Capítulo 21: O Retorno de Li Syaoran

            Sakura se ajeitava nervosamente na cadeira em que jantava com Seiya e seus pais. A mãe do rapaz era uma senhora muito bondosa, porém o pai permanecia sempre com a mesma cara amarrada.

Sr Yanamoto: 'Então você cursa Educação física?'

Sakura: 'Eu me formo no final deste semestre.'

Seiya: 'Ela está estagiando na escola primária de Tomoeda.'

Sra Yanamoto: 'Que maravilha, trabalha com crianças.'

Sakura (sorrindo): 'Sim. O diretor Terada (é isso mesmo ele agora é diretor da escola) já me garantiu que irá me efetivar assim que me formar.'

Sr Yanamoto: 'Não acha que ser professora é uma profissão pouco rentável?'

Sakura (meio incomodada com a pergunta): 'Mas é o que eu gosto.'

Seiya: 'Por favor, pai. Não comece.'

Sr Yanamoto (dando os ombros): 'Eu só fiz um comentário.'

Sra Yanamoto: 'Estou muito feliz por finalmente conhecê-la, Sakura. Seiya fala de você o tempo todo.'

Sakura: 'Também estou muito feliz por conhecê-la.'

Seiya: 'Eu gostaria de lhes apresentar antes, mas Sakura dizia que estava ainda muito cedo.'

Sra Yanamoto (sorriu): 'Que besteira, querida. Quando se ama, não tem esse negócio de tempo.'

Sakura: 'Eu sei disso. É que não achei certo conhecê-los enquanto nós mesmos mal nos conhecíamos.'

Seiya: 'Já lhe disse que isso não era problema.'

Sr Yanamoto (sorrindo pela primeira vez): 'Isso prova que sua namorada não é interesseira, Seiya.'

Seiya (irritado): 'Pai!'

Sr Yanamoto (calmamente): 'As outras estavam loucas para que você as apresentasse para família para se casarem o quanto antes.'

Sakura: 'Não se preocupe com relação a isso senhor. Estamos apenas namorando.'

Seiya (a meia voz): 'Isso só porque você quer. Por mim já tínhamos casado de uma vez.'

Sakura (calmamente): 'Deveria pensar primeiro em acabar a faculdade e passar no concurso público, Seiya.'

            O senhor olhou curiosamente para a moça que estava sentada ao lado do filho. Ela realmente não parecia interessada nas posses da família como as outras que o filho havia apresentado para ele.  Na verdade, ela mal parecia estar interessada em casamento, o conselho que ela acabara de dar ao seu filho era justamente o que ele sempre falava para o rapaz. Por fim, pela primeira vez sorriu sinceramente para a menina.

Sakura (limpando a boca com o guardanapo): 'Estava tudo uma delícia, Sra Yanamoto.'

Sra Yanamoto: 'Obrigada, querida.'

            Li caiu de joelhos com o enorme ferimento que tinha no abdome. Tinha dado tudo de si na luta contra Shado, mas mal conseguia atingi-lo. Ele sabia que a armadura só podia ser forte, mas nunca imaginaria que era impenetrável.

Shado: 'Pode começar a suplicar pela sua miserável existência, guardião.'

            Arthas fez menção de ir para frente mais foi impedido por Lutor.

Lutor: 'Calma, ele ainda não está derrotado.'

Arthas: 'Derrota aqui significa fim, Lutor.'

Lutor: 'Não podemos fazer nada. Lembre-se que estamos apenas interessados em chegar até Tichondrius'.

            Shado pegou Li pelo pescoço com uma das mãos. O cavaleiro o levantou para o alto, sufocando-o cada vez mais. Porém Li finalmente pôde ver o que queria – abaixo do capacete havia uma pequena abertura. Provavelmente o capacete não encaixava corretamente na armadura. Ali estava a única vulnerabilidade da poderosa armadura. O rapaz tirou uma das mãos que tentava impedir que o cavaleiro o sufocasse mais e a estendeu.

Arthas: 'Ele está desistindo!'

Lutor (indo até os dois): 'Larga ele, Shado. Ele está desistindo.'

Shado (apertando mais forte o pescoço do rapaz): 'Aqui apenas se desiste da existência.'

            A espada de Li, que estava caída no chão, voou rápido para a mão do rapaz que a segurou forte e golpeou aquela pequena brecha da armadura do inimigo. Arthas e Lutor olharam espantados Li caindo no chão com a mão no pescoço enquanto Shado caia de joelhos com o pescoço sangrando. Por fim apenas a armadura permanecia naquele mundo como uma sucata.

Arthas (chutando a armadura): 'Vo... Você o derrotou.'

Lutor (ajudando o rapaz a se levantar): 'É claro! Não tá vendo a armadura vazia, idiota? Agora vê se me ajuda aqui. O garoto tá sangrando muito.'

            O poderoso monstro pegou Li nos braços.

Ghoul: 'Tem um rio aqui perto.'

Lutor: 'Rio?'

Ghoul: 'Sim, lá podemos tratar dele. Se tentar enfrentar Tichondrius assim, não terá chance alguma.'

Arthas: 'Vamos logo. Antes que ele não resista.'

            Li foi levado por eles, o rapaz podia ouvir e sentir, mas estava cansado demais para fazer qualquer movimento ou falar algo. Deixou que eles o levassem sem nem ao menos se dar conta de onde iria.

Tomoyo (vendo a amiga entrar no dormitório): 'E aí, como foi o jantar com os pais do Seiya?'

Sakura (colocando a bolsa na escrivaninha): 'Foi legal.'

Tomoyo: 'O pai dele é um dos melhores advogados do Japão.'

Sakura (tirando os brincos): 'É, ele é legal também.'

Tomoyo (percebendo o desinteresse da amiga): 'O que foi Sakura? Não parece animada.'

Sakura (virando-se para a amiga): 'Ele quer se casar.'

Tomoyo (abrindo um enorme sorriso): 'Mas isso é maravilhoso!'

Sakura: 'É.'

Tomoyo (cruzando os braços e encarando a amiga): 'Você não está feliz com isso, não é?'

Sakura: 'Estou.'

Tomoyo: 'Pois não parece.'

Sakura: 'Eu não aceitei.'

Tomoyo: 'Como? Você não aceitou o pedido do Yanamoto?'

Sakura: 'Preciso terminar a faculdade primeiro, Tomoyo. Depois eu penso em casamento.'

Tomoyo: 'Sakura, Yanamoto ama você de verdade. Dá para ver isso. Não desperdice esta chance de ser feliz.'

Sakura: 'Pode ser, eu não quero pensar nisso agora. Amanhã tenho que dar aula no primeiro tempo na escola, a professora Yamata vai ter que faltar e pediu para eu substitui-la.'

Tomoyo: 'Meilyn ligou.'

Sakura: 'Droga, eu precisava falar com ela. Será que está tarde?'

Tomoyo: 'Sakura, não acha melhor evitar ir para a China?'

Sakura (pegando o telefone): 'Semana que vem vai fazer três anos que Syaoran morreu, Tomoyo.'

Tomoyo: 'Mas você está viva, não pode se sentir presa ao passado por toda a vida. Aproveite a chance que a vida está lhe dando de ser feliz com outra pessoa.'

Sakura: 'Tomoyo, eu não posso ser feliz com Seiya. Eu não posso ser feliz com mais ninguém...'

Tomoyo (pegando as mãos dela entre as suas): 'Não pode pensar assim, você é linda e cheia de vida. Tenho certeza de que se Li ouvisse você falando deste jeito ficaria muito triste.'

Sakura: 'Mesmo assim, eu preciso estar na China semana que vem para os rituais em memória dele.'

Tomoyo: 'Então eu vou com você, está bem?'

Sakura (abrindo um meio sorriso): 'Claro.'

            Li abriu os olhos e viu o céu vermelho em chamas, levantou-se e sentiu uma fisgada no abdome.

Arthas: 'Teve sorte, garoto. Pensamos que desta você não escaparia.'

Syaoran (com a mão no machucado): 'Eu também pensei nisto.'

Arthas: 'Lutor está dando uma olhada por aí com Ghoul.'

Syaoran (encarando o amigo): 'Não acha estranho este tal de Ghoul aparecer um pouco antes de Shado.'

Arthas (calmamente): 'Foi Ghoul que trouxe Shado.'

Syaoran (arregalando os olhos com a calma do colega): 'Então precisamos eliminá-lo! Provavelmente é seguidor do tal...'

Arthas: 'Tichondrius.'

Syaoran: 'E você fala isso numa boa?'

Arthas: 'Não se preocupe, garoto. Ele não é idiota de tentar nos matar. Ele pensa que está nos enganando, mas nós é que estamos usando ele para achar Tichondrius.'

Syaoran (erguendo uma sobrancelha): 'Então você não sabe onde está o portal direito.'

Arthas: 'Claro que não. O portal provavelmente não está com um letreiro iluminado. Emma Daio não pode permitir que qualquer alma passe por eles, por isso entra em acordo com alguns poderosos demônios para guardá-los com segurança.'

Syaoran: 'E o que eles ganham com isso?'

Arthas: 'Às vezes ganham o perdão de seus pecados e a chance de reencarnar... Às vezes não ganham nada, apenas o reconhecimento de que foram os escolhidos por Emma Daio e por isso são os mais fortes e temidos. Puro orgulho.'

            Syaoran levantou-se e foi até a margem do rio, a água era quente e dava para ver a fumaça dela evaporando. Ele observou o seu reflexo no espelho d'água, estava com a mesma aparência de quando tinha morrido, apenas estava com o rosto sujo e machucado. O rapaz lavou o rosto pensando em quando tempo estaria lá. Para ele tudo não passava de alguns meses, mas já tinha perdido as contas, pois não havia noites nem dias. Ficava difícil marcar o tempo.

Syaoran: 'Acha que estou aqui há quanto tempo?'

Arthas: 'Não sei. Tempo é algo muito difícil de se medir quando temos a eternidade.'

Syaoran: 'Eu fico pensando em como deve estar a Sakura.'

Arthas: 'Sakura? É uma mulher?'

Syaoran: 'É.'

Arthas: 'É a sua mulher?'

Syaoran (sorrindo): 'Pode-se dizer que sim.'

Arthas (rindo): 'Não me diga que está querendo voltar por causa dela? Nenhuma fêmea merece isso, garoto.'

Syaoran: 'Não sabe do que está falando.'

Arthas (parando ao lado dele): 'É claro que eu sei, foi por causa de uma delas que eu estou aqui neste inferno.'

Syaoran (encarando o monstro rindo): 'Nunca imaginei você namorando, Arthas.'

Arthas (um pouco irritado): 'Pois nem irá. Foi por causa de uma p... (piiiii *Censurado*) que eu acabei caindo numa armadilha.'

Syaoran: 'No mínimo era casada.'

Arthas: 'Não quero falar sobre isso.'

Syaoran (dando os ombros): 'Você é quem manda.'

Arthas (observando o rapaz se afastar): 'Acredite, garoto. Nenhuma mulher merece o sacrifício de um homem.' (que cara anti-romântico!!!)

Syaoran: 'Talvez sim, talvez não. Não espero que realmente Sakura espere por mim, estou voltando apenas para cumprir a promessa que fiz a ela.'

Arthas: 'Esta história de promessa de novo.'

Syaoran: 'Não sou homem de ter duas palavras.'

Arthas (encarando-o): 'Você não passa de um garoto teimoso.'

Syaoran: 'Que tal começar a me chamar de Li?'

Arthas: 'Chamo-o do você é, garoto.'

Syaoran: 'Morri com 20 anos, não era nem mais um garoto quando isso aconteceu.'

Arthas: 'Você tem espírito de garoto.'

Syaoran (levantando a sobrancelha): 'Eu sou um espírito.'

            Arthas deus os ombros e não falou mais nada. Li sentou em uma pedra olhando para o imenso lago que estava a sua frente, às vezes algum demônio ia se banhar nele e saía quase escalpelado.

Syaoran (para si mesmo): 'Agora falta pouco.'

            Sonomi abraçava a filha forte quase a sufocando.

Sonomi (com lágrimas nos olhos): 'Estava maravilhosa, minha querida.'

Yukito: 'Concordo com sua mãe, Tomoyo. Nunca a vi cantando tão bem.'

Chiraru (com o braço dado a Yamasaki): 'Foi linda sua apresentação, Tomoyo.'

Tomoyo (sorrindo): 'Obrigada, vocês gostaram mesmo?'

Yamasaki: 'Vocês sabiam da onde surgiram os corais...'

Chiraru (dando um cascudo no noivo): 'Agora não, Takashi.'

Rika: 'Estava realmente maravilhoso o seu solo. Eu confesso que chorei.'

Sakura: 'Tomoyo sempre conseguiu emocionar a platéia.'

Tomoyo (sorrindo sem graça): 'Que isso! Assim vocês me deixam sem graça.'

Terada (com o braço nos ombros de Rika): 'Todos tem razão, Daidouji. Continua com a mesma voz de anjo.'

Tomoyo (com as bochechas coradas): 'Até o senhor, Professor Terada.'

Terada (sorrindo): 'Já deixei de ser professor de vocês há muito tempo. Agora sou marido da Rika (disse olhando para a esposa) e chefe da Kinomoto.'

Sakura: 'Isso é verdade. Amanhã eu pego no batente bem cedinho.'

Touya: 'É bom mesmo. Não pode chegar atrasada no trabalho como chegava na escola.'

Sakura: 'Pára de ser chato, Touya.'

Terada (rindo): 'Kinomoto está se mostrando uma ótima professora. Os alunos a adoram.'

Rika: 'A Naoko é que não pôde vir por que está fazendo uma matéria para a revista lá na América, mas mandou muitos beijos para todos.'

Tomoyo: 'Que bom que o grupo está todo completo.'

Kimura: 'Eu posso não pertencer ao grupo formando da escola de Tomoeda, mas estou muito feliz de estar aqui.'

Makoto: 'Digo o mesmo. Falando nisso, amor (se referindo a Kimura), precisamos cumprimentar Takeshi.'

Tomoyo: 'Ele também cantou maravilhosamente.'

Sakura: 'Mas você ainda é a melhor.'

            Tomoyo estava explodindo de vermelha com tantos elogios. Aquela noite foi sua última apresentação com o coral, depois disso começaria sua carreira solo como cantora lírica. 

Tomoyo (fitando Sakura): 'Seu noivo não veio?'

Sakura: 'Ele está estudando muito para a prova que vai fazer amanhã. Pediu mil desculpas, mas não dava mesmo para ele vir.'

Tomoyo (sorrindo): 'Bem, então que tal a gente comemorar minha última apresentação no coral?'

Kimura: 'A gente poderia ir aquele restaurante novo que abriu na cidade.'

Rika: 'Maravilhosa idéia.'

Sakura: 'Então vamos todos!'

Sonomi: 'E por minha conta. Hoje é um dia especial para minha princesa.'

Tomoyo (ao ouvido de Sakura): 'Imagina se o Kero sabe disso.'

Sakura: 'Boca livre é com ele mesmo.'

            As duas amigas riram e saíram abraçadas acompanhadas pelo grupo de queridos amigos.

            Li observava o enorme e velho portão de madeira que estava a sua frente.

Arthas (olhando feio para Ghoul): 'Tem certeza de que ele está aí?'

Ghoul (tremendo): 'Tenho. O senhor Tichondrius está atrás deste portão guardando um portal.'

Syaoran (materializando a sua espada): 'Bem, então vamos nesta.'

Lutor (segurando o ombro do rapaz): 'Espera aí, garoto. A coisa não é assim tão fácil. Precisa saber de algumas coisas.'

Syaoran (encarando a criatura): 'Eu sei que não irão me ajudar. Eu percebi isso quando lutei contra Shado.'

Lutor: 'Na verdade, estávamos te testando. Iríamos interferir caso você desistisse da luta. Contra Tichondrius, talvez nem nossos poderes todos reunidos serão capazes de derrotá-lo.'

Syaoran: 'Não vão acovardar agora, não é?'

Arthas: 'Com quem pensa que está falando, garoto?'

Lutor: 'Precisamos lutar em equipe, ou morreremos os três. Por isso, nada de atos heróicos.'

Syaoran (impaciente): 'Ok. Agora vamos?'

Arthas: 'Garoto teimoso.'

            O grande demônio deu uns passos à frente e golpeou o portão. Ghoul saiu quase que correndo para trás, deixando apenas os três. Li desviou de Arthas e entrou primeiro. Ele podia sentir a forte presença de Tichondrius. Era como se estivesse para encontrar a pior das criaturas. Os três caminharam por um longo corredor mal iluminado. Li ia à frente de Arthas, e Lutor vinha logo atrás. O corredor terminou em uma câmara que tinha uma enorme esfera multicolorida no centro flutuando. Li reconheceu de imediato àquela bela luz.

Syaoran: 'Eis o portal.'

Voz: 'Isto mesmo, rapaz.'

            Um homem saiu de trás da luz. Era um pouco mais alto que Li, mas não chegava a ser do tamanho de Arthas. Tinha dois pequenos chifres na testa e longos cabelos louros. (dá para imaginar esta figura?!)

Lutor: 'Tichondrius?'

Tichondrius: 'Sou eu mesmo. E se arrependerão por invadirem o meu domínio.'

            Tichondrius esticou os braços e duas lanças de luz se formaram em cada um. Arthas correu na direção dele tentando golpeá-lo com suas garras, mas o demônio desviou de todos os ataques com uma velocidade espantosa e acabou decepando um dos braços da grande criatura, que recuou desesperada.  Tichondrius já estava pronto para matá-lo quando Li parou à frente dele, protegendo o demônio com sua espada. Os dois começaram a duelar. Li nunca havia lutado com alguém assim. Quando um lutador é forte costuma ser grande e lento, porém Tichondrius além de ser rápido era extremamente forte. Lutor tentou interferir na luta entre os dois, mas o inimigo o golpeou com sua magia fazendo-o destruir uma parte da grossa parede de pedras da câmara.

            Li tentava recuar dos ataques raivosos de Tichondrius, mas era quase impossível. As lanças eram tão poderosas que elas não precisavam alcançar o alvo para ferirem. O rapaz já estava com inúmeros cortes.

Tichondrius: 'Irá morrer aqui!'

            Li desviou de mais um ataque.

Syaoran: 'Metal, Madeira, Água, Fogo, Terra... Deuses dos relâmpagos e das tempestades elétricas... Eu vos invoco para meu auxílio!'

Tichondrius: 'Idiota, esta magia nunca irá me derrotar.'

            E realmente não era para derrotá-lo, o golpe de Li não era para atingir o inimigo, mas apenas uma das mãos para que ele soltasse pelo menos uma das lanças. E assim foi feito, recebendo a forte descarga de eletricidade, Tichondrius acabou soltando uma das lanças no chão. Arthas viu isso e a golpeou para longe, saindo do alcance do demônio.

Tichondrius (irritado): 'Garoto impertinente!'

            Tichondrius foi com tudo para cima do rapaz. Li sentiu que a raiva dele tinha aumentado sua força, mas também o tinha deixado mais lento e previsível. "Quando a cabeça não pensa o corpo padece", pensou Li, que aproveitou o momento para finalmente começar a atacá-lo, pois antes se limitava apenas a se proteger. Conforme Syaoran ia golpeando Tichondrius, este ficava mais raivoso e menos dono de si. Esta insegurança começou a se tornar fraqueza no combate. Lutor entrou na luta. Agora quando um se protegia dos ataques de Tichondrius o outro atacava por trás, deixando o demônio louco de raiva com os pequenos ferimentos que eles estavam começando a fazer nele.

Tichondrius (explodindo de raiva): 'Matarei todos!'

            Uma luz explodiu do demônio jogando os três contra as paredes da câmara. Li bateu com a cabeça e acabou soltando a espada. Lutor e Arthas também estavam sonsos com a força do golpe. Tichondrius começou a caminhar lentamente em direção a Lutor e o golpeou na altura do peito.

Syaoran: 'Não!!!'

            Arthas tentou se levantar, mas mal conseguiu dar dois passos e caiu no chão novamente observando o amigo em agonia.

Tichondrius: 'Sofra, verme!'

            Lutor fechou os olhos tentando usar seu poder para se recuperar, mas Tichondrius sabia disso e permanecia com a espada no peito do demônio. Li se concentrou e a espada voou em direção às costas de Tichondrius, acertando-o em cheio. O demônio caiu de joelhos com a dor e soltou a lança. Lutor juntou as forças e puxou a lança do próprio peito ainda em agonia. Um jato de sangue saiu de seu peito. Arthas rastejou até o companheiro de inúmeras batalhas.

Lutor: 'Beba o meu sangue, Arthas, antes que eu desapareça.'

Arthas: 'Não seja louco. Não irá morrer, use seu poder para se recuperar.'

Lutor (depois tentar respirar): 'Faça o que eu mando e leve um pouco para o garoto.'

Arthas (sentando ao lado do amigo): 'Não.'

Lutor: 'Faça o que eu mando, idiota!'

            Tichondrius se levantou e puxou a espada das costas, jogando-a para longe. O demônio estreitou seus olhos verdes em Li. O rapaz percebeu que agora ele tremia de raiva.

Tichondrius: 'Como ousou me atacar, verme?'

            Li tentou se levantar, mas mal conseguia ficar em pé, precisava se apoiar na parede para isso. O demônio fez um gesto que envolveu o rapaz em chamas mágicas que o queimavam. Li gritava de dor enquanto ele ria observando o rapaz, quando Arthas o atingiu com tudo com uma pedra na cabeça, jogando-o contra uma parede. As chamas em volta de Li desapareceram deixando o rapaz deitado com o corpo todo queimado. Arthas correu rápido até ele e o fez sentar, derramando o líquido viscoso e vermelho na boca do rapaz (é sangue mesmo. Que nojo!!!!).  O grande monstro olhou para Lutor que sorriu antes de virar pó na sua frente. Ele deitou Li esperando que o efeito da magia de Lutor se manifestasse rápido no rapaz, em seguida levantou-se encarando Tichondrius, que o observava com pura fúria. O demônio limpou com a mão o sangue que escorria pelo belo rosto de Li.

Tichondrius: 'Já me causaram problemas demais.'

Arthas: 'Você não viu nada.'

            Tichondrius fez com que suas duas mãos se iluminassem com uma áurea vermelha. Arthas foi à direção dele tentando golpeá-lo com a única mão que tinha agora, porém Tichondrius estava com a vantagem e começou a espancar a grande criatura. Quando se cansou, arremessou Arthas para longe e materializou uma espada. Estava pronto para decapitar Arthas quando...

Syaoran: 'A luta ainda não terminou, metido!'

            Tichondrius virou-se devagar para trás e viu Li em pé com a maioria dos ferimentos curados. Ele estendeu a mão e a espada voou até ele.

Tichondrius: 'Ainda não se deu por vencido, garoto?'

Syaoran: 'A luta só termina quando eu acabar com a sua raça.'

Tichondrius (rindo): 'É mais idiota do que eu pensei, guardião. Quando soube que você veio para o inferno por vontade própria pensei que fosse piada, mas agora vejo que é mesmo um burro.'

Syaoran: 'Que vai acabar com você.'

            Li voou em cima de Tichondrius, golpeando inúmeras vezes. O poder de cura de Lutor não tinha apenas lhe recuperado os ferimentos, mas tinha lhe dado mais raiva e força. Talvez estivesse se tornando realmente mais um dos inúmeros demônios daquele mundo.  

Syaoran: 'Deuses dos relâmpagos e das tempestades elétricas que dominam os cinco elementos, eu invoco com a máxima urgência o supremo Imperador dos Trovões. Ataque relâmpago!!!'

            O ataque acertou Tichondrius em cheio, fazendo pela primeira vez o demônio recuar. Li quase voou ao encontro dele, atacando-o mais e mais com a espada e com golpes de luta. Tichondrius começava a não acompanhar os movimentos de Li. A magia dele tinha crescido demais, tornando-o um adversário à altura que Tichondrius sempre havia procurado. Arthas não tinha mais condição de ajudar o amigo, estava esgotado. A magia de Lutor tinha o ajudado, mas não tinha feito sua magia e força crescerem tanto como a do rapaz. Um calafrio subiu pela espinha do monstro vendo o amigo lutar contra Tichondrius. Aquele não era o garoto que ele havia conhecido assim que o viu no deserto olhando assustado para o céu em chamas e reclamando do calor do inferno. Ali estava o guardião das trevas como já lhe haviam falado inúmeras vezes, porém nunca havia levado a sério.

            Tichondrius acertou um golpe em Li que o fez voar com força contra uma das paredes, porém o rapaz a empurrou buscando impulso para voltar com tudo para cima do demônio, golpeando-o inesperadamente com a espada. Tichondrius olhou o enorme ferimento que Li fez no ombro dele com raiva.

Tichondrius: 'Vou acabar com isso de uma vez.'

            Li encarou o demônio esperando pelo momento certo. Precisava terminar com aquela luta de uma vez, já sentia que seu corpo não agüentava mais os inúmeros ferimentos que tinha. A magia de Lutor até podia curá-lo, mas levava alguns segundos, além de doer horrores enquanto cicatrizava.

Tichondrius (com os braços para cima): 'Deus da morte e do mundo subterrâneo, eu exijo de ti o poder por mim desejado...'

Syaoran: 'Nem vem com esta mandinga, amigo.'

            Li correu para golpear Tichondrius antes que terminasse a sua oração.

Tichondrius: 'Desejo o poder supremo!!!'

            Um raio de luz vermelha destruiu o teto da câmara e atingiu Tichondrius, iluminando-o. O demônio ria enquanto se sentia vitorioso com o poder que agora recebia, porém o que ele não imaginaria era que Li tentaria golpeá-lo naquela hora. O normal e esperado era que por medo recuasse. Syaoran entrou na luz e o golpeou cortando-o praticamente ao meio. Tichondrius caiu de joelhos com as mãos na barriga sangrando e encarando assustado Li. Os dois estavam envoltos na luz vermelha até que Tichondrius caiu para trás, transformando-se em pó. Li olhou para cima e viu o céu vermelho em chamas. A luz que o envolvia agora desaparecera fazendo a câmara ser apenas iluminada pela bela luz colorida do portal.

Syaoran (indo até Arthas): 'Hei, você está bem?'

            Arthas olhou para ele espantado. Li estranhou este comportamento do amigo. Parecia até mesmo que ele estava com medo do garoto.

Syaoran: 'O que foi, Arthas? Não me diga que também vai morrer?'

Arthas (recuperando-se): 'O grande Arthas sempre sobrevive ao combate.'

Syaoran (ajudando-o a levantar): 'Sei... Então porque está aqui, grandão?'

Arthas: 'Não seja curioso, garoto.'

Syaoran: 'O poder de Lutor já deve fazer você se sentir melhor.'

Arthas: 'Nunca pensei que doesse toda vez que ele cicatrizava as feridas.'

Syaoran: 'Nem eu.'

Arthas (olhando para o portal): 'Eis o que queria, garoto.'

Syaoran: 'Conseguimos.'

Arthas: 'Você conseguiu.'

Syaoran: 'Não conseguiria sem a ajuda de vocês.'

Arthas (com a mão na cintura): 'Mas é claro que não. Você venceu porque o poderoso Arthas estava com você.'

            Syaoran sorriu com o convencimento do amigo.

Arthas: 'Não vai atravessar?'

Syaoran (olhando para luz): 'Como é que eu vou saber que estou indo para o meu mundo?'

            Arthas caiu no chão.

Arthas (levantando do tombo): 'Eu sei lá. Devia ter pensado nisso antes.'

Voz: 'Não se preocupe, este portal leva até onde a pessoa quiser.'

            Os dois viraram-se para trás e viram o anjo imponente que havia levado Li para o portal do inferno.

Arthas: 'Ora, oras, uma criatura divina vindo ao encontro dos seres rastejantes.'

Anjo: 'Não seja irônico, Arthas.'

Arthas (dando os ombros): 'Foi apenas um comentário.'

Anjo (fitando Li): 'Você conseguiu o que queria. Emma Daio não imaginou que conseguisse tal façanha, rapaz.'

Syaoran: 'Acho que ninguém imaginou.'

Anjo: 'Só um lembrete: pode até atravessar este portal, mas não voltará a ser humano novamente.'

Syaoran (encarando o anjo): 'Serei mais uma das criaturas das trevas, não?'

            O anjo acenou com a cabeça positivamente.

Anjo: 'Terá a mesma forma que antes, porém você sabe muito bem que não conseguirá voltar a ser o mesmo Syaoran Li.'

Syaoran: 'Não vou enlouquecer, não é?'

Arthas: 'Você nunca foi muito normal, mesmo.'

Anjo (depois de sorrir com o comentário): 'Não, não irá enlouquecer. Será tão real como é agora, mas sua presença e magia mudarão muito. Talvez seus amigos não o reconhecerão.'

Syaoran: 'Principalmente os dotados de magia.'

Anjo: 'Estes principalmente. Poderão confundi-lo com um ser das trevas.'

Arthas: 'Legal. Posso ir com ele então?'

Anjo (olhando feio para o demônio): 'Não seja tolo, Arthas.'

Arthas: 'Se ele pode ir, eu também posso.'

Anjo: 'Emma Daio tem uma missão para você.'

Arthas: 'Mesmo?'

Anjo: 'Depois cuidaremos disso. (fitando Li) E então, irá ou não?'

Syaoran: 'Estou indo.'

            Li virou-se para Arthas, o demônio o abraçou com seu único braço e se despediu dele. Li cumprimentou o anjo e deu seu primeiro passo em direção à luz. Assim que entrou, um clarão o cegou e quando abriu os olhos estava caindo no lago de Tomoeda. O rapaz ficou boiando no lago olhando para o parque do rei pingüim.

Syaoran: 'Droga, não tinha um lugar melhor para colocarem esta droga de portal?'

            O rapaz nadou até a margem e saiu do lago com as roupas encharcadas, além de estarem rasgadas e sujas. "Aonde eu vou agora? Não sei quanto tempo eu estive morto. Onde estará Sakura e Hiragizawa?", pensou o rapaz enquanto caminhava pelas ruas desertas de Tomoeda. Ele olhou para o céu e o viu estrelado com a enorme e bela lua no céu. Um grupo de jovens que passeava pela rua mexeu com ele pensando que se tratava de um maluco ou mendigo.

            O rapaz passou em frente à casa branca da senhora Mizuki, viu que a senhora a tinha reconstruído perfeitamente. A porta se abriu mostrando uma senhora assustada na porta.

Mizuki: 'Quem é você demônio?'

Syaoran: 'Sou eu, senhora Mizuki.'

            Li viu a senhora espantada levar as mãos à boca ao vê-lo. Bem, não é todo dia que se encontra um morto andando na rua. Ela desceu as escadas da varanda e fitou o rapaz com cuidado. Colocou uma de suas mãos no rosto dele como se quisesse acreditar que realmente estivesse ali.

Mizuki: 'Não pode ser. Como...'

Syaoran: 'É uma longa história.'

Mizuki: 'É melhor entrar, está com uma aparência horrível.'

Syaoran: 'Não estava num dos melhores lugares.'

            A senhora levou Li para dentro de sua casa e lhe deu toalha e roupas para vestir.

Mizuki: 'Eriol deixou algumas roupas aqui.'

Syaoran: 'Obrigado.'

            Assim que o rapaz entrou no banheiro a senhora foi até o telefone.

Nakuru (espevitada como sempre): 'Residência do senhor Hiragizawa.'

Mizuki: 'Nakuru, sou eu a senhora Mizuki.'

Nakuru: 'Olá, senhora Mizuki! Como vai?'

Mizuki: 'Eriol está?'

Nakuru: 'Já irei chamá-lo. Só um minutinho.'

Eriol (depois de alguns instantes): 'Pronto. Hiragizawa falando.'

Mizuki: 'Ele voltou, Eriol.'

            Houve um silêncio. A senhora teve a impressão de que o rapaz tivesse deixado o aparelho cair das mãos.

Eriol: 'Como?'

Mizuki: 'Isso mesmo, rapaz. Li voltou. Acabei de encontrá-lo.'

Eriol: 'Não pensei que tinha levado aquilo a sério.'

Mizuki: 'Pois levou e cumpriu com o que falou. Ele voltou.'

Eriol (nervoso): 'Como ele está?'

Mizuki: 'Sua magia não é mais a mesma. Eu não o reconheci.'

Eriol: 'Não me diga se transformou em um demônio?'

Mizuki (depois de uma pausa): 'Eu pensei que fosse assim que eu senti a sua presença, mas quando o encontrei ele estava normal, apenas sujo e molhado.'

Eriol: 'Estou pegando o primeiro avião para Tomoeda.'

Mizuki: 'Temo pela reação de Sakura.'

Eriol: 'Eu também.'

            A senhora desligou o telefone assim que ouviu o rapaz descendo as escadas. Ela o fitou com curiosidade. Ele parecia normal, era o mesmo Syaoran Li que ela havia conhecido havia mais de três anos.

Syaoran (fitando-a): 'Espantada?'

Mizuki (com um bondoso sorriso): 'Nada nesta vida me assusta, rapaz. Mas pela primeira vez fui surpreendida.'

Syaoran (sorrindo): 'Obrigado pela roupa.'

Mizuki: 'O que pretende fazer agora?'

Syaoran: 'Procurar Sakura.'

            Sakura estava conversando com Seiya na porta do prédio de Touya. Assim que se formou na faculdade, o irmão a obrigou a ir morar com ele até que se cassasse com Seiya. Tomoyo estava morando com a mãe a pedido dela, já que estava muito doente. A moça não pôde recusar o pedido e adiou por um tempo sua carreira de cantora internacional, estava apenas cuidando dos negócios da família e de mãe.

Seiya (olhando a lua): 'A lua está linda hoje.'

Sakura: 'É melhor ir embora. Daqui a pouco meu irmão desce e cria a maior confusão.'

Seiya (abraçando a noiva): 'Não vejo a hora de termos a nossa casinha e não nos preocupar mais com o seu irmão.'

Sakura (sem graça): 'Falta pouco, não?'

Seiya: 'Graças a Deus. Meu pai nos deu o apartamento assim que eu passei no concurso para juiz.'

Sakura: 'Ele está muito orgulhoso de você.'

Seiya: 'E está feliz pelo nosso casamento.'

Sakura: 'Assim espero.'

Seiya: 'Você é encantadora, Sakura. Não tem quem não goste de você.'

Sakura (sorrindo): 'Não seja bobo.'

            Seiya inclinou seu rosto e beijou a noiva com carinho a enlaçando mais forte pela cintura. Sakura estava envolvida com o beijo quando sentiu uma presença terrível próxima. Ela empurrou Seiya e olhou para onde vinha a presença. Na penumbra da noite pôde ver o vulto de um rapaz alto parado a metros de distância.

Sakura: 'Não é possível, mais um demônio.'

Seiya (não entendendo nada): 'O quê?'

            Sakura correu até o rapaz com a mão na chave pronta para invocá-la caso precisasse, porém quando chegou ao local, ele havia desaparecido como uma sombra. A moça ficou olhando para os lados, procurando.

Sakura: 'Apareça, demônio.'

            Ela não sentiu mais a presença. Seiya parou ao lado dela.

Seiya: 'O que foi, amor?'

Sakura: 'Nada. É melhor ir agora, Seiya.'

Seiya: 'Mas...'

Sakura (nervosa): 'Nada de "mas".'

            Os dois se afastaram do local, o rapaz entrou no carro e partiu. Sakura ainda ficou olhando para a praça procurando alguma coisa, mas como não encontrou nada entrou para contar a Kero e Ywe o que sentiu. Assim que ela fechou a porta um rapaz saiu de trás de uma das árvores observando o prédio.

Syaoran: 'Ela não me reconheceu... Melhor assim.'

Continua.