BATALHA NO MUNDO DOS SONHOS

Por Andréa Meiouh

Parte 3

InuYasha percebeu no mesmo instante quando marcas de dedos começaram a surgir na pele clara do pescoço de Kagome. A menina começou a se debater e a respirar com dificuldade.

"Kagome!", exclamou o hanyou, segurando a mão da garota. A seu lado, Kaede queimava incenso e murmurava palavras desconexas, incompreensíveis. "Velha! Faça alguma coisa! Temos que ajudar!".

O corpo de Kagome estremeceu violentamente e um corte se abriu na altura da testa, sangrando bastante. Sango retirou uma tira e a pressionou contra o ferimento. Logo, Miroku cobria o local com atadura limpa e remédio.

"Só há um jeito de ajudar Kagome, InuYasha".

"Por que não falou isso antes, velha idiota?!".

"Porque só pode ajudar uma pessoa que tenha sentimentos fortes por Kagome. Senão não será capaz de alcançar o sonho dela. E esses sentimentos devem ser mútuos...", disse a miko.

'Sentimentos fortes?', ponderou InuYasha, olhando a garota. O que sentia por Kagome? Estima? Afeição? Amor? Seria capaz de enfrentar o desconhecido por ela? 'Sim', respondeu uma voz em seu interior. 'Por ela, seria capaz de ir ao inferno!'.

"Eu vou", disse por fim. "Eu irei ao mundo dos sonhos e trarei Kagome de volta".

Com seu único olho, Kaede fitou o rapaz com orgulho e respeito. "Mas saiba que talvez você nem a encontre... Pode ser perigoso..."

"Como assim perigoso?".

"Um youkai jamais chegou ao mundo dos sonhos. Não sei como este poderá reagir a sua presença. Você é metade youkai e metade humano... Certamente haverá alguma a reação...".

InuYasha voltou a olhar a menina deitada. "Não me importo com isso", respondeu decidido. "O que tenho que fazer?".

Kaede pegou um pouco da infusão e deu para o rapaz. Depois arrumou um novo futon ao lado de Kagome, ordenando a InuYasha que segurasse na mão da garota, para manter um contato e poder chegar mais facilmente à ela. Apertando a Tetsusaiga numa mão e a pequena mão de Kagome na outra, InuYasha começou a relaxar, sentindo os efeitos da poção da velha de um olho só fazer efeito.

"Esvazie sua mente, relaxe e pense apenas em Kagome... Você precisa trazê-la de volta antes que algo sério aconteça a vocês...", ordenou a miko. "Concentre toda sua energia nela". O hanyou fez como Kaede mandou. E logo ele dormia, pensando na garota a seu lado.

"Monge, cuide de InuYasha", ordenou a mulher. "Garota, você fica com Kagome". Jogando mais incenso no pote para queimar, ela fechou os olhos e se concentrou. 'Não deixarei que nada aconteça a esses dois no mundo dos sonhos', pensou determinada.

Impotentes, Miroku e Sango olhavam os amigos. "Talvez tivesse sido melhor eu ter ido ajudar Kagome...", suspirou o houshi. "Talvez pudesse fazer alguma coisa com o meu buraco do vento.

"Não daria certo", retrucou a miko. "A única pessoa que poderia ir era mesmo InuYasha".

"Mas por que?", estranhou Sango. "Por que o InuYasha? A senhora mesmo disse que esse lugar onde Kagome está não permite a presença de youkais".

"InuYasha e Kagome partilham um elo único, uma ligação como jamais eu vi. Ninguém mais poderia alcançá-la, além dele".

Todos voltaram seus olhos para o hanyou. InuYasha dormia serenamente. De repente, ele começou a tremer. Seus cabelos prateados foram mudando lentamente de cor, até ficarem pretos. Nas mãos e pés, suas longas presas deram lugar a unhas normais.

"O que aconteceu com InuYasha?", perguntou Shippou.

"Ele chegou ao mundo do sonhos...", explicou Kaede. "E virou humano. A porção demoníaca dele não pode passar".

"E agora? Como ele poderá ajudar Kagome? Ele está sem nenhum poder!", constatou Sango.

Um novo machucado surgia na face de Kagome. A pele da garota estava pálida e ela transpirava e tremia muito. Kaede jogou um pouco mais de incenso e espalhou a fumaça sobre a menina.

"Cuide dos ferimentos dela", disse a mulher para a exterminadora.

Voltando a orar, Kaede se concentrou outra vez no casal deitado a sua frente. A mão de InuYasha ainda apertava fortemente a de Kagome. 'Ele vai alcançá-la... Tenho certeza'.

* * * *

InuYasha abriu os olhos e se viu numa colina verdejante. Era tudo aconchegante e tranqüilo. 'Então este é o sonho de Kagome? Onde ela está?', pensou ele olhando para os lados. Tentou farejá-la mas não sentia cheiro nenhum. 'Droga, por que não consigo farejar Kagome?!'. Só então reparou que havia se transformado em humano.

"Maldição!", exclamou, zangado. "Como poderei achar Kagome desse jeito?".

Um barulho chamou sua atenção, parecia um trovão. Virando-se, avistou com uma floresta, que parecia coberta de trevas. Outras luzes brilharam naquela escuridão e novamente ele ouviu trovões. Sentiu o coração disparar. Tinha certeza que Kagome estava lá. Sem pensar duas vezes, correu para a floresta.

* * * *

Kagome tentava resistir ao máximo. Estava cansada e a cabeça doía bastante, pelo fato de ter batido com ela numa árvore quando Kikyou a lançou longe. Naquele momento, estava escondida. Tinha conseguido fugir da sacerdotisa, mas sabia que não estava segura. Era questão de tempo que a miko a encontrasse de novo.

"Por que fica protelando este assunto, garota?", gritou Kikyou. "Posso encontrá-la aqui até de olhos fechados! Dê-me logo o que eu quero e pare de sofrer!".

Encolhendo-se ainda mais, Kagome prendeu a respiração. Os ferimentos ardiam e o coração acelerou de pânico. Não iria agüentar se Kikyou a pegasse mais uma vez. Mas foi tudo em vão.

"Já disse que é tolice se esconder de mim aqui", disse a miko aparecendo subitamente na frente da garota. "Este é meu domínio, ninguém consegue fugir de mim aqui...". E estendendo a mão, novamente agarrou Kagome pelo pescoço. "Devolva o que é meu, menina... E prometo uma morte rápida e sem dor...".

"KAGOME!".

As duas mulheres se assustaram com o grito.

"Inu... Yasha...", gemeu Kagome, tentando se livrar do punho de aço da rival.

'Mas como?!', Kikyou olhava para o rapaz que parava diante delas. 'Como ele chegou até aqui?!'.

"Kikyou!?"

InuYasha também estava surpreso. Quem havia levado Kagome até aquele mundo tinha sido Kikyou. Mas por que? Por que ela queria matar Kagome? Vendo a garota de debater, tentando se soltar, o hanyou perdeu a expressão surpresa e assumiu uma posição de luta. Encontrava-se numa situação difícil... Como salvar Kagome sem machucar Kikyou? Havia prometido proteger as duas... Mas não podia permitir que Kikyou maltratasse Kagome.

"Larga ela, Kikyou!".

"Você é mesmo corajoso, InuYasha...", gracejou a miko. "Veio aqui atrás da sua amiguinha? Então pegue!". Dizendo isso, Kikyou lançou Kagome em cima do rapaz.

"AH!".

"Kagome!", InuYasha segurou a garota. Não conseguiu evitar a queda de ambos, mas girou o corpo, fazendo com que Kagome caísse por cima dele. O rosto dela estava ferido e os olhos cheios de lágrimas.

"InuYasha...", ela murmurou fraca, fitando os olhos violeta dele. "Como...? Por que...?".

"Vim tirar você daqui", ele respondeu as perguntas incompletas dela.

"Como vai ajudar sua amiga se é um humano agora, hanyou?", perguntou Kikyou. "É tão fraco quanto esta tonta!".

Com magia, Kikyou ergueu InuYasha e o arremessou de encontro à umas árvores. Ouviu-o conter um gemido. Provavelmente, ela havia quebrado alguma costela dele. Com o canto dos olhos, observou a reação da garota. Kagome tentava se erguer com dificuldade. Sua expressão cheia de dor era o sinal claro que a miko precisava.

"Veja, Kagome...", Kikyou disse, usando magia novamente e estrangulando InuYasha contra uma grossa árvore. "Seu querido InuYasha está sofrendo por sua causa... É o que quer?".

"InuYasha!", exclamou a garota, em desespero. E o rapaz nada fazia para revidar... Afinal, ele nunca seria capaz de matar Kikyou.

Estendendo o braço, Kikyou fez sua mão brilhar e nela apareceu um arco. Disparando uma flecha, a sacerdotisa atingiu o ombro de InuYasha, que gritou de dor.

"Pare!", implorou Kagome. "Deixe ele em paz!".

"Só tem um jeito de acabar com o sofrimento dele, minha querida... É só você dizer 'sim'... Só isso...".

Em pânico, Kagome fitou InuYasha. Pálido e ofegante, o rapaz havia caído de joelhos no chão. E, mordendo com força o lábio, tentava tirar a flecha. Do outro lado da clareira, Kikyou, altiva, preparava mais uma flecha.

"E então, Kagome? O que me diz?", perguntou a miko. "A vida de InuYasha está em suas mãos. Desta vez, não vou errar".

"Kikyou! Como pode fazer isso?!", disparou InuYasha.

A mulher apenas riu. "Ela tem algo que me pertence... E eu quero de qualquer jeito!". Ela esticou a corda do arco, mirando a flecha no peito de InuYasha. "Diga adeus a seu amigo, Kagome...".

De olhos vidrados, Kagome viu Kikyou disparar a flecha contra InuYasha. Dentro da mente da aflita garota, as palavras da miko retumbavam: 'É só você dizer sim...'. E então, sem ao menos pensar nas conseqüências, ela se decidiu.

"SIM!!".

"Muito bem, menina". A poucos centímetros de atingir a cabeça de InuYasha, a flecha caiu. E Kikyou desapareceu, surgindo diante de Kagome. "Foi uma sábia decisão!". Envolvendo a garota numa esfera de energia, a sacerdotisa a ergueu do chão. "Finalmente terei o que me é devido!". Com uma risada maquiavélica, a mulher começou a sugar a essência de Kagome.

"Oh! OH!". A força vital de Kagome era poderosa, fazendo a sacerdotisa revirar os olhos e cair de joelhos. Em volta delas, tudo começou a brilhar. "Posso sentir... Sua força... É maravilhoso!!".

InuYasha, estático, observava tudo de olhos arregalados. A mulher que um dia amara se transformara num ser frio e cruel e agora estava matando a garota na qual o hanyou tinha uma grande estima. Sentiu uma dor no peito, muito mais forte que a dor que afligia seu ombro. Não podia deixar Kagome morrer.

"Kagome!".

Completamente envolvida e extasiada com o poder de Kagome, a mulher esqueceu-se de manter o feitiço de transmutação. Assim, lentamente, a forma de Kikyou foi desaparecendo, para dar lugar a forma de uma velha bruxa, muito parecida com Urasue, a feiticeira-youkai que ressuscitara Kikyou.

"Não é ela!", InuYasha assistia a transformação, assombrado. "Você não é a Kikyou, maldita!".

Levantando-se, ele pegou a flecha que havia caído à sua frente e correu para onde as duas estavam. Com toda sua força, InuYasha enterrou a flecha no peito da bruxa.

"MORRA, MALDITA!".

"AAAAAAAAHHHH!!".

Um grande tremor abalou a floresta. Com a magia interrompida, a esfera onde Kagome estava se desfez, fazendo a garota cair no chão. InuYasha correu até ela e a tomou nos braços. Enquanto isso, a bruxa se contorcia, agonizando. Uma chama azul surgiu e a envolveu. Seu corpo foi queimando devagar, até que nada mais sobrasse, apenas cinzas.

InuYasha voltou sua atenção para a jovem em seus braços. "Kagome!".

A garota entreabriu os olhos. "Inu... Yasha... estou... morrendo...".

"Não! Você não vai morrer!", gritou o rapaz.

Ela ergueu a mão com dificuldade e tocou no rosto humano dele. "Eu... sinto... muito...".

Diminuindo a distância entre eles, ao ponto de seus narizes se tocarem, InuYasha fitou diretamente nos olhos castanhos dela. "Não vou deixar você morrer, Kagome... Não vou...". E então, ele colou seus lábios nos dela.

Uma chuva de partículas brilhantes caiu suavemente sobre o casal. Ao redor deles, tudo foi ficando mais claro e brilhante. Como se fossem a fonte de misteriosa luz, os dois resplandeceram. E desapareceram por completo quando a luz se apagou.

* * * *

Miroku, Sango, Shippou e Kirara observavam os amigos sofrerem, incapazes de fazer qualquer coisa para ajudar. Quando o ombro de InuYasha começou a jorrar sangue, o houshi se assustou.

"Sra. Kaede! Você tem que trazer InuYasha de volta! Se continuar assim, o corpo dele não resistirá por muito tempo!", bradou Miroku.

"Mas e se ele não encontrou Kagome?", questionou o pequeno youkai raposa.

Naquele momento, o corpo de Kagome se contorceu e a jovem arqueou as costas, soltando um gemido agoniado. Todos no cômodo recuaram, espantados.

'Droga! Pegaram Kagome!', constatou, com pesar, a velha senhora. Suada e cansada, sentiu que as forças que usava proteger InuYasha estavam acabando. 'Ele tem que alcançá-la'. Sentindo uma tontura, notou que não agüentaria por mais tempo.

"Senhora Kaede!", chamou Sango, aflita. "Traga eles de volta!".

'Não posso fazer mais nada...', reconheceu a mulher, entristecida. 'Sinto muito, Kagome...'. Batendo as mãos, Kaede fez o som de suas palmas ressoarem pelo quarto. Jogou mais incenso e começou a pronunciar um mantra, chamando a alma de InuYasha de volta.

Alguns instantes depois, o hanyou despertou. Arfante, ele sentou-se de súbito. Lentamente, seus cabelos foram ficando prateados e as orelhas de cachorro surgiram outra vez no alto de sua cabeça. Os olhos violeta trocaram de cor, voltando a ser dourados.

"InuYasha!", exclamaram os amigos.

Reconhecendo o lugar onde se encontrava, InuYasha percebeu que a velha havia o trazido para o mundo real. Olhou para o lado e avistou o corpo inerte de Kagome. Ainda podia sentir o calor dos lábios dela nos seus. Ela não podia ter morrido...

"Kagome!". Tentou se mexer, mas a dor no ombro foi mais forte e o paralisou. "Maldição!".

"InuYasha! Como foi? Achou a Kagome?", perguntou Shippou.

"Sim...", o hanyou respondeu, ainda olhando a garota. "Foi uma bruxa... Transformada em Kikyou...".

"O quê?!", disseram todos ao mesmo tempo.

"Essa mulher estava disfarçada de Kikyou... E tentou roubar a essência da Kagome...".

"Ela conseguiu?", Kaede falou pela primeira vez. Estava cansada por causa do feitiço protetor que colocara em InuYasha, mas apesar de não estar com todas suas forças, podia sentir algo diferente no hanyou.

InuYasha balançou a cabeça, negando. "Eu a matei no meio do ritual".

"Então por que a Kagome não acorda?", Shippou fez a pergunta que incomodava a todos. "Não era para ela ter voltado, já que a bruxa que a prendia lá morreu?".

"Não sei, Shippou...", admitiu Kaede. "Eu realmente não sei..., Mas talvez Kagome esteja apenas exausta... Ela se machucou muito...".

"Sim, pode ser...", refletiu Miroku, com a mão no queixo. "O ki dela está fraco, mas está presente".

"Vamos fazer os curativos e deixá-la dormir, então", sugeriu Sango e todos concordaram.

O houshi voltou-se para o amigo. "Você também precisa descansar, InuYasha".

"Não".

"De nada vai adiantar ficar aí... Você não conseguirá cuidar dela nessas condições", ralhou Miroku. "Deixe-nos fazer um curativo, alimente-se e durma um pouco. E depois que recuperar suas forças, você pode ficar ao lado dela. Kagome não gostaria de acordar e vê-lo morto, só porque não se cuidou direito".

A contragosto, o hanyou concordou. Os dois saíram do cômodo, já que Kaede havia ordenado a Miroku que cuidasse de InuYasha do lado de fora, depois que este tomasse um bom banho. As mulheres ficaram para cuidar de Kagome.

"Acha que ela vai se recuperar?", perguntou Sango, enquanto passava um pano úmido na pele da amiga.

"Sim... Ela é forte, vai ficar bem", respondeu Kaede, fitando a reencarnação de sua irmã com seu olho bom. 'Ela é poderosa... Como minha irmã Kikyou'.

* * * *

Com olhos gélidos, Naraku encarava para o corpo sem vida de Chojuraku. A velha mulher era uma bruxa muito poderosa, mas não fora páreo para a menina do futuro. Que poderes ocultos aquela garota tinha?

"Pensou que poderia derrotar a reencarnação de Kikyou... Mulher idiota. Essa menina é mais forte do que imaginamos... Mas não desistirei. Um dia, o Shikon no Tama será meu, então destruirei InuYasha e todos os seus amigos!".

Com um último olhar para o cadáver, Naraku desapareceu na noite escura.

* * * *

Dias se passaram e InuYasha se recuperou plenamente, visto que graças a seu lado youkai, podia cicatrizar feridas de modo mais rápido. Kagome, por outro lado, continuava inconsciente, mas pouco a pouco, a sua energia ia se fortalecendo, graças as orações e intervenções de Kaede. Era uma questão de tempo para que ela acordasse.

O grupo montou uma escala, para que todos pudessem tomar conta de Kagome e descansar, sem nenhum problema. E justamente na noite da primeira lua nova, era a vez de InuYasha vigiar a menina. Na sua forma humana, ele estava sentado, cochilando. E foi assim que Kagome o viu quando despertou de seu longo sono.

'InuYasha...', ela pensou. 'Ele foi atrás de mim para me salvar... Arriscou a própria vida... E me beijou!'. Corada, Kagome tocou levemente os lábios, sem conseguir evitar um sorriso. Jamais esqueceria aquele beijo.

Tentou se sentar, mas uma tontura a acometeu e ela ditou novamente, soltando um pequeno gemido, acordando InuYasha sem querer.

"Hã?", ele olhou para os lados e depois para a jovem. Ao se deparar com os imensos olhos castanhos dela o fitando, as feições severas do rapaz suavizam-se. "Kagome...".

"Oi...", ela sorriu, meio sem jeito, meio tímida. O que aconteceria entre eles depois daquele beijo?

"Eu estava... quero dizer, nós estávamos preocupados com você...".

"Oh...", ela passou a língua nos lábios, sentindo a garganta seca. "Sinto muito, InuYasha".

Observando o gesto dela, ele se levantou e voltou com uma caneca de água. "Tome, você deve estar com sede".

Com a ajuda dele, Kagome se sentou. "Obrigada...". Depois de um longo gole, ela tornou a falar. "E agora quanto tempo fiquei dormindo?".

"Uma semana... Mas você precisava descansar. Aquela bruxa quase acabou com você".

"Bruxa?!".

"Sim. Não era Kikyou, era uma bruxa, usando a imagem dela".

"Ah...", a garota abaixou a cabeça. "Se ela não era a Kikyou, o que ela queria com minha alma?".

"Segundo a velha Kaede, a bruxa queria sua essência... Assim, você não poderia mais purificar os fragmentos...".

"E ficaria mais para Naraku se apossar do Shikon no Tama!", concluiu Kagome.

"É isso aí".

"E o que aconteceu com ela?".

InuYasha virou o rosto. "Eu tive que matá-la para salvar você... Dias depois, encontramos o corpo dela, meio apodrecido numa caverna não muito longe daqui".

Após uns segundos de silêncio, Kagome o chamou. "InuYasha?".

"O que é?", ele se voltou para ela.

"Obrigada", Kagome agradeceu, sorrindo.

Sentindo a mesma sensação de calor e aconchego, InuYasha se aproximou. Os olhos castanhos dela brilhavam e pareciam chamá-lo, como se fossem encantados. Lentamente, ele inclinou a cabeça e roçou os lábios nos dela.

"Eu nunca a deixaria morrer, Kagome... Prometi que ia protegê-la e é o que vou fazer. Sempre".

Palavras não eram necessárias, nem declarações. Os evidentes sinais do que sentiam um pelo outro estavam lá. Finalmente, eles haviam se entendido.

E quando eles iam se beijar, a porta se abriu, dando passagem para Miroku e Sango, que traziam uma bandeja de comida para o hanyou. InuYasha e Kagome se afastaram, corados e constrangidos.

"Kagome!", exclamou a exterminadora de youkais, correndo para abraçar a amiga. "Você acordou!".

O houshi olhou para InuYasha e depois para Kagome, percebendo na hora que haviam interrompido alguma coisa. Depositou a bandeja ao lado do futon e sorriu para o amigo.

"Pelo visto InuYasha, você já estava dando as boas vindas para a senhorita Kagome...", gracejou.

"O quê?!", InuYasha ergueu-se furioso.

"Eu não o culpo... Afinal, ela é tão bonita...".

"Monge!", exclamou Kagome, vermelha como um tomate.

"Grrrr..... Vou acabar com você!", rosnou InuYasha.

Mais que depressa, Miroku saiu correndo, com o hanyou na sua cola.

"Mas foi uma brincadeira!", as meninas ouviram o houshi idzer.

"Não quero saber!", foi a resposta de InuYasha.

Kagome e Sango se entreolharam e riram. As coisas estavam voltando ao normal, estavam juntos e com vida. A exterminadora fitou a amiga sorridente. "Você está bem mesmo, Kagome?".

A garota do futuro abaixou a cabeça. "Não, Sango... Mas vou ficar, prometo". Os gritos de Miroku e InuYasha podiam ser ouvidos da pequena casa. "Nunca pensei que ele fosse me buscar...", comentou baixinho.

"As pessoas fazem tudo por aqueles que estimam...", disse a exterminadora, olhando os dois amigos correrem lá fora.

Confusa e cansada, Kagome voltou a olhar InuYasha. Por mais que tentasse, não conseguia entendê-lo... Ele arriscara a vida indo até o mundo dos sonhos por ela... Mas não fizera nada contra a bruxa, por pensar que esta era Kikyou. Somente tomou uma atitude quando descobriu a verdadeira identidade da mulher. A ligação que ele tinha com Kikyou ainda era muito forte... Apesar de todas as coisas que aconteceram. No entanto, não cabia a Kagome fazer julgamentos a respeito do comportamento de InuYasha. Um dia, eles conseguiriam recolher todos os fragmentos do Shikon no Tama. E então, Kagome partiria, deixando para trás uma parte de si, de sua vida. Vivera momentos marcantes na era feudal e jamais se esqueceria disso.

Virou o rosto, olhando Sango mais uma vez. Então sorriu. A exterminadora retribuiu o sorriso. As coisas não seriam as mesmas... Ela não seria a mesma... Mas sobrevivera e estava com seus amigos. E isso era o que importava. Pelo menos por enquanto...

* ~ * ~ * ~ FIM ~ * ~ * ~ *

Significado dos termos usados:

Shikon no Tama = Jóia de Quatro Almas

Sengoku Jidai = Era Feudal Japonesa, período das Guerras Civis

Hanyou = (contração de hanyoukai) meio-demônio

Houshi = monge

Miko = sacerdotisa

Nota: Ai, gente, nossa! Era pra ser apenas um capítulo! E olha o tamanho que ficou! @_@ Espero que tenham gostado desta história. Ela me surgiu depois que li os mangás. Estou ficando completamente viciada nesta história também! ^_^ E me envolvi tanto com essa história que Luz ficou de canto... ¬¬ Mas não se preocupem! Já comecei o capítulo 16 e logo, logo, ele vai estar no ar! Um grande abraço a todos e até a próxima!

Andréa Meiouh