou apenas Spi, assustou também os garotos, que recuaram. A rocha tomou a forma de um rosto, que disse, mexendo a grande boca de pedra:
- Para passar, deverão responder à charada!
- E qual é? – Harry perguntou.
- Oito vezes oito é igual a sessenta e quatro. Esse é o número de casas que deverão percorrer. É preciso paciência para chegar ao fim. Os oito soldados protegem os nobres. Duas fortalezas os ajudam. Bravos corcéis estão ao lado dos presbíteros, que seguem uma direção especial. A Senhora é mais importante que o Senhor, mas não permita que ele caia, ou verá o seu fim!
- O que é isso? – Hermione perguntou sem entender. Era a primeira vez que Harry via a garota tão confusa.
- Eu não faço a mínima idéia... – Harry disse. – E você, Rony?
O amigo sorriu, um sorriso de vitória. Virou-se para Harry e Hermione, que estavam muito confusos.
- Vocês não vêem? É tão simples! Há tantas pistas!
- Eu não vejo nada, Rony... – Hermione disse.
- E você, Harry? Não percebe?
- Não, Rony...
O garoto sorriu. – Eu tenho certeza da resposta! – ele se aproximou do rosto de rocha e disse convicto:
- Isso é um jogo de xadrez!
O rosto de pedra sorriu e disse:
- Xeque-mate!
Magicamente, a rocha se desfez e a parede sumiu. Hermione correu para abraçar o namorado:
- Rony! Você é um gênio!
Eles se separaram e o garoto sorriu encabulado e corado. Harry deu um tapinha nas costas do amigo.
- Eu nem imaginei isso, Rony... Parabéns! Se não fosse você...
Rony abaixou os olhos para esconder a vermelhidão do rosto. Spi pulou do colo de Hermione e começou a andar. Harry, Rony e Hermione o seguiram. Andaram muito até o momento que Harry parou. Sentiu uma pontada na cicatriz. Os amigos correram para ajudá-lo.
- Harry, tudo bem? – Hermione perguntou preocupada.
- Eu acho... eu acho que tô bem... Ah!
O garoto ia levar a mão à cicatriz, mas antes que conseguisse tocá-la, a dor ficou tão forte que ele caiu de joelhos, gritando. Ouviu, como se pertencesse a lugar muito distante, as vozes dos amigos lhe chamando. Viu imagens em sua mente. Duas pessoas lutando. Mas uma delas estava desarmada. O outro lançou um feitiço muito forte e a pessoa que estava desarmada caiu no chão. Ouviu risadas... Risadas sem alegria... Risadas frias...
- Harry! – Rony balançava o amigo.
Ele abriu os olhos com dificuldade e viu os contornos difusos dos amigos. Piscou e conseguiu fazê-los entrar em foco. Ainda segurava a cicatriz. Sentiu algo escorrer pelos seus dedos. Hermione arregalou os olhos e balbuciou, aflita:
- Harry... A sua cicatriz...
O garoto tirou a mão da cicatriz e viu que a sua mão estava manchada de sangue. Como da outra vez, a cicatriz estava sangrando. Harry lembrou da outra circunstância em que isso tinha acontecido. No sonho, alguém tinha sido machucado... E agora vira as imagens de algo parecido... Levantou, ainda meio tonto pela dor e disse:
- Precisamos nos apressar!
- Mas, Harry... – Hermione tentou dizer.
- Alguém está em perigo, precisamos correr!
Os três, então, começaram a correr desesperadamente. Não seguiam mais Spi, o bichinho estava nos braços de Hermione agora. Eles correram muito até chegarem à entrada de uma sala muito grande. Ouviram gemidos vindos de lá de dentro. Entraram correndo e se assustaram ao verem quem estava no chão, sobre uma poça de sangue, de olhos fechados e respirando com dificuldade.
Viram o corpo inerte de Arabella Figg.
