Capítulo Trinta e Seis – "Olhe para dentro de si mesmo"

Os três estacaram, surpresos e assustados ao mesmo tempo. Foi Harry que se moveu primeiro e saiu correndo na direção da professora. Rony e Hermione o seguiram.

Harry se ajoelhou ao lado da professora e a tomou nos braços, levantando-a. Assim que fez isso, seus braços e mãos, além das vestes, se mancharam de sangue. A Sra. Figg quase não respirava.

- Sra. Figg! Sra. Figg! – o garoto a chamava tentando reanimá-la.

Rony e Hermione se ajoelharam ao lado de Harry. Hermione apontou a varinha para a professora e exclamou:

- Enervate!

Assim que a velha senhora foi atingida pelo feitiço, começou a abrir os olhos lentamente e com dificuldade. Piscou algumas vezes e suas pálpebras tremiam, como se ela estivesse fazendo muita força para mantê-las abertas. Seus lábios estremeciam e, num sussurro, ela chamou:

- Harry?

- Sim? – o garoto respondeu. – Sou eu mesmo, Sra. Figg...

- Você veio... É perigoso... Eu tinha medo que você viesse... Mas no fundo... eu sabia que você viria...

Harry não estava entendendo muito bem a atitude dela, talvez a professora estivesse delirando. O garoto colocou a mão sobre a testa dela e viu que fervia. Voltou-se para Rony e Hermione, dizendo:

- Vocês precisam levá-la daqui, ela precisa ser tratada!

- Não! – a Sra. Figg disse em um tom baixo, porém firme. – Não... Não se preocupe comigo...

O garoto se voltou para ela, tentando convencê-la:

- A senhora precisa ir, precisa ser cuidada! Está ferida!

- Agora não importa mais... – ela disse em um tom tristonho e olhou para Harry profundamente. – Eu só lamento... não poder te contar a verdade por mim mesma, olhando nos seus olhos, Harry... Tudo porque fui covarde... Porque tive medo...

Nem Harry e muito menos Rony ou Hermione entendiam o que ela estava tentando dizer. A velha senhora respirou fundo, como se buscasse forças para falar. Sussurrando, ela continuou:

- Eu sinto muito que você tenha que passar por tudo isso, Harry, mas é o seu destino... É a sua missão... Você precisa continuar... Precisa encontrar a profecia antes dele...

- Voldemort? – Harry perguntou, mas já sabia a resposta.

A professora assentiu. Respirou fundo mais uma vez e seus lábios tremiam mais do que nunca. Ela procurou pela mão de Harry e, quando a encontrou, apertou-a com força, uma força que ela parecia tirar do fundo do seu ser.

- Harry... – ela começou a falar. – Eu preciso te pedir uma coisa...

- O que a senhora quiser... – o garoto disse. Estranhamente, sentia que algo apertava seu peito, uma dor que já tinha sentido uma vez, mas não se lembrava quando. Doía olhar aquela senhora daquele jeito... Não sabia o porquê, mas doía.

- Eu preciso te pedir, Harry... Eu preciso te pedir... perdão...

- Por quê?

- Pelo jeito que eu te tratei... Por eu ter exigido tanto de você nas minhas aulas... Por eu ter te enganado toda a sua vida e você nunca ter sabido que eu era uma bruxa... Por... – ela sorriu levemente. - ...por eu nunca ter feito um bolo para você que não estivesse encruado...

Harry conseguiu sorrir. – Isso é besteira, não importa...

- Importa sim... Importa mais do que possa imaginar... E você vai entender mais tarde... Só... diga que... me perdoa... eu preciso ouvir...

- Eu... perdôo a senhora... – ele disse com um nó na garganta.

Ela sorriu fracamente. Fechou os olhos e depois os reabriu e uma lágrima escorreu pela face dela. Ela se aproximou de Harry com dificuldade e beijou-o com carinho na testa, nem se importando com o sangue que a sujava, ou com o cabelo suado dele que estava na frente da testa. Harry sentiu a palpitação na cicatriz melhorar. Ela se afastou dele e respirou fundo antes de murmurar:

- Você pode não me entender, mas eu te amo, Harry. Agora vá... Dói te dizer para fazer isso, mas eu não diria se não soubesse que é necessário... Tenha muito cuidado e mais uma coisa... – ela fez uma pausa e depois disse: - ...olhe para dentro de si mesmo.

Harry arregalou os olhos, já tinha ouvido essa frase antes. Voltou-se para Rony e Hermione e viu que os dois o olhavam apreensivos. Harry olhou novamente para a Sra. Figg e viu que ela tinha um olhar decidido.

- Rony... – Harry chamou o amigo. – Por favor, fique com ela... – disse isso e entregou o corpo da Sra. Figg para o amigo, que a segurou em seus braços.

Harry olhou para os amigos. Rony segurava a Sra. Figg nos braços e tinha uma expressão preocupada no rosto. Hermione tinha os olhos rasos de lágrimas e apertava Spi com força contra si.

- Por favor, cuidem dela. Eu preciso continuar e vocês não podem vir comigo... Eu tenho que fazer isso sozinho daqui pra frente...

Hermione soluçava e colocou Spi no chão, empurrando o bichinho, que parecia assustado. Ela disse, com a voz trêmula:

- Spi, vá com o Harry. Ajude-o a encontrar a Profecia Sagrada. – ela levantou os olhos para ver Harry. Aproximou-se dele e o abraçou com força. – Harry... tenha cuidado, por favor...

- Eu terei...

Ela se afastou dele e as lágrimas escorriam-lhe pelo rosto.

- Harry? – Rony chamou, e Harry olhou para ele. – Volta inteiro, tá? Eu... prometi à Gina que te traria inteiro de volta...

O amigo sorriu e Harry o imitou. Levantou e lançou um último olhar para a Sra. Figg. Ela parecia estar se forçando a manter os olhos abertos e o observava.

- Vamos, Spi. – Harry chamou e o bichinho começou a andar ao seu lado.

Harry, então, começou a correr sem olhar para trás e Spi quase não conseguia acompanhá-lo. Sentia um aperto no peito. Não sabia o porquê, mas seu coração doía muito. Não queria acreditar, mas algo o dizia que quando voltasse, se voltasse, sentiria a dor de uma grande perda.

A cicatriz tinha voltado a doer agora. A cada passo, a palpitação aumentava. Começava a ficar tão forte que Harry sentia que se abrisse a boca, iria vomitar. Colocou a ponta dos dedos sobre a cicatriz, mas sentiu que não sangrava. Mesmo com a dor, continuou a correr.

Olhou o relógio. Faltavam quinze minutos para a meia-noite. Talvez ainda chegasse a tempo... Pelo menos, era o que esperava...

Corria desesperado por um corredor de pedra agora que parecia ficar mais estreito a cada passo. Começou a ouvir o som de água correndo. Sentiu o ar à sua volta ficar mais úmido. Parou de correr quando chegou ao final do túnel de pedra. Olhou ao seu redor. O que viu foi uma enorme abertura na caverna. O teto era bem alto e estalactites pendiam do teto de rocha, escorrendo água por elas, a qual pingava insistentemente em um grande lago mais à frente. Nas paredes de rocha, a água também escorria, para depois desaguar no lago.

Spi estava parado, observando Harry atentamente com seus pequeninos olhos amarelos. Harry olhou para o bichinho e perguntou:

- É aqui, Spi?

Ele começou a saltitar e Harry entendeu isso como um "sim". O garoto começou, então, a caminhar em direção ao lago. O chão estava molhado, fazendo com que Harry pisasse na água fria, o que causava algum ruído. Assim que chegou na beira do lago, ele se ajoelhou e se inclinou um pouco para a frente, de modo que conseguiu ver o seu rosto refletido nas águas transparentes. Estava um pouco sujo e o cabelo estava mais desarrumado do que nunca, as várias mechas soltas estavam empapadas de suor. O rosto estava manchado do sangue que tinha saído da cicatriz.

Então, num relance, Harry pareceu ver seu reflexo na água piscar para ele e sorrir. Foi tão rápido, que ele nem viu direito. Logo, o reflexo tomou a expressão assustada do próprio Harry. Talvez tivesse imaginado...

Olhe para dentro de si mesmo...

Foi como se ele ouvisse a voz de alguém em sua cabeça dizendo essa mesma frase repetidamente.

Para si mesmo...

A voz continuava a repetir isso, conseguia ouvi-la dentro de sua cabeça. Sentiu-se um pouco tonto. Era a cicatriz. Colocou a mão sobre ela. Doía muito, como há muito tempo não sentia. Doía tanto que ele teve se segurar para não tombar.

Spi, nesse momento, correu para junto de Harry. O bichinho, trêmulo, pulou nos braços do garoto. Os pequenos olhos amarelados estavam arregalados, olhando fixamente para um ponto atrás de Harry, que ouviu o som de água sendo pisada, como se alguém estivesse caminhando sobre ela e se aproximando. Lentamente, ele se virou e viu alguém que já esperava encontrar.

Lord Voldemort.

O bruxo das trevas parou de andar assim que Harry se virou. Ele usava aquela mesma veste negra, da qual pendia um capuz. Aqueles mesmo olhos vermelhos, frios, o observavam agora, estreitando-se cada vez mais. O nariz, apenas duas fendas no centro do rosto branco giz. A boca sem lábios formava um sorriso vitorioso. Ele estava parado, com as mãos soltas, para baixo, a mão esquerda segurando a varinha, muito parecida com a varinha do próprio Harry.

O garoto começou a se levantar, lentamente, sempre olhando dentro dos olhos vermelhos do seu maior inimigo, que fazia o mesmo e não desviava o olhar do verde profundo dos olhos do garoto que conseguira lhe derrotar. Faíscas pareciam sair dos olhos de ambos e o ódio era o único sentimento que vibrava no ambiente. Um silêncio sepulcral caíra sobre eles, somente sendo interrompido pelo gotejar insistente da água que pendia das estalactites e caía no lago. Harry olhou de relance para a água do chão e viu a si mesmo refletido, mas não viu Voldemort, apesar dele estar ali, na sua frente, quando levantou os olhos.

Fora o pequeno Spi que quebrara o silêncio. O bichinho pulou do colo de Harry e, num surto de coragem, saltitou até um lugar atrás do bruxo das trevas. Harry e Voldemort o acompanharam com o olhar e viram a pequena criatura parar assim que chegou próximo a um monte de bichinhos peludos e coloridos, que estavam caídos, amontoados uns sobre os outros. Harry voltou seu olhar para Voldemort, que sorria, o mesmo sorriso sem alegria, apenas ódio. Entendendo o que tinha acontecido, Harry disse, com raiva na voz:

- Não precisava tê-los matado...

- Eles me irritaram... E é isso que eu faço com os que se atrevem a me irritar...

Voldemort olhou rapidamente para Spi e Harry teve receio de que fosse matá-lo também. O bruxo das trevas voltou novamente o olhar para Harry, dizendo:

- Vejo que você teve a mesma idéia que eu... Também usou um desses para chegar aqui... Não pensei que tivesse sobrado algum...

- Na verdade... – Harry disse com um tom de sarcasmo e ironia na voz. - ...foi você quem me deu essa idéia... quando os roubou no dia da partida de quadribol...

- É... aquilo foi mesmo muito providencial, afinal eu consegui realizar o meu intuito, que era roubar as criaturas; não tive nenhuma baixa entre os meus servos e de quebra consegui afastar aquele velho idiota e caduco do castelo... – ele sorriu.

- Então foi você que fez Dumbledore ser afastado do cargo...

Voldemort virou um pouco o rosto para os lados, num sinal de reprovação e disse, cínico:

- Tsk, tsk, tsk... Então você acha mesmo, Harry, que fui eu quem fez isso? Ah... Pois está redondamente enganado... O velho foi afastado por pura incompetência, eu só... dei uma mãozinha...

Harry sentiu o sangue subir e palpitar em suas veias ao ouvir o insulto a Dumbledore. Com uma fúria contida e uma certa selvageria, falou:

- Dumbledore não é incompetente. Ele é o maior bruxo desses tempos e você sabe disso... Você tem medo dele... Porque sabe que ele é o único capaz de te derrotar...

- Está enganado novamente. – Voldemort sibilou com ódio na voz. – Dumbledore não é capaz de me derrotar. E ele sabe disso. – Um brilho passou pelos seus olhos vermelhos, que parecerem tremer por um instante. – Não há ninguém que consiga me derrotar. E você, Harry Potter, entenderá o porquê, finalmente...

Ele disse essa última frase com mais cólera do que jamais tinha demonstrado até o momento. Levantou o braço que segurava a varinha, apontando-a diretamente para Harry, que ainda tentou alcançar a própria varinha dentro das vestes, mas não foi rápido o bastante.

- Crucio!

E pela segunda vez em sua vida, Harry sentiu como se facas em brasa penetrassem em sua pele, fazendo-a queimar tal qual as chamas de uma imensa fogueira, como se estivesse imerso nesse fogo. Sua cicatriz parecia que ia rachar a cabeça ao meio e todos os pontos de seu corpo formigavam como se estivessem sendo picados por milhares de agulhas pontiagudas. Tinha um único pensamento na cabeça: não gritar, não se ajoelhar, não se humilhar... Voldemort não tirava a pressão da varinha, como estivesse esperando ansiosamente pelo momento em que Harry gritaria, não suportando mais a dor. Porém, o garoto sentiu, com surpresa, que a dor começava a diminuir sensivelmente, mesmo que Voldemort ainda apontasse a varinha para ele. Com a dor diminuindo, mesmo que pouco, começava a poder raciocinar logicamente. Colocou a mão no meio das vestes, alcançando a varinha e, segurando-a com toda a força que conseguiu arrancar de dentro de si, apontou-a para Voldemort, que arregalou os olhos vermelhos de víbora. Em um sussurro rouco, Harry exclamou:

- Expelliarmus!

O feitiço não foi forte o bastante para desarmar Voldemort, porém o bruxo sentiu o impacto, cambaleou e foi obrigado a desviar a varinha, fazendo com que a Maldição Cruciatus parasse de ser conjurada.

Harry soltou todo o ar de seus pulmões pela boca e começou a puxar em seguida todo o ar que podia, como se finalmente tivesse conseguido respirar. Colocou a mão no peito, que subia e descia, como se tivesse feito um grande esforço, e tinha feito. O garoto cambaleou para o lado, dando alguns passos para trás. Sentia o corpo mole e dolorido. Tremia. Reparou que Voldemort já estava começando a se recuperar do feitiço de desarme e já se aprontava para lançar uma nova maldição; a fúria e a surpresa estampados no rosto viperino.

O garoto rapidamente olhou para os lados, como se procurasse uma solução e o que viu foi apenas algumas pedras num canto próximo ao bruxo das trevas. Sem saber o que fazia, num gesto desesperado, Harry apontou a própria varinha para as pedras e gritou:

- Waddiwasi!

Imediatamente, as pedras começaram a voar ligeiras contra Voldemort que, espantado, conjurou rapidamente uma barreira mágica, que não foi rápida o suficiente, pois, apesar da maioria das pedras terem sido repelidas, apenas uma delas, que era muito pontiaguda, acertou o rosto do bruxo, abrindo um corte feio, que sangrou, manchando seu rosto pálido de vermelho.

Aquilo fora o estopim para Voldemort, que ficou mais do que furioso. Ele passou as costas da mão direita no rosto, manchando-a também de sangue e Harry viu seus olhos vermelhos queimarem de ódio, quando gritou:

- Seu pirralho petulante! – e apontou a varinha. - Estupefaça!

Harry foi atingido em cheio pelo feitiço e, ao invés de ficar atordoado como deveria, foi lançado para trás, batendo violentamente em uma rocha pontiaguda da parede. Sentiu a ponta dela penetrar em sua carne, na altura do antebraço esquerdo, e suas vestes ficaram empapadas com o sangue quente que jorrava do corte.

O garoto não conseguiu reprimir uma exclamação de dor, mas viu Voldemort, com a varinha apontada, pronto para lançar mais um feitiço e desviou para o lado, arrancando com força o braço da pedra, o que fez o corte abrir bem mais, porém conseguiu se desviar da maldição do bruxo, que atingiu exatamente a rocha onde Harry estava anteriormente, despedaçando-a em vários pedaços que voaram em todas direções. Voldemort conjurou novamente a barreira para não ser atingido, entretanto, Harry não sabia o que fazer e conjurou o primeiro feitiço que lhe veio à mente:

- Impedimenta!

Por incrível que parecesse para Harry, alguns estilhaços realmente foram parados, mas outros não foram, e um deles roçou o lado direito do rosto do garoto, abrindo mais um corte, que escorreu sangue.

A fumaça que tinha se formado anteriormente se dissipou, e Harry conseguiu divisar Voldemort, ainda com a varinha apontada, gritar:

- Serpensortia!

Uma cobra começou a sair da varinha de Voldemort, e Harry se lembrou imediatamente do Clube dos Duelos, que tinha ocorrido três anos antes, quando Draco Malfoy conjurara esse mesmo encantamento. Contudo, a cobra que saiu da varinha de Voldemort era imensamente maior do que a que saíra da varinha de Malfoy. Essa cobra se assemelhava muito mais a um basilisco do que a uma cobra normal; devia medir uns dois metros e meio de largura e uns seis de comprimento. A diferença dela para um basilisco era que Harry podia olhar em seus olhos, o que não acontecia com o outro animal. A cobra começou a sibilar, farejando, e Harry entendeu o que ela quis dizer:

- Sangue... Matar... Cheiro de sangue...

- Mate-o! – Voldemort gritou na língua de cobra, que Harry entendeu perfeitamente.

A cobra começou a se movimentar na direção de Harry, com as presas à mostra. Harry ainda tentava, em vão, falar com ela na língua das cobras, mas Voldemort ria, dizendo que era inútil, ela só obedeceria a ele mesmo. Com a imensa boca aberta, ela veio na direção de Harry, que se jogou de um lado, desviando, e ela bateu com toda a força na rocha da parede. Harry aproveitou o momento e gritou:

- Vipera Evanesca!

A cobra ficou um pouco atordoada e diminuiu um pouco de tamanho, mas não desapareceu, como era para acontecer. Ela girava a cabeça de um lado para outro, farejando.

- Não adianta, você não vai conseguir fazê-la desaparecer, ela é muito forte! – Voldemort gritou, divertindo-se com o desespero do garoto. Voltando a falar na língua das cobras, o bruxo gritou: - Mate-o, ele está na sua frente!

Ela, obedecendo à ordem, abriu a bocarra vindo na direção de Harry, que teve uma idéia louca e ousada ao mesmo tempo. Apontou a varinha para a cobra e gritou:

- Serpensortia!

- O quê? – Voldemort gritou boquiaberto.

Harry sentiu a varinha vibrar em seus dedos e queimar, mas continuou segurando-a firme, como se daquilo dependesse sua vida. Uma cobra começou a sair da ponta da varinha, enorme, maior até do que a cobra que Voldemort tinha conjurado. Assim que a cobra apareceu por completo, Harry gritou para ela, utilizando o seu dom da ofidioglossia:

- Acabe com a outra cobra!

Ela o obedeceu e as duas víboras se embrenharam em uma luta violenta e sangrenta. Elas estavam se aproximando do lugar onde estava Voldemort, e Harry o ouviu exclamar:

- Finite Incantatem!

Houve uma explosão e formou-se muita fumaça, uma fumaça escura e irritante aos sentidos. Harry teve que colocar o braço na frente do rosto, protegendo-o com as vestes daquela fumaça venenosa. Sentiu os olhos lacrimejarem e as narinas ficarem secas, fazendo-o tossir violentamente. Fechou os olhos e, quando os reabriu, viu que a fumaça estava se dissipando e o contorno de Voldemort no meio dela, se aproximando.

Harry ia apontar a varinha para ele, mas não conseguiu se mover, estava completamente paralisado. Viu os olhos vermelhos do Lord das Trevas brilharem no meio daquela fumaça escura, como uma fera selvagem à procura da caça no meio da escuridão da noite. Ele os mantinha fixos em Harry, estreitando-os cada vez mais e quanto mais o fazia, mais a cicatriz do garoto, assim como todo o seu corpo, doíam intensamente, como se estivesse novamente sendo atingido pela Maldição Cruciatus, só que mais forte dessa vez. Nem gritar Harry conseguiria, pois não podia falar.

- Agora, Harry Potter, você irá provar do poder do verdadeiro herdeiro de Slytherin! – Voldemort gritou, irrompendo toda a sua raiva e seu ódio.

Ele apontou a varinha para o peito de Harry, a fúria queimando em seus olhos vermelhos, dando a real impressão da insanidade e da obsessão do bruxo.

- Avada...

Harry sentiu que era seu fim, dessa vez não escaparia vivo. Respirou fundo, fechou os olhos e pensou em todas as pessoas que amava... seus pais... seus amigos, Rony e Hermione... Gina... ah... não queria que ela chorasse... Sirius, que tinha como a um pai... Hagrid... lembrou da Sra. Figg lhe pedindo para que impedisse Voldemort... Dumbledore, que confiara tanto nele... não conseguira corresponder à sua confiança...

- ...Ke...

Tudo passava lentamente, como um filme em câmara lenta. Iria morrer, Voldemort finalmente conseguiria o seu intuito, finalmente conseguiria terminar o que começara quatorze anos antes...

- ...davr...

Não! Uma voz dentro dele gritou. Não pode desistir, não agora! Não depois de tudo! Não desista! Lute!

Foi como se acordasse de um devaneio que lhe enchera de novas forças. Harry abriu seus olhos verdes vivos e os arregalou, olhando para Voldemort com o único intuito de fazê-lo parar, de impedi-lo. O bruxo estava com a boca ainda aberta, ia falar a última letra das palavras da Maldição da Morte, a ponta da varinha estava verde, pronta para soltar o feitiço...