EVA GP - Capítulo 5
Shinji encostou a cabeça na janela do avião. Era um vôo de mais de doze horas até Melbourne, Austrália. Ele preferia ter passado na sede da NRT, nos arredores de Tóquio, mas Misato o segurou por mais uma semana na Europa. Não que fosse fazer diferença na distância, mas pelo menos ele já teria se livrado do efeito do "jet-leg". Isso significava pelo menos três ou quatro dias de sonolência e trocando o dia pela noite, até que o seu organismo se acostumasse ao novo fuso horário.

A única coisa boa é que nessa semana a mais ele pode se instalar em Monte Carlo. Ele hesitou em aceitar o convite de Misato para ocupar uma das casas da vila particular que a NRT mantia no Principado de Mônaco. Sim, porque além de estar trabalhando para o seu pai, ele estaria morando as custas dele. Porém ele precisava de um lugar para guardar o seu Murciélago, sem contar que como a maior parte da temporada ocorre na Europa, é bom ter uma casa no continente para descansar. Ele poderia usar a casa dos seus tios, mas Mônaco estava mais bem localizado (sem falar no fato dele não precisar pagar imposto de renda). Mas o que o convenceu foi a possibilidade de ocupar a casa ao lado da casa de Rei. Shinji tinha que admitir que a diretora esportiva era uma hábil negociadora.

O último mês havia sido extenuante. Primeiro foram os testes em Barcelona. Depois em Paul Ricard. Então houve a apresentação oficial do novo carro e dos novos pilotos (ele e Asuka) em Frankfurt, na Alemanha. Ele achou estranho o carro ter apenas um único patrocinador, uma empresa chamada SEELE AG. É um tipo de conglomerado industrial, com atuação desde a área petroquímica até a industria aeroespacial. O carro era bonito, totalmente preto e com detalhes em vermelho no bico, nas laterais e no aerofólio traseiro. O nome 'SEELE AG' estava bem estampado em branco nas laterais do carro e na parte de trás do aerofólio traseiro.

Então, outra semana de testes em Paul Ricard, dessa vez com o carro novo. E pela primeira vez os três pilotos andaram juntos. E somente aí Shinji percebeu como seria uma longa temporada ao lado de Asuka. Ele soltou um longo suspiro enquanto lembrava da semana de testes. A garota era um saco. Mesmo sendo a última a se juntar ao time, ela queria ter a preferência em tudo. Quanto ao Shinji ele mesmo não se importava, pois era a sua primeira temporada e ele ainda teria que aprender muito, mas Asuka não respeitava a prioridade que Rei tinha como primeiro piloto da equipe. A garota era intratável... Se ele a conhecesse antes, a teria deixado naquela estrada espanhola.

Ele abre um largo sorriso enquanto lembra do que ocorreu na noite daquele dia. Foi surpresa para ele descobrir que ela seria a nova piloto. E ele ficou surpreso de vê-la com o envolvida com o ex-marido de Misato. Ritsuko disse que eles estavam separados, mas Shinji começou a duvidar disso quando viu as reações da diretora.

[Flashback]

- Boa noite pessoal! - Kaji diz sorridente - Esta é Asuka, minha namorada e a nova integrante da NERV RACING TEAM.

- Sou Asuka Langley Souryu - Ela sorri docemente - É um prazer conhecê-los.

- Ora, o prazer é todo nosso Asuka... - Ritsuko responde o cumprimento e dá uma leve olhada para conferir a reação de Misato. Essa procurava não mostrar nenhuma reação... - Por favor, sente ao meu lado. Kaji, você pode sentar ao lado de Misato. Ritsuko estava deliciada... Um dos seus esportes favoritos era atormentar Misato e essa parecia uma oportunidade única.

- Então vocês estão namorando? Que maravilha, não é Misato?

- Eu acho... - Misato estava com o pensamento longe.

- Ela também achou maravilhoso. E desde quando vocês estão juntos?

Kaji ia responder, mas Asuka toma a frente:

- Ah, eu conheci o Kaji há dois anos atrás, quando ele foi o diretor da prova de Formula Opel, onde eu me tornei campeã da temporada. Logicamente eu ganhei de ponta a ponta. Nós fomos apresentados um pouco antes do treino da sexta-feira. Então depois da prova e o convidei para jantar. Foi amor a primeira vista... - Enquanto ela falava, olhava para todos na mesa, como se certificasse que todos estavam prestando atenção nela.

- Isso é verdade Kaji? - A engenheira estava empolgada.

- Bem, na verdade...

- Ah, que lindo! Não é Misato? Olha, nós fazemos questão de estar no casamento...

- Casamento? - Kaji e Misato disseram quase ao mesmo tempo.

- Bom, já que você falou nisso... Kaji-kun, nós deveríamos começar pensar em nos casar...

- Bem Asuka, na verdade eu...

- Esplêndido. Misato e eu fazemos questão de ajudá-la em todos os detalhes Asuka! - Ritsuko exibia um largo sorriso. Mais um pouco e ela conseguiria...

- Casamento? Como é que você quer se casar com ela seu desgraçado! Você ainda está casado comigo! E se recusa a me dar o divórcio!

- Mas quem falou em casamento? - Kaji começou a perceber que estava ficando em uma situação delicada.

- Então você não quer se casar comigo? Você prefere ficar com ela a ficar comigo? - Asuka já estava entrando no seu habitual tom de voz.

- Não... Também não é assim Asuka... É que, é que... Bem, eu ainda estou casado...

- Está casado porque quer
! A mais de três anos eu venho pedindo para você assinar o divorcio e você sempre inventa uma desculpa.

- TRÊS ANOS?! E o que você está esperando para se livrar dela?

- Se livrar de mim? Olha como fala comigo sua franguinha!

- Quem é franguinha sua Matusalém?

- Asuka, por favor... Calma, eu... - Kaji pressentiu que a coisa não terminaria bem.

Ritsuko estava maravilhada... A coisa estava além das suas expectativas...

- Calma o que... Ela vai ter o que merece...

Num rápido movimento, Asuka pega o copo de Ritsuko e joga o seu conteúdo no rosto de Misato. Ela se levanta, com um misto de surpresa e ódio no rosto. Sem pensar duas vezes, Misato aproveita a proximidade de um carrinho de sobremesas e joga uma torta no rosto de Asuka.

Ritsuko vibra, enquanto Shinji e Rei observam tudo de boca aberta. Kaji abaixa a cabeça e reza para que tudo isso acabe logo. Asuka contra-ataca, após limpar os olhos. Logo Misato estava com um pudim em seu rosto.

Em pouco tempo, havia comida sendo jogada por todos os lados do restaurante. Por muito, a NERV Racing Team não seria bem-vinda naquele restaurante.

[Fim do flashback]
Shinji abre um largo sorriso. O seu terno ficou totalmente sujo de comida, mas ele nunca havia se divertido tanto na vida. E percebeu que Rei também estava se divertindo. O jovem estava impressionado com a beleza do seu sorriso. Ela tinha um sorriso aberto, franco, sem nenhum traço sentimento negativo. Algo chamou de volta a realidade e ele olhou para o lado.

Rei ajeitou-se e continuou a dormir. Ela estava na poltrona ao lado, mas abraçada ao braço de Shinji. Ela dormia profundamente. Ele contemplou Rei por um longo tempo. Na verdade ele não se cansava de olhar a garota. Então, para a sua surpresa ela abre os olhos.

- Gosta do que vê? Ela sussurrou.

- Muito...

- Eu também gosto do que eu vejo... - O movimento foi natural. Ela levantou o rosto na direção de Shinji e fechou os olhos. Ele engoliu em seco por um instante. Ele já havia namorado várias garotas (principalmente durante a época da universidade), mas com Rei era diferente. Ele se sentia um pouco intimidado com a espontaneidade dela. Ela já estava tão próximo do rosto dele que ele sentia o seu doce hálito. Ele apenas fechou os olhos e aguardou o contato dos lábios dela. Foi um beijo longo e molhado. Com surpresa, Shinji sentiu a língua da garota explorar toda a extensão da sua boca. Ela garota beijava muito bem. O beijo teria sido mais longo se eles não fossem interrompidos pela comissária de bordo, que perguntou se eles gostariam de jantar.

-------------------------

A semana passou rapidamente. Shinji e Rei haviam chegado em Melbourne na segunda-feira, para acompanhar os mecânicos na montagem dos carros. Estes já estavam em Melbourne desde a semana anterior, pois além da montagem dos carros em, também havia o trabalho de montagem dos boxes. Isso incluía as ferramentas de trabalho e todo o equipamento de telemetria dos boxes e do pitwall. Era do pitwall que todas as decisões (baseadas nas informações obtidas pela telemetria) eram tomadas, desde antecipar ou não uma parada dos boxes até se um piloto deveria aumentar ou diminuir o ritmo de corrida.

Asuka foi chegar apenas na quinta-feira. Desnecessário dizer que isso não agradou nem um pouco Misato (na verdade elas estavam falando apenas o necessário desde o "incidente" do restaurante em Barcelona), mas ela não demonstrou nada.

Nos boxes de Albert's Park, estavam reunidos os três pilotos da NRT, a diretora esportiva, a engenheira-chefe e seus três auxiliares: Maya, Hyougga e Makoto.

- Pessoal, o campeonato está iniciando hoje e gostaria de deixar claro algumas coisas - Misato falava e olhava com o canto do olho para Asuka, que fazia de conta que não era com ela - Rei continua sendo a primeira piloto e ela vai ter prioridade na equipe, ok?

- Certo... Como esse ano teremos três pilotos, vou querer que Maya, Hyougga e Makoto sejam os engenheiros de vocês três. Hyougga vai ficar com Rei, Makoto com Asuka e Maya com Shinji. Nessa corrida, trouxemos apenas três unidades do S2, assim Shinji e Asuka vão utilizar o motor do ano passado...

- Por quê a "Garota Maravilha" aí tem que ficar com o melhor motor? Eu sou muito melhor que ela e poderia facilmente vencer essa corrida...

Era visível que Misato fez um grande esforço para se controlar:

- Asuka, você e Shinji nunca correram nessa pista. Rei já esteve aqui por três vezes e conhece bem melhor a pista. Você pensa que a F1 é como a Formula Nippon ou a World Series? Aqui os caras vão para cima de você, não importa se você é uma novata ou não. Não há lugar para estrelismos. Além disso, você segue as minhas ordens, entendeu?

Asuka nada respondeu. Continuou olhando para o chão, como se estivesse perdida em pensamentos.

Shinji tentou amenizar a situação mudando de assunto:

- Errr... Bom, mas como será a tática da corrida? Nós vamos decidir ou vocês?

- Shinji-kun, a corrida aqui em Melbourne é feita para apenas uma única parada. Com poucas áreas de escape, é bem possível que o safety-car entre várias vezes na pista, mas mesmo assim não haveria razão para outro tipo de estratégia.

--------------------------

Novamente a FIA havia alterado os sistema de treinos da Formula Um. Alegando "melhorar o nível do espetáculo para o público em geral", a definição do grid de largada acontecia na sexta-feira e no sábado. A posição no grid era definida através de uma média dos tempos obtidos nos dois dias de treino. Os pilotos continuavam a ter apenas uma chance de obter tempo (entrava-se na pista, havia uma volta de aquecimento e uma volta lançada, com um carro de cada vez). Isso era uma enorme loteria, pois bastava um pequeno erro e toda a volta estaria comprometida, fazendo o piloto perder várias posições.

Shinji estava nervoso. Dentro de quinze minutos a pista seria liberada teria inícios a primeira sessão de treinos. Estavam no início da tarde de 06 de março.

Ele já estava vestido com o seu plug-suit, e procura repassar mentalmente o traçado de Albert Park. No treino livre da manhã ele havia marcado apenas o décimo tempo, porém ele próprio confessou que não havia exigido muito do carro. Estava apenas procurando conhecer a pista. Na verdade, Albert Park não era exatamente um autódromo. Como o próprio nome diz, é um parque, dentro da cidade de Melbourne. Da mesma forma que o circuito Gilles Villeneuve em Montreal, Albert Park não era um circuito permanente. Durante a época do GP, o parque é fechado e um autódromo é montado no seu interior. E como em todos os anos, haviam manifestantes ambientalistas que protestavam contra a corrida. Misato veio do pitwall para conversar com o seu piloto.

- Shinji, você será o último a entrar. Primeiro entrará Rei e depois Asuka. Então, até lá relaxe, procure não se preocupar.

- Hai - respondeu Shinji, enquanto observava o trabalho dos mecânicos. Eles haviam substituído os quatro pneus do carro de Shinji, que permanecia suspenso.

Misato se afastou, indo em direção de Rei. A distância Shinji observou que a garota balançava a cabeça e perguntava algo a diretora esportiva. Isso fez o piloto começar a divagar sobre o assunto tratado pelas duas. "Não! Pare de divagar. Concentre-se!", ele pensou, tentando se concentrar.

Ele foi retirado desses pensamentos por uma voz feminina.

- Shinji-kun!

- Hã?! Ah, Maya... O que houve?

- Vim apenas avisá-lo que já calculamos a sua quantidade de combustível. Colocamos o suficiente para três voltas. Assim, tirando a sua volta lançada, procure não pisar muito fundo no acelerador, ou você vai ficar pelo meio do caminho - Maya percebeu o nervosismo de Shinji e procurou animá-lo com um sorriso. - Calma, essa é a sua primeira corrida. Preocupe-se apenas em completá-la, apenas isso. Boa sorte.

- Obrigado.

Nesse instante ouve-se o barulho de um carro passando a toda velocidade. Era o primeiro carro a ir para pista, do brasileiro Sérgio Silva, piloto da Gehiran Racing. Ele havia sido contratado para ocupar a vaga do campeão da temporada anterior, que havia se aposentado da F1. Logo em seguida, foi a vez do carro de Rei fazer barulho. Ela recebeu autorização e começou a percorrer o pitlane. Assim que um piloto iniciasse a sua volta lançada, o seguinte já podia entrar na pista e iniciar a sua volta de aquecimento e em seguida a sua volta lançada.

Shinji caminhou para o pitlane, para acompanhar a volta de Rei e de Asuka pela telemetria.

- Nervoso Ikari-kun? - Agora era a vez da engenheira-chefe perceber o estado dele. - Não se preocupe, tudo vai correr bem. Hyougga, como está Rei?

- Tudo 5 X 5. Ela já está no contorno da curva Clark.

- Acredito que não teremos problemas. Seria bom fazer um excelente tempo hoje. A meteorologia diz que pode chover amanhã.

Misato estava concentrada na telemetria de Rei, respondeu sem levantar os olhos do monitor:

- Isso seria surpreendente. É muito raro chover por aqui nessa época do ano.

Hyougga avisou:

- Atenção, ela está na Waite. Vai iniciar a sua volta lançada agora!

Os ocupantes do pitwall da NRT olharam em direção do início da reta dos boxes. Logo o carro de Rei passou por eles, a uma grande velocidade, em direção da curva Jones.

Albert Park lembrava um pouco a pista particular da NRT, com muitas curvas de média e baixa velocidade e apenas a reta dos boxes sendo o único ponto de alta velocidade da pista. Dentro do carro, Rei respirou fundo, relaxou e se concentrou apenas em percorrer a pista e contornar as suas curvas. Jones, Brabham, Clark, Waite. Cada aceleração, cada freiada era perfeita, precisa. Ascari, Stewart e Prost. Logo ela já estava novamente na reta dos boxes, finalizando a sua volta. Ela ouviu pelo rádio a voz de Hyougga: "Parabéns Ayanami-san. Se mantiver a média amanhã, será pole na certa!".

Houve uma certa comemoração entre o grupo da NRT. Afinal, meio segundo já era uma boa vantagem. Mas isso não era suficiente, pois bastava um tempo alto no sábado e todo esforço da sexta-feira seria em vão.

Depois de Rei, foi a vez do italiano Giannardo Tomba (que havia sido contratado a peso de ouro pela italiana Ferrari para finalmente realizar o sonho dos tifozzi: Um italiano campeão do mundo pelo time de Maranello).

Rei parou o carro na garagem e de longe acenou para Shinji. Ela sabia que ele estava nervoso, porém, aproximar-se dele talvez atrapalhasse a sua concentração. Ela se encaminhou para os fundos do box, em direção ao vestiário improvisado.

Após meia hora de sessão, foi a vez de Asuka ir para a pista. Então Shinji desceu do pitwall e caminho em direção do seu carro. Logo seria a sua vez.

Ele colocou o capacete, entrou no carro e aguardou a sua vez. Notou através do monitor colocado no teto do box, que Asuka havia marcado o quinto melhor tempo, três décimos atrás do americano A. J. Foyt III.

Ele recebeu a autorização e logo estava estreando oficialmente na Fórmula 1.
(continua...)

Capítulo V por: Dack_Ralter
Idéia Original: Dack_Ralter
Desenvolvimento: Dack Ralter e McLanche Feliz
Dack Ralter (chsb@starmedia.com)
McLanche_Feliz (mclanche_feliz@wln.com.br)