Capítulo 20: Bem vindo ao Inferno.

Voz: 'Tem certeza?'

            Li olhou para trás e viu um imponente anjo a fitá-lo. Ele apenas confirmou com a cabeça e desviou seus olhos para o pequeno grupo que estava ao lado dele.

Anjo: 'Sabes muito bem que esta é uma decisão única. Nunca vi em toda a minha eternidade um ser que abrisse mão deste paraíso para ir àquele lugar.'

Wei (aproximando-se de Li): 'Pense melhor, jovem Syaoran. Sei que é muito teimoso, mas isso...'

Syaoran: 'Não se preocupe, Wei. Vou ficar bem.'

            Um outro anjo se aproximou dele. Li encarou sério o rosto que antes só havia visto nas fotos espalhadas pela mansão.

Voz: 'Estou orgulhoso de você, filho. Não precisa provar mais nada a ninguém.'

Syaoran: 'Eu sei disso. Não estou provando nada, eu só quero tentar cumprir uma promessa.'

Voz: 'Yelan deu senso de honra demais a você.'

Syaoran (sorrindo): 'Não é só por isso. Não consigo ser feliz aqui sabendo que ela sofre.

Voz: 'Ela irá se acostumar. Sua mãe viveu bem sem eu estar ao lado dela.'

Syaoran: 'Eu sei disso, mas minha mãe tinha a nós. Sakura já era sozinha e está mais sozinha ainda.'

Fujitaka: 'Ela tem o Touya, rapaz. Por favor, pense melhor no que está fazendo.'

Nadeshico (com o braço enlaçado ao do marido): 'Fico feliz em ver como ama minha filha, mas se sacrificar desta maneira por ela... Tenho certeza de que ela nunca se perdoaria ao saber que está tomando esta decisão por sua causa.'

Syaoran (fitando o casal): 'Ela não irá saber. Se por acaso eu falhar e permanecer no inferno, proíbo a todos de contar a ela onde estou.'

Fujitaka: 'Mas ela estará esperando encontrá-lo.'

Syaoran (balançando a cabeça): 'Se eu não conseguir voltar, tenho certeza de que ela encontrará outra pessoa que a faça feliz.'

Wei: 'E já pensou na possibilidade de você demorar a voltar e ela já ter encontrado essa pessoa?'

Syaoran (dando os ombros): 'Aí eu a deixo em paz. Vivo a minha vida e não tenho mais a culpa de não ter cumprido com a minha promessa.'

Fujitaka: 'Não acha que são muitos riscos para você se sacrificar desta maneira?'

Syaoran: 'Eu dou conta do recado.'

Nadeshico (fitando-o com carinho): 'É mais teimoso que o Touya.'

Syaoran: 'Talvez.'

Wei: 'Ainda acho loucura. (olhando para o primeiro anjo) Não tem como impedir isso?'

Anjo: 'É uma decisão dele. Ele tem direito a usufruir a imensa felicidade que é estar aqui, mas pode abrir mão disso.'

Syaoran (virando-se novamente para um enorme portal de luz): 'Já estou pronto.'

            O anjo, com um gesto, fez com que as duas asas de Li desaparecerem. Ele ainda encarou o rapaz com pesar imaginando o que aquela pobre alma estava para enfrentar. Li virou-se novamente para o grupo e sorriu.

Syaoran: 'Não se preocupem.'

            Wei tentou sorrir, mas não conseguiu pela primeira vez. Li virou-se novamente para o portal e respirou fundo antes de adentrá-lo. Um clarão de luz o cegou por alguns segundos. Quando abriu os olhos viu a tenebrosa paisagem do inferno.

Syaoran (olhando para ela): 'É isso aí, Syaoran Li. Bem vindo ao inferno.'

            Li começou a caminhar pelo deserto, olhava para o céu em chamas. O rapaz pensou que o verão de Hong-Kong nem se comparava com o calor que fazia. Ao horizonte podia avistar algumas almas rastejando pelo chão em súplica. "Por que eu estou me sentindo normal aqui? Pensei que sofreria horrores...", pensou o rapaz ao ver as almas.

Voz: 'Isso é porque você tem poderes...'

            Li olhou para trás e viu um enorme demônio humanóide. O corpo era revestido por escamas cinzas, suas unhas eram enormes e seu cabelo era negro até a cintura, onde havia um enorme cinto de couro com um medalhão (cafona o colega...). Syaoran engoliu seco vendo aquele monstro com, no mínimo, o dobro do seu tamanho.

Syaoran: 'Então os meus poderes permanecem aqui?'

Monstro (balançando a cabeça devagar): 'Você deve ser um guerreiro para não sentir a atmosfera daqui. Muitos mal conseguem se levantar e apenas se rastejam. (ele estreitou os olhos, fitando Li mais intensamente) Sim, você é um poderoso guerreiro. Irá se dar muito bem, assassinos são muito bem vistos pelo pessoal daqui.'

Syaoran: 'Não me diga. Pena que eu não pretenda ficar muito tempo por aqui.'

Monstro (entortando a cabeça): 'E para onde pensa que vai, rapaz?'

Syaoran (encarando-o): 'Já ouviu falar das brechas?'

Monstro: 'Claro. Quem não as conhece? Um tal de Shyrai prometeu que construiria uma enorme para que todos nós a atravessássemos. Besteira. Foi derrotado por um humano e acabou voltando para cá sem poder algum.' (gente, que demônio mais bem informado! Acho que eles devem ter tv a cabo)

            Li colocou as mãos nos bolsos pensando que se encontrasse com Shyrai não teria mais tantos problemas com ele, mas com o que ele pudesse contar ao batalhão de demônios daquele mundo. Respirou fundo e percebeu que o ar era muito mais denso que o da terra, e muito mais ainda que o de onde tinha vindo. Agora sabia realmente a diferença entre o inferno e o céu.

Monstro: 'Por que está interessado nas brechas?'

Syaoran: 'Já disse que não pretendo ficar aqui por muito tempo.'

Monstro (rindo em deboche): 'Não seja estúpido, guri. As brechas são muito bem protegidas por demônios do alto escalão. Não conseguiria ter nem 1 segundo de luta com eles.'

Syaoran (encarando-o): 'Bem... Eu tenho toda a eternidade mesmo, não é?'

            O monstro cruzou os braços com cuidado para não se machucar com as próprias garras e encarou o rapaz nos olhos pensando em como um fedelho daqueles parou ali. Não tinha cara de ser realmente um assassino, mas quem vê cara, não vê coração (minha mãe sempre diz isso). Porém o olhar de superioridade e arrogância mostrava que se tratava de um poderoso ser, confirmado pela presença que ele sentiu assim que avistou o rapaz.

Monstro: 'Para Emma Daio (bem, é assim que todos os desenhos chamam o Todo Poderoso, se alguém souber melhor sobre isso me mande um e-mail, eu agradeceria imensamente) tê-lo julgado e condenado a viver aqui deve ter aprontado muito.'

Syaoran: 'Nem tanto. E então pode me dizer onde eu encontro uma brecha?'

Monstro: 'Claro. Assim que conseguir me derrotar.'

            Li arregalou os olhos. Realmente pensou que as coisas não seriam fáceis, mas também não precisavam ser tão difíceis assim. Ele sentiu sua esfera negra no bolso e a apertou com a mão. Agora, mais do que nunca, precisaria dela.

Monstro (encarando-o curiosamente): 'E então? Se pretende derrotar um dos demônios superiores, deve começar primeiro comigo.'

Syaoran (virando-se de frente para ele): 'Se é assim.'

            O monstro descruzou os braços e se posicionou.

Monstro: 'Estou pronto.'

            Li tirou a esfera negra do bolso e materializou a espada.

Syaoran: 'Então venha.'

            A criatura pulou em cima do rapaz, que desviou do primeiro ataque. "É tão rápido quando Shyrai" pensou desviando de outro ataque do inimigo, porém desta vez as garras atingiram seu ombro fazendo alguns cortes. Li se abaixou para evitar o terceiro e mortal ataque do monstro. Abaixou-se e procurou buscar impulso para saltar.

Syaoran (empunhando a espada): 'Deus do fogo, vinde a mim!!'

            A rajada de fogo atingiu em cheio a criatura que se protegeu com os braços.

Monstro (com fumaça saindo dos braços): 'Minha pele agüenta qualquer temperatura, rapaz. Péssima escolha.'

            Com isso ele pulou na direção de Li, golpeando-o com fúria. Syaoran tentava se desviar e se proteger das garras, mas acabou sendo atingido por um chute e voou longe batendo num rochedo.  Abriu os olhos e viu a criatura vindo em sua direção em alta velocidade. Sem pensar, pulou para o lado e pôde perceber a força do animal assim que o viu destruir o rochedo com suas garras.

Syaoran: 'Deuses dos relâmpagos e das tempestades elétricas que dominam os cinco elementos, eu invoco com a máxima urgência o supremo Imperador dos Trovões. Ataque relâmpago!!!'

            O ataque atingiu o monstro que uivou de dor, porém não se deu por vencido e foi ao encontro de Li, envolto pela eletricidade do golpe do rapaz. Li não sabia mais que golpe usar. Não tinha jeito, teria que ser um confronto corpo a corpo mesmo. Empunhou assim sua espada e correu na direção do animal, golpeando-o. O combate durou horas, talvez dias, Li não sabia ao certo a noção de tempo daquele universo.

Monstro (encarando o rapaz cheio de ferimentos a sua frente): 'Deveria desistir de uma vez e encarar a minha vitória.'

Syaoran: 'Está numa situação tão ruim quanto a minha.'

            Era verdade, Li também causara muitos ferimentos na imensa fera.

Syaoran (ofegante): 'Mas tem razão, vamos dar um fim nisto.'

            O rapaz empunhou a espada e correu na direção do cansado monstro. Este sorriu pensando em como o outro era tolo em continuar atacando-o frente a frente, era óbvia a diferença de tamanho e força entre os dois. O monstro já estava pronto para desferir um poderoso golpe no rapaz, quando este desapareceu da sua frente deixando-o perturbado. Só pôde perceber o que aconteceu quando sentiu ser atingido com toda força pelas costas, caindo de joelhos na areia. Li puxou sua espada do corpo da criatura e deu uns passos para trás sem desviar os olhos do inimigo, que uivava de dor. Este virou para ele ainda de joelhos.

Voz: 'Ele venceu Arthas. A luta acabou.'

Arthas: 'Não, eu ainda posso...' (ele tentou se levantar, mas caiu novamente de joelhos)

Voz: 'Não, não pode. O humano venceu.'

Arthas: 'Por favor, Lutor. Eu ainda posso derrotá-lo.'

Lutor: 'Não seja estúpido. Aceite a derrota como um guerreiro que é.'

            Arthas abaixou a cabeça encarando com pesar a areia quente do deserto. Li fitou Lutor, que era uma pequena criatura um pouco mais nojenta que Arthas. Tinha os olhos brilhantes que piscavam o tempo inteiro. O rapaz estranhou que um monstro de quase 3 metros de altura tenha acatado uma decisão de um outro que não devia ser nem maior que Sakura, mas no fundo agradeceu aos céus pela intervenção dele. Estava exausto demais para continuar.

Lutor (encarando Li): 'Deve estar bem cansado guerreiro chinês.'

Arthas: 'Eu ia derrotá-lo!'

Lutor: 'Não seja tolo. Irá acabar morrendo e sabe muito bem o que Emma Daio faz com os que morrem neste universo.'

            Arthas se levantou com uma imensa força e tentou ficar em pé. Li empunhou novamente a espada esperando um novo ataque.

Arthas: 'A batalha terminou. Ainda não acredito que fui derrotado por um guri.'

Lutor (esfregando as mãos): 'Mas ele não é um simples guri, Arthas.'

Arthas (encarando Li): 'Não me interessa quem ele é. Assim que puder, quero uma revanche.'

            Lutor pulou da pedra em que estava em pé e foi até Li, que tinha abaixado a espada e o encarava.

Lutor: 'Acho que deve cuidar desses ferimentos. Se pretende realmente derrotar um demônio superior terá que ser muito melhor que isso.'

Arthas (aproximando-se): 'É verdade. Venha conosco, sabemos de um lugar para se recuperar.'

Syaoran: 'Como posso...'

Lutor (interrompendo-o): 'Confiar em nós? Aprenda rapaz, não pode confiar em ninguém aqui. Às vezes, não deve confiar nem em si mesmo.'

            Arthas e Lutor começaram a caminhar pelo deserto. Li correu até eles.

Syaoran: 'Ei, você disse que se eu o vencesse me diria onde posso encontrar uma brecha.'

Arthas (virando-se para ele): 'Vou lhe mostrar onde pode encontrar uma.'

            Os três começaram a caminhar pelo deserto, passando pelo meio de almas que suplicavam por misericórdia, enquanto demônios maiores os chicoteavam. Li olhava para aquilo com um terrível incomodo, sua vontade era de acabar com algum deles e terminar com o suplício daquelas almas.

Lutor (percebendo o incomodo do rapaz): 'Não tenha pena, provavelmente são assassinos covardes e estupradores. Se soubesse o que cada alma que está aqui fez teria vontade de fazer eles sofrerem mais.'

Syaoran: 'Não estou aqui para julgar ninguém.'

Lutor (virando-se para ele): 'Mas aqui ninguém julga ninguém. Apenas Emma Daio tem este poder. Aqui só os mais fortes e desenvolvidos sobrevivem, ou pelo menos tentam.'

Arthas: 'Vamos. Estamos chegando? Eu não agüento mais.'

Lutor (sorrindo): 'O guri realmente lhe deu uma surra, Arthas.'

Arthas (trincando os dentes): 'Cala a boca!'

            Sakura estava dançando na festa de confraternização da irmandade Kαβ. Eles estavam dando as boas vindas aos novos calouros. Sakura e Tomoyo já estavam no sexto período das suas respectivas faculdades. Apesar da confusão do ano anterior, o reitor conseguiu fazer com que o semestre não fosse perdido. Isso, é claro, sacrificando um pouco as férias dos alunos (eles precisam de um apocalipse para parar as aulas, lá na minha só precisa os professores resolverem entrar em greve).

Kimura (observando as amigas dançando): 'A Kinomoto está melhor.'

Makoto: 'É verdade. Acho que ela está começando a aceitar a morte de Li.'

Kimura (arrepiando-se toda): 'Ainda não consigo acreditar na história que a Daidouji nos contou.'

Makoto: 'Confesso que ainda penso que tudo não passou de um pesadelo.'

Kimura (encostando a cabeça no ombro do namorado): 'Também tenho esta sensação. Mas eu acho que a Kimomoto ainda não acordou do pesadelo.'

            Makoto suspirou enquanto apreciava a ex-namorada se divertindo com as amigas. Ali ela até parecia que estava feliz e que havia finalmente se esquecido de Syaoran Li, mas inúmeras vezes ele já a pegara olhando para o nada com os olhos rasos de lágrimas.  Um rapaz chegou perto do grupo de amigas. Era Seiya Yanamoto, um dos rapazes mais populares da faculdade. Cursava direito e tinha uma enorme fama, pois sua família era muito conhecida no mundo dos tribunais, além de ser considerada muito rica e influente na política do Japão. Sakura um dia esbarrou com ele nos corredores da reitoria quando foi para trancar a matrícula de Li a pedido de sua mãe. Seiya estava resolvendo algum pepino de um dos seus amigos, que fora suspenso pelo reitor. Desde aquele dia ele nunca mais deixou a menina em paz, cercava-a a toda hora pedindo para que ela aceitasse sair com ele para um cinema. Sakura nunca aceitou, não pela fama de mulherengo do rapaz, mas porque não tinha tirado Li da sua cabeça.

Seiya: 'Olá meninas!'

Chiharu: 'Olá Yanamoto. Já atrás da Sakura?' (disse sorrindo)

Rika (cutucando a amiga): 'Deixa de ser indiscreta, Chiharu.'

Seiya: 'Não se preocupe Sasaki, ela está certa eu vim perguntar se... (fitando Sakura) você não quer dançar um pouco comigo.'

Tomoyo (empurrando a amiga): 'Vai Sakura.'

            Sakura olhou para a Tomoyo e sorriu sem graça. Ela sabia bem que a amiga a estava empurrando há tempos para o rapaz, desde que ele mostrou interesse por ela.

Sakura: 'Eu não sei, Yanamoto. Estou com minhas amigas.'

Chiharu: 'Deixa disso, Sakura. Vá com ele. (ao ouvido da menina) E aproveite.'

            Sakura olhou para a amiga de infância sorrindo para ela e depois olhou para o rapaz que ainda a fitava. Ela precisava tentar esquecer Syaoran Li e talvez ele pudesse ajudá-la.

Sakura: 'Está bem.'

            O rapaz a pegou pela mão e a levou para o meio da pista para dançarem. A musica era bem agitada, daquelas que a menina adorava dançar. Seiya dançava com desenvoltura, acompanhando-a bem. Ela o observou e por alguns instantes pôde ver Li dançando frente a ela. A menina parou e esfregou os olhos, imaginando que estivesse novamente tendo mais uma alucinação com o namorado. Seiya percebeu isso e parou de dançar, encarando-a.

Seiya: 'Você está bem?'

Sakura (disfarçando): 'Sim, estou. Eu vou sair um pouco. Está muito abafado.'

Seiya: 'Eu te acompanho.'

            Os dois saíram do ginásio da irmandade. Sakura olhou para o céu e viu a lua brilhar imponente na noite. Como ela sentia falta das poucas vezes que ficava apreciando as estrelas com Li ao seu lado.

Seiya (observando a menina): 'Sente tanta falta dele assim?'

Sakura: 'Hã?'

Seiya (aproximando-se dela): 'Já se faz mais de um ano que ninguém nunca mais soube de Syaoran Li e você ainda sofre por ele?'

Sakura: 'Você não entenderia.'

Seiya: 'Sei que vocês namoraram por pouco tempo, mas não é possível uma garota tão bonita como você ficar sofrendo por um cara que simplesmente desapareceu.'

Sakura: 'Quem te contou isso?'

Seiya: 'Vocês eram o casal 20 da faculdade no ano passado. Todos conheciam Syaoran Li e Sakura Kinomoto, até por causa daqueles acontecimentos estranhos que ocorreram na cidade.'

Sakura (encarando o rapaz): 'Onde quer chegar, Yanamoto?'

Seiya: 'Eu te amo, Sakura. Desde o momento que esbarrei em você na reitoria. Tento há quase seis meses chegar em você, mas você me evita sempre.'

Sakura (esquivando-se): 'Desculpe, Yanamoto, mas eu ainda não consigo...'

Seiya: 'Esquecer o Li? Eu sei disso. Daidouji me disse que você nunca seria capaz de esquecê-lo, mas pense que tem uma vida inteira pela frente. Não pode ficar vivendo numa lembrança.'

Sakura: 'Falou com a Tomoyo?'

Seiya (pegando a menina pelos ombros): 'Eu não sei mais o que faço para você me dar uma chance.'

Sakura: 'Tente entender, eu não posso ser desonesta com você.'

Seiya: 'Não vou me iludir achando que me ama, mas eu peço uma chance para tentar fazer você gostar de mim.'

Sakura (tirando as mãos do rapaz dos seus ombros e se afastando): 'Eu... Eu vou pensar.'

Seiya (sorrindo): 'Já é um começo.'

            O rapaz acompanhou a menina entrar no ginásio novamente com um sorriso nos lábios.

Seiya (para si mesmo): 'Você ainda vai ser minha.'

            Li estava lutando contra um grupo numeroso de demônios. Depois que derrotou Arthas na sua primeira luta no mundo das trevas, ele e os dois demônios que conheceu naquela ocasião começaram uma jornada até o extremo daquele mundo em busca de um portal. Lutor e Arthas, apesar de suas aparências assustadoras, se mostraram bons companheiros mesmo que provavelmente fossem traiçoeiros. 

Syaoran (tirando sua espada do corpo de um demônio morto): 'Essa foi por pouco.'

Arthas (parando ao lado dele): 'Eles não eram fortes.'

Lutor (levantando-se, pois estava bem machucado): 'Mas eram muitos. Demais até. Nunca enfrentamos tantos, Arthas.'

Syaoran: 'Você está bem?'

            Lutor se esticou e cerrou os olhos, Li observou o ferimento do companheiro aos poucos se fechando. Depois que estava completamente curado o demônio abriu os olhos e encarou os dois.

Syaoran: 'Não sabia que tinha este poder.'

Arthas (rindo): 'Se quer chegar ao portal enfrentará demônios com inúmeras magias e poderes.'

Syaoran (desmaterializando a espada): 'Deu para ver.'

Arthas: 'Vamos, ainda estamos longe.'

Syaoran: 'Cara, a gente tá caminhando há muito tempo.'

Lutor (sorrindo): 'Infelizmente aqui não existem aqueles negócios que vocês chamam de aviões senhor Li. As viagens devem ser feitas a pé.'

Syaoran: 'Se me disserem para onde estamos indo poderíamos ir voando.'

Arthas: 'Assim gastaria rapidamente sua magia e quando tivesse que enfrentar novamente algum inimigo morreria em uma fração de segundos.'

Syaoran: 'E daí? Já estou morto mesmo.'

Lutor: 'E daí que voltaria para este mesmo lugar, porém sem poder algum. Seria mais uma dessas almas nojentas e rastejantes que tem aos montes por aqui.'

Syaoran (pensando): 'E perderia a minha chance de voltar para o meu mundo.'

Arthas (olhando para o rapaz com curiosidade): 'Por que quer tanto voltar para o seu mundo. Por acaso tem alguma dívida?'

Lutor: 'Aposto que quer se vingar daquele que te mandou para cá.'

Syaoran: 'Não é bem por isso. Preciso cumprir uma promessa.'

            Os dois riram com gosto, irritando o rapaz.

Syaoran (caminhando mais rápido): 'Podem rir.'

Arthas (tentando se controlar): 'Realmente eu já ouvi desta história de honra entre samurais.'

Lutor: 'Você por acaso é um samurai, rapaz?'

Syaoran (irritado): 'Não importa o que sou. Só preciso achar esta droga de portal.'

Arthas (caminhando ao lado dele): 'Calma, guri. Não precisa ficar tão irritado.'

Syaoran: 'Falta muito?'

Lutor: 'Bastante.'

Syaoran (respirando fundo): 'Não podia ser pior.'

Arthas: 'Pois vai ser muito pior quando tiver que enfrentar Tichondrius.'

Syaoran: 'Tichondrius?'

Lutor: 'É o demônio protetor do portal. Emma Daio fez um acordo com ele para que protegesse este portal contra qualquer alma que quisesse atravessá-lo.'

Syaoran: 'E é tão poderoso assim?'

Arthas (estalando as mãos): 'É o pior de todos.'

Syaoran (debochando): 'Maravilha.'

Lutor: 'Quietos, vamos atravessar mais uma zona de almas perdidas. Eu odeio quando eles ficam implorando ajuda para gente.'

Arthas (encarando Li): 'Nem tente ajudar algum deles. Se fizer isso entraremos em uma enrascada com os demônios superiores responsáveis pelas almas.'

Syaoran: 'Não se preocupem.'

Seiya (parando com o carro em frente à irmandade Kαβ): 'Prontinho. Antes da meia noite, como havia lhe prometido.'

Sakura (sorrindo para ele): 'Obrigada. Amanhã é domingo e eu vou visitar meu irmão cedo.'

Seiya: 'Gostaria de conhecer a sua família.'

Sakura: 'Acho que não é uma boa. Touya é muito ciumento.'

Seiya (sorrindo): 'Também, com uma irmã tão linda...'

Sakura (sem graça): 'Não começa, Seiya.'

Seiya (acariciando o rosto da menina): 'Mas é verdade. Você é encantadora, Sakura. Tenho certeza de que quando meus pais a conhecerem se encantarão com você.'

Sakura (arregalando os olhos): 'Conhecer seus pais?'

Seiya: 'Claro. Estamos namorando há mais de três meses. No próximo período estaremos formados e eu gostaria que já...'

Sakura (fitando-o): 'Acho melhor não, Seiya. Ainda é muito cedo. Três meses não são nada.'

Seiya (depois de respirar fundo): 'Na verdade é quase um ano que estou atrás de você.'

Sakura: 'Não vamos falar nisso. O cinema foi maravilhoso e não quero estragar.'

Seiya (sorrindo): 'Tem razão, minha flor.'

            Sakura ouviu aquilo como se uma faca entrasse pelo peito.

Sakura (saindo do carro): 'Nunca mais me chame assim!'

Seiya (assustado): 'Ei espere aí. O que foi?'

Sakura: 'Já está tarde. Nos vemos na segunda feira Seiya. Preciso ir agora.'

            Sakura fechou a porta do carro e virou-se para entrar no prédio da irmandade quase correndo, deixando o rapaz atordoado.

Seiya (socando o volante): 'Droga, o que foi desta vez?'

            Ele viu o portão da irmandade fechado e tirou uma pequena caixinha de dentro do bolso do blazer. Ele abriu-a e viu a bela aliança cravada com brilhantes. Fechou-a e voltou a guardá-la em lugar seguro para, quem sabe, entregar para sua futura noiva outro dia. Partiu com o carro.

            Sakura entrou no quarto e fechou a porta, apoiando-se nela. Tomoyo olhou assustada para a amiga que chegava de mais um dos seus encontros com o novo namorado. Sakura começou a chorar enquanto se arrastava na porta até sentar no chão.

Tomoyo (indo até ela): 'O que aconteceu, Sakura?'

            A amiga não respondeu, apenas deitou sua cabeça no colo de Tomoyo chorando como uma criança.

Tomoyo: 'Não me diga que aquele sem vergonha do Yanamoto te forçou a alguma coisa? Por que se for isso, eu vou correndo contar para o Touya e aposto como ele vai arrancar a cabeça dele.' (eu não consigo imaginar a Tomoyo falando isso)

            Sakura apenas balançou a cabeça negativamente para a amiga, tranqüilizando-a um pouco.

Tomoyo (afagando os cabelos dela): 'Mas então o que foi?'

Sakura (levantou o rosto, mostrando os olhos vermelhos): 'Ele me chamou como o Syaoran...'

            Tomoyo olhou para a amiga com carinho.

Tomoyo: 'Ele com certeza não sabia disso.'

Sakura (voltando a deitar no colo da amiga): 'Eu sei disso, Tomoyo. Mas é que doeu tanto.'

Tomoyo: 'Calma... Vai passar.'

Arthas: 'Atrás de você, garoto!'

            Li se abaixou com o aviso do amigo e conseguiu desviar do ataque do enorme monstro contra o qual os três estavam lutando. Era como uma enorme serpente com duas cabeças e asas de dragão (gente, eu não sei de onde eu tiro estes bichos). Lutor voou até uma das cabeças e tentou golpeá-la com sua lança, mas foi jogado longe batendo num rochedo. Arthas, por sua vez tentava inutilmente acertar a fera com suas poderosas garras, porém uma das cabeças soltou uma poderosa rajada de fogo que fez o monstro recuar.

Arthas (assustado): 'Não pode ser. Ele me queimou. Como?'

Syaoran: 'Deixa comigo.'

Arthas: 'Vamos embora, guri. Ou vamos morrer aqui.'

Syaoran: 'Tenho que vencê-lo para continuar.'

Arthas: 'Você é um idiota!'

Syaoran: 'Eu conjuro o Deus do Ar com a máxima urgência!'

            A aura azul celeste circulou o guerreiro que voou em direção ao animal, tentando desviar das rajadas de fogo que as duas cabeças emitiam. Quando estava bem próximo, tentou golpeá-las a todo custo. Mas a carapaça que protegia a pele da serpente era muito forte, apenas...

Syaoran: 'Isso!'

            Ele circulou em volta das duas cabeças deixando o animal tonto. Quando percebeu isso, o rapaz parou entre as duas e esperou que elas o atacassem. Assim que as duas rajadas foram emitidas ele parou com a magia do ar caindo o mais rápido que a forte gravidade do mundo das trevas pôde fazer, deixando que as duas cabeças se atingissem mutuamente. O rapaz caiu com tudo na areia e rolou para o lado, desviando do monstro inquieto pela dor das queimaduras.

Syaoran: 'Agora, Arthas!'

            Arthas pulou para cima da serpente e golpeou com velocidade as duas cabeças, decepando-as em segundos. Dois jatos de sangue espiraram por todo o lado até a serpente (ou o que sobrou dela pelo menos) se tornar pó.

Lutor (aproximando-se dos dois): 'Boa estratégia, garoto.'

Arthas: 'Mas quem acabou com ele fui eu.'

Lutor: 'Está certo, caro companheiro.'

Syaoran: 'Estão cada vez mais fortes.'

Lutor: 'E só tendem a piorar. Tichondrius é o senhor deste domínio, seus seguidores são também poderosos e tentarão impedir nossa proximidade do seu líder.'

Arthas: 'Esta cobrinha aí é pinto comparado ao o que teremos que enfrentar da próxima vez.'

Syaoran: 'Do que está falando?'

Lutor: 'Provavelmente teremos que enfrentar Shade.'

Syaoran: 'E quem é esse?'

Arthas: 'Se conseguir sobreviver a Shade, pode ter alguma chance de derrotar Tichondrius.'

Voz: 'Ora, ora, quem é morto sempre aparece!' (piadinha sem graça)

            Li já estava com sua espada materializada encarando o humano que caminhava na direção dos três.

Arthas (sorrindo): 'Ghoul? Eu não acredito.'

            Os dois apertaram as mãos.

Lutor (para Li): 'Não se preocupe. Ele é não nos atacará. Tem uma dívida com Arthas.'

Syaoran: 'Dívida?'

Lutor: 'Sim, Arthas impediu que ele morresse em um combate.'

Syaoran (guardando a esfera negra): 'Não sabia que tinha este tipo de cortesia aqui.'

Lutor: 'Muitos aqui são guerreiros como você. E como você, têm senso de honra. Apenas cometeram alguns erros em seu mundo.'

Syaoran: 'Bom saber disso.'

Arthas: 'Venha conhecer Ghoul, garoto!'

Syaoran (trincando os dentes): 'Ele ainda não aprendeu o meu nome.'

Lutor (rindo): 'Você sempre será o Garoto.'

Ghoul (observando Li assustado): 'Se não é o guardião! Não pensei que acabasse aqui.'

Lutor: 'Do que está falando, Ghoul?'

Ghoul: 'Que foi este rapaz que acabou com Shyrai.'

Arthas (rindo com gosto): 'Não me venha com brincadeiras, Ghoul. Nunca Emma Daio condenaria um guardião ao inferno.'

Ghoul (sério): 'Pois é ele mesmo. Eu o vi lutando na boca do portal contra Adylos e os outros que estavam tentando atravessar. Eu mesmo atravessaria se não fosse ele.'

            Lutor e Arthas olharam feio para Li. O rapaz imaginou que eles com certeza não gostaram muito da novidade e já estava pronto para se defender.

Lutor (rindo com gosto): 'Então este moleque era o tal guardião.'

Arthas: 'Eu já sabia disso.'

Lutor: 'Sabia droga nenhuma.'

Voz: 'Que interessante. O guardião aqui no inferno.'

            Os cinco olharam rápido para trás e viram a figura de um cavaleiro medieval, apesar da armadura suja e enferrujada.

Ghoul: 'Sha... Shade...'

Shade: 'Obrigado por me apresentar, idiota.  (desviando o olhar para Li) Acho que você tem uma dívida comigo fedelho.'

Syaoran (levantando a sobrancelha): 'Não me diga.'

Shade: 'Por causa da sua interferência, nossos planos foram destruídos. Vingarei Shyrai.'

Syaoran: 'Como quiser, homem de lata.'

Shade: 'Impertinente.'

            Lutor, Arthas e Ghoul se afastaram deixando Li e Shade se encarando. O cavaleiro empunhou sua enorme espada enquanto Li materializava a sua.

Arthas: 'O garoto não tem chances.'

Lutor: 'Devemos ajudá-lo.'

Ghoul: 'Estão loucos? Irão morrer.'

Lutor: 'Ele está certo. Nossa intenção é chegar até Tichondrius.'

Arthas (observando a luta entre Li e Shade): 'Tem razão, Lutor.'

Continua.

PS da autora: Como vocês devem ter percebido, estou fazendo o tempo correr pra caramba. Minha intenção é esta mesmo, então não pensem vocês que nossa heroína caiu rapidinho nos braços do Seiya, Ok?