BATALHA NO MUNDO DOS SONHOS
Por Andréa Meiouh
Parte 2
InuYasha movimentava a espada do pai com agilidade. Saltando de um lado para o outro, treinava com a Tetsusaiga de modo incessante. Precisava estar preparado para qualquer eventualidade. E se Naraku viesse atrás de Kagome para pegar os fragmentos do Shikon no Tama? Não deixaria aquele youkai desprezível se aproximar de sua garota... Não mesmo!
"Vou proteger a Kagome!", disse ele entre os dentes. "Nem que seja a última coisa que eu faça! AAAAAH!!". Pulou novamente e retaliou um inimigo invisível. Mas parou subitamente ao sentir o cheiro doce dela.
"Não se cansa de treinar?".
Olhando para trás, ele a avistou. Kagome tinha os olhos um tanto inchados e usava a mesma roupa, mas ainda sim, era uma bela visão. O hanyou teve a mesma sensação calorosa e aconchegante que sentira quando ela surgira do meio da árvore.
"O que faz aqui?", ele perguntou com rudeza, afastando os pensamentos gentis a respeito da garota.
"Nossa! Só vim lhe agradecer, seu grosso!", ela fechou a cara, cruzando os braços. "Não sou ingrata como você!".
"Bah!", ele se voltou e tornou a treinar, sentindo os olhos dela pregados em suas costas. "Quer parar de me olhar!?".
Corada, Kagome virou o rosto. "Idiota!".
Fitando-a pelo canto dos olhos, InuYasha deu um pequeno sorriso. Era bom ter Kagome por perto. Faziam muitos dias desde a partida súbita dela e, depois de tanto tempo, ele finalmente se sentia completo outra vez.
"Está se sentindo melhor?", ele perguntou casualmente.
"Sim...", ela respondeu, sentando-se debaixo de uma árvore. Logo, o hanyou se juntava a ela. "Mas não entendo o que aconteceu... Como pude atravessar pela árvore?".
"O que você estava fazendo lá na sua era?".
"Eu estava pensando em... oh!", ela parou de pronto, cobrindo a boca com as mãos e arregalando os olhos.
"O que foi?".
"Quando eu cheguei, você estava na árvore, InuYasha...", ela o olhou, com um misto de ansiedade e esperança. "O que estava fazendo lá?".
"Nada, oras!".
"Como assim, nada?".
"Nada, nada, sua tonta!".
"Ah! Deixa pra lá", frustrada, Kagome suspirou. Tinha imaginado que InuYasha poderia estar pensando nela, da mesma forma que ela pensava nele quando sumiu.
* * * *
Enquanto o jovem casal conversava distraidamente, em outro lugar, um homem e uma mulher os observavam.
"Está tudo pronto?".
"Sim, mestre... Quer atacar agora? É o melhor momento... Os dois estão sozinhos, será bem rápido".
"Ataque a garota. O tolo irá atrás dela".
"Sim, mestre. Não se preocupe, não falharei".
"É bom mesmo, pois se falhar, não terei pena de você".
A mulher tremeu. "Farei tudo como ordenou, mestre. Cuidarei da garota".
"Perfeito", disse Nakaru, antes de sumir.
* * * *
"Sabe, Kagome... Agora que está aqui, podemos sair em busca de mais fragmentos do Shikon!".
"Credo, InuYasha!", exclamou a menina, se levantando. "É só nisso que você pensa?".
"Mas é claro!", disse o menino-cachorro, indo atrás dela. "Quando todos os fragmentos, estiverem reunidos, poderei finalmente me transformar em um poderoso youkai!".
"Quando a jóia estiver inteira novamente, eu irei embora, seu tonto!", explodiu Kagome.
Um pesado silêncio se fez, enquanto os dois jovens refletiam sobre o que haviam dito. InuYasha nunca parara para pensar que um dia Kagome partiria para sempre.
De cabeça baixa, a menina se recriminava por ter revelado tanto. 'Será que ele percebeu?', pensou ela, preocupada. Mas seus pensamentos foram esquecidos quando teve um pressentimento ruim.
"InuYasha?", ela o chamou. "Está sentindo?".
Estranhando, o hanyou olhou para a garota. "Sentindo o quê?".
"Alguma coisa vai aconte-". Antes que Kagome completar a frase sentiu alguma coisa espetá-la no pescoço. "Ai!".
"O que foi, Kagome?".
"Eu não sei... Alguma coisa me ferrou, eu acho...", disse ela passando a mão na área dolorida e retirando um espinho. "Veja...".
InuYasha se aproximou e tomou o espinho e o cheirando bem, constatou que estava impregnado de veneno.
"O que é isso, InuYasha?", perguntou Kagome.
"É um dardo envenenado".
"Envenenado?!", ela arregalou os olhos, cheia de medo.
"Vamos até a velha Kaede, talvez ela saiba o que é isso!", ele agarrou-a pelo braço e saiu em disparada, de volta à casa da miko.
Na floresta, a misteriosa mulher observava tudo. "Está tudo correndo como eu imaginei... E logo a reencarnação da Kikyou estará morta... HAHAHAHAHAHAHA!".
* * * *
"E então, velha?", perguntou InuYasha ansioso.
Kaede analisava o dardo com atenção, desde o momento que o hanyou e a garota chegaram. E não tinha como esconder a preocupação, pois a substância que havia no dardo poderosa e extremamente perigosa.
"A Kagome vai morrer?", soluçou Shippou, agarrando-se à perna da amiga.
"Não por isto aqui...", respondeu Kaede, vaga.
"O que quer dizer, Sra. Kaede?", perguntou Miroku.
"Este dardo contém uma infusão muito forte, mas que, por si só, não é capaz de matar...".
Kagome respirou aliviada. "Puxa... Ainda bem...".
"Mas tem uma coisa que precisam saber", disse a miko, com expressão séria. "Essa infusão faz parte de uma feitiçaria muito poderosa, que induz a pessoa que o ingere a um sono profundo...".
"Quer dizer que eu vou dormir?", inquiriu Kagome, curiosa.
"A princípio sim...", Kaede começou a explicar. "Mas assim que você cair no sono, a pessoa que está fazendo esta bruxaria levará sua alma para um outro mundo, o mundo dos sonhos. E de lá você só poderá sair se quebrar o encanto da poção".
"Mundo dos sonhos?", Miroku estranhou. "Somente grandes feiticeiros são capazes de ir até lá".
"Sim. Alguém muito poderoso está tentando algo contra a Kagome".
"O que podemos fazer?", perguntou Sango. "Tem algum meio de quebrar esse feitiço?".
"Não que eu me lembre...", admitiu a velha. "Preciso procurar nas minhas coisas. Porém devemos manter Kagome acordada o máximo de tempo possível. Ela não pode dormir".
InuYasha bufou. "Bah! Quem vai querer dormir depois de passar três dias inteiros na cama?".
"Seu estúpido!", Kagome exclamou batendo na cabeça do hanyou. "Eu posso morrer e você nem liga!".
O jovem de cabelos prateados tentava proteger a cabeça dos golpes da menina. Na verdade, não se importava com os socos dela. Estava preocupado com aquela situação. Alguém estava tentando colocar Kagome sob um feitiço poderoso e ele precisava fazer algo para evitar. Se tinha que mantê-la acordada, o melhor era que Kagome não ficasse parada.
"Venha, Kagome!", ele a puxou pelo braço.
"Ai! Pra onde está me levando, InuYasha?".
"Vamos sair! Assim você não dorme. Vamos Shippou!".
Os três saíram apressados, enquanto Kagome reclamava. "Devagar, InuYasha!".
Miroku olhou para o pequeno grupo. Quem os olhasse pela primeira vez, poderia pensar que se tratava de uma família. InuYasha seguia, segurando Kagome de um modo protetor, enquanto esta levava Shippou nos braços. 'Ele nem ao menos percebe o quanto se preocupa com ela...', constatou o houshi, fitando os amigos.
"Sra. Kaede?", a voz de Sango chamou a atenção do rapaz. Ela tinha uma voz tão sexy... "Vai precisar da nossa ajuda?", ela perguntou.
"Sim, menina... Separe os materiais que vamos precisar, enquanto eu procuro os escritos de minha irmã".
"Eu ajudo você, Sango", ofereceu-se Miroku.
A exterminadora o fuzilou com o olhar. "Comporte-se, viu?".
Dando um sorriso amarelo, o jovem monge concordou com a cabeça. A garota havia estragado toda a diversão...
* * * *
"Vocês não podem me deter", disse a misteriosa mulher, olhando para a fumaça que saía de uma fogueira. "Ninguém pode me deter agora".
Separando uma mistura, ela murmurou algumas palavras incompreensível e jogou o pó nas chamas. A fumaça que se ergueu tinha uma cor esverdeada, envolvendo-a por completo. Enquanto aspirava aquela estranha neblina, ela ingeriu a infusão que aplicara em Kagome.
"Vamos começar o ritual, minha pequena".
* * * *
Kagome sentia os olhos pesados. Tentava acompanhar os passos de InuYasha, mas não agüentava mais. Estava sonolenta e por mais que tentasse, não conseguia impedir os bocejos. Sentiu inveja de Shippou, que voltara para a casa da Sra. Kaede. Agora, ela estava ali, andando pela aquela trilha, sozinha com o hanyou. Em outra ocasião, teria se sentido mais feliz, porém estava com tanto sono e com medo do que poderia acontecer que o fato de estar a sós com InuYasha não estava lhe afetando.
"InuYasha...", ela disse, com voz cansada. "Não agüento mais...".
"Vamos Kagome, não podemos parar!".
"Preciso parar! Não consigo dar mais um passo!", ela reclamou, sentando-se no chão. "Estou tão cansada...".
"Não quero saber! Levanta! Vamos andar mais!".
Lentamente, os olhos de Kagome foram se fechando e ela foi se inclinando para o chão. "Não...".
"Kagome!", InuYasha a segurou pelos braços e a sacudiu. "Fique acordada!".
"InuYasha... não... consigo...".
"Não durma!".
"Desculpe... não dá...", foi a última coisa que ela murmurou antes de cair no sono.
"Kagome!", exclamou hanyou. "Kagome! Droga!". Segurando a garota adormecida nos braços, ele retornou o mais rápido que pode para a vila. "Droga, Kagome! Você não podia dormir! Não podia!".
Kaede pressentiu o que havia acontecido assim que viu o meio youkai se aproximar com Kagome no colo. Afastando-se para não atrapalhar a passagem do casal, mandou InuYasha colocar a garota no futon. Chamando Miroku, ajoelhou-se ao lado de Kagome e começou a queimar incenso e a orar, enquanto Sango se aproximava com um balde de água e panos para curativos.
"Para que isso?", perguntou o hanyou.
"A Sra. Kaede suspeita que alguém está fazendo isso de propósito com Kagome, querendo levá-la para o mundo dos sonhos, onde ela não poderá se defender direito", respondeu a exterminadora. "Essas ataduras são para fazer curativos caso Kagome se machuque antes de sair de lá".
"Como assim, se machucar?".
"Essa magia feita em Kagome é antiga e poderosa, InuYasha", explicou Miroku. "A pessoa dorme e seu espírito vaga até o mundo dos sonhos. Tudo o que acontece lá é refletido em seu corpo aqui. Se a Kagome for ferida, temos que tratá-la rapidamente".
InuYasha sentiu uma raiva incontrolável. Quando descobrisse quem estava fazendo aquilo com Kagome, o cortaria em mil pedaços. 'Naraku... Só pode ser ele!'. Aquele maldito youkai iria sentir o gosto da Tetsusaiga, nem que para isso tivesse que morrer também. Faria Naraku pagar por todos os seus crimes!
Ouviu um gemido e sua atenção se voltou para Kagome. O rosto da menina refletia sofrimento, e o coração do hanyou se condoeu. Sentando-se ao lado da velha Kaede, passou a acompanhar a agonia da companheira de aventuras, sentindo-se impotente pelo fato de não poder fazer nada para ajudar.
* * * *
Kagome abriu os olhos e acordou numa bela colina, coberta por uma grama verde. Ali perto, inúmeras cerejeiras floridas derramavam suas pétalas ao sabor do vento. O céu azul e sem nuvens era um convite para um delicioso passeio. Era a paisagem perfeita! Onde ela poderia estar? Aquele seria o mundo dos sonhos, que a vovó Kaede falara? Caminhou um pouco, olhando para os lados, procurando alguma coisa que a fizesse voltar para casa.
Foi quando o céu escureceu e um relâmpago retumbou, assustando-a. Sentiu a escuridão envolvê-la. Exatamente como no seu sonho... Arregalando os olhos, começou a correr. Desceu a colina e se embrenhou na floresta, sentindo a presença atrás de si.
'É como meu sonho!', pensada assustada.
Avistou a árvore sagrada e imediatamente lembrou-se de InuYasha. Ele devia estar subindo pelas paredes com tanta raiva. Por que ela não resistira aos efeitos da maldita infusão. Passando direto, não parou na árvore. Não ia dar chance para seu pesadelo acontecer.
"Quanto tempo acha que pode fugir de mim?", perguntou uma voz vinda da escuridão. "Menina tola! Este é meu mundo e conseguirei o que quero!".
Apesar do medo, Kagome continuou a correr. Entretanto o chão se abriu e ela foi engolida por um buraco, longo e escuro.
"AAAAAHH!!".
Desajeitadamente, caiu no fundo. Ao pôr-se de pé, sentiu uma mão forte agarrá-la pelo pescoço.
"Está na hora de me dar o que é meu, Kagome!".
Olhando para seu agressor, a garota deparou-se com as feições frias de Kikyou.
"NÃO!".
* * * *
Continua...
