Desculpem a demora... Foi por motivos alheios à minha vontade. Conforme prometido, o capítulo primeiro em Português.
Disclaimer: I don't own Rurouni Kenshin.
To Love you Again
7. Don't go
'Sonhos são sempre estranhos. Não seguem uma lógica... Bom, ao menos não a lógica que se tem quando se está acordado. Talvez o que faz destes sonhos ainda mais estranhos seja o fato de que eles possuem uma lógica...
' "Eu não quero que Battousai fique!! Eu quero que você - o rurouni - fique." Esta é a minha voz? Ecoando pelos meus sonhos... Implorando que ele não me deixe sozinha novamente? Já passei tanto tempo sozinha. Não quero estar só. É triste estar só, mas não quero dizer isso a ele. Não quero que ele fique por pena.
"Tá... Tá bom. Se quiser, então pode ir! Mas se vai, pelo menos me diga qual o seu nome. Battousai era o seu nome do passado, certo? Ou você não quer nem me dizer seu nome?" O som da porta de fechando.
'Sinto-me triste por ele estar partindo... Magoada, machucada por não saber nem o nome dele... Por saber que nunca mais o veria e nem sabia como poderia lembrar de alguém sem nome. Lembranças precisam de nomes... Senão, com o tempo, tornam-se apenas sonhos que temos dificuldade de lembrar com todos os seus detalhes e suas cores.'
"Você está bem?"
Kaoru levantou os olhos para que encontrassem os dele. Parecia preocupado com ela. Sempre parecia preocupado.
"Estava apenas lembrando um sonho." Kaoru sorriu.
Kenshin retribuiu-lhe o sorriso.
"Otou-san! Anda logo!" Yahiko chamou.
Kenshin suspirou e seguiu em frente. Kaoru foi atrás, seguindo-os a uma distância não muito longa. Estava tentando relembrar o sonho que havia tido àquela noite, mas parecia que a memória sempre conseguia escapar.
"Por que ela tem que vir conosco?" Yahiko disse, lançando um olhar hostil para a jovem.
Kenshin deu uma olhadela para trás, para ver se ela havia ouvido o que Yahiko havia dito. Seus olhos pareciam perdidos e ela tinha uma expressão um pouco preocupada no rosto. 'Ela não o ouviu, mas há alguma coisa a incomodando.' Kenshin parou e estendeu-lhe uma mão.
"Não fique para trás, Kaoru."
Kaoru sorriu e aproximou-se, mas não pegou a mão dele. 'É impossível saber o que ela está pensando.' Kenshin pensou, preocupado. 'Talvez ela não quisesse vir.'
"Não gosta de parques de diversão, Kaoru?" Kenshin perguntou.
Despertando de seu devaneio, o sorriso de Kaoru tornou-se mais largo.
"Gostava, quando era criança." Ela respondeu.
"Desculpe por fazê-la vir." Kenshin disse, em um tom de voz baixo. "Havia prometido para Yahiko e não queria deixá-la em casa sozinha."
"Está tudo bem. Eu estou me divertindo."
"Não parece."
Kaoru não respondeu, apenas sorriu. 'Eu deveria ao menos fingir que estou me divertindo, mas é difícil. É difícil fazer qualquer coisa quando preciso ficar olhando para o lado o tempo inteiro para ver se não há ninguém que vá querer me machucar. Parece que odeio multidões hoje em dia. Não deveria ser assim, é mais difícil encontrar alguém em uma multidão do que sozinho em uma rua.
'É bom olhar todas essas família juntas. Pais comprando balões e algodão-doce. Lembra-me do tempo em que eu realmente tinha uma família. Quando era criança... Mas não sou mais criança. Não posso esperar que as coisas voltem para o que eram antes. Preciso encarar os meus problemas. Não deveria estar pensando em como as coisas deveriam ser. Devo vê-las como elas são.'
Kenshin colocou uma mão sobre o ombro de Yahiko. Sua outra mão segurou o braço de Kaoru, mas só conseguiu segurá-la pelo pulso. Kenshin pensou que aquela não era uma boa maneira de segurá-la, para mantê-la próxima de si e, casualmente, deixou que sua mão deslizasse para segurar a dela.
'Isso parece um pouco com uma família...' Kaoru pensou. 'Yahiko parece um irmãozinho e Kenshin...' Olhou para ele por um instante. 'Não parece um irmão... E é muito jovem para que eu olhe para ele como a um pai. É um homem atraente, mas não me sinto desconfortável perto dele. Eu gosto de sentir a mão dele na minha. É como se elas pertencessem juntas... Como em um sonho.'
"Que brinquedo quer ir agora?" Kenshin perguntou para Yahiko.
"A montanha-russa."
Kaoru tremeu. "Vou esperar por vocês aqui em baixo."
Kenshin soltou a mão dela, meio que contra a vontade.
"Vou esperar ali, perto dos telefones." Kaoru apontou.
"Mas não saia dali." Kenshin disse, autoritariamente. Na verdade estava sentindo receio de voltar e não encontrá-la mais. Era sempre muito difícil encontrar uma pessoa perdida nas multidões.
"Sim, senhor." Kaoru disse, batendo uma continência. Kenshin não conseguiu evitar e riu.
"Voltaremos logo." Kenshin disse, permitindo que Yahiko o puxasse em direção à montanha-russa.
Kaoru observou-os desaparecer no meio das pessoas. Sabia que demorariam um pouco. Quando vira os telefones, tivera a idéia de telefonar para Misao. Era sua melhor amiga e nem lembrara de telefonar todos esses dias. Misao provavelmente ficaria furiosa com ela, por não haver contado o que estava acontecendo. Ainda assim...
Kaoru dirigiu-se para um telefone desocupado. 'Ainda bem que memorizei o telefone de Misao-chan.' Discou o número e, alguns toques depois, uma voz familiar atendeu.
"Misao-chan?" Kaoru perguntou.
"Kaoru-chan?! Onde você está? Você sabe o quanto me deixou preocupada?!"
"Gomen nasai." Kaoru murmurou. "Não queria envolvê-la nisso."
"O que está acontecendo, afinal de contas? O tori-atama não quis me dizer nada!"
O coração de Kaoru bateu forte, como se quisesse escapar de seu peito. 'Sanosuke...'
"Você falou com ele?" A voz de Kaoru soou um pouco preocupada.
"Ele está procurando você. Pediu que lhe desse um telefone, se eu falasse com você. Espere um pouco que vou procurar o número."
Kaoru procurou alguma coisa que pudesse anotar o telefone, mas não tinha nada. Teria que confiar em sua memória. Misao voltou e passou-lhe o número.
"Está tudo bem com você, Kaoru-chan?" Misao perguntou.
"Estou bem." Kaoru respondeu.
"Onde você está?"
"Estou ficando na casa de um homem... Você não o conhece."
"Não é algum pervertido, é?" Misao preocupou-se.
"Não..." Kaoru ruborizou. Que tipo de pergunta era aquela? Seria inconcebível pensar que uma pessoa pudesse ajudar outra sem ter segundas intenções? "Preciso ir, Misao-chan."
"Kaoru-chan! Espere! Se eu precisar falar com você?"
"Eu telefonarei. Por favor, não tente me encontrar. É perigoso. Até logo, Misao-chan."
"Kaoru-chan! Por favor, não esqueça de telefonar, estou preocupada. Ah! Feliz aniversário! Sei que é apenas daqui a três dias, mas... Não acho que eu vá conseguir falar com você até lá, não é mesmo."
"Obrigada. Cuide-se, Misao-chan." Kaoru colocou o fone no gancho e respirou fundo. 'Sanosuke está vivo!' Cantarolou mentalmente. Discou o número do telefone que Misao havia lhe dado, mas ninguém atendeu. 'Onde será que ele foi? Será esse o número certo? Ao menos sei que ele está vivo.'
Kaoru tentou uma vez, mas não obteve sucesso. Finalmente, voltou para o lugar onde deveria estar esperando Kenshin e Yahiko. Ao se aproximar, notou que os dois já estavam lá. Kenshin olhava para os lados, com uma expressão preocupada.
"Kenshin!" Ela chamou, acenando.
O rosto dele relaxou, quando escutou a voz dela e a viu acenando para ele. 'Não me assuste assim, Kaoru...' Pediu mentalmente e, inconscientemente, fez a promessa de não tirar mais os olhos de cima dela.
"Você não estava aqui." Ele disse, baixando a cabeça e deixando que o cabelo ocultasse seus olhos.
"Precisei..." Kaoru pensou se deveria mentir ou não. "Telefonei para uma amiga. Desculpe por não estar aqui."
Kenshin levantou a cabeça para olhá-la nos olhos. O olhar dele pedia - ou melhor, implorava - que ela não repetisse o feito. Kaoru sorriu de forma a afirmar que não iria a lugar algum sem avisar.
"Estou com fome." Yahiko quebrou a magia do momento.
"Vamos embora." Kenshin sugeriu.
***
"Alguma coisa errada?" Kenshin perguntou, enquanto estavam sentados na sala de espera da clínica de Megumi.
Kaoru parecia impaciente e nervosa... Talvez nervosa demais. Havia pais na sala de espera, com seus filhos. Kaoru sentia-se uma criança super-crescida, com medo da médica. Suspirou profundamente.
"Você não gosta de médicos, gosta?" Kenshin perguntou.
"Ah, eu gosto de médicos. Apenas não gosto dessa mulher."
Kenshin sorriu, procurando o melhor que podia parecer pateta ao fazer isso. Sempre fingia ser assim na presença da pediatra de seu filho.
"Kamiya-san? A doutora irá vê-la agora." A secretária chamou.
Kaoru levantou-se.
"Não vai vir comigo?" Perguntou, ao ver que Kenshin não havia se movido. Kaoru deu-lhe um olhar de cachorrinho pidão. Kenshin não conseguiu negar e resignou-se em acompanhá-la.
"Ken-san! Como está?" Megumi dirigiu-se a Kenshin, completamente ignorando Kaoru.
"Bem, Megumi-san. Trouxe Kaoru para tirar os pontos."
Megumi olhou para a jovem, com uma expressão de 'ah'.
"Ainda está sendo babá dessa Tanuki?"
"Quem você está chamando de tanuki?"
Kenshin teve que segurar Kaoru, para ela não atacar a média.
"Hohohohohoho! Que pirralha violenta!"
"Maa.. Maa..." Kenshin estava tentando acalmar Kaoru.
"Então, Ken-san... Quando você vai me levar para tomar aquele drink?"
"Oro..." Kenshin murmurou. "Telefonarei."
Megumi sorriu brilhantemente, como se quisesse dizer a Kaoru: "viu? Eu ganhei."
Kaoru mordeu seu lábio inferior.
"Então... Vamos tirar logo esses pontos. Não tenho o dia inteiro." Megumi disse.
Começou a retirar os pontos de Kaoru, sem o mínimo de cuidado.
"Itai! Isso dói!" Kaoru protestou.
"Pare de choramingar... Está agindo como um bebê de colo!"
"Não estou! Você está fazendo de propósito!"
"Oro..."
'Mulheres gritando são assustadoras.' Kenshin pensou, uma gigantesca gota de suor se formando ao lado de sua cabeça.
"Pare de se mexer! Está dificultando as coisas!"
"Como posso parar se você fica me machucando?!"
"Pronto."
Kaoru suspirou aliviada.
"Tente ser cuidadosa para não se machucar de novo, Tanuki-chan." Megumi disse.
"Obrigada, Takani-sensei." Kaoru respondeu, entre os dentes.
"Arigatou, Megumi-san." Kenshin agradeceu.
"Não esqueça de telefonar!" Megumi disse, melodicamente, piscando para Kenshin.
Kaoru puxou-o por sua manga, tentando afastá-lo daquela mulher o mais rápido quanto fosse humanamente possível.
Então... Era isso. Os pontos haviam sido retirados. A razão pela qual Kenshin insistia em mantê-la em sua casa não estava mais ali.
"Gostaria de comer alguma coisa?" Kenshin perguntou, quando chegaram ao estacionamento.
"Não estou com fome."
Havia alguma coisa errada na voz dela, Kenshin conseguia sentir. Ela parecia triste. Kenshin achou melhor não insistir no assunto.
"Vamos para casa, então..." Kenshin disse.
***
'Vamos para casa... Será que ele percebeu o quanto estas palavras são cruéis? O tempo que passei aqui, com ele, 'brincando' em ser da família... Fingindo que esse era meu lar. O tempo acabou. Agora é hora de voltar para o mundo... E estar só novamente?'
Kaoru sentou-se no sofá, com um suspiro. Kenshin havia percebido o quanto ela estava quieta no carro, mas ele também não estava com muita vontade de falar. Não conhecia bem os pensamentos que povoavam a sua mente. Sabia, porém, que Kaoru era o motivo de seus pensamentos estarem tão confusos.
"Amanhã volto a trabalhar." Kaoru murmurou, achando que Kenshin não poderia ouvir.
"Oyasumi, Kaoru." Kenshin disse, dirigindo-se para seu quarto.
Claro que havia escutado o que Kaoru havia dito. De alguma forma, as palavras dela sentiram como se fossem água fria sobre sua pele. Kenshin jogou-se sobre sua cama, sem se importar em despir-se. Fechou os olhos e adormeceu.
***
'Novamente um daqueles sonhos. Estava em um dojo, aquela garota à minha frente. De alguma forma, ela se parecia tanto com Kaoru... Estava me virando para partir, para ir embora para sempre. Meu coração apertado em meu peito, pois não queria ir embora e nunca mais vê-la.
'É uma perspectiva estranha... Mal a conhecia, mas ainda assim sentia a dor de cada passo que me afastava dela, como se fosse uma punhalada. Meus passos eram lentos, receosos de que, a partir do momento que eu saísse por aquela porta, não haveria mais retorno. Para sempre eu estaria a condenado a vagar, sem jamais me aproximar de alguém realmente. Desejei, com todas as minhas forças, que alguma coisa me impedisse.
'"Espere!" Ela gritou. Arregalei meus olhos. Seria possível que ela também não desejasse que eu me fosse? A voz incerta dela pediu-me que ficasse. Meu coração bateu de alegria, mas ainda assim, precisava dar a ela uma chance de mudar de idéia. Argumentei que não seria bom para ela que eu permanecesse lá. Desejei, novamente, que minha argumentação não surtisse efeito. Ela insistiu que gostaria que ficasse. Não Battousai, mas eu - andarilho.
'Tímida, envergonhou-se de estar insistindo e deu as costas para mim. Disse que se eu desejasse, poderia ir, mas ela gostaria de saber meu nome. Sorri comigo mesmo. Meu coração transbordava de alegria. Silenciosamente, fiz a promessa de protegê-la.
'A expressão nos olhos dela, quando viu que eu não havia partido... Nunca esquecerei.
'Já ouvi dizer que alguns sonhos querem nos dizer coisas... O que será que os meus querem dizer? Levantei-me. Não conseguia mais dormir. Meus pés me levaram aonde eu queria ir, sem que soubesse que queria ir lá. Parei diante da porta e empurrei-a com cuidado para não fazer ruído.
'Ela se movia e suspirava enquanto dormia. Não estava calma. Outra noite havia entrado no quarto dela, só para ver como ela estava dormindo e ela havia parecido tranqüila. Talvez estivesse tendo um pesadelo. Um pensamento estranho se passou pela minha mente. Seria possível que ela estivesse se sentindo como eu?
'Meu coração estava apertado... A idéia de que ela estaria longe, longe demais para que eu pudesse protegê-la estava me fazendo doente. Uma semana... Apenas uma semana... Que diferença uma semana poderia fazer? Toda a diferença do mundo.
'O lugar dela é aqui... O lugar dela é onde eu possa vê-la, onde possa protegê-la de qualquer coisa, de qualquer pessoa... Inclusive de mim. Não é atração, não é nada disso. É algo mais profundo... Como se minha alma precisasse a dela, a presença dela, para que pudesse ter tranqüilidade.
'Se eu deixá-la ir... Posso nunca mais a ter de volta. Não posso correr esse risco. Não posso.'
"Kenshin?"
'Idiota... Ela está acordada. E agora?'
"Algum problema?" Ela insistiu, sentando-se na cama. Aproximei-me lentamente.
"Não conseguia dormir. Desculpe haver a acordado." Eu disse, torcendo para que ela não julgasse que eu tinha outras intenções.
"Também não consegui dormir."
'Como posso dizer isso a ela, sem dar a impressão errada?' Kenshin angustiou-se.
"Amanhã você volta a trabalhar..." Kenshin disse, como se na verdade a declaração fosse uma pergunta.
"Hai. Não se preocupe. Amanhã de manhã pegarei minhas coisas e voltarei para o Akabeko." Kaoru disse, com uma voz diminuta.
"Talvez... Você gostaria de ficar..." Kenshin sugeriu, em um tom de voz baixo.
"Eu não poderia... Estaria abusando de sua hospitalidade."
"Não. Gostaria que você ficasse. Acho que me acostumei a ter alguém aqui. Seria muito solitário se você fosse embora."
"Honto ka?"
Kenshin concordou com a cabeça.
"Não tenho como retribuir..." Kaoru disse.
"Pode me ajudar com os afazeres domésticos." Kenshin sugeriu. "O que você me diz?" 'Por favor... Diga que sim. Fique.'
"Por enquanto... Até eu conseguir um lugar para eu morar."
"Arigatou." Kenshin disse. "Oyasumi nasai, Kaoru."
Kaoru voltou a deitar-se. 'Por que ele me agradeceu? Ele está me fazendo um favor.' Fechou os olhos. Agora se sentia mais tranqüila. Por algum motivo estava se sentindo deprimida por ter que voltar ao Akabeko. Adormeceu com um sorriso nos lábios.
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Continua...
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