Silêncio na Primavera

Yei! Um capítulo novo e fresquinho está pronto para ser lido. (Espero que não tenha muitos erros, né?!? ^_^)

Sessha viajou para as montanhas nesse carnaval e num belo dia ficou inspirada para escrever. O capítulo saiu inteirinho! Ah, sim! Onegai, leiam esse capítulo sem maldade em suas mentes.

Capítulo 14 – Segredos

         O inverno chegou vazio e silencioso, repleto de mágoas e perdas. As árvores estavam quase todas despidas e os animais escondidos. Chegou finalmente a época em que todos dormem. A época em que tudo parece belo, mesmo que coberto de sangue. Kaoru não havia saído de seu quarto desde que se separou do corpo de  Seta. Estava triste e enfurecida. Afinal, ele morrera logo agora que ela havia se lembrado de tudo e de todos. O sol brilhava alegre numa tentativa frustrada de alegrar a região. Dois dias se passaram e finalmente Kaoru permitiu-se sair de seu aposento. Tudo parecia o mesmo, e no entanto, diferente. Kaoru serviu-se um pouco de chá e ficou a observar... apenas observar. Tudo parecia tão irreal, quase como um sonho. As cenas pareciam mais lentas e distantes. Ela se descobriu suspirando, incontrolavelmente. Uma porta distante se abriu e dela veio Aoshi, e logo atrás dele, Misao.

- Matte, Aoshi-sama! – Ela tentava acompanhar os passos do homem.

            Aoshi viu Kaoru parada perto da janela com seu copinho de chá. Ele caminhou em direção à jovem. Misao parou de falar logo que a viu.

- Ohayô, Aoshi-san. – Kaoru polidamente o cumprimentou.

- Ohayô. – Disse no seu normal tom de voz.

- Daijobu? – Misao tinha estampado em seu rosto preocupação.

            Kaoru sorriu, - Hai, doomo.

- Kaoru-san, sinto muito pela sua perda. – O homem disse antes de partir.

            Ela sorriu mais uma vez, um sorriso fraco, e observou Aoshi partir da mansão de Shishio. Misao abraçou rapidamente a jovem e correu atrás de Aoshi.

- Eu não disse para me esperar? – Ela gritou. – Por que você nunca me escuta?!?

            Uma semana se passou sem que Shishio pudesse dar atenção à jovem, já que estava ocupado com seus planos.

- Sim, querida Yume. Já está na hora... os planos correm maravilhosamente bem.

            Yume sorriu, adorava a voz calma de Shishio. – Hai, isso é música para meus ouvidos.

- Preciso falar com Kaoru em particular. Poderia chamá-la para mim?

- Mas é claro. – Disse antes de sair do aposento.

            Yume passou pelos corredores imaginando o que Shishio teria em mente. Ao chegar na porta do quarto da jovem chamou por ela. Não houve resposta alguma.Encontrou-a na sala.

- Olá. – ela disse polidamente.

- Olá. – Yume aproximou-se. – Shishio deseja lhe falar.

- Hai, doomo.

            Shishio estava mergulhado em seus pensamentos. Não poderia estar errado, pensou. E logo viu a porta se abrindo, e passando por ela, a jovem.

- Olá, Kaoru.

            Ela fez uma mesura. – Queria me ver?

- Hai. Sente-se por favor.

            Ele a observou por um longo momento. Podia sentir a insegurança da jovem. Sim... ela sabia que ele tocaria em sua ferida aberta. E estava desconfortável, com o estômago dando voltas. Um incenso queimava perto da janela, Kaoru mirou-o por um instante.

- Muita calma, minha querida. – Sua voz soou grave e macia. – Você tem sua memória recuperada, e no entanto, os assuntos recentes ainda permanecem cravados em sua pele.

            Kaoru se esforçou para que seu rosto continuasse sereno.

- Meus planos estão seguindo seus caminhos perfeitamente. Sei que se a chamasse para vir comigo, você viria. Mas o que sei também é: – ele fez uma pausa. – seu destino é outro. E mesmo que não goste, quer escolher outro caminho.

            Shishio encostou-se confortavelmente a um encosto, e sorriu.

- Acho que ambos sabemos perfeitamente que caminho é esse, não?

            Ela corou, sabendo a que ou quem ele estava se referindo. Kaoru perguntou-se por um momento o que faria se Himura estivesse morto. Afinal, ele tinha de estar após receber todos aqueles dardos.

- Não tema o futuro, minha querida. Se não chegar aonde você quer, poderá sempre voltar para nós.

            Uma lágrima escorreu pelo rosto da jovem e imediatamente ela enxugou-a. Shishio levantou-se e caminhou até a janela que estava próxima. O vento soprava com insistência, molestando as árvores.

- O tempo é favorável, não pense ou espere demais.

            Kaoru estava de pé atrás dele. Ele virou-se e fitou-a.

- Arigatô gozaimasu.

            Ela abraçou-o e agradeceu novamente.

- Agradeço por tudo que já fez por mim.

            Ele sorriu, já sabendo que ela seguiria seu próprio caminho... longe do dele.

            E assim Kaoru partiu rumo ao seu destino.Caminhou com calma, não tinha pressa. Com o coração pesado caminhou por horas sem se dar conta. Carregava algumas poucas roupas, sua companheira mortal e um pequeno punhado de alimento. O caminho que seguia era frio e pálido. O vento era tão gelado que fazia seu rosto doer. Já era noite quando achou uma casa abandonada. Foi lá onde descansou o resto da noite. O lugar era bem vazio, belo em sua simplicidade.

            A noite passou rapidamente e logo um novo e exaustivo dia chegou. Nada de diferente ocorreu. No início da tarde parou para descansar, perto de um riacho. Bebeu um pouco de água e molhou seu rosto. "É mais longe do que pensava", disse para si mesma. Respirou fundo e retomou sua caminhada. No final do terceiro dia encontrou uma pequena aldeia onde passou a noite. Absteve-se de jantar, uma vez que estava cansada demais para comer. E partiu assim que o sol se levantou. Caminhava só, por uma estrada deserta. Mais dois dias se passaram, e por um breve momento ela pôde ver Battousai caminhando à sua frente. E ao piscar com força se descobriu sozinha.Queria chorar, mas não se permitiu. Havia perdido seus dois amores e tinha que agüentar isso.

- Mou... que bom que falta pouco.

            Finalmente chegou até a casa onde tudo aconteceu. Permitiu-se lembrar do ocorrido, por um momento. Lenta e dolorosamente aproximou-se da casa. Pôde ver que haviam ateado fogo nela. Nada havia senão cinzas. Ajoelhou-se e fez uma breve reza. Após isso, levantou-se e observou o local em silêncio. Tudo parecia estar numa paz incrível. O local  parecia cantar uma canção calma e pacífica.

- Adeus, Kenshin. Sentirei saudades.

            Já era noite quando chegou à casa de Katsura-san. O mesmo lugar onde havia ficado com Himura.

- Acho que bebi demais. – Kinou tinha os olhos enormes fixados em Kaoru.

- Konbanwa, Kinou-san. Gostaria de ver o Katsura-san, por favor.

- Como? Se você está viva, de quem será aquele sangue na floresta?

- Provavelmente de Jihi.

            Kinou aproximou-se e fitou-a por um longo tempo.

- Hum... você está diferente. Seus olhos azuis estão mais pálidos e com um brilho prateado intenso...

            Ela permaneceu em silêncio.

- Katsura-san não está. – Ele disse.

            Ela baixou os olhos. – Que pena.

- Não se preocupe, ele deverá chegar até o final da semana.

- Então esperarei por ele.

- Hai. – Os olhos de Kinou aumentaram de tamanho e com isso a jovem  deduziu que ele havia se lembrado de algo. – Alguém que você conhece sente muito a sua falta.

            Kaoru fitou-o.

- Kenshin... está vivo?!?

- Hai.

            E a jovem se viu sem fôlego, quase chorando. Kinou pensou que a veria em prantos, mas viu que ela permanecia séria.

- Tome um banho e descanse. Ele chegará em breve. Yuri-san!

            Yuri apareceu.

- Kaoru-chan!

- Olá, Yuri. Como vai? – Kaoru cumprimentou-a polidamente.

- Yuri, Kaoru precisa de um banho e um quarto. Ah, sim! De uma refeição também.

- Matte. – Kaoru disse. – Não comerei agora, doomo. Quanto ao quarto, veremos isso depois. Deixe minhas coisas no quarto de Himura, por favor.

- Hai. – Yuri saiu carregando as poucas coisas que Kaoru carregara, e estremeceu ao segurar sua katana. Sim... ela  percebeu com facilidade o quanto Kaoru havia mudado.

            Kinou estava ansioso por fazer alguns comentários e perguntas, mas foi interrompido antes mesmo de fazê-lo.

- Não avise Kenshin que estou aqui.

- Hai...

            Observou-a partir para a casa de banho.

- Como está diferente.

            Após o banho se dirigiu para o quarto antes escolhido. Vestia um kimono não muito grosso que era fechado por uma faixa fina em sua cintura. Fitou a paisagem pela janela, por um longo tempo. Até que ouviu a shoji se abrir. Era ele...

            Kaoru virou-se e fitou-o enquanto ele, ainda despercebido de sua presença, fechava a shoji. Vestia um gi cinza e hakama preto. E então ao se virar lentamente, ele a viu pela primeira vez desde aquele dia. Em seu olhar havia um rastro de surpresa. Encararam-se por um longo momento. Himura observou com atenção a criatura pálida de cabelos negros e soltos.

            Ela respirou fundo.

- Pensei que estava morto. Com aquela quantidade de veneno...

- Não era veneno. – Ele disse. – Saitoh não me quer morto, ainda.

            Ela acenou que sim. Ainda estava parada de costas para a janela, fitando-o intensamente. Kenshin observou seu quarto. Estava o mesmo de sempre, e ao mesmo tempo, diferente.

- Lembrou-se de tudo, e por isso está diferente.

- Hai.

            Ela pôde ver com clareza o brilho dourado dos olhos do assassino à sua frente. Havia sentido falta daquele olhar. E de repente Himura pareceu ficar inquieto, estava pensando. Por fim, acalmou-se antes de falar.

- Você estava certa. – Fez uma pausa. – A insanidade vem me cegando, incontrolável e inevitavelmente. E no entanto,  – Seus olhos se encontraram. – você mudou algo em mim.

- Mas quando não está perto, - Ele recomeçou. – eu me perco, de novo e de novo.

            Ela acenou dizendo que compreendia. Sabia o quanto era difícil para ele admitir aquilo.

- Você me contou seu segredo. Então, - deu poucos passos em direção ao homem, passando por cima do futón que estava aberto, parando em cima do mesmo. – Conheça o meu...

            Os olhos de Kaoru estavam prateados e a pele muito pálida. Silêncio... Himura observou-a. Viu-a desatar o nó que prendia seu kimono.

- Agora, - disse abrindo seu kimono, deixando seu corpo exposto. – Olhe com atenção.

            Ela pôde sentir os olhos do assassino em seu corpo.

            Há muito tempo atrás numa noite sem lua, Kenshin e alguns homens de Katsura travavam uma batalha. Mal se via os rostos de seus adversários. A última pessoa com quem Battousai lutou naquele dia possuía um estilo de luta diferente. A pessoa com quem lutava defendia e atacava habilmente. Tempo depois percebeu que era com uma mulher que estava lutando.

- Quem é você? – Perguntou defendendo-se.

- E o que o faz pensar que eu direi?

            Ela atacou por cima e Himura defendeu e logo em seguida girou sua espada. Só que quando o fez, ela girou o corpo num ataque frustrado, ganhando um corte que ia do alto das costas até seu ventre.

            Kenshin saiu de seus pensamentos e caminhou até Kaoru.

- Pensei que estava morta...

            Ele estava perto demais. Kaoru fechou os olhos ao sentir as mãos daquele ser percorrendo sua longa cicatriz. Suas mãos estavam um pouco frias, causando à jovem um arrepio que correu por seu corpo. Himura observou também que havia outras cicatrizes. Essas, ele havia visto no dia que a pegou no banho. Sim, ele já suspeitava que ela era uma assassina, assim como ele.

- Kenshin, não agüento mais ficar em pé.

            Ele estava tão perto e mesmo assim ela sentia sua alma doer. Kaoru começou a cair e Himura a ajudou a se deitar no futón. Ela permanecia de olhos fechados, e sentiu aquele ser deitando-se em cima dela, sem maldade alguma. Ela sabia do que ele estava precisando: afeto... compreensão...

            Kenshin sentiu as mãos de Kaoru acariciarem-lhe os cabelos. Ele fechou os olhos e se esqueceu de onde estava, e tudo era... nada. A jovem sentia a respiração quente de Battousai em sua pele, e nesse momento algo a surpreendeu. Lágrimas...

            Lágrimas estavam sendo derramadas. Ela pensou que fosse chorar quando percebeu de quem eram, mas não se permitiu. Esperou algum tempo e começou a contar o seu passado.

            Himura absorveu tudo o que lhe fora dito. Levantou e fechou o kimono da jovem, com muita calma.

- Vou pedir que lhe tragam algo para comer.

            Ele saiu do aposento, e quando voltou viu que Kaoru permanecia do mesmo jeito que ele a havia deixado. Fitou-a de longe.

- Kenshin, pegue por favor o kimono preto que está no armário.

            Himura abriu o  armário e logo viu o que ela havia pedido e viu também uma katana, mas nada disse. O Kimono que Kaoru vestiu por cima do que estava usando era bem mais grosso, e a salvaria do frio. Himura sentou-se em sua frente. Permaneceram em silêncio, sabendo que o que queriam falar não precisava ser dito.

            O rosto de Kenshin estava calmo. Kaoru não conseguia desviar seu olhar dele, queria poder olhar para ele por todo o sempre. Fechou os olhos e viu que a imagem dele permanecia em sua mente. Ficou assim, meditando. E foi então que sentiu as mãos daquele ser acariciando-lhe o rosto e deslizando pelo seu pescoço. Sentia sua respiração junto da dela. Sabia que estavam quase se beijando, mas se permanecessem assim, apenas um sentindo a energia do outro, não se importaria.

            O tempo pareceu parar. Kenshin tinha também seus olhos fechados. Sabia o que estava fazendo, e o que queria e faria. Uma das mãos da jovem pousou suavemente em Battousai. E ele gostava tanto de ficar perto assim dela, sentindo sua energia, sentindo seu calor... Seus lábios estavam a menos de meio centímetro de distância.

- Himura-san. – Uma das atendentes chamou por trás da shoji.

            Kenshin afastou-se lentamente de Kaoru, ainda não era o momento. Ou talvez o destino apenas não quisesse que o tão esperado ocorresse. A cada passo que se afastava de Kaoru sentia-se mais vazio. Ele pegou a refeição e levou para a jovem. Ela comeu com muita calma, mergulhada em seus pensamentos.

- Kenshin?

- Nani ka?

- Quero pedir-lhe algo.

            Ele fitou-a.

- Durma comigo hoje.

- Hai.

- Não do jeito que você normalmente dorme. – Disse. – No futón, deitado ao meu lado.

            Seu rosto pareceu quase sorrir. – Hai...

            Já era noite alta quando foram se deitar. Kaoru estava deitada de barriga para baixo no lado esquerdo do futón e Kenshin estava deitado de lado, virado para ela. A mão direita de Kenshin estava por baixo da mão direita de Kaoru. Ele observou-a pegar no sono, enquanto trocavam de energia pelo toque das mãos. A energia que trocavam era tão intensa que podiam sentir seus corações batendo e mudando de ritmo, se igualando... em uníssono.

            Himura sentiu paz em seu interior, estava grato por ela ter sobrevivido. E se permitiu um sono tranqüilo... pela primeira vez um muito tempo.

Continua...

            Sessha ficou muito envergonhada de publicar esse capítulo... – blush! -   Ah, sim! Eu colocaria o passado de Kaoru nesse capítulo, mas ainda não consegui terminá-lo. Perdoem-me! Não demorarei a atualizar a fic, uma vez que já tenho quase tudo escrito. Agradeço muito pelos e-mails e r/r!!

                        Matta ne.

                                                           Chinmoku