Disclaimer: "Eu não esqueço nada" é do Kid Abelha, os personagens da titia Rowling

O que jamais se esqueceu

"Vejo você de tão longe

Que só eu sei que é você

Só eu sei te ver

Lembro de tudo o que houve

De tudo que ia ver

Do que não foi nada

Dentro dos nadas que havia"

"Londres, 15.01

Virginia;

Eu poderia estar escrevendo sobre coisas um tanto ao quanto mais banais, escrevendo por escrever, notícias da guerra... Porém, a minha escolha é outra. Hoje, eu tenho coisas a contar. Hoje eu tenho coisas que eu quero que tu saibas. E tenho, se me deres este prazer, um lirismo a retomar.

"Eu nasci contigo" recorda-te de quando falei isto, creio. Em meio a uma torrente de palavras sobre as quais eu não tive o menor controle. Tu foste a única pessoa que fez isto comigo. Era como me sentir plenamente verdadeiro pela primeira e única vez. Tudo que eu te falei naquele princípio de noite foram, talvez, as palavras mais sinceras que já saíram da minha pessoa. Mesmo assim, elas jamais poderiam te passar tudo que eu sentia. Isso me impressionou muito na hora.

De fato, ao relembrar as palavras, eu ainda confirmo a veracidade delas. Oras, eu realmente nasci contigo, no momento em que te conheci, o fato mais importante de toda minha vida. Eu, hoje, divido minha vida como o antes e o depois de te conhecer. Então, aconteceram tantas coisas, mais melhor que ninguém tu sabes que eu nunca deixei de te amar e te querer. Até nosso último encontro, o momento culminante. Aquele primeiro olhar... Os momentos em que fiquei atônito. Eu soube o quanto te queria desde o primeiro segundo. Então, o primeiro beijo em anos. Eu nunca encontrei lábios como os teus, beijos como os teus. São os únicos, até hoje, que não me deixaram a impressão de estar faltando algo. Isso me irrita um pouco por me deixar a impressão de que sempre que não forem os teus, irá estar faltando algo. Quanto ao sorriso, nem preciso fazer comentários. É e sempre será, mesmo em memória, o gesto que mais me preenche.

"Por que eu não esqueço nada

A não ser de te esquecer

Nem ao meio dia  

Nem de madrugada

Eu não esqueço nada"

Por tudo isto, eu te afirmo que te amo e sempre vou te amar, meu bem. É algo imutável, sem a ínfima possibilidade do contrário. Eu sou produto dos eventos de minha vida, e de todos tu és o que me atingiu mais fundo e teve mais importância. Eu jamais poderei negar que te quero.

Entretanto, isso é só uma das facetas do que eu sinto por ti. Hoje, acima de tudo, anseio de ti como amiga. Eu fecho os olhos... Querendo te ter como a primeira imagem ao reabri-los. Queria poder te abraçar, sentir tua pele, poder te olhar com carinho enquanto tu fala, e achar perfeita a maneira como tu fazes tudo, desde a maneira de falar até mesmo o teu jeito de andar.

Diante disso, eu só queria te dizer: "Gina, querida amiga, conta comigo para tudo. Eu quero te apoiar em tudo que tu jamais desejar, eu quero estar ao teu lado. E eu acredito em ti, não só porque te amo, mas também porque conheço sua grandeza."

Agora irei, sob o comando do Lord, ao encontro dos seus amigos, em uma batalha. O Lord lutará com Potter, e sei que se ele sobreviver, vai te levar ao altar. E eu apoiarei esse casamento, se eu sobreviver a esse combate. Não tenho tanta fé na força dos comensais. Conheço os poderes da resistência. Conheço a grandeza de quem é como você.

Sabe, um dos meus maiores erros foi achar que devia mudar algo em ti. Hoje, eu vejo tanta coisa boa em ti, te acho uma pessoa grande, única... Perfeita.

Eu te amo tanto.

Do eternamente seu

Draco."

"Eu não esqueci

Nem o alívio do fim

Nem o delírio do começo

Nem um dia comum"

Draco releu aquelas poucas linhas endereçadas a sua Gina. Amarrou o envelope à coruja antes que desistisse de mandar as palavras a ela. Talvez, seriam as últimas que as enviaria, seu último sopro de vida. Os comensais andavam inquietos naquela noite, à espera da grande batalha no dia seguinte. Fazia muito frio, e ele estava inquieto, pensando na última vez que a vira.

A noite apenas começava, o sol mal tinha se posto, e Draco andava no beco diagonal em sua imponente capa negra. Estava presa por um broche com o desenho de uma cobra prateada, seus olhos sendo duas esmeraldas que brilhavam a luz das poucas velas e lanternas já acesas. Fora um súbito momento, o lampejo de longos cabelos rubros entrando em um beco logo à frente. Não pode resistir ao impulso de segui-la. A não-mais-tão-menina Gina estava de pé, em frente a uma porta, apreensiva. Por um momento, ele se permitiu olhar para seus cabelos ondulados que refletiam o dourado das lâmpadas no meio do vermelho que vinha deles, a pele dourada e pálida, as sardas que estavam em seu rosto, e seus olhos castanhos, da cor de chocolate.

Então, ele já estava ao lado dela, segurando seu braço, e aqueles tão amados olhos estavam nele com uma expressão que misturava medo e coragem. Faziam cinco longos anos que não se falavam, cinco longos anos desde aquela briga estúpida em Hogwarts, pouco antes de Draco se formar. Ele sorriu pra ela com sinceridade, e ela tinha correspondido baixando um pouco a guarda. O Loiro sabia bem que ela ainda estava com Potter mesmo depois de todo aquele tempo. Mas nada o impediria de declarar a ela tudo o que sentia. Sabia também que ela participava, de alguma forma, das maquinações do ministério e da resistência. Mas nem sua fidelidade jurada a Voldemort quando ele deixara a escola faria com que ele parasse.

Um mês se passara, sem que nenhum dos dois tivesse tornado a se falar ou se ver. Mas agora, antes de encarar uma possível morte, ele sabia que devia procurá-la. Assim, imaginava, morreria em paz.

***

"Você me trata tão bem

Mantém meu coração ferido

Vou lhe fazer um pedido

Não fique perto de mim"

Antes que a última batalha começasse, Gina tinha preparado aquela imensa carta para Draco. Com memórias e diálogos deles, um feitiço semelhante ao da penseira, os prendendo no pergaminho. Aqueles eram seus últimos parágrafos

"Apesar de tudo, Draco, apesar de reconhecer meu amor por você era mais forte que todos os meus sentimentos por ele, Harry me protegeu de mim e de todos. E lentamente eu fui te esquecendo, deixando de lado aquele nosso amor, tão belo, puro e intenso. Ele foi contaminado pelo que havia de ruim em nós.

Eu te amo, Draco, à minha maneira, como amiga e como irmã. Há mágoa, muita mágoa pelas suas escolhas – me abandonar, se tornar um comensal, mentir... Mas eu perdôo, porque conheço a força impetuosa que move teu espírito pra frente.

Mas, as marcas foram e são profundas. Não me peça para voltar para ti, para ser sua mulher. Eu já não posso te amar como te amava. Não quero estar contigo baseada no que já foi. Ser for pra ser sua, tem que ser por inteiro, que eu sempre fui, até aquela briga.

Eu te amo, mas não consegui superar ainda...

Da sua amiga e irmã,

Gina"

Mal a ruiva tinha mandado sua coruja para o rapaz, uma outra pousou na janela de seu quarto. Era uma carta de Draco. Ela cheirou o papel, que conservava o cheiro da tinta e do punho dele, e lágrimas lhe vieram aos olhos ao ler sua caligrafia sempre tão cuidada e leve, como se flutuasse no papel. Suas palavras fizeram com não conseguisse mais conter a enxurrada emocionada que a fez se sentir culpada – ela tinha trazido todo aquele amor ao coração frio e egoísta de Draco. Só ela era capaz de fazê-lo sentir-se daquela maneira: puro e vunerável. Fraco por amar. Ele a amava desesperadamente, o que ficara claro na última vez que se encontraram. Ela ainda o desejava, do fundo de seu coração, mas tinha selado, com a carta que mandara, o futuro da relação dos dois.

Gina chorou em silêncio. O mundo era injusto, e ela já não gostava de si mesma.

"Por que eu não esqueço nada

A não ser de te esquecer

Nem ao fim do dia

Nem de madrugada

Eu não esqueço nada"

***

Centenas de passadas puderam ser ouvidas da enfermaria. Gritos de urgência, pessoas chegando a beira da morte, mas em cada rosto um sorriso. Lord Voldemort fora derrotado. Gina gritou e se jogou nos braços de Carlinhos, que chegou com um enorme sorriso.

_ Parece que vamos ter casamentos logo. - ele murmurou no ouvido da irmã quando Harry, sujo e ferido entrou andando na enfermaria, com um sorriso.

_ Eu queria tanto ter ido!- ela reclamou quando o namorado se aproximou.

_ Você não está em condições de aturar uma batalha como aquela... - ele respondeu, se largando na cama da namorada. - A última já te deixou muito ferida.

Rony voltara em uma maca, e Hermione estava sob ele, junto com a enfermeira chefe, muito aflita.

_Ela está grávida. - confidenciou Gina. - Mas eu acho que ela ainda não sabe.

_Como não? - perguntou Harry.

_Bom, eu vi o resultado no laboratório em Hogsmeade essa manhã. Eu sabia que vocês estavam batalhando no outro lado. Eu trouxe o pergaminho comigo.

_Você não devia... Se arriscou...

_Fiz o que ela me disse pra fazer. - falou finalizando, e os dois continuaram a olhar as enfermeiras tratando de Rony.

_Ele vai ficar bem. - falou Harry. - Foi uma grande queda, mas ele vai ficar bem.

Gina acenou com a cabeça, e Harry ficou olhando a moça sem falar nada por um longo tempo.

_Gina... - ele falou então passando a mão no rosto dela. - Tem uma coisa que eu gostaria de te falar.

Ela o encarou temerosa. Sabia o que iria acontecer.

"Eu não esqueci

Por que eu não esqueço nada

A não ser de te esquecer

Nem ao fim do dia

Nem de madrugada

Eu não esqueço nada

Nem vou esquecer... não..."

N/a:" Uma parte dele estava sempre voltada ao passado… Voltada a uma única parte do seu passado.. A uma única coisa que fazia sentido como nada mais jamais havia feito.. A algo que ele havia perdido.."

Quem me contou isso sobre qual sabe... ^^ E a essa pessoa à fic se dedica.