Título da Fic: A Sabedoria De Um Tolo

Autora: Flora Fairfield

E-mail: florafairfield@yahoo.com

Categoria: Romance/Drama

Classificação: PG-13

Sinopse: Continuação de 'Amor da Vida Nossa': A Guerra toma conta do mundo mágico e Draco Malfoy acaba se encontrando onde nunca se imaginou: no meio da tempestade. Ele quer fazer a coisa certa, e está tentando fazer a coisa certa, mas... será que ele está preparado para isso? D/G Pós-Hogwarts

Disclaimer: Eles não são meus. São da Rowling. Blá-Blá-Blá. Vocês sabem o resto.

N/A: Bom, finalmente eu terminei esse capítulo. Eu tinha toda a intenção do mundo de postá-lo na terça à noite, mas tive um pequeno caso de bloqueio quanto ao final dessa parte. Um detalhe: o capítulo não foi betado ainda, então é possível que ele sofra alguma alteração, mas se isso acontecer, eu aviso, 'kay?

N/A2: Eu quero agradecer a todos que mandaram reviews e emails!!! Eu fiquei tão feliz que vocês gostaram do prólogo!!!! Muito, muito obrigada!!! Quanto ao título da fanfic, pra vcs que gostaram da escolha, eu prometo que mais na frente, vai ficar bem clara a relação dele com a história!!! E também pra quem achou estranho o uniforme de enfermeira da Gina ser preto: é simplesmente por uma questão de praticidade e também de camuflagem, afinal, um uniforme todo branco, num campo, à noite, chamaria atenção demais. Espero mesmo que vocês também gostem desse capítulo. Vou tentar colocar o segundo no ar antes de quinta que vem. Não se esqueçam de continuar mandando suas opiniões, tudo bem??? Eu vivo para ouvi-las! :o))

Bom, eu já falei demais. Vamos à batalha agora!

*   *   *

Capítulo 1: Fogo Cruzado

19 de outubro

Barulho. Draco Malfoy fechou os olhos por um instante, tentando bloquear todas as imagens do mundo exterior, mas apenas isso não era suficiente para trancar do lado de fora todos os sons que chegavam aos seus ouvidos. Até o fim de sua vida, sempre que se deitava para dormir, ele podia ouvir novamente, ecoando dentro da sua cabeça, todos aqueles ruídos insuportáveis de uma batalha: os gritos, os apelos, os feitiços sendo lançados, as pessoas aparatando, as súplicas. Era terrível. Ele abriu os olhos de novo, relutante. Era loucura deixar sua guarda baixar de tal maneira, mas ele não pôde evitar. Estava cansado. Estava no meio do inferno, e estava cansado.

Ele passara a maior parte da noite em claro. Mesmo depois que Weasley o havia deixado em paz e Draco deitara-se na sua barraca, não conseguira adormecer rapidamente. Ao contrário, ficara uma boa parte do tempo com os olhos abertos, fitando a lona de sua tenda. A voz dela continuava repetindo-se nos seus ouvidos, perguntando como ele achava que as coisas iriam no dia seguinte. Draco sabia que havia respondido rudemente quando Weasley provavelmente só queria escutar uma palavra de conforto, mas de que outra maneira ele poderia ter reagido? Ela deveria saber que procurá-lo esperando obter algum tipo de consolo seria inútil. Ele não deixaria de usá-la como um escape para suas próprias frustrações, para seu próprio medo.

No fundo, Draco sabia que ela era tão culpada quanto ele pela maldita Guerra. Weasley estava ali fazendo seu trabalho, tentando ajudar exatamente como todos os outros, mas para Draco era reconfortante culpá-la pela sua escolha de estar ali, mesmo que no fundo ele soubesse que ela nunca tivera a intenção de causar mal. Havia momentos em que ele a odiava profundamente por ter cruzado seu caminho e as batalhas estavam sempre entre esses momentos. Parado no meio de toda a confusão, com sua varinha em punho, pronta para atacar e defender, e vendo o mundo ao seu redor ficar louco, Draco se sentia perdido e a odiava mais do que tudo. Havia, contudo, outros momentos, quando eles salvavam alguém - alguma criança que havia perdido os pais, por exemplo - de um destino que seria pior que a morte em si, em que Draco quase chegava a agradecê-la por tê-lo convencido a ficar. Não eram muitos esses momentos, entretanto, e, no final do dia, ele quase sempre chegava à conclusão de que eles na realidade não importavam, porque, conforme a Guerra prosseguia, Dumbledore e seu exército iam, gradualmente, perdendo força.

Voldemort crescia e sua esfera de influência aumentava. Por toda a Europa, havia rumores agora, e logo a luta iria se espalhar pelo continente. Na Inglaterra, eles estavam se agüentando, mas Draco não sabia por quanto tempo. O ataque daquela manhã havia sido cuidadosamente planejado para enfraquecer o inimigo. Eles sabiam há algum tempo que Você-Sabe-Quem mantinha uma fortaleza escondida, onde muitos de seus seguidores eram treinados. Era um lugar importante e, se conquistado, poderia oferecer uma boa vantagem estratégica. Por isso, durante os últimos meses, Dumbledore havia despendido enormes recursos para descobrir a localização exata da fortaleza e todos os seus pontos fracos. A princípio, eles não descobriram nada e Draco começou a se perguntar se tudo não passava de rumores falsos, planejados para despistá-los. Três semanas antes, contudo, logo após o final do verão, eles encontraram todas as provas que procuravam.

Foi durante um ataque a uma pequena cidade de trouxas. Ataques desse tipo estavam se tornando comuns e o mundo não-mágico estava num alvoroço quase tão grande quanto o bruxo. Não que Draco se importasse muito, na realidade. Enquanto ele estivesse lutando do 'lado da luz', contudo, independente das suas crenças pessoais, ele deveria ajudar a proteger os trouxas inúteis. Os comensais da morte não esperavam encontrar resistência na pequena cidade, então Dumbledore obteve uma das poucas vitórias indiscutíveis dos últimos meses e os inimigos se dispersaram, fugindo, ou foram mortos. Comensais nunca deixavam-se fazer prisioneiros. Ou eles conseguiam escapar ou eles lutavam até a morte, tentando levar o maior número possível de inimigos junto. Uma tática suicida, mas extremamente eficaz. Dessa vez, entretanto, um jovem e inexperiente comensal pôs tudo a perder. Ao invés de lutar até a morte, como os outros, ele hesitou e, esse pequeno instante de dúvida foi suficiente para que Snape o pegasse ileso e o levasse para ser interrogado.

Uma forte poção da verdade foi ministrada e o jovem revelou tudo o que era preciso saber. Depois, um poderoso feitiço da memória foi posto nele para que o garoto - Draco não achava que ele tinha mais do que quinze anos - não se lembrasse de nada. Dumbledore hesitou em entregá-lo de volta para Voldemort, mas todos sabiam que não havia opção. Numa Guerra, sacrifícios devem ser feitos e, se eles realmente quisessem que o ataque à Fortaleza Negra - como eles a chamavam - permanecesse secreto, então era vital que o inimigo acreditasse que o garoto escapara da cidade sem nunca passar pelo interrogatório. Por fim, o comensal foi abandonado em um bosque próximo, com memórias falsas de como fugira e se escondera na mata, e todos cruzaram os dedos, torcendo para que o feitiço fosse poderoso o suficiente para não ser quebrado e não levantar suspeitas.

Três longas semanas de planos e preparação depois e lá estavam eles, no meio do nada, prontos para morrer às portas da fortaleza inimiga. A estratégia era boa e simples: enquanto um grupo relativamente pequeno encenaria um ataque pela porta principal para chamar atenção, um grupo maior iria por uma passagem secreta que o garoto revelara, onde a guarda era mais relaxada, entrando silenciosamente e surpreendendo-os pelas costas. Uma vez que eles tivessem garantido uma posição dentro da fortaleza, poderiam abrir as portas para que os outros, juntamente com o resto do exército que ficaria aguardando, entrasse. Na teoria, parecia fácil, mas na prática Draco sabia que era um dos ataques mais desesperados que eles já haviam realizado.

Malfoy estava entre o grupo que deveria entrar no castelo e, para seu extremo desgosto, seria comandado por Sirius Black. Ele teria preferido se Snape estivesse no comando. Draco sempre se sentia mais confortável com ele, já que os dois tinham tanto em comum, mas o professor de poções fora escolhido para liderar o ataque falso à porta principal. Não havia opção.

Antes das cinco da manhã, o acampamento já estava de pé. Não havia muita conversa desnecessária. Todos estavam concentrados no trabalho que deveriam realizar. Draco deu uma última olhada na fortaleza - um castelo medieval com suas paredes cinzentas e sólidas, menor do que Hogwarts, mas ainda assim grande o suficiente para abrigar um bom número de comensais da morte - e seguiu com os outros por um caminho escondido que os levaria direto para as muralhas. Ele podia sentir às suas costas o olhar de Gina, seguindo-o, mas não se virou. A última coisa que precisava era ter aqueles olhos assombrando-o durante a batalha. Ela deveria ficar para trás, na retaguarda. Draco sabia que os irmãos dela provavelmente estavam por trás disso. Raramente eles a deixavam se envolver de forma direta nas lutas e ele nunca a ouvira reclamando. Ela parecia estranhamente resignada. Granger, ao contrário, estava quase sempre na linha de frente. Ela, Potter e Weasley continuavam o trio inseparável dos anos de escola. Aquela seria uma das poucas batalhas nas quais eles não lutariam juntos desde o início: enquanto a garota e Rony seguiriam com Sirius Black, Potter ficaria com Snape, para dar mais credibilidade ao ataque falso. Eles não haviam ficado muito satisfeitos com a decisão e Draco, internamente, exultou com o fato de que, pelo menos, ele não seria o único servindo sob as ordens de alguém que ele simplesmente detestava.

Já eram oito da manhã e o sol estava no alto, brilhando forte para um dia de outono. A luta ainda não tinha terminado. Eles haviam conseguido entrar na fortaleza, mas não sem encontrar uma resistência maior do que a esperada. Os comensais foram pegos de surpresa, mas se recuperaram rapidamente, acabando com qualquer vantagem que o inimigo possuía por ter chegado despercebido. Logo, a luta se tornou brutal. As batalhas no mundo mágico ainda eram lutadas praticamente à moda medieval. Não eram usadas as armas modernas criadas pelos trouxas. Usavam-se varinhas, poções e feitiços. No máximo, espadas e arcos. Os comensais evitavam utilizar as últimas, porque as consideravam parte do mundo não-bruxo e, portanto, inferiores, mas, nas horas de necessidade, usavam quaisquer armas que conseguissem encontrar. Draco, por sua vez, compartilhava da opinião deles e não carregava uma espada. Ele havia aprendido como usá-las, para o caso de precisar, mas as evitava. Ele era um bruxo, afinal de contas, e deveria se defender como tal, usando magia e não ferramentas que podiam ser forjadas por qualquer trouxa. A única concessão que ele fazia era um punhal que ia preso na sua perna e que só era usado quando tudo mais falhava. Por duas vezes já, naquela Guerra, ele estivera desesperado o suficiente para desembainhá-lo. E, em ambas as ocasiões, a arma não falhara. Potter - Draco sabia - carregava uma espada que havia pertencido ao fundador da Grifinória. Fora um presente de Dumbledore que ninguém ousou questionar - afinal de contas, todo Arthur precisa da sua Excalibur. E ele a exibia, orgulhoso, sempre que tinha oportunidade. Como se os destinos de todos repousassem sobre aquela simples lâmina de aço! Malfoy o desprezava ainda. Se não fosse pelo maldito Potter, que derrotou Voldemort quando era bebê, talvez Você-Sabe-Quem nunca tivesse caído, talvez ele já dominasse o mundo bruxo com rédeas curtas há anos e, nesse caso, não existiria uma Virgínia Weasley e Draco não precisaria ter tomado a decisão mais difícil da sua vida; principalmente, talvez, ele não precisaria estar ali, lutando naquela Guerra estúpida.

Malfoy ouviu o barulho de uma pessoa ao seu lado e se virou rapidamente, abandonando as suas divagações. Um comensal da morte se aproximava de modo furtivo, tentando surpreendê-lo no seu abrigo, atrás de uma pilastra e de algumas pedras caídas. 'Não hoje' Draco pensou, retirando do seu cinto um frasco de vidro escuro. Quando o homem estava perto o suficiente, ele jogou o conteúdo na sua direção, sem hesitar. Era uma poção poderosa que reagia ao entrar em contato com a pele, queimando como ácido. Era uma morte dolorosa, mas rápida. Draco não queria que o comensal tivesse tempo bastante de vida para pensar em formas de revidar.

Abandonando brevemente a segurança de seu abrigo, Draco olhou ao redor. Ele estava em uma espécie de pátio, perto da entrada da fortaleza. Black e Weasley tinham finalmente conseguido abri-la, uma hora atrás, deixando o resto do exército entrar. Por todo o lado, contudo, a luta continuava. Havia pares de pessoas lutando com espadas, e pares duelando com varinhas. Havia correria e barulho; corpos caindo no meio da confusão. Ele não saberia dizer quem estava ganhando. De onde estava, olhou para o alto e viu que a bandeira com a Marca Negra que tremulava em um mastro no topo do castelo fora retirada e substituída pelo emblema da Ordem de Fênix. Isso servia para melhorar os ânimos e dar esperança, mas ele sabia que, no máximo, significava que eles tinham entrado o suficiente dentro da Fortaleza Negra para alcançar seu coração. Não significava ainda que ela havia sido tomada. De um jeito ou de outro, era pelo menos indicativo de que a luta dentro do castelo estava mais interessante do que do lado de fora. Deixando, então, de vez a segurança relativa de seu esconderijo, Draco se arriscou, desviando dos feitiços que eram lançados, a correr em direção à porta e à escada que levavam ao interior. Ele não deveria fazer isso. Black ainda estava na entrada, assim como Weasley, Granger e os outros do grupo que entrou primeiro na fortaleza. Eles deveriam ficar ali para assegurar o controle sobre a entrada e deixar que o resto do exército, mais descansado, lutasse do lado de dentro. Draco, contudo, não se importava. Talvez, assim, quem sabe?, eles resolvessem censurá-lo ou, melhor ainda, puni-lo, proibindo-o de lutar. E sempre havia a possibilidade de que ele morresse no caminho.

As tochas no hall de entrada estavam apagadas. Não havia janelas, então, apesar do sol brilhando no céu, o lugar estava apenas meio iluminado pela luz que passava através da porta aberta. As paredes grossas de pedra também garantiam que a temperatura ali fosse consideravelmente mais baixa do que no exterior. Alguns corpos estavam no chão. A maioria era de comensais, mas também havia alguns soldados que Snape liderara. Não eram muitos e nenhum rosto era excessivamente familiar. No fundo, isso não fazia muita diferença já que Draco não se importava particularmente com ninguém que entrara naquela fortaleza, exceto talvez, com o próprio Snape - que com certeza não morreria assim tão facilmente - mas não deixava de ser tranqüilizador saber que ninguém conhecido morrera. Pelo menos não ainda.

Com a varinha em punho e todos os sentidos em alerta, Draco entrou por um corredor lateral que seguia para o interior do castelo. Havia dois outros corredores que saíam do hall, mas ambos estavam com as tochas apagadas e, portanto, completamente escuros. Se um comensal estivesse aguardando escondido, Malfoy seria uma presa fácil e, apesar da idéia da morte em si não o preocupar muito, ele não pretendia se deixar matar sem uma luta, então, escolheu o único dos três corredores que ainda estava iluminado.

A tensão no ar era palpável. O contraste entre o silêncio ali com os ruídos do lado de fora era impressionante. O barulho monótono dos seus passos no chão de pedra parecia cem vezes aumentado, ricocheteando nas paredes escuras. Havia mais corpos no chão, o que indicava que Snape passara por aquele caminho apertado. E, aparentemente, havia passado com sucesso, já que os corpos eram todos de comensais. Draco continuou caminhando durante o que pareceu ser uns dez minutos sem encontrar nenhuma pessoa viva, nem escutar nenhum som. Ele passara por algumas portas, mas as poucas que estavam abertas, revelavam salas também vazias. A ausência de qualquer tipo de movimento estava começando a preocupá-lo quando, finalmente, ele começou a ouvir o ruído de vozes. Dando mais alguns passos, Draco virou um corredor e percebeu uma porta aberta, de onde saía uma luz fraca e de onde as vozes estavam vindo.

- O que nós vamos fazer com ele? - perguntou um homem.

Malfoy escutou o barulho de algo - provavelmente uma pessoa - sendo jogada no chão e, depois, uma mulher respondeu, sussurrando:

- Nós temos que sair daqui e levá-lo para o nosso mestre!

Draco estava agora a dois passos da porta, com as costas grudadas na parede e a varinha pronta.

- Nós temos que usar a passagem nas masmorras - o homem disse. Draco ouviu um gemido de dor e presumir que vinha da pessoa no chão.

- Quieto - sibilou a mulher, com ódio - Fique quieto! - e um novo gemido se fez ouvir. Draco só podia imaginar que a dona da voz tinha chutado o prisioneiro. Apesar de não saber quem ele era, Malfoy imaginava que fosse algum soldado que entrara com Snape e que os comensais queriam levá-lo para interrogá-lo. Voldemort não gostava muito de poções da verdade e preferia obter as suas respostas nos interrogatórios de forma, digamos, manual. Draco considerou mentalmente se deveria ou não fazer alguma coisa para ajudar. Ele não conseguia ver a sala e, provavelmente se tentasse, seria descoberto, então era praticamente impossível delinear um plano de ação. Ao invés de tentar, entretanto, ele começou a pesquisar sua mente, procurando imaginar o que o soldado poderia revelar e se a informação seria útil para Voldemort. Por fim, chegou à conclusão de que o prisioneiro não poderia dizer nada importante. O próprio Draco sabia pouco sobre os planos de Dumbledore. Apenas os que haviam sido efetivamente iniciados na Ordem de Fênix gozavam de confiança suficiente para saber mais sobre o que ia na mente do diretor excêntrico de Hogwarts e, se Malfoy não se enganava, entre os que entraram no castelo, apenas Snape, Potter e os Weasleys - existiam tantos deles que era difícil até contá-los às vezes - faziam parte da organização. De um jeito ou de outro, Draco duvidava que um deles tivesse sido capturado assim tão facilmente. Ele já estava praticamente decidido a continuar o seu caminho, sem fazer nada - ninguém teria como descobrir mesmo - quando uma nova movimentação na sala o fez mudar de idéia.

Ele ouviu o que pareceu ser alguém murmurando um feitiço em voz baixa e, por um instante, seu coração parou. Em seguida, ele escutou a voz da mulher, murmurando algo do tipo 'Você está louco?' e, antes que qualquer coisa pudesse ser feita, a parede na qual Draco estava se apoiando começou a ceder. A única razão que Malfoy podia imaginar fora que o homem tentara lançar algum feitiço no prisioneiro e a mulher o desviara, fazendo-o acertar a parede. Não acertou exatamente onde Draco estava e, por isso, ele conseguiu sobreviver. O barulho de uma explosão se fez ouvir no corredor no momento em que o feitiço bateu na pedra e Draco foi empurrado para frente, com força. Um pedaço grande da parede o acertou no braço, fazendo-o sangrar; ele bateu com a cabeça no outro lado do corredor e escorregou para o chão, deixando a varinha escapulir de sua mão. Malfoy se xingou mentalmente por isso. Era, provavelmente, a coisa mais estúpida que ele poderia ter feito. Agora, ele estava exposto e desarmado. 'Bem, praticamente desarmado', ele completou em pensamento, lembrando-se do punhal e do frasco de poção que ainda possuía. Virando-se e procurando não fazer nenhum movimento para não chamar atenção, Draco olhou para dentro da sala. A poeira havia baixado e os dois comensais, para sua incrível satisfação, estavam preocupados demais em discutir para notá-lo ali.

- Você está louco? - perguntou a mulher furiosa - Agora, logo esse lugar estará infestado e nós não vamos conseguir escapar!

- Isso não teria acontecido se você não tivesse tentado me impedir de matá-lo!

- Ele é valioso demais para isso!

- Ele é valioso independentemente de estar vivo ou morto! - retrucou o homem, também enfurecido. Draco os reconhecia. Eram os Lestrange, que haviam escapado quando Voldemort tomara Azkaban. Era estranho que os dois estivessem discutindo dessa forma por um prisioneiro comum, então Malfoy baixou os olhos, tentando reconhecer quem eles tinham pego. No chão, perto do casal brigando, sangrando e praticamente imóvel, estava Harry Potter. Draco, sem perceber, prendeu a respiração. Então era isso! Os dois estavam discutindo simplesmente porque tinham capturado o homem mais procurado por Voldemort. A cabeça de Harry Potter valia muito naquela Guerra. Olhando novamente para cima, Draco ponderou as suas chances. Se ele continuasse imóvel, era provável que não fosse notado. E, mesmo que fosse, ele sempre poderia se fingir de morto. Outra coisa também provável era que os dois comensais se decidissem por matar Potter. Por que ele deveria se importar com isso? Draco definitivamente não entrara naquela inferno de Guerra para salvar a vida do maldito Menino-Que-Sobreviveu. Essa era a última coisa em sua mente, na realidade.

Olhando de novo na direção do corpo no chão, ele foi saudado por dois grandes olhos verdes que o encaravam, sérios. Harry Potter devia saber o que ia na mente de Draco Malfoy. Ele devia saber que estava perto da morte. Provavelmente mais perto do que nunca estivera antes, mas, quando ele olhou para o outro, com um pedido silencioso, Draco não pôde impedir a avalanche de lembranças que o inundou. Ele se lembrou do brilho do anel no dedo de Gina e a sua própria voz ecoou nos seus ouvidos, repetindo as palavras que ele escutara de si mesmo na Mansão, há o que parecia uma eternidade atrás: 'A única coisa que me interessa é que ela tenha uma chance. É que ela possa ser feliz.' E então ele se lembrou de como havia sido rude na noite anterior, dizendo a ela que não haveria um casamento, que não haveria um futuro e da promessa dela, à porta daquela carruagem, de que ele nunca estaria sozinho. Era estranho que, no fim, o destino de Harry Potter e de Virgínia Weasley acabasse por repousar nas mãos de Draco Malfoy. Estranho e irônico, mas, enquanto ele podia não se importar nem um pouco com o que aconteceria ao perfeito Potter, Draco descobriu que não era capaz de, conscientemente, acabar com as chances de um futuro feliz para Gina. E, se por essa felicidade, ele deveria salvar a vida do infeliz na sua frente, era isso que ele faria.

Antes que mudasse de idéia, ele fez um sinal leve com a cabeça para indicar a Potter o que planejava fazer. Harry, por sua vez, apontou com os olhos para o local, não longe de Draco, onde estava a sua espada. O mais furtivamente possível, Malfoy retirou do seu cinto o frasco com a poção. Os comensais deveriam ser pegos de completa surpresa, já que ele estava ferido e sem a sua varinha. No momento que ia agir, contudo, o barulho de passos e vozes foi ouvido, vindo de longe no corredor, o que fez com que os dois se virassem na direção de Draco e o vissem. Tudo, em seguida, aconteceu muito rápido.

Os dois comensais apontaram suas varinhas, mas Potter, do chão, conseguiu agarrar o pé da mulher e puxar, fazendo-a cair. Sem hesitar, Draco jogou o conteúdo do frasco no homem, que, distraído pela ação do prisioneiro, não reagiu rápido o suficiente. A mulher, por sua vez, tinha chutado novamente Potter no rosto, quebrando dessa vez o seu nariz e fazendo-o se contorcer de dor. A sua varinha tinha caído, mas ela foi ágil o suficiente para recuperá-la e se levantar, apontando-a de novo para Malfoy. Antes que qualquer feitiço pudesse ser proferido, contudo, Draco, que já havia pegado o seu punhal, mirou e o arremessou, acertando a mulher no rosto, entre os olhos. Ele poderia ter usado a espada de Potter, se quisesse, mas não tinha achado necessário descer a um nível tão baixo.

Depois de um suspiro de alívio, ele se levantou e foi até Potter. Ele estava mal, mas não tinha desmaiado. Estava apenas desorientado. As vozes estavam chegando perto, então Draco caminhou rapidamente até a mulher caída e pegou de volta o punhal, guardando-o. Em seguida, examinou a sala atrás de sua varinha e a encontrou, caída perto da porta, do lado de fora. Os homens estavam próximos e, olhando na sua direção, ficou claro pelos seus uniformes que não eram inimigos. Malfoy voltou, então, para a sala e ajudou Harry a se levantar. No instante seguinte, Snape entrou juntamente com outros cinco bruxos, todos de varinha em punho. Vendo quem estava ali, contudo, eles relaxaram.

- Os Lestrange o capturaram - Malfoy disse diante da pergunta silenciosa do professor de poções.

- Nós estávamos preocupados com ele - disse finalmente Snape e, se a situação não fosse tão crítica, Draco teria começado a rir da cara de extremo desgosto que ele fez ao admitir que estava realmente preocupado com a segurança de Harry Potter - É melhor você levá-lo para fora. Não estamos tão longe da entrada e os médi-bruxos aqui dentro já têm trabalho suficiente. Além do mais, eu suponho que a Srta. Weasley vai querer tratá-lo pessoalmente, não?

- É provável, senhor.

- Então, vá - Snape ordenou, sem mencionar o fato de que Draco não deveria estar ali dentro. Harry estava tonto demais para falar qualquer coisa.

- É seguro? - Malfoy finalmente perguntou.

- Sim.

- Eles falaram algo sobre uma passagem nas masmorras...

- Nós já sabemos e as masmorras já vão ser revistadas. Você não precisa se preocupar, Malfoy. A Fortaleza Negra caiu. Ela é nossa agora.

Draco deixou escapar uma respiração aliviada. Então, o terror tinha terminado. Ao menos, naquele dia. Com um cumprimento de cabeça, ele começou a caminhar para a saída, meio servindo de apoio, meio carregando Potter, quando se lembrou de algo:

- Senhor - ele disse, se virando - a espada dele... - e apontou com a cabeça na direção da arma.

- Eu a levo, Malfoy. Não se preocupe.

Com outro aceno, Draco finalmente saiu. Ele teve que se desviar dos escombros da parede caída - provavelmente deixou Harry tropeçar um pouco mais do que deveria - e depois seguiu pelo corredor por onde tinha chegado ali até alcançar o hall de entrada novamente. A batalha tinha terminado. Eles haviam vencido - Snape dissera. E ele, Draco Malfoy, havia salvo a vida de seu maior inimigo. Isso com certeza lhe renderia frutos. Talvez algumas pessoas até deixassem de desconfiar tanto de suas intenções. E, com certeza, seria ótimo ver a cara de Ronald Weasley quando descobrisse que teria que efetivamente agradecê-lo por algo. De alguma forma, contudo, ao imaginar a silhueta de Gina Weasley correndo em sua direção assim que o visse carregando o seu precioso Potter, morrendo de preocupação pelo seu noivo, ele não se sentiu como um vencedor. Não mesmo.

N/A3: Cenas do próximo capítulo: uma explicação melhor do que é a Ordem de Fênix; uma visita à Hogwarts; uma conversa entre o Draco e o Harry; e uma conversa entre Draco e a Gina (é, eu sei que esse capítulo foi meio deficiente nessa área... sorry, mas foi necessário...); entre outras coisinhas a mais...

E por hoje é só, pessoal! ;o) Mas esperem ouvir de mim novamente em breve!