Capítulo 19: Tentando Recomeçar

Voz: 'Está na hora de voltar. Estão todos esperando por você.'

            Sakura abriu os olhos e viu o rosto do seu amado namorado. Sorriu e ele retribuiu. Como era lindo o sorriso de Syaoran, pena que sorria tão pouco, pensou a menina para si.

Syaoran (passando a mão sobre o belo rosto de Sakura): 'Ficou muito tempo descansando. Todos estão preocupados com você.'

Sakura (olhando interrogativamente para ele): 'Esperando? Mas onde estamos?'

Syaoran: 'Olhe você mesma.'

            Sakura desviou os olhos do namorado e começou a apreciar a bela paisagem a sua volta, árvores de cerejeira balançavam com o vento fazendo com que suas flores se espalhassem pelo ambiente. O sol brilhava lindo dando um calor fora do normal naquela época de inverno. Flores perfumavam o ar e uma suave música podia ser ouvida ao fundo. Tudo trazia tanta paz, tanto conforto...

Sakura: 'Mas aqui é tão lindo... Não podemos ficar aqui para sempre?'

Syaoran (sério): 'Não, você precisa voltar. Touya, Tomoyo... Todos precisam de você.'

Sakura (abraçando o namorado com força): 'Mas eu quero ficar com você, prometemos nunca nos separar, Syaoran.'

            O rapaz se afastou dela pegando o rosto da menina entre suas mãos. Ele olhava com tanto amor para ela que a menina se sentiu inundada pela sensação de pura felicidade.

Syaoran: 'Eu te amo, Sakura. E sempre estarei contigo. Se não puder ser assim como estamos, estarei sempre em seu coração.'

Sakura (não entendendo as palavras do namorado): 'O que está querendo me dizer, Syaoran?'

            Syaoran inclinou seu rosto e tocou os lábios que tanto amava, num beijo doce e apaixonado. Sakura apenas fechou os olhos e abraçou o namorado retribuindo o beijo dele. Depois Li se afastou dela.

Syaoran (sorrindo): 'Adeus, Sakura.'

Sakura (atordoada, olhando-o): 'Adeus?'

            Uma luz preencheu o ambiente, cegando Sakura. A menina fechou os olhos e os abriu depois de poucos segundos. Um grande aparelho com inúmeras luzes que incomodavam os olhos da menina estava acima dela. "Onde estou? Cadê o Syaoran?", pensava atordoada.

Voz: 'Doutor, doutor, ela abriu os olhos!'

Voz: 'Graças a Deus.'

            A figura de um jovem doutor apareceu na frente da menina. Ele puxou seus olhos e colocou uma lanterninha bem próxima a eles. Olhou novamente para um monitor que mostrava os batimentos cardíacos da menina e sorriu para ela.

Doutor: 'Consegue me ouvir?'

            Sakura confirmou com a cabeça.

Doutor: 'Lembra-se do seu nome?'

Sakura: 'Sa... Sakura Kinomoto.'

Doutor (sorrindo): 'Lembra quantos anos tem? Onde mora?'

Sakura (balançando a cabeça positivamente): '19. Tenho 19 anos.'

Doutor: 'Ótimo, seus reflexos e lembranças estão intactos. Tente se levantar agora. Consegue?'

            O doutor ajudou a menina a se sentar. Ela olhava em volta ainda um pouco perturbada. Viu a enfermeira que já a havia atendido alguma das inúmeras vezes que parou no hospital de Tomoeda. A senhora sorriu para ela com os olhos rasos de lágrimas.

Enfermeira: 'Bem vinda à vida, senhorita Kinomoto.'

            Sakura tentou sorrir para ela em agradecimento, mas ainda estava confusa. Levou uma mão à testa tentando colocar os pensamentos em ordem, enquanto o médico lhe tirava a pressão no outro braço. "O que aconteceu comigo? Estou num hospital... é o hospital de Tomoeda... Syaoran deve ter me trazido para cá depois... isso, depois que eu desmaiei." Ela olhou em volta novamente e, pela janela, reparou no sol que brilhava lá fora. "Então eu consegui. Fechei o portal." A menina sorriu.

Sakura: 'Onde está o Syaoran?'

Doutor: 'Syaoran? Seu irmão?'

Sakura: 'Não, meu namorado. Ele estava comigo quando eu desmaiei.'

Doutor: 'Ah sim o rapaz que a trouxe para o hospital.'

Sakura (sorrindo): 'Sim, é ele. Onde ele está? Ele estava muito machucado também.'

Doutor (pensando um pouco): 'Faz tanto tempo. (virando-se para a enfermeira) Sra Mayuni, lembra-se deste rapaz?'

Enfermeira (balançando a cabeça negativamente): 'Não. Atendemos tantas pessoas naqueles dias que eu realmente não me lembro.'

Sakura: 'Eu preciso vê-lo, preciso ter certeza de que ele está bem. E a Tomoyo? A Tomoyo estava muito mal também...'

Enfermeira: 'Tente se acalmar. Vou chamar o seu irmão. Ele fica no hospital dia e noite, ficará muito feliz em saber que você voltou.'

Doutor (colocando uma das mãos sobre o ombro da menina): 'Nos deu um susto senhorita Kinomoto. Que bom que resolveu voltar para nós.'

Sakura: 'Eu voltei?'

Doutor: 'Esteve em coma por quase um mês. Ficamos muito preocupados com você.'

            Touya estava impaciente sentado no sofá. Tomoyo estava sentada a seu lado. A menina havia chegado mal ao hospital, mas depois de uma transfusão de sangue ela se recuperou em duas semanas, mas tinha permanecido no hospital para ficar perto da amiga que ainda não tinha retornado do coma. Yukito estava apoiado na parede ao lado de Eriol. Kaho estava sentada numa poltrona em frente a Touya.

Touya (olhando para Eriol): 'Você tem certeza? Tem certeza de que ela vai acordar hoje?'

Eriol (olhou discretamente para o lado e confirmou): 'Sim, ela já acordou.'

Touya (levantando-se de supetão): 'O quê? Como é que você sabe?'

Eriol (com um bondoso sorriso): 'Vamos dizer que alguém me contou.'

            Touya olhou para janela, depois baixou a cabeça e sorriu.

Touya: 'Ele está aqui, não é? Foi ele que te contou isso?'

Eriol (olhando espantado para o rapaz): 'Como...'

Touya (fitando-o): 'Eu também tinha este poder.'

Kaho: 'O importante é que ela voltou e vai ficar bem agora.'

Tomoyo (tristemente): 'Eu não sei como ela vai reagir quando souber.'

Kaho: 'Ela precisará de todos nós agora.'

Yukito: 'A senhorita Mizuki tem razão. Precisamos dar apoio a ela.'

Touya (depois de respirar fundo): 'Por que teve que ser assim?'

Yukito (colocando uma das mãos no ombro do rapaz): 'Destino.'

Touya (fitando o amiiiiiigo): 'O destino não foi justo com ela, Yuki.'

Yukito (sorrindo): 'Ela é uma menina forte, tenho certeza de que superará tudo.'

Touya: 'Assim espero.'

Voz: 'Senhor Kinomoto?'

Touya (virando-se para onde o chamavam): 'Sim.'

Enfermeira (com um enorme sorriso): 'Sua irmã acabou de acordar.'

            Touya queria sorrir e como queria. Estava infinitamente feliz pelo despertar da irmã, mas a notícia que teria que dar a ela cortava o coração só de pensar. O rapaz sorriu só para não deixar a enfermeira sem graça. Tomoyo parou ao lado dele.

Tomoyo: 'Como ela está?'

Enfermeira: 'Ela está bem. Os reflexos e a memória estão intactos. Algum de vocês é Syaoran? Ela está chamando por ele.'

            O grupo ficou em silêncio. Ninguém tinha coragem de falar nada. Tomoyo mal conseguia respirar. A senhora olhou para o grupo com um enorme ponto de interrogação na cabeça.

Touya (tomando a palavra): 'Infelizmente senhora, o moleque... Ele... Bem, ele...'

Enfermeira: 'Não me digam que ele está morto?'

            Touya confirmou com a cabeça. A senhora ficou sem saber o que falar.

Touya (caminhando em direção ao quarto): 'Eu vou ver a minha irmã.'

Tomoyo (indo atrás dele): 'Vou com você.'

            Os dois se afastavam da sala de visitas do hospital. A enfermeira foi atrás deles com a mão no peito. A velha senhora já estava imaginando a reação da pobre menina quando soubesse a sorte do namorado.

Yukito: 'Vou com eles, estou louco para ver Sakura novamente.'

Kaho: 'Você não vem, Eriol?'

Eriol (sorrindo): 'Vou daqui a pouco.'

Kaho: 'Está bem.'

            Os dois também se afastaram deixando apenas o rapaz de cabelos compridos na sala deserta. Havia apenas uma enfermeira atrás de um balcão, mas estava tão atarefada que mal prestava atenção em alguma coisa.

Eriol: 'Então conseguiu trazê-la de volta.'

            Eriol podia ver um belo anjo sentado no parapeito da janela do hospital ao lado dele.

Syaoran: 'Eu precisava me despedir dela, Hiragizawa.'

Eriol: 'E aproveitou para trazê-la.'

Syaoran: 'Todos precisavam dela, apenas a incentivei a voltar.'

Eriol: 'Estou preocupado com a reação dela quando souber...'

Syaoran (depois de respirar fundo): 'Ela terá que saber de qualquer forma. Sakura é mais forte do que parece.'

Eriol: 'Mas o ponto fraco dela sempre foi você, Li.'

Syaoran: 'Sempre estarei ao lado dela, Eriol. Mas a partir de agora não posso ser uma sombra na vida dela. Sakura é jovem e linda, tem muita vida ainda. Não pode ficar presa a um fantasma. Conto com você e com os outros para fazerem com que ela me esqueça ou pelo menos... Que me guarde apenas como uma boa lembrança.'

Eriol: 'Isso não vai ser nada fácil.'

            Li sorriu para ele antes de desaparecer. Eriol continuou olhando para onde a poucos segundo o espírito do amigo estava. Pensava que realmente não seria fácil fazer o que o amigo pedira, na verdade...

Eriol (para si mesmo): 'Isso vai ser impossível.'

            Sakura estava sentada no leito do hospital apoiada por algumas almofadas.

Touya (abraçando a irmã): 'Me deu mais um susto, monstrenga. Se continuar assim, eu vou morrer do coração antes dos trinta.'

Sakura (abraçando-o): 'Agora tudo acabou, Touya. (afastando-se do irmão e o fitando com ternura) Está tudo acabado.'

Tomoyo (aparecendo logo atrás do rapaz): 'Que bom que está bem, Sakura.'

Sakura (não contendo a alegria de ver a amiga bem): 'Tomoyo!!!'

            As duas se abraçaram chorando.

Tomoyo (sentada na cama em frente a ela): 'Eu estou bem. Só vou ficar com uma cicatrizinha bem pequenininha'. (disse sorrindo)

Sakura: 'Desculpe, por não ter chegado a tempo.'

Tomoyo: 'Não se preocupe. Eu estou bem. Nós estamos bem. Só é uma pena que...'

Sakura (olhando assustada para ela): 'O quê, Tomoyo?'

Tomoyo (com uma cara bem triste): 'Eu não pude filmar sua incrível façanha.'

            Touya e Sakura caiem no chão (na verdade só o Touya, pois a Sakura estava na cama).

Touya (coçando a cabeça): 'Você não muda, Tomoyo.'

Tomoyo (com os olhos brilhantes): 'Mas não tem problema. Eu vou filmar a Sakura indo para faculdade e depois nos jogos de vôlei e quando ela for animadora de torcida e...'

Kaho (entrando no quarto): 'Nossa, quantos planos.'

Sakura (sorrindo para a bela moça): 'Prof. Mizuki!'

Kaho (passando a mão no rosto da menina): 'Que bom que voltou para nós, Sakura. Este mundo ficaria muito sem graça sem o seu sorriso.'

Sakura (vermelha): 'Que isso.'

Yukito (sorrindo): 'Concordo com a senhorita Mizuki.'

            Sakura olhou para o amigo e retribuiu o sorriso.

Yukito: 'Kero queria ficar com você, mas estava tão nervoso que estava começando a chamar a atenção das pessoas...'

Touya: 'Aquele filhote do urso Puffy com Pikachu tava começando a me tirar do sério.' (eu não sei da onde eu tirei isso, mas que o Kero parece isso, parece.)

Sakura (imaginando o que o amiguinho deve ter aprontado): 'Imagino...'

Yukito: 'Mas tenho certeza de que ele vai ficar muito feliz quando souber que você acordou.'

Eriol (entrando no quarto): 'Não só ele, como todos nós. (sorrindo para Sakura) Que bom que se recuperou, Sakura.'

            Sakura olhou para todos que a cercavam sorrindo pelo retorno dela, mas faltava uma pessoa, a pessoa que a menina mais queria ver na vida agora.

Sakura: 'Onde está o Syaoran?'

            O grupo ficou em silêncio. Sakura viu, um a um, fecharem seus sorrisos alegres. Touya se levantou e começou a andar de um lado para o outro coçando a cabeça, Tomoyo quase que instantaneamente levou as mãos apertadas ao peito, Sakura pôde então reparar no curativo que a menina ainda tinha em volta dos pulsos, e Yukito consertou os óculos no rosto.

Kaho (tomando coragem): 'Ele não vai poder vir te ver, Sakura.'

Sakura (sentindo lágrimas se formarem nos olhos): 'Não? Por quê?'

Tomoyo (segurando as mãos dela entre as da amiga): 'Ele... Ele...'

Sakura: 'Ele não voltou para Hong-Kong, não é?'

Eriol (fitando os olhos da menina): 'Sim, Sakura ele voltou para a China.'

Sakura (sentindo uma enorme tristeza): 'Ele teve que fazer alguma coisa importante?'

Tomoyo (olhando com tristeza as lágrimas saindo dos olhos de esmeralda): 'Sakura...'

Sakura (começando a ficar nervosa): 'Ele teve ter ido fazer uma coisa importante. Eu só estava dormindo, não é? Não tinha porque ele ficar aqui comigo...'

Touya: 'Sakura, não é nada disso.'

Sakura: 'Claro que não. Talvez a família dele... Claro! A família dele exigiu que ele voltasse para a China...' (sogra é sogra em qualquer lugar do mundo!)

Tomoyo: 'Sakura, por favor, você não pode ficar nervosa.'

Sakura (não parando de chorar e tremer): 'Mas eu não estou nervosa. Por que eu ficaria nervosa ao saber que o Syaoran me deixou aqui e voltou para a China?'

            Eriol fitava a menina enquanto ela não parava de falar tentando justificar a volta do namorado para a China. Ele via como ela sofria só em saber que ele não estava ali, imaginou quando ela soubesse que ele nunca mais estaria ao lado dela.

Sakura (levantando-se apesar de todo mundo protestar): 'Eu vou ligar para ele. Tenho certeza de que quando ele souber que eu acordei, ele vai voltar e... (olhando para Touya) iremos nos casar...'

Touya (segurando os ombros dela): 'Não, Sakura. Você vai voltar para esta cama agora.'

Sakura (olhando para o irmão): 'Eu vou ligar para o Syaoran. Preciso vê-lo, eu preciso...'

Kaho (chorando): 'Sakura. Ele não vai mais voltar, querida.'

Sakura (olhando para ela): 'Claro que vai. Ele me ama. Ele não vai me abandonar, não vai se casar com outra moça...'

Tomoyo: 'Sakura, por favor, tente ficar calma.'

Sakura (explodindo): 'Como querem que eu fique calma?! O que fez Syaoran voltar para China? Seja lá o que for, ele vai voltar para mim. Eu sei disso.'

Eriol: 'Sakura, Li foi enterrado na China.'

            A moça fitou o amigo em silêncio. Touya ainda a segurava pelos ombros e a olhava com uma tristeza infinita. Tomoyo não agüentava mais, desabou a chorar soluçando. Yukito se encostou à janela também com os olhos rasos de lágrimas.

Sakura: 'Que brincadeira é essa, Eriol?'

Eriol (com um nó na garganta): 'Ele não resistiu aos ferimentos. Quando eu o encontrei... Ele... Ele já estava...'

Sakura (berrando): 'Morto?! É isso que está querendo me dizer? Que ele está morto?'

            Eriol confirmou com a cabeça. Sakura ficou em silêncio. Ela sentiu uma dor tão grande, tão grande, no peito que por alguns segundos pensou que o coração tinha parado de bater. Ela olhava com os olhos arregalados para a reencarnação do mago Clow, na esperança de que ele tivesse apenas brincando. Lágrimas saiam dos olhos da menina.

Sakura (em desespero): 'Não!!!!'

Touya (abraçando a irmã forte): 'Calma, meu bem... Calma.'

Sakura (balançando a cabeça de um lado para o outro no peito do irmão): 'Não... Não... Ele não pode ter me deixado... Ele não pode ter feito isso comigo... Não... Syaoran... Não!'

            Eriol olhou para os dois irmãos abraçados com uma profunda tristeza, pensando que talvez nunca mais conseguiria ver o belo sorriso da amiga. Olhou para Kaho que mal conseguia conter as lágrimas e imaginou a dor que sentiria se ela lhe faltasse. O rapaz consertou os óculos e saiu do quarto seguido por Kaho. Sakura precisava ficar sozinha agora, não tinha mais como ajudá-la.

            Passados três meses depois da morte de Li, Sakura não quis trancar o período da faculdade apesar da insistência do irmão em fazer isso. Assim, quando estudava por mais difícil que fosse tinha alguma coisa para ocupar a mente que não fossem as lembranças de Li. O problema era à noite, quando a menina deitava a cabeça do travesseiro e tentava chorar o mais baixinho possível para que Tomoyo não percebesse, mas era em vão. Tomoyo conhecia Sakura como a palma de sua mão e sabia que toda noite a amiga chorava, isso quando não tinha pesadelos e passava a noite chamando pelo namorado. Touya aconselhou que a irmã fosse para um psicólogo, mas a menina estava tão sobrecarregada de atividades na faculdade que não haveria tempo para isso.

            Ninguém faculdade sabia direito o que tinha acontecido com Li. Havia um boato dizendo que o rapaz fora morto por algum vampiro ou algum outro ser das trevas, mas o mais forte era de que ele tinha voltado para China para se casar. Sakura não comentava e ninguém tinha coragem de chegar perto da menina para perguntar. A tristeza era tão nítida em seus olhos que chegava até mesmo a entristecer as pessoas a sua volta. Ela tentava se esforçar para não repararem em como sofria, continuava a ser a melhor líder de torcida e a melhor jogadora da sua irmandade, apesar das línguas invejosas. Tomoyo estava cada vez mais ao lado da amiga, tentando animá-la toda vez que sentia que Sakura estava ficando deprimida. Tomoyo tinha medo de ver a amiga chorando, era como se uma sombra se formasse nos olhos da amiga, mostrando pensamentos negros que pairavam sobre a mente dela. Kimura e Matoko também tentavam animá-la sempre, chamando-as para festas e confraternizações.

            Sakura estava no aeroporto de Tóquio, junto a Tomoyo, Touya e Eriol. A menina tinha insistido para ir à China visitar o túmulo de Li. Touya não tinha gostado da idéia, mas Eriol o convenceu de que seria a melhor maneira de ela aceitar que definitivamente o namorado tinha morrido e terminasse com a esperança de que ele voltaria. Então, assim que acabaram as aulas do período, os quatro estavam com a viagem marcada para Hong-Kong. Kaho voltou para a Inglaterra para terminar de organizar seu doutorado e Yukito precisava ficar cuidando de Kero e da loja de informática que tinha com Touya. Na verdade, Eriol achava melhor que Ywe fosse, mas o irmão cabeça dura da menina não concordou em não acompanhá-la.

Voz: 'Última chamada para o vôo 405 com destino a Hong-Kong. Por favor, passageiros dirijam-se ao setor B de embarques internacionais. Atenção, última chamada para o vôo...'

Eriol (olhando para Sakura, que estava sentada encolhida numa das cadeiras): 'É o nosso vôo, Sakura. Vamos?'

Sakura (levantando): 'Claro.'

            Eriol reparou que o olhar da menina era vazio, melancólico. Ela passou por ele seguida por Tomoyo. Touya parou ao lado dele, observando as duas se afastarem.

Touya: 'Tem certeza de que vai ser o melhor? Eu não sei, mas estou com uma sensação ruim.'

Eriol (ajeitando os óculos no rosto): 'Eu também estou com esta mesma sensação, mas não podemos negar isso a ela.'

Touya (respirando fundo): 'Eu sei disso, mas...'

Eriol: 'Vamos, Kinomoto. Vai ser pior se ela for sem a gente.'

            Touya acompanhou Eriol até o portão de embarque. Depois de horas (eu não tenho a menor idéia de quanto leva o vôo Tóquio - Hong-Kong) o grupo desembarcava no aeroporto de Hong-Kong. Eriol que era o único que sabia chinês. Providenciou um táxi para eles chegarem até a mansão dos Lis. Sakura seguiu calada durante todo o percurso. Tomoyo reparou que os olhos da amiga estavam marejados, mas Sakura fazia um esforço enorme para não chorar na frente do irmão.

            A senhora Yelan estava à frente da mansão esperando por eles, Eriol não precisou avisá-la que chegaria. Meilyn e Hyo Ling estavam com ela. O rapaz estava com um braço envolvendo os ombros da moça. Meilyn secava seus olhos a todo instante para evitar que os visitantes percebessem seu pranto. Sakura saiu do táxi e cumprimentou a senhora polidamente. Yelan a abraçou sem dizer uma palavra depois cumprimentou os outros. Meilyn também não agüentou e abraçou a amiga fortemente. Depois a encarou nos olhos.

Meilyn (olhando-a): 'Imagino como esteja sofrendo.'

            Sakura não respondeu. Tomoyo olhou para a amiga chinesa e imaginou que realmente Meilyn sabia exatamente o que Sakura sentia, pois ela mesma sentia isso. A única vantagem de Meilyn era que ela sempre soube que nunca teria Syaoran e já havia se conformado em viver sem ele, agora Sakura... Esta nunca se conformaria com isso.

Sakura: 'Sra Li, eu gostaria de ir até...'

Yelan: 'Tem certeza, minha querida?'

Sakura: 'Eu preciso ver para tentar acreditar que ele se foi.'

Yelan (respirou fundo): 'Venham. Eu levo vocês lá.'

Sakura: 'Prefiro ir sozinha.'

Touya: 'Sakura, eu não acho que seja uma boa...'

Sakura: 'Por favor, preciso ficar com ele sozinha.'

Meilyn: 'Eu a levo, tia.'

            A moça olhou para o marido que acenou positivamente com a cabeça. Yelan achou melhor as duas irem juntas.

Tomoyo: 'Eu vou também, depois eu e Meilyn esperamos você no lado de fora. Está bem, Sakura?'

            Sakura acenou confirmando. As três cruzaram o imponente portão da mansão. O cemitério não era longe, por isso foram caminhando. Meilyn trocou algumas palavras com Tomoyo, mas Sakura caminhava em silêncio retorcendo as mãos. Tomoyo olhava para ela discretamente. O cemitério realmente não era longe, chegaram em um pouco mais de 10 minutos.

Sakura (parando em frente ao portão): 'Eu entro sozinha.'

Tomoyo: 'Tem certeza?'

Sakura: 'Eu preciso.'

Meilyn: 'Xiao Lang está no último túmulo. Reconhecerá, pois é o único com flores. Siga sempre em frente.'

            Sakura agradeceu e começou a entrar no cemitério. O ambiente não era tão assustador como pensava que fosse, ela sempre havia fugido de ambientes que lembrassem fantasmas. A menina sentiu frio e cruzou os braços enquanto caminhava entre os inúmeros túmulos do cemitério, até que avistou o que procurava. Meilyn tinha razão era o único com flores, Sakura pensou que a amiga era quem sempre as trazia para enfeitá-lo e percebeu o carinho que ela tinha pelo primo. Meilyn realmente amava Syaoran.

            Sakura caminhou devagar até a bela lápide. Não sabia o que estava escrito nela, pois não entendia chinês, mas tinha certeza de que ali estava enterrado o seu amor. Ali estava uma parte dela mesma. Lágrimas não paravam de sair dos olhos dela, enquanto uma fraqueza fora do comum invadia sua alma. Quando deu por si, Sakura já estava de joelhos olhando para a lápide.

Sakura: 'Por que fez isso comigo, Syaoran? Por que me abandonou?'

            Ela abaixou a cabeça fechando os olhos, tentando buscar forças para falar.

Sakura: 'Você prometeu para mim, você prometeu que nunca se separaria de mim e agora... (levantando a cabeça e encarando o nada)... O que eu faço da minha vida sem você?... O que eu faço com meus sonhos, com meus planos?... Diga-me, o que eu faço?'

            Sakura olhou para o lado. O vento fazia as arvores balançarem seus galhos, fazendo inúmeras folhas voarem.

Sakura: 'Acho que não resta mais nada na minha vida...'

            A menina não podia ver, mas atrás dela um belo anjo estava parado.  Admirando-a e tentando com todas as forças não chorar. Li não queria por nada fazer sua flor sofrer. Se algum dia ele soubesse do seu destino trágico, teria lutado com todas as forças para que Sakura nunca se apaixonasse por ele.

Syaoran: 'Eu trocaria toda a minha felicidade para ver só um sorriso seu, minha flor.'

            Sakura levantou-se e caminhou até a cerca que protegia os visitantes do cemitério de um penhasco. Repousou suas mãos na frágil cerca e jogou a cabeça para trás com os olhos fechados.

Sakura: 'Quem sabe não iremos nos encontrar mais cedo do que esperamos.'

            Li arregalou os olhos ao ouvir as palavras da namorada. Se tivesse sangue, com certeza este teria saído do seu corpo. O anjo voou rápido até a menina e flutuou diante dela.

Syaoran: 'Não faça isso, Sakura. Não faça...'

            Ela abriu os olhos e o fitou. Syaoran sorriu imaginando que a namorada o tinha escutado, puro delírio. A menina se debruçou olhando para o final do penhasco.

Sakura: 'É mais alto do que eu pensei que fosse, mas...'

Syaoran (balançando as mãos): 'Nem pense em fazer isso.'

            Sakura não ouvia aos apelos de Li, o que deixou o rapaz maluco. Ele então tentou segurá-la pelos ombros, mas suas mãos a atravessaram com se estivesse cortando o ar.

Sakura: 'Espere, meu amor. Eu já estou indo.'

            Syaoran, agora sim, entrara em desespero. Voou até Tomoyo e Meylin e tentou falar com elas, mas como nenhuma das duas tinha poderes foi em vão. Voou que como louco até a mansão. Certamente sua mãe o veria e ele poderia avisar o que Sakura estava pretendendo fazer. Atravessou as paredes da mansão e entrou na sala. Parou fitando Yelan com os olhos arregalados vendo o filho.

Syaoran: 'Mãe?'

            Yelan não conseguiu falar. Apenas parou subitamente de falar com Shiefa, uma das irmãs dele, e começou a chorar olhando para o anjo que batia suas asas no meio da sala.

Shiefa: 'Mãe? Está tudo bem? A senhora está chorando, está sentindo alguma coisa?'

            Yelan não respondia aos chamados da filha.

Syaoran: 'Mãe, não dá tempo de explicar. A Sakura, ela está...'

Voz: 'Sra. Yelan, onde nós poderíamos... Li?'

            Syaoran teve um surto de felicidade ao ver o amigo ali perante si.

Syaoran (voando até ele): 'A Sakura vai fazer uma besteira no cemitério.'

Eriol (arregalando os olhos): 'Como?'

Syaoran: 'Não dá tempo de explicar. Por favor, venha comigo.'

            Li já começou a voar seguido por Eriol que corria aflito pelas ruas de Hong-Kong. Meilyn e Tomoyo avistaram o amigo correndo em direção às duas.

Tomoyo: 'Hiiragisawa, o que foi?'

Eriol (passando por elas sem parar): 'A Sakura...'

            Tomoyo sentiu o sangue escorrer.

Tomoyo (correndo atrás dele cemitério adentro): 'O que tem ela?'

Eriol: 'Ela vai fazer uma besteira.'

Meilyn (que vinha com eles): 'O quê?'

Syaoran (voando à frente): 'Anda, Hiiragisawa!'

Eriol (protestando): 'Eu não tenho asas, Li!'

            Quando o grupo alcançou Sakura, a menina já estava tentando pular a cerca.

Tomoyo: 'Sakura!!!'

            Sakura olhou para os três com os olhos arregalados e com o susto acabou escorregando e caiu.

Syaoran: 'Não!'

Eriol: 'Chave que guarda o poder das trevas, mostre seus verdadeiros poderes sobre nós e ofereça-os ao valente Eriol que aceitou esta missão. Liberte-se!!!'

            Eriol invocou sua magia e com ela fez com que a amiga parasse no ar. Tomoyo correu até a cerca, enquanto Sakura flutuava lentamente para cima Quando esta estava ao alcance da chorosa Tomoyo, foi envolvida num forte abraço. Eriol suspirou aliviado vendo a amiga abraçada a Tomoyo em segurança. Meilyn estava a seu lado ainda em estado de choque.

Tomoyo (abraçada a Sakura): 'Nunca mais faça isso, Sakura. Nunca mais... (afastando-se da amiga e a encarando)... Como eu vou viver sem você, Sakura, me diz?'

Sakura (em prantos): 'Tomoyo... Eu não agüento mais...'

Tomoyo (séria): 'Prometa-me que nunca mais vai pensar numa coisa dessas, prometa.'

Sakura: 'Eu... Eu não posso, Tomoyo... Eu não posso...'

Tomoyo: 'Pode sim ou você vai me obrigar a ficar ao seu lado 24 horas por dia?'

            Sakura abraçou a amiga chorando desesperadamente. Meilyn caminhou até elas e parou observando as duas ajoelhadas no chão chorando.

Eriol (mais afastado): 'Esta foi por pouco.'

Syaoran (parado ao lado do amigo observando Sakura): 'Ela tem razão, Hiiragisawa. Eu prometi nunca me separar dela.'

Eriol (virando-se para ele): 'Não pode fazer mais nada com relação a isso, Li. Este foi o destino, não pode mudá-lo.'

Syaoran: 'Eu vou voltar para ela.'

Eriol (arregalando os olhos): 'Não tem como fazer isso. Ninguém tem este poder.'

Syaoran: 'Existem as brechas, não existem?'

Eriol: 'Não existe brechas entre o mundo dos mortos e dos mortais.'

Syaoran: 'E o que é o inferno?'

Eriol: 'Não está pretendendo ir para o mundo das trevas, não é?'

Syaoran (sorrindo de lado): 'E por que não? Se eu encontrar uma brecha posso passar para este universo.'

Eriol: 'Está louco?! Não pode abrir mão do paraíso para ir ao inferno procurar uma brecha. Não sabemos como elas aparecem. Pode ficar preso lá por toda a eternidade, vivendo dias e mais dias de infinita dor e tortura. Está louco, Syaoran Li?!'

            Meilyn virou-se para o rapaz assustada pelo berro. Sakura e Tomoyo também o fitavam.

Eriol (ignorando a presença delas): 'Não pode fazer isso!'

Syaoran (levantando vôo): 'Diga a Sakura que eu vou voltar.'

Eriol: 'Por Deus, não faça isso.'

            Li sumiu deixando Eriol aflito, olhando para o céu azul.

Meilyn (aproximando-se do rapaz): 'Você está bem, Hiiragisawa?'

Eriol (ainda um pouco atordoado): 'Hã?'

Meilyn: 'Estava falando com quem?'

Tomoyo (aproximando-se abraçada a Sakura): 'O que está acontecendo?'

Eriol (balançando a cabeça): 'Nada, não é nada.'

            Sakura o fitou com os olhos vermelhos e ainda com lágrimas. Eriol sentiu o coração partir, não sabia o que dizer a ela. Se fizesse o que o amigo pediu poderia criar uma eterna expectativa na menina e assim ela nunca conseguiria ser feliz.

Eriol (depois de respirar fundo): 'Vamos, Sakura. Não há mais nada a ser feito aqui.'

Sakura (secando as lágrimas com as mãos): 'Ele se foi para sempre, Eriol.'

Eriol (com pesar): 'Sim, Sakura.'

Tomoyo: 'Mas você não. Você está viva e tenho certeza de que se Li visse como está ficaria infinitamente infeliz.'

Meilyn (pegando as mãos da amiga): 'Tenho certeza que ele está num lugar maravilhoso.'

Sakura (forçando um sorriso): 'Você tem razão. Ele deve estar junto a meus pais.'

Tomoyo: 'Com certeza. Vamos comer uma coisa bem gostosinha?'

Meilyn (tentando animar): 'Vou apresentar para vocês uns doces chineses maravilhosos.'

            Eriol observou as três conversando e olhou para o céu pensando em seu descendente cabeça-dura. Ele sabia que Li era teimoso o suficiente para colocar seu plano em ação e o agoniava terrivelmente pensar no que esperava Syaoran Li no mundo das trevas.

Continua.

PS da autora: Pensaram que eu ia dar uma de Ghost - No Outro Lado Da Vida? Nananinanão! O coitado do Li vai realmente para o mundo das trevas? Só lendo o próximo capítulo!