Capítulo Trinta e Oito – Viagem ao passado e ao futuro

Harry fechou os olhos durante a viagem, que foi bem parecida com a anterior. Assim que os reabriu, viu que estava em um quarto grande, ricamente decorado com móveis antigos. A cama, no centro do quarto, possuía cortinas à sua volta e parecia como uma das camas de princesas das histórias infantis trouxas. Além disso, havia uma estante cheia de livros na parede oposta de onde estavam Harry e o Espelho da Verdade. Eles estavam próximos ao que parecia ser a porta, mas Harry notou que não havia uma maçaneta e muito menos fechadura nela.

Havia alguém sentado em uma escrivaninha. Harry observou a pessoa e viu que era uma mulher de um pouco mais de quarenta anos de idade; não conseguia precisar. Ela trajava um vestido muito longo e rodado, amarelo ouro, típico de épocas passadas. Estava pensativa, olhando para a grande janela à sua frente, apoiando a cabeça nas duas mãos.

- Estamos na época posterior à fundação da Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts. – o Espelho da Verdade, que estava do lado de Harry, informou. – Na verdade, estamos exatamente quinze anos depois da fundação. Não se preocupe porque ninguém nos verá aqui, somos meros observadores. Reconhece aquela bruxa? – ele perguntou, apontando para a bruxa sentada à escrivaninha.

Harry olhou mais atentamente para ela e lembrou de um quadro pendurado na parede de uma sala. O quadro de Helga Huflepuff.

- Ela é... Helga Huflepuff? – Harry perguntou.

O Espelho da Verdade sorriu e acenou afirmativamente com a cabeça. Depois, tanto ele, como Harry, começaram a observar a fundadora da Casa Lufa-lufa. Ela tinha parado de fitar o nada e estava procurando alguma coisa nas gavetas da escrivaninha. Depois de abrir algumas gavetas, ela achou o que queria: uma folha de pergaminho, uma pena e um tinteiro. Ela abriu o pergaminho sobre a escrivaninha, abriu o tinteiro e molhou a ponta da pena. Parou por alguns instantes, pensando, e depois se voltou para o pergaminho. Começou a rabiscá-lo, mas não parecia estar escrevendo... parecia estar... desenhando...

- Helga Huflepuff desenhava? – Harry perguntou.

- Sim. E muito bem, diga-se de passagem. Foi ela que desenhou o brasão de Hogwarts.

- Eu não sabia disso...

- Poucos livros dizem essas coisas... – o Espelho da Verdade lamentou.

- E... o que ela está desenhando?

- Ela ainda não sabe, mas está retratando o herdeiro de Gryffindor e Slytherin.

- É mesmo? – Harry perguntou surpreso. – E eu vou poder ver esse desenho?

- Não. – ele fora curto e grosso. – Pouquíssimos bruxos viram esse retrato. Que eu me lembre... acho que foram somente... ah, é claro, apenas uma pessoa o viu, além, é óbvio, de Helga Huflepuff.

Nesse instante alguém gritou do outro lado do que parecia ser a porta:

- Helga? Posso entrar? – era uma voz de mulher.

Helga Huflepuff parou imediatamente de desenhar e engoliu em seco, assustada. Guardou o pergaminho rapidamente em uma gaveta qualquer e disse, com a voz um pouco trêmula:

- Entre, Rowena!

O que parecia ser a porta abriu, mas ao invés de abrir como uma porta comum, ela se desfez magicamente, desaparecendo. A mulher que estava do outro lado entrou e, depois disso, a porta se refez por mágica. A bruxa que tinha entrado também aparentava ter a mesma idade de Helga Huflepuff, porém era muito mais bonita. Trajava um belo vestido rodado azul escuro. Ela tinha olhos bondosos, porém decididos e perspicazes, diferente de Helga Huflepuff, que tinha os olhos caídos e tristes.

- Acho que não preciso te dizer quem é essa bruxa, não é? – o Espelho da Verdade disse com um grande sorriso estampado no rosto. – Foi ela que me criou.

- Ela é Rowena Ravenclaw, fundadora da Casa Corvinal. – Harry afirmou e o outro confirmou com a cabeça, sem tirar os olhos de sua criadora.

Rowena Ravenclaw cruzou o quarto e parou em frente à Helga Huflepuff. Sorrindo, perguntou:

- O que andas a fazer, Helga?

- Eu? – Helga Huflepuff parecia nervosa com aquela situação. – Eu... só... estava pensando... na vida...

- Compreendo... No entanto, enquanto tu pensas na vida, minha amiga, Godric e Slytherin nos convocam para uma reunião na sala secreta.

- Ah! Certo... então, vamos?

Rowena Ravenclaw concordou e completou:

- Eles estão a nos esperar.

As duas, então, saíram. Harry perguntou para o Espelho da Verdade:

- Nós vamos atrás delas?

- Não. Nós vamos alguns dias à frente no tempo.

O Espelho da Verdade estalou os dedos e o quarto se dissipou. Depois, se formou novamente. Era o mesmo quarto onde estavam antes, mas provavelmente alguns dias depois.

Harry olhou pela janela. Era noite e o quarto estava escuro, sendo iluminado apenas pela luz da lua cheia, que penetrava no ambiente pela janela aberta. A cama estava sendo ocupada por alguém, e Harry viu que era Helga Huflepuff. Ela se revirava na cama, como se não conseguisse dormir. Abriu os olhos e sentou na beirada da cama, colocando a cabeça entre as mãos, os longos cabelos caindo pelo seu rosto. Perguntou a si mesma, com um tom de voz desesperado:

- O que é isso? O que são essas imagens que aparecem na minha mente? O que são todas essas frases que se formam na minha cabeça, como um turbilhão de águas de um rio?

Ela levantou a cabeça e olhou para a escrivaninha. Levantou da cama e se dirigiu até o lugar. Havia um pergaminho em branco sobre a escrivaninha. A pena estava ao lado dele, assim como o tinteiro. Ela sentou na cadeira, pegou na pena e molhou-a na tinta. Fechou os olhos e, quando os abriu novamente, havia algo diferente neles, um brilho estranho. Ela começou a escrever febrilmente, como se fosse a última coisa que tinha para fazer na vida, como se sua vida dependesse daquilo. Só parava para molhar a pena. Escrevia sem parar.

- Ela... parece estar em uma espécie de transe... – Harry comentou.

- E está mesmo. – o Espelho da Verdade confirmou. – Adivinhos somente conseguem profetizar algo certo quando estão sob algum tipo de transe...

- Você quer dizer que ela está...

Nesse instante ela parou de escrever e fechou novamente os olhos, para reabri-los depois. Eles voltaram a ter o mesmo brilho tristonho. Ela levantou o pergaminho na altura dos olhos, lendo-o. A cada linha, a cada palavra, ela parecia se assustar mais e mais. Quando finalmente terminou, perguntou, assustada:

- O que é isso?

Ao lado de Harry, o Espelho da Verdade afirmou:

- Ela acabou de escrever a Profecia Sagrada.

Ele, depois de dizer isso, estalou novamente os dedos e o quarto se dissipou. O que se formou a seguir foi uma sala conhecida para Harry, a sala dos quatro grandes, que ficava ao lado da sala de Dumbledore, ou melhor, ficava ao lado da sala do diretor, já que nessa época Dumbledore nem era nascido.

Sentadas em um dos sofás, estavam Helga Huflepuff e Rowena Ravenclaw. A primeira tremia, parecia mais nervosa que o habitual, enquanto a outra tentava acalmá-la.

- Tu tens certeza de que não queres me falar o que houve contigo, Helga? – Rowena Ravenclaw perguntou, preocupada.

- Sim, Rowena. Perdoe-me, mas prefiro esperar por Godric e Slytherin, para contar a ti e a eles.

- Se preferes assim, respeitar-te-ei.

A porta da sala abriu. Por ela entraram Godric Gryffindor e Salazar Slytherin. Eles discutiam acaloradamente alguma coisa. Gryffindor era um homem alto e robusto, suas vestes eram vermelhas vivas. Já Slytherin era um homem um tanto franzino e sombrio, com olhos misteriosos e frios, trajava uma veste verde escuro.

- Eu só espero que não seja nenhuma tolice, Huflepuff. – Slytherin disse com selvageria.

- Vejas bem como a trata, Slytherin! – Gryffindor o censurou, tomando partido da bruxa.

- Não há problemas, Godric. – Helga Huflepuff disse em um tom triste. Ela olhou a cada um profundamente, mas se concentrou mais nos dois homens do que na amiga ao seu lado. – Tenho algo muito importante a vos dizer...

- Pois então diga, Helga... – a amiga a encorajou.

Helga Huflepuff respirou fundo e disse:

- Alguns dias atrás, eu entrei em transe e escrevi uma profecia. Ela diz que, daqui a muitos e muitos anos, nascerá alguém muito especial. Um bruxo muito poderoso que expulsará o mal do mundo com a "centelha de esperança"... Esse bruxo terá o sangue... tanto de... ti, Godric, como de ti, Slytherin...

- O quê? – Slytherin perguntou exasperado. – O que estás dizendo, estás a troçar de mim?

- Não! – Helga Huflepuff disse desesperada. – Não, nunca brincaria com algo tão sério!

Rowena Ravenclaw e Godric Gryffindor pareciam igualmente surpresos. Foi o último destes que perguntou:

- Tu estás querendo dizer que... o meu sangue e o sangue... dele... – e indicou Slytherin com a cabeça. - ...vão se unir em uma única pessoa?

- Exatamente, Godric...

- Isso é um disparate! – Slytherin ficou mais enfurecido ainda. – O meu sangue não pode se misturar ao sangue de... Gryffindor! Nunca! – e ele saiu da sala batendo os pés com força no chão.

- Helga... – Gryffindor a chamou depois que Slytherin deixou a sala. Ela o olhou perturbada. – Eu... detesto concordar com Slytherin, porém... não há como isto estar correto... O meu sangue nunca irá se unir ao sangue dele!

- Eu sinto muito, Godric, mas é a verdade...

Gryffindor abaixou os olhos e não disse mais nada. Apenas saiu da sala. Lágrimas começaram a cair pelo rosto de Helga Huflepuff. Rowena Ravenclaw a abraçou, dizendo:

- Não chores, Helga...

- Eu tenho medo do que eles poderão fazer, Rowena... Eles podem... roubar a profecia... não digo Godric, mas... Slytherin o faria com certeza... Se a profecia cair em mãos erradas, todo o destino poderá ser mudado e acontecerão catástrofes irremediáveis... Eu não posso permitir que isso aconteça! Entretanto... não sei o que fazer...

- Eu tenho uma idéia, Helga... – a outra bruxa sorriu. – Eu acho que sei como posso te ajudar.

O Espelho da Verdade estalou os dedos mais uma vez, fazendo a sala se dissipar. O que apareceu em seguida foi uma caverna com um lago, que Harry reconheceu como a caverna onde estava quando duelou com Voldemort.

Helga Huflepuff estava parada, com um olhar decidido no rosto. Dessa vez, era Rowena Ravenclaw que parecia assustada e indecisa. Ela mantinha a varinha apontada para a amiga e disse, aflita:

- Eu não posso, Helga... Se eu fizer isso, tu vais... morrer...

- Tu tens que fazer, Rowena... É o único jeito de proteger a profecia...

- Helga... – ela tinha lágrimas nos olhos. – Eu não consigo... E... além disso, Slytherin nem está mais na escola... Ele foi embora depois de toda aquela história de "sangues-ruins" que tinha inventado... Não há mais razão para...

- Não é tão simples assim, Rowena... Pode não ser Slytherin, mas sempre haverá quem queira se aproveitar da profecia para fazer algo de ruim... Faz isso por mim... – ela sorriu. – Sempre te serei grata, Rowena, minha amiga...

Rowena Ravenclaw fechou os olhos, e as lágrimas escorreram pela sua face.

- Sentirei tua falta... Eu sinto tanto, minha amiga...

- Também sentirei tua falta, onde quer que eu esteja... Mas eu ficarei bem e tu também...

Rowena Ravenclaw respirou fundo e gritou:

- Verita Protectum!

Uma luz forte saiu do corpo de Helga Huflepuff, que começou a envelhecer rapidamente até que ficou tão idosa, que caiu no chão, morrendo. A luz que tinha saído dela não tomou forma alguma, era apenas um foco de luz intensa e disforme.

- Esse é o meu verdadeiro eu. – o Espelho da Verdade disse, estalando os dedos.

A caverna se dissipou e, logo, Harry estava de volta ao Portal dos Tempos. Olhou para o Espelho da Verdade e perguntou:

- O que era isso?

- Isso que você viu foram algumas das partes mais importantes sobre como a Profecia Sagrada foi feita e protegida. Como você viu, tanto Godric Gryffindor, como Salazar Slytherin não se conformaram em que seus sangues se unissem. Por isso, Helga Huflepuff se viu obrigada a proteger a profecia e Rowena Ravenclaw a ajudou. Aquele feitiço que você a viu conjurar, era o feitiço que me fez... Aquela luz era eu, a minha verdadeira forma. Helga Huflepuff morreu porque, para que eu fosse feito, era necessária muita energia vital, que foi tirada dela. Depois daquele momento, Rowena Ravenclaw pôde criar o Portal dos Tempos e me manteve como guardião do portal e protetor da profecia.

- E onde a profecia está?

Ele indicou o Espelho do Futuro e disse:

- Não posso entrar ali. Você terá que ir sozinho.

Harry olhou para o espelho que fora indicado. As chamas verdes claras ardiam intensamente ao redor dele. Respirou fundo e caminhou até ele, entrando em seguida.

O que viu lá dentro foi uma sala que parecia feita de um fogo que não parava de queimar. Porém, Harry não se sentia arder nem nada parecido. O ambiente era quente, mas não a ponto de queimá-lo; era um ambiente confortável e acalentador.

A sala não era muito grande e, no centro dela, havia um pedestal com um pequeno baú de madeira dentro dele, que estava fechado. Harry se aproximou e tocou o baú. Imediatamente, ele começou a brilhar e se mexer. O garoto deu um passo para trás e o baú abriu, espalhando uma luz de ofuscar os olhos.

Harry cobriu a vista com o braço e, depois de algum tempo, tirou-o da frente de sua visão e olhou para o lugar que estava brilhando. O baú estava aberto e, acima dele, flutuava um pergaminho muito antigo, mas que, mesmo assim, parecia intacto. O pergaminho começou a se desenrolar sozinho e, quando terminou, as palavras que estavam escritas nele saíram do papel e começaram a se projetar no ar, em letras de um fogo verde:

Mil anos, como um sopro, perpassar-se-ão

Até o dia em que se ouvirá o trovão

Relampear e coriscar irá o céu

Enquanto a escuridão cobrir como um véu

Os olhos dos tolos e dos sábios feiticeiros

Pararão de lutar os valorosos guerreiros

Pois, enfim, a luz voltará a brilhar

Quando o herdeiro da esperança chegar

Luz e trevas confundirão o seu ser

Coragem e astúcia em seu coração e mente irão viver

O ledo engano inúmeras vezes lhe trará a dor

Contudo, eles aumentarão o seu valor

As lágrimas e o sangue mancharão seus dedos

Porque entenderá o sofrimento muito cedo

Amor e ódio terá

Gryffindor e Slytherin será

As trevas dilacerá-lo-ão como espadas

E verá angustiado tantas lágrimas derramadas

Lutará sem o porquê compreender

Porém será isso que o concederá mais poder

Por presenciar tantas mortes

Conseguirá ficar mais forte

Tornar-se-á história

Quando do Senhor da Morte obtiver a vitória

Anos a fio combatendo

Sempre o bem que temos protegendo

Segredos guardados

Finalmente serão desvendados

Do seu coração cintilará a luz

Que mais do que o ouro reluz

A tão esperada paz haverá

E a centelha de esperança o mal encarcerará

Harry ficou fitando aquelas palavras boquiaberto. Esta, então, era a Profecia Sagrada? Mas não conseguia compreender absolutamente nada do que ela dizia... Tudo era tão confuso para ele...

Nesse momento, uma imensa chama se formou, envolvendo as palavras que flutuavam no ar e quando a chama se consumiu, o pergaminho antigo estava novamente flutuando e as palavras já estavam de volta ao papel, que começou a se enrolar sozinho.

Enquanto isso, o garoto olhou para o baú, que continuava aberto. Aproximou-se dele e olhou para o seu interior. Havia um outro pergaminho dentro dele, que estava enrolado. Harry colocou a mão dentro do baú e tentou pegar o papel. Assim que o tocou, a sua mão começou a arder intensamente e ele soltou o papel. Olhou para a sua mão. Não estava queimada, mas ardia.

Nesse instante, o pergaminho que continha a profecia começou a enrolar mais rápido. Assim que já estava completamente enrolado, entrou no baú, que fechou com um estrondo.

O fogo que queimava na sala começou a arder mais e mais, e o ambiente ficou insuportavelmente quente. Harry sentiu como se uma mão invisível o fizesse flutuar e era exatamente isso que acontecia. Olhou para o chão e viu que seus pés não o tocavam mais.

Então, foi como se essa mesma mão invisível o empurrasse com força para fora da sala. Harry foi jogado para o mesmo lugar por onde tinha entrado e ultrapassou o Espelho do Futuro velozmente, entrando novamente no Portal dos Tempos e caindo com estrondo no chão, batendo com força todo o seu corpo.

Não conseguiu reprimir uma exclamação de dor pelo impacto. Tinha fechado os olhos e, quando os reabriu, viu a sua própria imagem na sua frente. Era o Espelho da Verdade.

Harry sentou e colocou a mão na cabeça. Olhou para o Espelho da Verdade, que tinha uma expressão de espanto e, ao mesmo tempo, reprovação no rosto igual ao do garoto.

- O que aconteceu? – Harry perguntou.

- Você chegou a ver a profecia? – o outro perguntou intrigado.

- Sim, mas aí foi como se alguém me jogasse para fora da sala... O que eu fiz de errado?

- Você tentou ver algo além da profecia?

- Bem, eu... – Harry se lembrou de quando tentou pegar o outro pergaminho no baú... – Eu olhei dentro do baú e...

- Não me diga que você tentou pegar o outro pergaminho? – o Espelho da Verdade perguntou com uma expressão de quem entendia o que estava acontecendo.

- Anh... – Harry começou a falar, um pouco envergonhado. – Sim...

- Entendi... – o outro fez uma expressão cansada. – Acredite, isso sempre acontece... Todos tentam ver esse outro pergaminho, mas são poucos os que têm permissão e, sempre que alguém tenta ver esse pergaminho e não pode, essa pessoa é jogada violentamente para fora da sala...

- Foi o que aconteceu comigo...

- Exatamente.

- E o que era aquele pergaminho? – Harry se atreveu a perguntar, mas achava que não conseguiria uma resposta.

O Espelho da Verdade o olhou de cima a baixo e disse, com um sorriso:

- Você é curioso mesmo, hein? Ninguém nunca me perguntou tantas coisas, e ninguém, muito menos, foi tão ousado a perguntar o que você está perguntando depois que foi jogado da sala...

Harry abaixou os olhos e sentiu que corou de vergonha.

- Ah... Tudo bem... – o Espelho da Verdade começou a dizer. – Acho que você é assim por ser tão jovem, na verdade até hoje não houve ninguém tão jovem que tenha visto a profecia...

Harry levantou os olhos para ver a sua própria imagem, que continuou a falar:

- Mas... se você quer mesmo saber... aquele pergaminho era o desenho do herdeiro, aquele mesmo desenho que vimos Helga Huflepuff fazendo no passado...

- E alguém já o viu? – Harry perguntou.

- Somente uma pessoa... – Harry ia fazer outra pergunta, mas ele o interrompeu. – E nem me pergunte quem é, porque eu não vou falar...

Harry entendeu e não fez mais perguntas. O outro olhou para o espelho que conduzia ao presente e disse, voltando-se para Harry:

- Eu sinto muito, Harry Potter, mas seu tempo acabou. Você vai ter que voltar... – ele colocou a mão na testa de Harry e disse: - Como eu já te disse antes, eu vou tirar um pouco da sua energia vital, mas será bem pouco. Não se preocupe. Você não vai envelhecer muito, talvez cresça um pouco, mas nada muito significativo, e isso você só vai notar daqui a alguns dias. Por hora, você se sentirá apenas imensamente cansado...

Uma luz começou a sair de Harry e passar para o corpo do outro. O garoto começou a sentir o corpo entorpecer e os olhos ficarem pesados. O Espelho da Verdade ainda disse:

- Revele ao mínimo de pessoas possível o que aconteceu aqui. O conteúdo da profecia você não vai conseguir revelar a ninguém, por mais que quisesse, e se tentar falar algum dia a profecia para alguém, não conseguirá, pois sua voz não irá sair. Você somente saberá o conteúdo da Profecia Sagrada para si mesmo e mais ninguém. Use o que sabe com sabedoria. E mais uma coisa... foi bom falar com você, mesmo que você não pare de fazer perguntas... Adeus, Harry Potter.

Harry ainda viu um sorriso no rosto, que era igual ao seu, do Espelho da Verdade antes de não conseguir mais manter os olhos abertos e perder os sentidos.