Capítulo Trinta e Sete – O Espelho da Verdade e o Portal dos Tempos

Uma luz muito forte irrompeu de dentro do lago, iluminando toda a caverna. Harry ouviu o barulho baixo do alarme de seu próprio relógio, avisando que era meia-noite em ponto. Voldemort arregalou os olhos e Harry chegou a pensar que o bruxo também estivesse paralisado, como ele mesmo alguns segundos antes, pois agora já sentia que podia se mover se quisesse, porém a luz cintilante que penetrava no lugar o hipnotizou e ele não conseguia fazer nada a não ser observá-la.

As águas do lago se tornaram turbulentas e, impetuosamente, explodiram, espirrando água para todos os lados. A luz irradiava mais forte agora e Harry viu, flutuando sobre a água, o vulto de uma pessoa, que se parecia muito com alguém, só que não se lembrava quem...

O vulto brilhava e levantou a mão direita, apontando-a diretamente para onde estavam Harry e Voldemort. Uma luz saiu da palma da mão do vulto e acertou em cheio Voldemort, que voou para o outro lado da caverna e bateu com força contra a parede de rocha. Ele caiu, escorregando pela rocha até chegar no chão.

Harry olhou para o vulto, que ainda flutuava sobre a água. Não podia ver seu rosto, mas o estava reconhecendo... Parecia... se parecia muito com... seu pai! Tiago Potter!

Ele, então, novamente levantou a palma da mão brilhante e a apontou para Voldemort, que levantara a cabeça e olhara diretamente para o vulto sobre as águas. O bruxo das trevas arregalou os olhos, imensamente surpreso ao ver o rosto do vulto, como se o tivesse reconhecido.

- Você...

O vulto soltou uma risada baixa ao ver a surpresa estampada no rosto de Voldemort. Com uma voz que Harry reconheceu, mas não pôde acreditar de quem era, o vulto disse:

- Você não tem permissão para ver a profecia. Somente uma pessoa poderá vê-la e essa pessoa já foi escolhida através do Espelho da Verdade. Desapareça!

Assim que ele disse isso, uma luz forte e brilhante irrompeu de sua mão, atingindo Voldemort, que gritou como se sentisse muita dor e sumiu no ar, como se desaparatasse.

Harry ficou parado onde estava, não acreditando no que tinha acabado de ver. Virou lentamente o rosto para ver o vulto, que agora examinava as próprias mãos, com surpresa. Com aquela mesma voz conhecida, ele disse:

- Poderes interessantes...

- Quem... quem é você? – Harry se atreveu a perguntar.

O vulto se virou para encará-lo e Harry teve a confirmação do que pensara quando ouviu a voz. Reconheceu imediatamente o rosto de quem lhe olhava. Não era seu pai, como tinha pensado no começo, mas sim uma pessoa muito parecida com Tiago Potter.

Aquele "vulto" que estava flutuando sobre as águas do lago era ninguém mais, ninguém menos que...

Ele mesmo. Harry Potter.

Eram seus traços... Os cabelos negros, rebeldes... A pele branca... O corpo magro... A cicatriz em forma de raio na testa... Os óculos redondos na frente dos... olhos verdes vivos... Era ele! Era ele mesmo, na sua frente!

- Surpreso? – Harry ouviu sua própria voz, mas não era ele quem estava falando, era o outro.

- Como...? Quem... você é? – agora era o Harry mesmo quem falava.

- Não se assuste, eu posso parecer você, mas não sou você...

- Então... quem?

- Eu sou o feitiço que guarda a Profecia Sagrada. Rowena Ravenclaw me batizou como "O Espelho da Verdade", porque eu sou o único que posso dizer quem é merecedor de encontrar a profecia. Eu reflito a imagem daqueles que são escolhidos para verem a profecia.

Harry não estava entendendo absolutamente nada. Sua cabeça era uma grande confusão de pensamentos que não se encaixavam. Lembrou do que tinha lido anteriormente sobre a profecia... lembrou que havia mesmo um feitiço que protegia a profecia, mas nunca imaginara que era algo assim...

O outro Harry sorriu, percebendo a confusão do verdadeiro Harry e disse:

- Aproxime-se, por favor.

Sem saber o porquê, Harry o obedeceu, como se suas pernas tivessem vontade própria. Andava com um pouco de dificuldade devido a todos os ferimentos de seu corpo. Quando ficou de frente para o outro Harry, sentiu a luz que ele emanava: uma luz quente e confortável que chegava a ser acalentadora.

- Venha comigo que eu lhe mostrarei tudo... – o outro Harry disse, estendendo a mão.

Harry olhou para a mão estendida e pensou duas vezes se deveria aceitá-la ou não. O outro Harry percebeu, pois sorriu e disse:

- Não precisa temer nada. Confie em mim. Olhe para dentro de si mesmo e para si mesmo.

- Essa frase! – Harry exclamou e se lembrou daquela voz que tinha ouvido quando se olhou no lago. Aquela voz... tinha soado como a sua própria voz...

- Você já deve ter ouvido antes, não é? Era eu te dizendo o que fazer... – o outro Harry sorriu, a mão continuava estendida. – Confie em mim.

Harry olhou para a mão estendida do seu outro eu, ou seja lá quem fosse. Estendeu a própria mão, que estava suja e manchada de sangue e apertou a do outro, que era branca e limpa. Nesse instante, sentiu algo quente e tranqüilizador percorrer seu corpo, fazendo-o esquecer de todas as dores que lhe afligiam.

Começou a flutuar e, ainda de frente para o seu outro eu e apertando a mão dele, viu que estava sobre as águas do lago.

- Prepare-se para a viagem. – o outro Harry disse.

A água do lago espirrou novamente para todos os lados e os envolveu. Harry sentiu aquele mesmo puxão no umbigo, igual a quando usava uma chave de portal. Tudo ao redor deles brilhava intensamente e ele teve que fechar os olhos, pois a luz ofuscava-os. Ouvia o barulho da água jorrando. Depois de alguns segundos, sentiu um baque e o chão aos seus pés. Abriu os olhos novamente e viu seu outro eu na sua frente, sorrindo. Soltaram as mãos e o outro Harry disse, abrindo os braços, como a mostrar tudo ao seu redor:

- Bem vindo, Harry Potter, ao Portal dos Tempos!

Harry olhou ao seu redor, boquiaberto com o que via. Estava em uma sala muito grande e rica, mas que não era decorada com nada. A sala tinha a forma de um triângulo e, em cada parede, havia um espelho diferente. Ao redor de cada espelho, sendo que os três eram tão grandes que chegavam ao teto, havia uma moldura, mas não eram molduras comuns; todas elas eram chamas esverdeadas que queimavam sem parar. E cada chama tinha uma tonalidade verde diferente, do mais claro, para o mais escuro.

- O que tudo isso significa? – Harry perguntou, se dirigindo ao seu outro eu.

- Vou lhe explicar. Harry Potter, este é o Portal dos Tempos. E eu sou o guardião dele. Sou o Espelho da Verdade. Rowena Ravenclaw criou a mim e ao Portal dos Tempos para proteger a Profecia Sagrada. A minha função é encontrar aqueles que são merecedores de verem a profecia. Isso porque muitos bruxos têm esse merecimento. Eu sozinho não tenho forma definida. Assumo a forma daquele a quem devo encontrar. Por isso, eu assumi a sua forma, porque dessa vez você foi o escolhido para ver a profecia.

Harry tentava absorver todas aquelas informações enquanto o outro falava e prestava o máximo de atenção às suas palavras.

- Desde a época em que fui criado, até os dias de hoje, passaram-se mais de mil anos... Durante todo esse tempo, a profecia foi vista por inúmeros bruxos merecedores, mas eles nunca disseram isso a ninguém, pois não têm o direito de interferirem no rumo da história. Para que eu, o feitiço, pudesse continuar vivo, foi preciso que eu tomasse a forma de todos esses bruxos, pois tomar a forma deles me revigora e me mantém ativo. O mago Merlin foi um desses bruxos... Houve muitos outros ao longo desses mil anos e, nesse século, houve apenas dois bruxos que tiveram esse merecimento.

- E eu posso saber quem são eles? – Harry perguntou.

- Sim. Você os conhece. Estou falando com um deles agora mesmo.

- Eu?

- Exatamente.

- E o outro?

- O nome dele é Alvo Dumbledore.

- O quê? – Harry gritou espantado. – Alvo Dumbledore?

- Isso mesmo. – o outro sorriu. – Ele viu a profecia quinze anos atrás.

Agora sim que Harry estava definitivamente confuso. Sua cabeça rodava devido à avalanche de informações que recebia. Não era possível... Ou melhor, era possível sim... Dumbledore sempre parecia saber de tudo...

- Reparei que se surpreendeu... – o Espelho da Verdade disse.

- E como não poderia? Alvo Dumbledore... Ele é o diretor da minha escola... Hogwarts...

- Eu sei disso. E esse foi um dos motivos para ele ter sido escolhido... Já fazia muito tempo que ninguém via a profecia. Nesse século, não tinha aparecido ninguém, até que ele veio. Eu já estava fraco devido a todo o tempo que fiquei sem me revigorar. E ele apareceu e concordou em me dar mais vigor do que geralmente eu tiro dos bruxos que assumo a forma...

- Como assim?

- Cada vez que eu tomo a forma de alguém, eu tiro um pouco da energia desse alguém. Só que eu não tiro muito, dependendo da situação. Você, por exemplo. Eu não preciso tirar muito da sua energia e não vou mesmo, nem que quisesse ou precisasse. Apesar de você ter muita energia vital, eu não posso tirar muito dela. Não tenho permissão.

- E quanto de energia você tirou de Alvo Dumbledore?

- Digamos que imensamente mais do que eu tirarei de você.

- E o que acontece quando se tira muita energia?

- A pessoa envelhece. Alvo Dumbledore envelheceu muito depois do encontro que teve comigo. Mas ele é, além de um homem bondoso, um homem esperto. Ele trocou sua energia por, como poderei dizer... informações importantes.

Harry ia perguntar uma coisa, mas o outro pareceu adivinhar seus pensamentos.

- Você não pode saber quais são essas informações.

- Entendo... – Harry abaixou a cabeça, um pouco envergonhado. Levantou a cabeça e se encheu de coragem para perguntar:

- Por que eu fui escolhido?

- Isso... eu não posso te dizer. Eu nunca sei quem serão os escolhidos até que me encontre com eles. Eu só sei quem eles são assim que se olham nas águas do lago... porque o lago, sou eu, o Espelho da Verdade. Eu só soube que você era o escolhido quando te vi refletido no lago, então eu pisquei para você e sorri. E também te falei aquelas palavras, já com a sua voz, pois assim que você foi refletido nas águas do lago, eu me transformei em você. Qualquer um que olhasse no lago e não fosse o escolhido, não veria nada, nem o seu reflexo...

Harry subitamente se lembrou de algo que não tinha levado em consideração quando aconteceu.

- As águas do lago não refletiram a imagem de Voldemort!

O Espelho da Verdade sorriu.

- É porque ele não era o escolhido... As águas, naquele momento, só refletiriam a sua imagem e a de mais ninguém...

Harry assentiu com a cabeça e olhou ao seu redor. Viu novamente os espelhos e perguntou:

- O que são esses espelhos?

- Essa sala é o Portal dos Tempos. Cada um desses espelhos... – ele fez um gesto indicando-os. - ...leva a um desses três tempos: o passado... – ele indicou o espelho com as chamas verdes mais escuras. - ...o presente, que é por onde viemos... – ele mostrou o espelho com as chamas verdes de uma tonalidade que ficava entre o claro e o escuro. – ...e, por último, o futuro. – ele apontou para o das chamas verdes claras.

- Por que a mudança das tonalidades das chamas? – Harry perguntou.

- O passado é o mais escuro, pois é o mais sombrio de todos, quando todos os problemas começaram... O presente não é nem muito escuro e nem muito claro, pois é um período de transição, onde qualquer escolha faz a diferença... E o futuro é o mais claro de todos, pois há sempre a esperança de que o amanhã seja melhor que o hoje...

Harry estava maravilhado com tudo aquilo. Nunca pensara que pudesse ver algo assim, mesmo sabendo que no mundo da magia, nada era impossível. Olhou para o Espelho da Verdade e perguntou:

- E para onde nós vamos?

- Para o passado. Somente lá, entenderemos o presente e o futuro...

Ele estendeu novamente sua mão. Harry a apertou e, juntos, cruzaram o Espelho do Passado.